sábado, 5 de julho de 2008

Só agora?

Vamos lá. O Diário da Manhã traz hoje uma reportagem falando que o governador Alcides Rodrigues, o popular Cidinho, encaminhou ao Ministério dos Esportes uma lista com as obras que serão realizadas para colocar Goiânia como uma das concorrentes a sediar algum jogo da Copa do Mundo de 2014 que será realizada aqui no Brasil. Só agora? Dia 30 de outubro do ano passado a Fifa oficializou o Brasil como sede da copa. Era certo que o Brasil seria a sede, afinal, só havia o Brasil concorrendo. Por que Goiás não iniciou desde então uma campanha em busca da sede da copa? Em junho a seleção brasileira jogou contra a Argentina pela Eliminatórias da Copa do Mundo de 2010 no Mineirão em Belo Horizonte. O jogo foi usado pelo governador Aécio Neves divulgar as potencialidades da capital mineira para sediar algum jogo importante em 2014. A campanha de Aécio já começou há muito tempo. Por que Goiás saiu tão tarde? Vai ver é o estilo Cidinho de governar: devagar quase parando. Se bobear é bem capaz de Goiânia ficar chupando o dedo.

Bogotá nega pagamento de resgate

Por Lourival Sant'ana
no Estado de São Paulo

O comandante das Forças Militares colombianas, general Freddy Padilla de León, negou ontem enfaticamente que os 15 reféns resgatados na quarta-feira tenham sido entregues em troca de dinheiro, e não graças a uma "infiltração" da inteligência militar no comando das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). A Rádio Suisse Romande, emissora estatal com sede em Berna, divulgou a versão de que Gerardo Aguilar, codinome César, comandante do acampamento onde estavam os reféns, teria recebido US$ 20 milhões para entregá-los."Posso jurar como comandante das Forças Militares e por minha honra militar que o governo da Colômbia não pagou um só peso, um só centavo", disse Padilla. O general argumentou que, se essa versão fosse verdadeira, o Exército e o governo não teriam problemas em assumi-la: "Isso teria sido mais demolidor no interior das Farc, teria sido um incentivo para que outros se somassem à desmobilização que nós estamos privilegiando. Teria sido um troféu."Ao afirmar que o governo da Colômbia não pagou nada, Padilla não desmente diretamente a versão do jornalista Frederich Blassel, da emissora estatal suíça. Citando uma fonte anônima "próxima aos acontecimentos, fiel e provada em reiteradas ocasiões nos últimos anos", o jornalista afirma que o dinheiro teria sido pago pelo governo dos EUA. Mas o embaixador americano em Bogotá, William Brownfield, negou: "Não demos nem um dólar, nem um peso, nem um euro."O ministro colombiano da Defesa, Juan Manuel Santos, disse que a operação foi "100% colombiana" e não houve pagamento: "Essa informação é totalmente falsa, US$ 20 milhões até teria sido barato, porque teríamos oferecido até US$ 100 milhões." Os EUA teriam um interesse especial em libertar os reféns americanos Keith Stansell, Thomas Howes e Marc Gonsalves, que seriam não funcionários civis contratados pelo Departamento de Defesa, como divulgado, mas agentes do FBI, a polícia federal americana, emprestados à Agência de Combate às Drogas (DEA); ou, segundo outra versão, agentes da CIA, o serviço secreto americano. Seu avião caiu - ou foi abatido pelas Farc, segundo a versão da guerrilha - em fevereiro de 2003, quando eles faziam vôo de reconhecimento no Departamento de Caquetá, no sul do país. O piloto Tom Janis e um sargento colombiano que também estava no Cessna foram fuzilados pelos guerrilheiros. A fonte de Blassel afirma que os militares colombianos chegaram até César por meio de sua mulher, Nancy Conde. Conhecida pelo codinome Doris Adriana, ela foi presa em fevereiro pelo Exército colombiano em Cúcuta (no Departamento Norte de Santander). O jornalista diz que, segundo sua fonte, as negociações não envolveram as Farc como organização, mas apenas César.Comandante da Frente Primeira das Farc e considerado o seu "carcereiro-mor", César gozava da total confiança do chefe militar do grupo, Victor Julio Suárez Rojas, codinome Mono Jojoy. A versão do Exército de que teria convencido o experimentado guerrilheiro de que uma fictícia organização não-governamental internacional viria buscar os reféns e levá-los para o comandante das Farc, Alfonso Cano, causou incredulidade.O Exército garante que sua inteligência se infiltrou no "secretariado" (comando) das Farc e simulou até uma autorização verbal de Cano para que os reféns fossem deslocados de helicóptero. Dois outros aspectos da versão do Exército a tornam ainda mais espetacular. Os militares teriam convencido César a juntar os 15 reféns, que estavam em três acampamentos, distantes 50 quilômetros entre si. Além disso, César e seu número 2, Alexander Farfán, codinome Enrique Gafas, teriam aceitado, de última hora, entrar no helicóptero que levaria os reféns e ainda entregar suas pistolas, sob o argumento de que se tratava de uma "missão humanitária internacional". Na quinta-feira, o comandante do Exército colombiano, general Mario Montoya, expôs César e Gafas à imprensa, num quartel da Polícia Militar em Bogotá. Com o olho direito coberto por um hematoma e outros ferimentos no rosto, César não quis responder às perguntas dos jornalistas, assim como Gafas. Montoya defendeu a aceitação do pedido de extradição dos guerrilheiros, feito pelos EUA, por suposto envolvimento em narcotráfico - além do seqüestro dos três americanos. Os dois guerrilheiros estão sob custódia do Ministério Público.

Yeda fica mais refém da base após ser poupada na CPI do Detran

Por Graciliano Rocha
na Folha de São Paulo

A exclusão do nome da governadora Yeda Crusius (PSDB) do relatório da CPI que investiga o desvio de R$ 44 milhões do Detran (Departamento Estadual de Trânsito) do Rio Grande do Sul arrefeceu a crise política enfrentada pelo governo gaúcho, mas acentuou a dependência da tucana em relação à sua base aliada na Assembléia Legislativa.Na segunda-feira, a governadora deverá apresentar mudanças no primeiro escalão do governo, fazendo concessões aos partidos aliados -PMDB e PP, que, juntos, têm 18 dos 55 votos da Assembléia.Yeda deverá substituir Fernando Zachia (PMDB), que perdeu o apoio da bancada, por um outro nome indicado pelos deputados da legenda na Secretaria de Desenvolvimento.A governadora também estuda a ampliação do espaço dos aliados com a troca de secretários de perfil considerado técnico por políticos com aval político das bancadas aliadas em outras três secretarias: Segurança Pública, Planejamento e Ciência e Tecnologia.São cotados para integrar o primeiro escalão o líder do governo na Assembléia, Márcio Biolchi (PMDB), e o deputado Jerônimo Göergen (PP).Enquanto a governadora aguardava o desfecho da CPI para definir as mudanças no secretariado, a aprovação do relatório do deputado Adilson Troca (PSDB), que isentou a tucana e quatro ex-secretários de responsabilidade na fraude, foi um teste de fidelidade para os governistas da Assembléia.Nove dos 12 deputados indicaram que votaram com o governo, aprovando o relatório. Só deputados do PT e do DEM foram contrários. "Alguns podem não ter concordado com o relatório, mas não havia nada concreto para indiciar a governadora, é apenas indiciamento político", disse o relator.Dois deputados da base, Alexandre Postal (PMDB) e Cassiá Carpes (PTB), que durante a semana chegaram a defender o pedido de indiciamento dos ex-secretários de Yeda, foram enquadrados pelo Palácio Piratini (sede do governo) e votaram a favor do relatório de Troca.A surpresa do último dia foi o oposicionista PDT, que aderiu à tese governista.A CPI do Detran começou em fevereiro deste ano para investigar o desvio de R$ 44 milhões do Detran gaúcho. A fraude, que foi desmontada pela Operação Rodin da Polícia Federal, em novembro de 2007, consistia no desvio de dinheiro resultante do superfaturamento dos preços da avaliação dos candidatos a motorista. Hoje, 40 pessoas são rés em ação que tramita na Justiça Federal.O presidente da CPI, Fabiano Pereira (PT), criticou o relatório. "O relatório estimula a impunidade porque prefere a idéia do abafamento", afirmou.

