terça-feira, 4 de novembro de 2008

Venezuelano é condenado por caso da mala

Por Thiago Guimarães
na Folha de São Paulo

Em um forte revés para os governos Cristina Kirchner (Argentina) e Hugo Chávez (Venezuela), o júri do "caso da mala" considerou ontem, após dois meses de julgamento em Miami, o empresário venezuelano Franklin Durán culpado das acusações de conspiração e de atuação ilegal nos EUA como agente do governo Chávez.Com a decisão, a Justiça dos EUA endossa a versão da Promotoria, segundo a qual Durán foi encarregado de pressionar o empresário venezuelano-americano Guido Antonini Wilson a não revelar a origem e o destino dos US$ 800 mil que levava em uma mala com a qual tentou entrar na Argentina em agosto de 2007.O dinheiro, segundo a Promotoria, era uma doação ilegal de Chávez para a campanha de Cristina, eleita em outubro de 2007. O "vôo da mala", de Caracas a Buenos Aires, foi fretado pela petroleira argentina Enarsa e levava funcionários dos dois governos.Durante o julgamento, Antonini -que passou a colaborador do FBI e testemunha-chave de acusação- afirmou que a mala era de Claudio Uberti, funcionário de confiança do ex-presidente Nestor Kirchner demitido após o escândalo. Afirmou que a levava a pedido do servidor e que havia mais US$ 4,2 milhões no avião.Dos cinco acusados pela Justiça americana no episódio, quatro estão presos. Três se declararam culpados em troca de redução da pena, e outro está foragido. Durán, ex-sócio de Antonini, alegou inocência e foi o único a ser julgado. Sua pena, que pode chegar a 15 anos de prisão, só deve ser fixada em janeiro de 2009.A defesa de Durán procurou provar que o empresário agiu por conta própria ao tentar convencer Antonini abafar o caso, pois seus negócios estavam sendo prejudicados pela repercussão do escândalo.A Promotoria apresentou gravações feitas pelo FBI e até uma carteira oficial em que Durán aparece como comissário-chefe da "inteligência naval" venezuelana.O advogado de defesa do empresário, Edward Shohat, disse que apelará da decisão porque o caso foi fabricado pelo FBI.O julgamento trouxe ainda outra saia-justa para Chávez. Carlos Kauffmann, sócio de Durán na petroquímica Veneco e um dos réus confessos do caso, revelou detalhes de supostos atos de corrupção cometidos pelos dois com anuência do governo da Venezuela. No final de semana, Chávez disse que os donos da Veneco estão "contra a pátria" e defendeu a expropriação da empresa.Em entrevista à rede de TV americana CNN após o julgamento, Antonini voltou a dizer que a origem do dinheiro da mala era a petroleira venezuelana PDVSA, e o destino, a campanha de Cristina. Afirmou ter ouvido a informação sobre a destinação dos recursos dos réus presos do caso.
Argentina
Enquanto o escândalo é julgado nos EUA, a apuração caminha a passos lentos na Justiça argentina, que considera Antonini foragido. Uma das primeiras medidas do juiz do caso foi alterar a denúncia em relação ao ex-funcionário kirchnerista Uberti, de contrabando (que prevê até oito anos de prisão) para lavagem de dinheiro (pena máxima de três anos).Uma das poucas revelações do caso na Argentina se deu quando uma secretária de Uberti declarou ter visto Antonini na Casa Rosada (sede do governo) dois dias após a descoberta da mala.Ontem, o governo argentino não quis comentar a sentença da Justiça americana. "Não tenho nada para opinar. É uma decisão soberana", disse Aníbal Fernández, ministro da Justiça a uma rádio. O comedimento de Fernández contrastam com as declarações de dezembro, quando a relação entre Argentina e EUA se abalou porque surgiram as primeiras suspeitas de que o dinheiro seria para a campanha de Cristina. A presidente disse ser vítima de uma "operação lixo". Nos últimos meses, houve um esforço de ambos para retomar a relação.

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