terça-feira, 4 de novembro de 2008

Na frente deles

Estou olhando a edição da Folha de São Paulo do dia 27 de outubro de 2002. Neste dia, o Brasil ia às urnas eleger seu presidente em segundo turno. As pesquisas indicavam Lula bem na frente de José Serra. Leio na edição alguns artigos. Os articulistas políticos acreditavam em Lula. Veja o que escrevia Eliana Cantanhede:

Em 1985, o Brasil viveu um pacto nacional para driblar a frustração das "Diretas Já" e chegar à democracia com Tancredo Neves -via colégio eleitoral. O PT ficou de fora e, não satisfeito, expulsou os deputados Ayrton Soares, Bete Mendes e José Eudes por desobediência.
Em 1988, o Brasil recorreu a um novo pacto ao convocar uma Assembléia Nacional Constituinte para tirar o ranço autoritário da Carta Magna e tentar adaptá-la à redemocratização. O resultado não foi perfeito, obviamente, mas foi um avanço. O PT se recusou a assinar.
Em 1992, o Brasil se mobilizou num novo pacto com todos os setores da sociedade, os partidos, os cidadãos e os caras-pintadas e afastou o presidente Fernando Collor, que derrotara Luiz Inácio Lula da Silva nas urnas.
O pacto embutia a responsabilidade comum de dar sustentação política ao sucessor, Itamar Franco. O PT foi decisivo no afastamento de Collor, mas se negou a participar do pacto que foi o governo Itamar. A deputada Luiza Erundina discordou, assumiu corajosamente um ministério e acabou sendo expelida do partido.
Os anos passam, o mundo dá voltas, o Brasil amadurece e o PT finalmente deve chegar ao poder amanhã, inaugurando um marco na história do país. Um marco que se pretende de mudança, esperança, justiça, moralidade e igualdade.
E o mesmo PT que virou as costas ao pacto que elegeu Tancredo, ao pacto da Constituinte e ao pacto do governo Itamar conclama os cidadãos, os parceiros e adversários políticos para quê? Para aderir ao pacto ao qual jamais aderiu.
A situação econômica é grave, as condições internacionais são adversas e só mesmo com muita força política Lula e o PT terão condições de atravessar a pior fase de turbulência para, enfim, atender às expectativas lenta e gradualmente.
Se eu acho que os partidos devem aderir ao pacto? Acho. Mas registrando-se que todos estarão dando ao PT o que ele se recusou a dar a todos. Em nome, sempre, de um país melhor
.
(grifos meus).

Alguma coisa parecida com o dia de hoje? A situação econômica dos Estados Unidos também é grave assim como era grave a situação econômica do Brasil em 2002. Mas acreditava-se na força política de Lula e do PT. A mesma coisa acontece com Barack Obama e os democratas lá nos Estados Unidos nas eleições deste ano. Uma imensa maioria está acreditando que a força obamística irá tirar o país da recessão. Muitos acreditam que Obama fará dos Estados Unidos um país melhor. Nós sabemos muito bem como está terminando o segundo mandato de Lula. Já não existe mais aquela esperança que o PT tanto pregou quando era oposição. Ética na política? É melhor enfiar a mão na merda.
Eliana acreditava que Lula fosse trazer a mudança, a igualdade, a fraternidade e a liberdade. No mesmo dia em que esta edição da Folha de São Paulo ia para as bancas eu pensava a mesma coisa que a jornalista. Hoje não penso mais. Por isso duvido que Barack Obama vai fazer um bom governo. Por isso eu queria John McCain apenas quatro anos na Casa Branca. Mas, é o povo quem decide. Depois não venham me dizer que é racismo criticar as lambanças do primeiro presidente negro dos Estados Unidos.
O filme que está passando lá nos Estados Unidos nós já assistimos aqui em 2002. Neste ponto nós estamos na frente deles.

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