Planalto libera R$ 667 mi em emendas no último mês

Por Maria Clara Cabral
na Folha de São Paulo

Na corrida para empenhar verbas de emendas parlamentares antes das eleições, o governo assumiu nos últimos 33 dias o compromisso com o pagamento de R$ 667 milhões, 98,5% do total do ano, segundo levantamento feito pela assessoria do PSDB, com base no Siafi (sistema de acompanhamento de gastos federais).Os números também revelam que o governo favoreceu no empenho das emendas os parlamentares candidatos a prefeito ou vice de sua base.Dos 88 congressistas que vão concorrer, 65 são aliados ao Planalto e 23 são de partidos oposicionistas. Do total da verba pedida pelos candidatos governistas, o Planalto se comprometeu com 61%. Já com a oposição, se comprometeu com 46% do que foi pedido.O levantamento mostra que, nos primeiros cinco meses do ano, foram empenhados cerca de R$ 10 milhões em emendas individuais contra os R$ 667 milhões dos últimos 33 dias.Do total empenhado no ano, o PMDB, maior partido da base aliada, foi o mais beneficiado. Os dados da assessoria tucana mostram que, para seus parlamentares, o governo se comprometeu em gastar cerca de R$ 144 milhões. O PT foi o segundo maior beneficiado, com R$ 88 milhões. O DEM, um dos principais partidos da oposição, vem em terceiro, com cerca de R$ 75 milhões.O compromisso de gastos do governo também aumentou às vésperas da votação do projeto que criou a CSS (Contribuição Social para a Saúde) na Câmara, no mês passado.O líder do PSDB na Câmara, deputado José Aníbal (SP), disse acreditar que o crescimento na liberação de emendas parlamentares no último mês seja uma forma de o governo "agraciar" seus parlamentares, principalmente os candidatos."O marketing no governo é muito forte e as emendas são uma forma grande de fazer propaganda nas cidades. É esse o procedimento do PT e de sua base, partidos de circunstância, que negociam emendas, que negociam cargos. Eles negociam permanentemente."A legislação proíbe a transferência de renda extra da União para municípios 90 dias antes das eleições -o prazo se encerra hoje. Por isso, em ano eleitoral os empenhos são maiores no primeiro semestre. O governo só pode voltar a realizar empenhos após o segundo turno.Em 2004, também houve um aumento significativo no empenho em junho, mês que antecede a proibição. Foram R$ 366,7 milhões no semestre, sendo que, naquele ano, cada parlamentar só podia apresentar até R$ 2,5 milhões. Em 2008, pode até R$ 8 milhões.O subchefe de assuntos parlamentares do Ministério das Relações Institucionais, Marcos Lima, admitiu que a ordem do governo é empenhar o máximo possível. Ele alega que, se for esperar pelo segundo turno, só terá dois meses para liberar tudo. Segundo ele, a intenção era empenhar, até hoje, cerca de R$ 3,5 bilhões, entre todos os tipos de emenda. Em 2007, diz, esse foi o valor total de empenhos. O valor máximo para apresentar emenda no ano passado, porém, era menor. Lima nega caráter eleitoreiro.

Mônaco autoriza extradição, e Cacciola deve voltar em 15 dias

Por Pedro Dias Leite
na Folha de São Paulo

Oito anos depois de sua fuga para a Itália, o ex-banqueiro Salvatore Cacciola deve voltar ao Brasil em até 15 dias, segundo o Ministério da Justiça, para cumprir sua pena. O príncipe Albert 2º assinou ontem a autorização para a extradição, que confirmou a decisão da Justiça monegasca quase dez meses após sua prisão no Principado, em 15 de setembro de 2007.Por ora, o governo brasileiro aguarda o sinal verde de Mônaco sobre o cumprimento das burocracias diplomáticas necessárias para o transporte do ex-banqueiro a algum aeroporto francês, em Nice ou Paris.Vencida essa burocracia, via Interpol (polícia internacional), o governo brasileiro afirma que Cacciola chegará num prazo de 48 horas ao Brasil e será apresentado à Justiça Federal do Rio, onde foi emitido o mandado de prisão contra ele. Ainda não está definido se o ex-banqueiro seguirá ao Brasil num vôo de carreira ou em alguma aeronave da FAB (Força Aérea Brasileira) a ser deslocada para a França.A advogada italiana de Cacciola, Alessandra Mocchi, disse à Folha que a defesa ainda não tinha idéia do que fazer, mas que "tudo depende do que decidir o senhor Cacciola". Há a possibilidade de um último recurso contra a decisão do príncipe, mas a chance de sucesso é remota e não deve interromper a extradição. O ex-banqueiro deve decidir no fim de semana se tentará essa última cartada.A realidade de Cacciola deve mudar radicalmente. O ex-banqueiro sairá de sua cela individual, com 12 m2, TV, frigobar e vista para o mar e deve ficar em uma prisão comum no Brasil -como já houve sentença, ele não terá direito a prisão especial. No entanto, o governo estuda colocá-lo na Polinter, no Rio, dada a repercussão do caso. O tempo de Cacciola na prisão de Mônaco será abatido do que falta cumprir no Brasil.O caso se arrastou por quase dez meses por uma combinação de recursos da defesa para adiar o processo com erros do governo brasileiro, que enviou tradução ruim de documentos do português para o francês.O ex-banqueiro vivia na Itália desde julho de 2000, quando aproveitou um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal e fugiu do Brasil. Ele não podia ser extraditado por ter cidadania italiana. Depois de um passeio por Nice, resolveu passar o final de semana em Mônaco. Quando seu passaporte foi registrado no hotel, apareceu a informação de que ele era foragido internacional.Cacciola era dono do banco Marka e se envolveu em operações que resultaram num prejuízo de R$ 1,6 bilhão para o governo brasileiro, durante a desvalorização forçada do real, em 1999. Chegou a passar mais de um mês preso em 2000. Em 2005, foi condenado a 13 anos de prisão pelos crimes de gestão fraudulenta de instituição financeira no mercado brasileiro e peculato (uso do cargo exercido para apropriação ilegal de dinheiro).
"Exemplo"
O secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Jr., que acompanhou o processo pelo governo brasileiro, comemorou e disse que "o príncipe destronou o rei da impunidade".O ministro Tarso Genro (Justiça) afirmou ontem que a extradição de Cacciola serve como exemplo aos que desejam violar a lei no país."Numa sociedade em que as pessoas que cometem delitos são punidas, isso [extradição] funciona como exemplo para aqueles que eventualmente têm o desejo de violar a lei. E representa um alento para aqueles que resguardam sua vida dentro da legalidade", afirmou.Tarso disse ter recebido a confirmação por telefone de uma autoridade monegasca no início da manhã de ontem. Segundo Tuma Jr., um representante do governo federal irá a Mônaco para acompanhar a extradição. "Agora é uma questão de planejamento, uma questão de logística de uma operação policial basicamente. E tem ainda aspectos administrativos que vamos acompanhar até o fim", disse Tuma Jr.O presidente Luiz Inácio Lula da Silva considerou a extradição uma "vitória política" de seu governo e da Justiça brasileira. Avalia que trará dividendo político a imagem do retorno de um ex-banqueiro condenado por crime do "colarinho branco", segundo expressão usada em conversa reservada.No entanto, não pretende usar o episódio para luta política com o PSDB. A fraude cometida por Cacciola aconteceu no governo Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente com quem Lula tenta restabelecer melhor convivência política. Lula deverá convidar FHC para um encontro em breve.

"As Farc no papel de otário" por Roberto Pompeu de Toledo

De Sierra Maestra a San José del Guaviare cumpriu-se um ciclo na história da América Latina. Em Sierra Maestra, no sul da ilha de Cuba, onde, na passagem do ano de 1956 para o de 1957, se juntou o pequeno grupo de seguidores de Fidel Castro para iniciar a luta contra a ditadura de Fulgencio Batista, nasceu o mito do guerrilheiro romântico, destinado a pairar sobre a vida do continente pelo próximo meio século. Em San José del Guaviare, localidade da Colômbia em cujas cercanias foram resgatados, na quarta-feira passada, Ingrid Betancourt e outros catorze reféns das Farc, o mito, já abalado por sucessivas derrotas e desgastado pela velhice e pelo descrédito, conheceu um fim humilhante. As Farc, sua última encarnação, perderam o cacife que lhes restava sem direito a um único tiro para lhes salvar a honra. Foram vencidas, como o caipira que cai no conto-do-vigário, pelo truque de um adversário mais esperto.
A imagem do guerrilheiro que desce da montanha com a promessa de um mundo novo foi muito ajudada pelo clima reinante à época em que surgiu em cena. As barbas de Fidel Castro dialogavam com os cabelos compridos dos Beatles. Na salada geral dos anos 60, não importava que uns tivessem um fuzil na mão e outros pregassem paz e amor, que uns mirassem num regime de força e outros se refestelassem na anarquia; eram todos partes de um sonho em que tudo parecia possível. Em contraste, ao falecer, no início do ano, o líder das Farc, Manuel Marulanda, já não podia ombrear sequer com o antigo ídolo do rock reduzido a cantor de churrascaria. Era pior: o cantor que perdera a voz, e mal dedilhava a guitarra desafinada. A Manuel Marulanda, el Tirofijo, segundo o apelido que tentava insuflar-lhe alguns trocados de prestígio, coube o destino cruel, para um guerreiro, de morrer na cama. Ao contrário de Che Guevara, não conheceu, nem conhecerá, a glória das camisetas e dos pôsteres.
O Muro de Berlim desabou, a Guerra Fria chegou ao fim, o capitalismo mostrou-se dono de muito mais que sete fôlegos. Não repisemos essas histórias. As causas pelas quais as Farc não encontraram o mesmo terreno favorável da guerrilha cubana são conhecidas. Fiquemos com a questão do mito. Na América Latina, tão mais dada à retórica do que à ação, tão mais tentada pela fantasia do que pela realidade, a noção de que um pequeno grupo de jovens, um ideal na cabeça, uma barba no queixo e um fuzil na mão, fosse capaz de reinaugurar o mundo sobreviveu a mais de uma geração. A derrota de Che Guevara na Bolívia não a arrefeceu, muito pelo contrário. Serviu de inspiração para movimentos guerrilheiros (muitas vezes degenerando em terrorismo) que floresceram da Venezuela ao Uruguai, da Nicarágua ao Chile, passando pela Argentina e pelo Brasil.
Um dos últimos, o Sendero Luminoso, do Peru, já exibia os sinais de fadiga que haveriam de culminar nas Farc: a prática do crime pelo crime, o casamento com o narcotráfico. A imagem do líder do Sendero, Abimael Guzmán, exibido numa jaula dentro da qual esperneava como um gorila e rugia como um urso, depois de preso e levado a julgamento, no começo dos anos 90, distanciava-se irremediavelmente do olhar romântico do Che, tal qual capturado na foto de Alberto Corda. Na etapa seguinte, os ativistas das Farc iriam merecer o epíteto infamante de narcoguerrilheiros. E em meses recentes destacaram-se como torturadores dados a manter seus seqüestrados presos a troncos de árvores.
As Farc cumpriram à perfeição o roteiro imaginado pelo cientista político americano Eric Hoffer: "Toda grande causa começa como um movimento, vira um negócio e finalmente degenera numa quadrilha". Ou melhor, até anteciparam a ordem prevista por Hoffer, na medida em que os ramos de negócio que abraçaram, o narcotráfico e o seqüestro, já se confundiam com atividades quadrilheiras. Não há mito que resista. A imagem que hoje comove o mundo não é a do guerrilheiro vencido, como, nos anos 60, a de Guevara morto. É a de Ingrid Betancourt, a vítima da guerrilha.
O arremate veio na forma como foram libertados os reféns, na semana passada. Na aurora do mito, esperta era a guerrilha, e os governos é que eram feitos de bobo. Os tupamaros, nos primeiros tempos, antes de o conflito com a ditadura uruguaia virar um torneio de sangue, eram especialistas em brincar de esconder com os agentes da repressão. Faziam uma manifestação-relâmpago em certo lugar e quando a polícia chegava estavam em outro. Assaltavam um banco e corriam para distribuir o dinheiro entre os pobres. Na operação de resgate da semana passada, agentes do governo colombiano fingiram-se de guerrilheiros e assim obtiveram a pacífica entrega dos reféns. Pode ser que a história não seja bem essa, e tenha envolvido o suborno de algum chefe ou chefete da guerrilha. Em qualquer caso, as Farc entraram de trouxas na história. É difícil, mas vá lá que o mito até possa ter resistido à degenerescência do ideal em negócio, ou do negócio em crime. Não pode resistir à fama de otário.

"O país do Zé Pretinho" por Diogo Mainardi

Lula - ?

É isso que consta na lista de pagamentos do empreiteiro Zuleido Veras, dono da Gautama, preso no ano passado. O nome de Roseana Sarney, que também faz parte da lista, é seguido por um número: 200 000. O nome do tio de Roseana, o "Gaguinho", é seguido por outro número, bem mais modesto: 30 000. E Lula? Lula, no momento em que a lista foi feita, no começo da última campanha eleitoral, ainda era um ponto a ser respondido. Um ponto particularmente importante, sublinhado. Ninguém sabe se Lula acabou recebendo algum número da Gautama. Pior: ninguém se interessou em saber. Duas semanas atrás, VEJA reproduziu a lista de pagamentos do empreiteiro, que está em poder da PF, contendo o nome de Lula. O resto da imprensa ignorou o assunto. O Congresso Nacional ignorou o assunto. Os leitores ignoraram o assunto.
A idéia de que é perfeitamente inútil continuar a denunciar Lula se alastrou por aí. Leio uns dez blogueiros amargurados por dia dizendo que ele é imune a tudo. Que o Brasil está rendido. Que está entorpecido. Que está em coma. Na falta de outros argumentos, esse acabou se transformando também no maior fator de orgulho para os lulistas. Eles sempre se gabam do fato de Lula conseguir manter-se imensamente popular a despeito de todas as ilegalidades de que é acusado. Mas esse é um grande embuste. E eu me recuso a aceitá-lo. O lulismo se especializou em surrupiar as glórias nacionais. Agora está tentando surrupiar a principal delas: o nosso longo histórico de alegre e sincera subalternidade. É bom lembrar: nós já éramos obstinadamente servis antes de Lula, e permaneceremos assim depois dele. Quem Lula pensa que é? Em 1937, Getúlio Vargas deu seu golpe de estado. Poucos meses depois, os sambistas se acotovelavam para determinar quem conseguia lamber as botas do ditador de maneira mais degradante:

Surgiu Getúlio Vargas,
O presidente brasileiro,
Que entre seus filhos
Como um herói foi o primeiro.

Essa marchinha foi composta por Zé Pretinho. Encontrei-a na página da internet do ministro da Propaganda de Lula, Franklin Martins, um dos maiores estudiosos do nosso cancioneiro político. É muito apropriado que, nestes últimos anos, Franklin Martins tenha se tornado um símbolo do adesismo da imprensa lulista, um Zé Pretinho do jornalismo. Recomendo uma atenta consulta à sua página. Há desde a ode à Petrobras ("Brasil, meu Brasil / Vais crescer ainda mais / Com a Petrobras") até a embolada em defesa da prática do nepotismo ("O meu irmão / Pru sê um moço de talento / Punha no Saninhamento"), que deve ser especialmente estimada por Franklin Martins.
Quando algum lulista vier importuná-lo ostentando a popularidade de Lula, pegue o bandolim e entoe o sambinha getulista:

Brasil, meu Brasil de verde mar,
Gigante que desperta de um sono secular.
Brasil, orgulho do brasileiro,
Tens no leme do teu barco
Um herói por timoneiro.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Polícia investiga empresa usada por donos da Varig

Por Marcelo Godoy
no Estado de São Paulo

Uma empresa suspeita de envolvimento na conexão Brasil-Angola do tráfico internacional de cocaína é a origem da Voloex Participações e Investimentos, criada a pedido do empresário Lap Chan para exercer a opção de compra das ações dos então sócios brasileiros da VarigLog. Trata-se da Health Translating Ltda. Adquirida em 2007 por Chan Luo Wai Ohira, irmã de Lap, ela se transformou em Voloex. A operação contou com a participação do advogado Roberto Teixeira, o compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É o que mostra investigação da Polícia de São Paulo, que intimou Teixeira para depor."Essa é mais uma das tentativas reiteradas de se utilizar inquéritos para constranger o senhor Lap e, agora, o Roberto", disse o criminalista Renato Marques Martins, que representa Lap e Teixeira. A constituição da Voloex foi a saída achada por Lap e pelo fundo de investimento americano Matlin Patterson para exercer a compra das ações de três sócios brasileiros e continuar no comando da empresa. Para substituir Marco Antonio Audi, Marcos Haftel e Eduardo Gallo, Lap e o fundo precisavam de outros sócios, também brasileiros, pois a lei proíbe estrangeiros de ter mais de 20% do capital votante de empresa aérea nacional, como a VarigLog. Em vez de arrumar novos sócios, a solução foi transferir o controle à Voloex.O inquérito policial nº 050.078002720-6/0000, distribuído à 17ª Vara Criminal de São Paulo, foi aberto para investigar associação para o tráfico de drogas, mas acabou esbarrando na operação de montagem da Voloex. Ele mostra que, mais do que atuar para que a Varig fosse vendida à VarigLog, o escritório de Teixeira arquitetou o contrato que transformou a Health Translating em Voloex Participações.Ao depor em 10 de junho, o contador João Muniz Leite disse que foi procurado em agosto de 2007 por Larissa Teixeira, filha de Roberto. Segundo ela, "um cliente queria constituir uma empresa no Brasil com a maior brevidade possível, não especificando o ramo". Por causa da greve da Receita, o contador propôs a compra de uma empresa já constituída. Assim, a Health foi adquirida a custo zero em 6 de setembro de 2007.Primeiro o nome mudou para Health Finance Participações Ltda. É quando aparece a irmã de Lap. Em 14 de setembro, o nome da empresa passou a ser Voloex e o capital subiu de R$ 1 mil para R$ 500 mil. O contador disse que se limitou a apresentar aos sócios da Health a proposta do escritório Teixeira Martins, além de fazer o registro da operação nos órgãos competentes.Leite disse que os contratos e alterações na constituição da empresa foram redigidos "no escritório Teixeira Martins". A polícia questionou se "havia ocorrido a integralização do capital social, o que devia ocorrer até 28 de setembro". Leite afirmou: "Não há indicativos de que tenha existido a efetiva integralização ou não do capital".Em 12 de março, os policiais ouviram o zelador do prédio para o qual foi transferida a Health após a venda. A empresa, antes registrada em Santana do Parnaíba, mudou-se para a Rua Padre João Manoel, em Cerqueira César. O zelador Eurípedes Elói da Silva disse que em 2007 os donos da empresa "colocaram apenas carpete na sala, porém não houve solicitação de autorização para entrada de móveis para o pleno funcionamento da empresa".Em 26 de novembro de 2007, Chan Lou retirou-se da sociedade. Foi substituída pela Volo Logistics Llc, com sede em Delaware, EUA, sendo Lap Chan seu representante no Brasil. É para esclarecer como Lap adquiriu de graça a Health Translating e a origem do dinheiro que fez com que em dois meses o capital da empresa saltasse de R$ 1 mil para R$ 3,1 milhões que a polícia quer ouvir Teixeira. O advogado faltou na primeira vez que foi intimado, dia 26, alegando outro compromisso. O caso foi enviado à Justiça e, quando voltar ao Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc), nova data será marcada.

Temporão perde força no Planalto

Por Vera Rosa
no Estado de São Paulo

O desempenho do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, preocupa o Palácio do Planalto às vésperas das eleições municipais. Em conversas reservadas, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, avalia que, além de estar em rota de colisão com o PMDB, o ministro enfrenta problemas de gestão e arruma polêmica desnecessária. O sinal amarelo foi aceso porque o Planalto está certo de que a saúde será um dos principais trunfos do governador de São Paulo, José Serra, pré-candidato do PSDB à Presidência em 2010.O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não planeja substituir Temporão, ao menos por enquanto, mas há no Planalto quem sugira nova análise do cenário depois das eleições de outubro, quando a Contribuição Social para a Saúde (CSS) - que ressuscita a CPMF - tiver passado pelo crivo do Senado. Um dos nomes lembrados para o cargo é o do prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), que encerrará seu mandato neste ano e é considerado um bom gestor.O diagnóstico do Planalto é de que falta um projeto de visibilidade ao ministério de Temporão. Ex-ministro da Saúde no governo Fernando Henrique, Serra, por sua vez, tem como marca a criação dos medicamentos genéricos. Cansados de ouvir queixas, o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), e o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), chamaram Temporão para uma conversa, na quarta-feira.O café da manhã, na casa do deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS), transformou-se num muro de lamentações. A cúpula do PMDB fez coro com deputados e senadores de outros partidos, que cobram ferozmente a liberação de emendas parlamentares. Levantamento do DEM, com dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo (Siafi), mostra, por exemplo, que a pasta da Saúde reservou R$ 3,37 bilhões para investimentos, neste ano, mas até agora só pagou R$ 34,2 milhões ou 1,02%.Temer, Padilha e Alves disseram a Temporão que ou ele se "enquadrava" ou não sobreviveria após as eleições. Perdeu até o apoio de seu padrinho, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB). O ministro não quis falar sobre o assunto, mas seus auxiliares observaram que a fritura política começou quando ele se recusou a atender a "pedidos inconfessáveis" do PMDB. Contaram, ainda, que a ordem é avaliar com lupa as demandas do Congresso para evitar novos escândalos, como o dos vampiros e o dos sanguessugas, que abalaram a imagem da pasta.O presidente do PMDB admite as queixas contra Temporão, mas nega que o partido vá rifá-lo. "Dissemos a ele que vamos sustentá-lo no governo", garantiu. No auge da crise com o PMDB, surgiram rumores de que o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), seria aliado de Temer para "queimar" o ministro por estar de olho na sua cadeira, a partir de 2009, quando deixará o comando da Casa. "Telefonei para Temporão e disse que, se quisesse, faria gesto público de apoio à sua gestão", afirmou Chinaglia. "Podem querer atingi-lo usando meu nome para intriga."Conhecido por defender causas polêmicas, como a restrição da propaganda de cerveja na TV, Temporão diz que não vai desistir de suas batalhas. Mesmo com as dificuldades para aprovação da CSS na Câmara, ele acredita que a contribuição receberá sinal verde no Senado. A alíquota proposta sobre movimentações financeiras é de 0,1% e o governo espera receita adicional de R$ 11,8 bilhões."Temporão é um ministro de factóides, mas o resultado concreto de suas ações é zero à esquerda", provocou o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO). "O problema do ministério não é de dinheiro, mas de gestão: temos um apagão na saúde e a dengue ameaça voltar." Para Temporão, argumentos assim refletem "profunda ignorância". "Temos de sair do discurso irresponsável de que o País arrecadou muito. A saúde precisa de regularidade de recursos", disse ele, em entrevista recente ao Estado.

Ingrid aceita terceiro mandato de Uribe

Na Folha de São Paulo com agências internacionais

De um lado, abraços emocionados nos filhos; de outro, promessas de luta pela libertação de reféns em todo o mundo. Em seu primeiro dia de liberdade após seis anos de cativeiro, a ex-refém das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) Ingrid Betancourt, 46, se dividiu ontem entre a maternidade e a política.Sua face política teve o ponto alto no final da tarde, quando Ingrid disse em entrevista coletiva na Embaixada da França em Bogotá que a questão do acordo humanitário entre as Farc e governo perdeu um pouco de lugar com o resgate, na quarta, dela e de mais 14 reféns.Ingrid defendeu uma solução negociada para a questão e pediu "todo o apoio internacional" para fazer com que "as Farc compreendam que a opção da guerra está acabada".Depois de ter afirmado que "ainda aspira à Presidência", a ex-candidata colombiana não se opôs, quando indagada, a um eventual terceiro mandato do presidente Álvaro Uribe. "Se o povo quiser, por que não?""A reeleição [de Uribe em 2006] foi muito boa para a Colômbia. Isso não quer dizer que [eu] concorde com tudo o que o presidente fez", afirmara antes.Partidários do presidente colhem assinaturas para um referendo que mude a lei e permita a Uribe se candidatar.Já sobre uma possível candidatura própria, a franco-colombiana afirmou que essa é uma decisão que precisa de "reflexão" com sua família, em especial com seus filhos. Ela disse não saber do futuro. "Tinha me programado para passar mais quatro anos na selva. A liberdade chegou de surpresa, ainda estou anestesiada."Ingrid foi resgatada na quarta-feira pelo Exército colombiano. A operação, ainda cercada de mistério, contou com soldados disfarçados de guerrilheiros que buscaram a ex-candidata à Presidência, três americanos e outros 11 colombianos na selva em um helicóptero militar simulando o de uma agência humanitária fictícia.
Agenda cheia
Anteontem, Ingrid estreou a liberdade com noite insone na casa da mãe, quando contou ao marido, Juan Carlos Lecompte, e a familiares as tristezas do cativeiro. A seu pedido, tomou um café da manhã de laranjas e se reencontrou por volta das 8h, entre lágrimas, com os filhos Lorenzo, 19, e Melanie, 22, que chegaram da França."O paraíso, o nirvana deve ser algo muito parecido com o que estou sentindo agora. Estes filhos são minha luz, minha lua, minhas estrelas. Por eles continuei com vontade de sair da selva, para voltar a vê-los", disse.Ela não esperou Melanie e Lorenzo saírem da aeronave: subiu correndo as escadas do avião e teve uma reunião particular de 15 minutos. Ao sair do avião, ainda abraçada aos dois, ela disse entre beijos que "agora vão ter de aturá-la, pois vai ficar grudada que nem chiclete".Ontem também se reuniu com Emmanuel, filho de sua companheira de seqüestro Clara Rojas que nasceu na selva.Mas Ingrid não perdeu a oportunidade apresentada pelos holofotes. Ela convidou os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, do Equador, Rafael Correa, e da Argentina, Cristina Kirchner, a ajudar a fortalecer a democracia na Colômbia -e "não a guerrilha".A ex-refém afirmou que o papa a receberá para uma audiência, talvez na próxima semana.Ingrid partiu para a França ontem à noite.Sobre os anos de cativeiro, ela disse que foi tratada "como um cachorro". "Não era tratamento nem para um animal. Só havia crueldade, arbitrariedade e maldade."O cabo do Exército colombiano e ex-refém William Pérez, que foi resgatado com Ingrid, contou que usou conhecimentos de enfermagem para salvar a vida da colega. Ele disse que ela "sumiu" de depressão, não podia mover os braços e quase perdeu a lucidez. "Estava muito debilitada e foi preciso lhe dar soro e alimentá-la com cuidado, pois vomitava tudo."Hoje, para o marido, "ela está muito bem, generosa de espírito e lúcida. O corpo tem algumas seqüelas, mas nada grave. Sua alma está fortalecida".Mas os relatos dos ex-reféns mostram uma vida de espera e sofrimento. Refeições eram limitadas a arroz e feijão, às vezes macarrão ou lentilhas. Banhos eram feitos em rios e, quando não estavam acorrentados a árvores, os seqüestrados eram forçados a caminhar por longas distâncias.A situação piorou no último ano, com a aproximação de forças do governo, que tornou os recursos difíceis de obter.Em um dia comum, eles seriam acordados às 5h30. Tomariam café e comeriam bolo de milho; escutariam o rádio e fariam exercícios por uma hora. Dormiriam às 18h. Como escreveu Ingrid à mãe durante o cativeiro: "A vida aqui não é vida. É uma total perda de tempo".

CPI isenta Yeda e o 1º escalão do governo de fraude no Detran-RS

Por Graciliano Rocha
na Folha de São Paulo

Depois de provocar desgastes à governadora Yeda Crusius (PSDB), a CPI da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul que investiga o desvio de R$ 44 milhões do Detran (Departamento Estadual de Trânsito) gaúcho termina hoje com um relatório que isenta a tucana de responsabilidade na fraude.Às 9h de hoje, os deputados votam o texto do relator Adilson Troca (PSDB), a cuja conclusão a Folha teve acesso.A CPI foi uma fonte constante de problemas para a governadora. Foi ali que a oposição exibiu grampos telefônicos e documentos obtidos pela Polícia Federal que provocaram a queda de quatro secretários do governo de Yeda.Segundo o relatório de Adilson Troca, 41 pessoas foram responsáveis pela fraude no Detran -nenhuma com foro privilegiado, como Yeda ou membros do primeiro escalão do governo tucano.O relatório de Troca, que conta com a maioria governista de 7 dos 12 integrantes da CPI para ser aprovado, reconhece a existência de um esquema de desvio a partir do superfaturamento nos preços das carteiras de motoristas e cita 41 pessoas como responsáveis pela fraude -entre elas o empresário tucano Lair Ferst e os ex-presidentes do Detran Flávio Vaz Netto e Carlos Ubiratan dos Santos, que negaram envolvimento.Não há novidades significativas em relação à denúncia feita pelo Ministério Público Federal, em maio, que resultou em uma ação criminal contra 40 pessoas por crimes como locupletamento em dispensa de licitação, peculato (desvio de dinheiro público), corrupção e formação de quadrilha.
Relatório paralelo
A oposição a Yeda, liderada pelo PT, preparou um relatório paralelo que pede o indiciamento da governadora, de quatro ex-secretários, do deputado federal José Otávio Germano (PP) e do presidente do TCE (Tribunal de Contas do Estado) do Rio Grande do Sul, João Luiz Vargas, por improbidade administrativa.Segundo o PT, depoimentos e evidências colhidas durante a investigação da PF -carta na qual Lair Ferst detalha o esquema antes de ele se tornar público- indicam que a governadora teria deixado de tomar providências para impedir a fraude.Outro item do relatório petista é um pedido de investigação da compra da casa da governadora. Em dezembro de 2006, a tucana comprou a casa por R$ 750 mil -valor superior ao valor total dos bens declarados pela tucana em maio.A assessoria de Yeda disse que ela não comentaria a CPI. Para o porta-voz do governo, Paulo Fona, a suspeita sobre a compra da casa da governadora é um "factóide do PT".O PT também pediu o indiciamento dos ex-secretários Delson Martini (Governo), Marcelo Cavalcante (Representação no Distrito Federal), Cézar Busatto (Casa Civil) e Ariosto Culau (Planejamento) por improbidade.Os petistas querem ainda o indiciamento do deputado Germano, que apareceu em escutas telefônicas discutindo com Vaz Netto o curso de uma investigação do TCE sobre a fraude no Detran. Germano é o padrinho político dos dois ex-presidentes do Detran acusados de receber propina do esquema.Vargas teria sido citados sob as iniciais JLV em atas de reuniões dos acusados. Ele afirmou que só se manifestaria na defesa que deverá entregar ao TCE nesta sexta-feira.

Tarso libera R$ 80 mi a 3 meses da eleição

Por Rubens Valente
na Folha de São Paulo

Às vésperas das eleições municipais, o Ministério da Justiça anunciou o repasse de R$ 80 milhões a 58 prefeituras de onze regiões metropolitanas do país para financiamento de projetos de prevenção e combate à violência.Dos municípios beneficiados, 47 são administrados por partidos da base aliada (81%), sendo 19 do PT, contra onze dos partidos de oposição PSDB e DEM. O ministério afirmou que os critérios para definir os valores foram técnicos, baseados principalmente no número absoluto de homicídios.São os primeiros repasses a municípios no Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania), criado no ano passado. O Pronasci envolve 94 projetos diferentes, um dos quais chama-se Mulheres da Paz, que prevê o pagamento de uma bolsa mensal de R$ 190,00 para "lideranças femininas para se aproximar de jovens em situação de risco infracional ou criminal". O ministério ambiciona "formar", por meio dos municípios, 5.300 mulheres até o ano de 2011.Por causa da lei eleitoral, que proíbe transferências voluntárias da União a Estados e municípios nos três meses que antecedem o pleito, o ministério tem até hoje para completar os repasses aos municípios.
São Paulo
O ministério anunciou também que começou a liberar R$ 502 milhões para 18 Estados. Anteontem, em entrevista em São Paulo, o ministro Tarso Genro (PT-RS) disse que o município, administrado pelo DEM, será contemplado com R$ 13 milhões, mas a cidade não estava incluída na lista das 58 divulgada pelo ministério na última sexta-feira.O valor destinado aos municípios na atual pré-campanha eleitoral de 2008 representa o dobro do repassado no ano de 2007. "O recurso destinado aos municípios é recorde se comparado ao repasse do Fundo Nacional de Segurança Pública para estes entes federados em 2007, que foi de R$ 42 milhões", informou o ministério, em nota à imprensa.Um dos municípios mais bem aquinhoados foi Diadema (SP), administrado por José de Filippi Júnior (PT), que foi o tesoureiro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2006. A cidade receberá R$ 3,87 milhões para custeio de cinco projetos.A secretária de Defesa Social de Diadema, Regina Miki, disse que o ministério primeiro definiu as onze regiões metropolitanas que deveriam ser atendidas. A partir daí, cabia às prefeituras apresentar e defender seus projetos."Nós apresentamos sete projetos, era da livre escolha das cidades apresentar, e cinco foram contemplados. Nós demonstramos, já por muito tempo, a capacidade de executar os projetos", disse Regina.Segundo a assessoria da prefeitura, o número de homicídios na cidade baixou de 374, em 1999, para 80 no ano passado. Regina disse que Diadema não é hoje uma cidade "violenta": "Podemos dizer que estamos numa fase mais tranqüila".O ministério atendeu 14 municípios no Estado de São Paulo, onze dos quais administrados por partidos da base aliada. Em São Bernardo do Campo (PSB), que deverá receber R$ 2 milhões, a previsão é "formar" 300 mulheres e atender 1.500 jovens em situação de risco, estes com bolsa mensal de R$ 100. "É um projeto que ninguém tem ainda [em andamento]. Uma empresa vai selecionar as candidatas, fazer cursos de formação", afirmou o coronel da reserva da Polícia Militar Antônio Branco, comandante da Guarda Civil Metropolitana.Segundo o coronel, o pagamento das bolsas não passará pelas prefeituras. Será administrado por um empresa terceirizada e controlado por cartões de pagamento.

Desvios em MG financiavam candidatos, diz Promotoria

Por Leonardo Souza
na Folha de São Paulo

Integrantes da quadrilha investigada na Operação João de Barro, da Polícia Federal, desviavam recursos de prefeituras de Minas Gerais para financiar candidatos a deputado federal e estadual ligados ao esquema, segundo apuração da Procuradoria da República e do Ministério Público Estadual.O deputado João Magalhães (PMDB-MG) é citado nos documentos, aos quais a Folha teve acesso, como um dos "beneficiários diretos do golpe", que girava ao redor da construtora Ponto Alto. Segundo a Procuradoria, Magalhães é o verdadeiro dono da construtora, mas oculta a titularidade da empresa por meio de laranjas.Um dos principais elementos usados pelo Ministério Público é o depoimento do engenheiro Silvério Dornellas, que figura como sócio-gerente da construtora. Silvério disse que era laranja do deputado.De acordo com o Ministério Público, Magalhães e outros deputados federais direcionavam emendas ao Orçamento da União para prefeituras comandadas por membros da quadrilha. Depois, empregando a Ponto Alto e uma rede de empresas fantasmas, o grupo fraudava as licitações e desviava os recursos, alimentando contas de pessoas ligadas ao esquema.Os investigadores do caso conseguiram rastrear cheques para funcionários das construtoras, agências de automóveis e até mesmo para parentes de prefeitos. Depois, o dinheiro iria para os políticos. Boa parte das transferências ilegais constatadas pelo Ministério Público ocorreu em período eleitoral."[Verbas do Orçamento da União] chegaram para várias prefeituras mineiras para a construção de obras de infra-estrutura, as quais seriam direcionadas a empresas do grupo pertencente ao proprietário da construtora Ponto Alto Ltda., com o nítido intuito de beneficiar candidatos a deputados federal e estadual ligados ao mesmo grupo", informa um dos documentos que a Folha acessou.Relatório da Procuradoria de Justiça especializada em crimes de prefeitos de Minas descreve que pelo menos R$ 1,26 milhão foi destinado ilegalmente à Ponto Alto a partir de licitações fraudadas.No dia 12 de junho, Magalhães foi notificado pela Procuradoria em processo no qual é acusado de desviar dinheiro de obras municipais em Minas e de ser o dono da Ponto Alto.Em entrevista à Folha, o deputado negou ter sido beneficiado pelo esquema ou que a construtora pertença a ele. "Esse Silvério está querendo tirar a responsabilidade das costas dele. Ele fez essa afirmação sem prova nenhuma", disse.Segundo o Ministério Público, foram comprovados desvios de dinheiro em obras e programas financiados pelos ministérios da Integração Nacional, da Saúde, Esportes e das Cidades. Grande parte das verbas provinha de emenda parlamentar.Numa das fraudes, a da construção de uma ponte sobre um córrego em Santa Rita do Ituêto, todas as empresas participantes da concorrência eram fantasmas, inclusive a vencedora, a Castro Luz Ltda. Segundo a Promotoria, o titular da Castro Luz, além de assinar em nome das outras empresas participantes da licitação, é empregado da Ponto Alto.A operação da PF investiga também os deputados federais mineiros Ademir Camilo (PDT), Miguel Martini (PHS), José Santana de Vasconcellos (PR) e Jaime Martins (PR).

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Férias!!!

Sim, graças a Deus estou de férias. Falta apenas um semestre para eu formar. Quem diria que este que vos escreve formaria em Pedagogia e História. Engraçado, a cada dia que passa fico com a impressão que morrerei jornalista. Bem, falei demais do futuro e acabei me desviando do foco. Férias! Sim, continuarei aqui firme e forte.

Assim não, Yeda!

A governadora do Rio Grande do Sul Yeda Crusius apóia o aumento de 143% do seu salário proposto pelo presidente da Assembléia Legislativa Alceu Moreira. Num momento de crise financeira que o estado atravessa, num momento em que denúncias de corrupção pipocam a toda hora, a governadora resolve aumentar o seu salário. Assim não, Yeda! Ela está dando motivos demais para os petralhas se atiçarem.

Ação da Polícia Federal provoca bate-boca entre Poderes

Por Guilherme Sacaranse
no Estado de São Paulo

O temor de um "Estado policial", autoritário, versus a apologia do combate à corrupção em larga escala colocou o Executivo e o Judiciário em rota de colisão. O ministro da Justiça, Tarso Genro, rebateu ontem críticas do presidente do STF, Gilmar Mendes, à Polícia Federal. E desafiou o chefe da instância máxima do Judiciário a apontar um único caso recente de abuso. No dia anterior, Mendes havia sugerido ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o envio de um projeto para punir autoridades por vazamento de dados em investigações sigilosas.Mendes vem endurecendo o discurso desde o final do ano passado. Ele próprio foi citado no desenrolar da Operação Navalha - uma lista de beneficiários da Construtora Gautama, pivô de fraudes em obras, incluía um homônimo seu. Mendes assumiu o comando do STF e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidido a combater prisões desnecessárias e vazamentos de conversas. Irritado, comparou abusos policiais a modelos adotados na Alemanha nazista e na ex-União Soviética.A provocação de Tarso esquenta a troca de farpas. As operações são vistas como uma vitrine da gestão Lula, tanto que o titular da Justiça reforçou ontem: as reações à atuação da PF vão continuar, já que a elite e autoridades estão sendo atingidas. No dia anterior, o ministro já respondera a outro comentário de Mendes, dizendo que vazamentos eram sim "coisa de gângster", mas frisando: "Quanto à Polícia Federal, ele pode ficar absolutamente tranqüilo. Lá não tem vazamento."
RAIO X
Neste ano, a PF prendeu 845 pessoas, sendo 146 servidores públicos, segundo balanço da corporação. Algumas prisões causaram espanto. Na Operação Hígia, os agentes levaram Lauro Maia, assessor parlamentar e filho da governadora do Rio Grande do Norte, Wilma Faria (PSB). Outros dois governadores viram, recentemente, familiares serem detidos. No ano passado, o irmão mais velho do presidente Lula, Genival Inácio da Silva, foi investigado ao longo da Operação Xeque-Mate.O rol de autoridades processadas ou chamadas a dar explicações é grande. Na semana passada, por exemplo, o ex-ministro do STF Carlos Velloso prestou depoimento no inquérito dos prefeitos envolvidos com desvios do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) - alvo da Operação Pasárgada. O delegado Alexandre Aguiar não revelou os detalhes do depoimento, mas destacou que Velloso falou "como testemunha".Refutando qualquer envolvimento com o caso, o ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) declarou: "Quero esclarecer tudo. Quero depor sim. À luz do sol nada apodrece. (...) Esse tipo de notícia atinge minha imagem. Se fosse ao menos meia verdade, mas é mentira."
GUARDIÃO
Boa parte das prisões é decorrente de conversas telefônicas gravadas. O Guardião, equipamento da PF, é capaz de monitorar 400 linhas simultaneamente. A prática cresceu tanto que, em 2007, cumprindo determinações da Justiça, a Oi, TIM, Brasil Telecom, Telefônica, Vivo e Claro fizeram 409 mil interceptações. Analistas e juristas destacaram que é praticamente impossível haver um controle. Advogados chegam a construir salas à prova de grampo.Em entrevista recente ao Estado, Mendes destacou: "O juiz não acompanha esse processo, porque não tem condições, o conhecimento dessas informações fica a cargo da polícia, que divulga quando quer e para qualquer finalidade." Ele frisou que há um "encontro marcado" com a revisão do modelo. O presidente do Supremo também defende uma avaliação dos critérios usados para autorizar prisões preventivas. O Supremo tem sistematicamente alterado decisões de outros magistrados e liberado presos. Mendes mandou soltar o empreiteiro Zuleido Veras, alvo da Operação Navalha. Lula, ao falar da PF, usa outros argumentos. Em agosto, ao trocar o comando da PF, citou pesquisa do Ibope, com 1.400 pessoas em todo o País, que apontara índice de confiança de 69% da população na PF.

Dilma pressionou estatais, afirma Abreu

Por Janaina Lage
na Folha de São Paulo

A ex-diretora da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) Denise Abreu afirmou à Folha que a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) pressionou estatais como a BR Distribuidora e a Infraero para que agissem de forma a preservar a Varig.Antes mesmo de a Varig entrar em recuperação judicial, durante o ano de 2004, os principais credores (Infraero, BR Distribuidora e Banco do Brasil) chegaram a discutir com o governo alternativas para o pagamento das dívidas da Varig. "O que se observava era um absoluto desconforto por parte dos três órgãos em aceitar qualquer postergação no pagamento de dívidas. Os administradores temiam, inclusive, a interposição de medidas judiciais de responsabilidade e improbidade contra eles, uma vez que esses órgãos não podiam abrir mão de dívidas", afirma a ex-diretora.Abreu relaciona a saída do ex-presidente da BR Distribuidora Rodolfo Landim do cargo às pressões sofridas. Atualmente ele é diretor-presidente da OGX, uma das empresas de Eike Batista. "Ele havia sido indicado pela própria ministra Dilma Rousseff para o cargo quando ela ocupava a pasta de Minas e Energia. Exatamente no mesmo período ao qual me refiro sobre pressões da Casa Civil, ele pediu demissão num final de semana. Havia rumores de desgaste de sua atuação junto à ministra por ter negado à Varig um pedido de crédito de R$ 240 milhões", disse.Landim sustentava a posição de que a BR não deveria dar um prazo de carência para a Varig porque ela não tinha garantias a oferecer. Antes disso, a empresa oferecia recebíveis de compras de passagens com cartão de crédito como lastro para a compra de combustível. Na época, a BR exigia pagamento à vista da Varig. As dívidas da companhia aérea com a distribuidora antes da entrada em recuperação judicial eram estimadas em cerca de R$ 57 milhões em 2006.A Varig era citada como a única empresa entre os clientes da BR que tinha sua situação avaliada diretamente pelo Conselho de Administração da distribuidora, presidido pela ministra Dilma.Na época, os credores haviam aprovado um plano de recuperação judicial que previa um período de 45 dias de caixa negativo, e a companhia aérea afirmava precisar de um prazo de carência da BR Distribuidora, da Infraero e das empresas de leasing, entre outros.A Folha tentou entrar em contato com Landim por meio da assessoria de imprensa da OGX ao longo de dois dias, mas ele não estava disponível para comentar as declarações da ex-diretora da Anac. Procurada pela reportagem, a Casa Civil não respondeu até o fechamento desta edição.A pressão sobre a BR Distribuidora não parou com a saída de Landim, segundo o relato da ex-diretora. Abreu afirma ter presenciado um telefonema da ministra Dilma para a sucessora de Landim na presidência da BR, Maria das Graças Foster, atualmente diretora da área de Gás da Petrobras."Estávamos em reunião na Casa Civil e houve um telefonema para Maria das Graças. Essa reunião ocorreu em maio de 2006. A ministra disse que, se ela não fizesse a liberação de crédito, a empresa ia parar e não ia chegar até o leilão. Disse que teria de ser decretada a falência e que, portanto, Maria das Graças teria de encontrar uma alternativa. O tom era imperativo, de cobrança", disse.Em nota, a ex-presidente da BR afirmou que a ministra Dilma não ligou para tratar desse assunto. Afirmou ainda que durante sua gestão a BR cobrou à vista pelo combustível. Em 11 de maio de 2006, uma liminar judicial impediu a BR de manter a cobrança, que voltou a ser realizada em 22 de maio de 2006 após uma negociação comercial entre a Varig e a BR, intermediada pelo Judiciário.Naquele mesmo mês, Foster afirmou que a BR não reajustava o combustível fornecido à Varig desde janeiro. Nos cálculos feitos pelo Snea (Sindicato Nacional de Empresas Aeroviárias), o querosene de aviação havia subido 15,4% em cinco meses. A decisão da Justiça que impediu a cobrança antecipada resultou em perdas da ordem de R$ 13 milhões, segundo declarações de Foster à época.

"Operação marca derrota moral e militar das Farc"

Por Flávia Marreiro
na Folha de São Paulo

Ao libertar Ingrid Betancourt sem disparar um tiro, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, triunfa em várias frentes. Impõe uma humilhante derrota militar e moral às Farc, livra-se da pressão de líderes da região e da Europa que preferiam uma saída negociada pela paz com a guerrilha e, não menos relevante, ofusca seus problemas políticos internos."Essa notícia valida a política de segurança democrática de Uribe. Envia a mensagem: as Farc estão derrotadas e não há nada que negociar. Mais que militar, foi uma vitória moral sobre a guerrilha", diz Ariel Ávila, coordenador do Observatório do Conflito Armado da colombiana Fundação Novo Arco-Íris. "Foi um xeque-mate nas Farc", comemorou o comandante do Exército da Colômbia, Mario Montoya.Depois de anos de apelos -de líderes mundiais a familiares dos reféns- para que Bogotá não tentasse resgatar os seqüestrados, Uribe, com ajuda técnica americana, exibiu o preparo de seus militares e a eficácia de sua política de linha dura, co-financiada pelos EUA."Até onde se sabe, parece uma operação brilhante", diz, desde Bogotá, Markus Schultze-Kraft, diretor para a América Latina do centro de estudos International Crisis Group.Schultze-Kraft lembra que não foi um resgate militar -opção que temiam pelo risco-, mas uma operação de inteligência. "Em 2003, eles tentaram um resgate que acabou com morte dos reféns. Essa operação foi diferente."
Futuro das Farc
Também ressaltando o êxito dos militares colombianos, Ariel Ávila questiona a descrição da operação divulgada por Bogotá, segundo a qual os dirigentes guerrilheiros foram enganados. "Parece-me estranho que juntassem os reféns para levá-los ao novo chefe, Alfonso Cano, já que os próprios militares dizem que ele está em uma área de intenso combate."Continua: "Mais do que inteligência, parece fruto de uma negociação entre o guerrilheiro César [o responsável pelos reféns] e os militares. De todo modo, é uma derrota moral. A Frente 1 era a mais importante das Farc", continua Ávila, cuja fundação acompanha o conflito armado desde 1994.Sem os três americanos e sem Ingrid, as Farc ficam sem sua principal fonte de pressão para negociar com Bogotá, depois de já haver perdido três integrantes da sua cúpula -incluindo o líder máximo e fundador, Manuel Marulanda.A guerrilha está debilitada -perdeu terreno e homens- e sob forte ofensiva militar. A própria Ingrid referiu-se ao tema: disse que havia um ano as Farc tinham dificuldades para fazer chegar mantimentos aos reféns, por exemplo. "Foi um golpe fulminante [na guerrilha]", disse."Não há mais espaço, como queriam líderes europeus e da região, para uma negociação de paz com a guerrilha. Agora, como Uribe vinha dizendo, terão de avaliar em que condições vão se render", aponta Ávila.Mas, dizem os especialistas, a eventual liqüidação da cúpula da guerrilha não é garantia do fim dos conflitos armados, principalmente no interior da Colômbia, dada a grande capacidade de reacomodação dos grupos ilegais, organizados, em escala mais modesta, no bilionário negócio do narcotráfico, que segue em expansão.Os analistas apontam uma vitória do eixo Bogotá-Washington, num momento de recuo estratégico do maior antagonista dessa aliança na região, o presidente venezuelano, Hugo Chávez -que muitos, inclusive ex-reféns, apontavam como o único capaz de obter a libertação de Ingrid."Há várias ações da política [de Uribe] que não são eficazes, como o combate às drogas. Mas, com essa vitória, Uribe ganha ainda mais respeito. Pouca gente da oposição vai poder criticá-lo", diz Schultze-Kraft."Diante da vitória, os problemas com violações de direitos humanos serão só uma manchinha na fotografia", diz Ávila.

Yeda defende aumento do próprio salário em 143%

Por Graciliano Rocha
na Folha de São Paulo

No momento em que o governo do Rio Grande do Sul atravessa uma profunda crise política e financeira, a governadora Yeda Crusius (PSDB) poderá ganhar um aumento salarial de 143%. Publicado na edição de ontem do "Diário Oficial" do Estado, o projeto de lei nº 149/2008 propõe a elevação do salário da governadora dos atuais R$ 7.140,70 para R$ 17.343,14. A oposição, liderada pelo PT, critica a proposta.O projeto de lei foi apresentado por um aliado da tucana, o presidente da Assembléia Legislativa, Alceu Moreira (PMDB), e também prevê aumento para o vice-governador e para os secretários estaduais, cujos salários passariam de R$ 6.120 para R$ 11.564 -um aumento de 89%.Segundo o governo, não haverá aumento em cascata. Yeda defendeu o aumento dos salários. A governadora declarou à Rádio Guaíba que já espera críticas, mas afirmou que os salários da cúpula do governo estão defasados. Segundo ela, um secretário de Estado gaúcho recebe líquidos em torno de R$ 4.000. A idéia do aumento, disse Yeda, é equiparar o salário da governadora ao do presidente da Assembléia e o dos secretários ao dos deputados.O projeto começa a valer logo após a aprovação e não prevê efeito retroativo. Para ser aprovado, precisa do apoio de 27 dos 55 deputados estaduais. Partidos que dão sustentação à governadora têm 33 deputados.Se cumprir o trâmite normal de dez dias úteis após a publicação no "Diário Oficial", o aumento deve ir à votação somente no início de agosto, após o recesso parlamentar, que começa dia 17. A Secretaria Estadual de Fazenda ainda não tinha ontem à tarde uma projeção do impacto do reajuste da cúpula.Deputados governistas se disseram determinados a aprovar o aumento, mas expressaram desconforto com o provável desgaste político que a proposta traz embutido. A oposição diz que vai votar contra o aumento. O grupo vai ganhar, em pleno período de campanha eleitoral, munição extra para contrastar os 143% do aumento à governadora com o reajuste médio dos 170 mil servidores estaduais.O aumento para o funcionalismo foi concedido no final do governo Antônio Britto (1995-1998), mas não havia sido posto em prática porque ultrapassava o teto de 60% de gastos do Executivo com pessoal fixado pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Depois que parte dos servidores já havia obtido decisões favoráveis na Justiça, Yeda autorizou reajustes de 19% a 33% da chamada Lei Britto a partir de agosto deste ano.Além disso, a discussão sobre os salários da cúpula com o governo coincide com o final da CPI que investiga o desvio de R$ 44 milhões no Detran (Departamento Estadual de Trânsito) do Rio Grande do Sul.O valor pretendido no Rio Grande do Sul é superior ao salário de outros governadores tucanos. Aécio Neves (MG) recebe R$ 10.500, enquanto José Serra (SP) ganha R$ 14.850. No Sul, o governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), tem salário de R$ 22.100.
CPI
A CPI do Detran termina amanhã com a votação do relatório final elaborado pelo tucano Adilson Troca. O PT deverá apresentar um relatório paralelo, pedindo o indiciamento da governadora.

Aécio e Pimentel vão expor união informal para confrontar o PT

Por Valdo Cruz
na Folha de São Paulo

O governador Aécio Neves e o prefeito Fernando Pimentel preparam para a quinta-feira uma cena que a direção petista tentou evitar ao proibir a aliança formal entre PT e PSDB em Belo Horizonte: uma "festa de bandeiras" petistas e tucanas no lançamento oficial da candidatura de Márcio Lacerda à prefeitura da capital mineira.O tucano e o petista estão acertando os últimos detalhes do evento com o PSB, ao qual Lacerda foi filiado recentemente para sair candidato. Segundo assessores, Aécio e Pimentel querem fazer uma demonstração explícita da aliança proibida pela direção do PT.Os dois contam com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nessa empreitada e já pensam em um segundo ato juntos -uma caminhada no sábado, dia 12, por ruas de Belo Horizonte, acompanhados do candidato Márcio Lacerda.O governador e o prefeito tiveram uma conversa reservada com Lula na segunda-feira em Itajubá (MG). O presidente disse a eles que, depois do velório de Ruth Cardoso, ficou ainda mais convencido de que estão no caminho certo, de construção de diálogo entre os dois partidos. O presidente revelou que pretende convidar Fernando Henrique Cardoso para um jantar. Lula estuda fazer uma homenagem à antropóloga, que morreu na semana passada, muito provavelmente batizando uma universidade com o nome da ex-primeira-dama.
"Meus amigos"
Em Itajubá, o presidente disse a Pimentel e Aécio ter percebido no velório da mulher de FHC que "ali estavam meus amigos, com quem temos posições comuns, de quem precisamos nos reaproximar". Na conversa, brincou, no entanto, com a relação de Aécio e Pimentel, dizendo que eles não precisavam exagerar: "Vocês estão próximos demais."O presidente voltou a dizer que estava irritado com a Direção Nacional do PT por conta do veto imposto à aliança PT-PSDB. Lula chegou a pressionar a cúpula petista a recuar do veto em BH, decidido primeiramente pela Executiva e depois ratificado pela Direção Nacional -que aceitou apenas o acordo oficial entre PSB e PT; o PSDB acabou aprovando em convenção um apoio informal à chapa, que tem como vice o petista Roberto Carvalho.Apesar do veto oficial à aliança em BH, o governador tucano, em conversas com amigos, avalia que ele e Pimentel atingiram seus objetivos e ainda ganharam três presentes.Primeiro, a resistência da cúpula do PT transformou uma eleição tradicionalmente provinciana, como a de Belo Horizonte, em tema nacional. Segundo, irritou Lula, que em reação declarou apoio explícito ao acordo e ainda prometeu participar da campanha.Por último, rachou o partido, mostrando que há um grupo contrário não só ao acordo em BH, mas também à forma como o presidente está conduzindo a sua sucessão dentro do PT, escolhendo Dilma Rousseff como sua candidata em 2010.

Ayres Britto apóia STF contra divulgação dos "fichas-sujas"

Por Rodrigo Varga
na Folha de São Paulo

O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Carlos Ayres Britto, endossou ontem as declarações do ministro Gilmar Mendes (STF) contra a divulgação de listas de candidatos que respondam a ações judiciais.Sem repetir o termo "populismo", empregado por Mendes para qualificar a medida, Ayres Britto disse não ser possível "ignorar parâmetros objetivos da Constituição". "[Mendes] está preocupado com o contexto e não quer que o juiz se arvore como justiceiro", afirmou.Em junho, Ayres Britto lamentou a decisão do TSE de manter os candidatos com "ficha suja". Ao votar contra essas candidaturas, ele afirmou que a Justiça deveria diferenciar os direitos individuais do direito político de representação popular (direito de ser eleito).Como paliativo, o presidente do TSE prometeu então tornar públicas, já para estas eleições, as informações judiciais dos candidatos com a "ficha suja". "A Justiça Eleitoral tem o dever de informar o eleitor sobre a personalidade e a vida pregressa dos candidatos", disse em 16 de junho. Dois dias depois, ele recuou e afirmou que o objetivo do TSE não era "divulgar lista de quem quer" que fosse.Ayres Britto disse ontem que o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) estaria preocupado com um "ímpeto persecutório" que acompanha os argumentos favoráveis à medida."Gilmar, na verdade, está louvando uma decisão do TSE. Para o tribunal, enquanto uma sentença penal condenatória não transitar em julgado, todo mundo tem ficha limpa", disse.Sobre o posicionamento contrário dos tribunais regionais, Ayres Britto disse que não pode impedir que magistrados façam uso de sua "independência técnica". Mas adiantou que eventuais negativas de registros acabarão sendo levadas à instância superior, onde o entendimento já está formado.Ayres Britto comentou as informações publicadas ontem pela Folha, no Painel, sobre uma possível "crise diplomática" entre o STF e o governo no caso do julgamento sobre a demarcação da reserva Raposa/ Serra do Sol, em Roraima.Segundo o Painel, um alto funcionário do Ministério da Justiça ficou insatisfeito com uma reunião com Ayres Britto, que é relator do caso. O servidor teria ficado irritado com perguntas que considerou "tendenciosas" e, dias depois, recomendou a assessores do STF que tivessem cuidado ou iriam acabar "grampeados".Ontem, o ministro disse que não tinha tomado conhecimento dos "detalhes" do que chamou de "novo espaço de fricção", mas se adiantou em negar que esteja havendo conflito entre o STF e o governo.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

E Lula não ligou para Uribe

Leio no Blog do Noblat que Lula ainda não ligou para Álvaro Uribe depois que Ingrid Betancourt foi libertada (ver post abaixo deste). É a reação do fundador do Foro de São Paulo. Por falar no foro, até quando a Justiça brasileira não vai pedir explicações à Lula sobre o seu envolvimento com as Farc?

Betancourt e três americanos são soltos pelas Farc, diz Colômbia

Da Folha online

A política franco-colombiana Ingrid Betancourt, três americanos e 11 militares colombianos foram resgatados das guerrilhas das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) por tropas colombianas, declarou o ministro da Defesa Juan Manuel Santos.
Santos afirmou que todos os ex-reféns estão em estado de saúde razoavelmente bom após anos como reféns na selva colombiana.
"Essa foi uma ação sem precedentes", declarou Santos, em coletiva na sede do Ministério da Defesa, em Bogotá. "Isso entrará na história por sua audácia e efetividade."
Betancourt, os três americanos, três políticos e dezenas de militares e policiais colombianos integravam o grupo de cerca de 40 reféns que a guerrilha propunha trocar por 500 rebeldes presos, após a criação de uma zona desmilitarizada no país. A franco-colombiana foi seqüestrada em 2002, quando fazia campanha eleitoral como candidata à Presidência. Ela foi vista pela última vez em um vídeo da guerrilha divulgado no ano passado, onde aparecia abatida e doente.
A imagem do vídeo e boatos de que ela estaria com uma série de doenças desencadearam uma pressão da comunidade internacional e do governo francês pela libertação de Betancourt.
O resgate foi realizado em uma zona de floresta do Departamento de Guaviare, no sudoeste da Colômbia, de acordo com Santos.
"Seguiremos trabalhando na libertação dos demais seqüestrados. Fazemos um chamado aos atuais líderes das Farc para que não matem, liberem os outros seqüestrados e não sacrifiquem seus homens", declarou o ministro.

Farc

Os americanos --três funcionários do Departamento de Defesa dos EUA-- foram capturados em 2003, após o pequeno avião em que estavam cair na floresta. Eles participavam de uma operação de erradicação de campos de cultivo de coca no país. Em Paris, um assessor do presidente Nicolas Sarkozy, questionado sobre a notícia, disse que a Presidência não tinha comentários a fazer no momento.
As Farc, a mais antiga insurgência da América Latina, existente há cerca de 40 anos, pediram ao presidente Álvaro Uribe para retirar as tropas de uma área do tamanho da cidade de Nova York para facilitar as conversas.
Uribe, em seu segundo mandato seguido e popular no país por sua luta contra os rebeldes, se recusa a aceitar a pré-condição.
As Farc, antes uma força de 17 mil homens capaz de atacar cidades e realizar diversos seqüestros, foi confinada a áreas remotas e agora têm cerca de 9.000 homens. As guerrilhas também perderam três membros da sua cúpula, composta por sete pessoas, entre eles o número 1 e fundador do grupo, Manuel Tirofijo, e o número 2 Raul Reyes.
Considerado como um grupo terrorista pela União Européia e pelos EUA, as Farc usam a cocaína colombiana para financiar suas atividades.

Mais reféns

A advogada Clara Rojas, assessora de Betancourt, foi tomada refém na mesma ocasião. Rojas foi libertada em 10 de janeiro deste ano, junto à ex-congressista Consuelo González de Perdomo, graças a gestões humanitárias lideradas pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, e pela senadora opositora colombiana Piedad Córdoba.
Rojas tem um filho de três anos, fruto de uma relação com um guerrilheiro quando estava em cativeiro.
No último dia 27 de fevereiro, as Farc libertaram os ex-legisladores Luis Eladio Pérez, Jorge Eduardo Géchem, Gloria Polanco de Lozada e Orlando Beltrán.
Estima-se que na Colômbia há hoje pouco mais de 3.000 seqüestrados, sendo que alguns estão em cativeiro há mais de dez anos.

Ainda sobre os "ficha-suja": E os partidos?

Ainda sobre a divulgação da lista com os políticos “ficha-suja”. Será que os partidos não sabem da ficha corrida de cada um dos seus candidatos? Será que os presidentes dos partidos políticos não sabem do passado dos seus candidatos? Vamos cobrar a divulgação da lista dos “ficha-suja”. Mas vamos cobrar também dos partidos que façam uma seleção séria dos seus candidatos, levando em conta o seu passado, se fizeram algo de errado, se estão sendo processados.

Não ficou bom para ambas as partes

Lembro do Celso Russomano dos tempos do Aqui Agora no SBT. Ele era um repórter que defendia os consumidores lesados por empresas fajutas. Quando as duas partes chegavam a um acordo, Russomano encerrava a reportagem assim: Ficando bom para ambas as partes Celso Russomano, Aqui Agora.
Leio na coluna de Mônia Bergamo na Folha de São Paulo de hoje que, há alguns dias atrás, Celso Russomano e Aline Corrêa brigaram numa reunião do PP. Diz a colunista que os dois saíram no braço. Faltou ali alguém fazer o papel de Russomano na época do Aqui Agora. Mas, pelo visto, não ficou bom para ambas as partes. Ah, tem mais. Que vergonha, Russomano, sair no tapa com uma mulher. Não ficou nada bom para você.

Assim não, Uribe!

Na semana passada saudei o alto índice de popularidade do presidente colombiano Álvaro Uribe. Ele está trabalhando bem no combate aos terroristas das Farc. Mas discordo totalmente com a sua defesa de um terceiro mandato. Aí não! Assim não, Uribe. Logo abaixo reporduzi um editorial da Folha de São Paulo que comenta o caso. Lá na Colômbia o ambiente político está pesado. Vários políticos aliados de Uribe estão sendo acusados de corrupção. Continuo apoiando o trabalho do presidente colombiano no combate à violência, mas repudio a tese do terceiro mandato. Aliás, se Álvaro Uribe conseguir aprovar a mudança na Constituição que autoriza a sua participação numa outra eleição presidencial vocês imaginam o escândalo que o Bufão de Caracas irá armar. Deixem-no quietinho! Assim como Uribe tem que sossegar com esta tese absurda de terceiro mandato e apaziguar o ambiente político do seu país.

STF deve liberar candidaturas de ''fichas-sujas''

Por Felipe Recondo
no Estado de São Paulo

Apesar da pressão dos Tribunais Regionais Eleitorais e da Associação dos Magistrados do Brasil (AMB), o Supremo Tribunal Federal (STF) não vai barrar os candidatos com ficha suja que disputarão as prefeituras e as vagas nas Câmaras Municipais em outubro. O Supremo deixou para agosto - na volta do recesso - o julgamento de um recurso da AMB, mas os ministros da corte, consultados pelo Estado, já dão como fato consumado a tese de que o tribunal não tem mesmo como barrar os candidatos ficha-suja.Prevalecerá entre os ministros o entendimento de que não se pode punir o candidato simplesmente porque ele responde a processo judicial e a atual Lei de Inelegibilidades não cria nenhum critério de avaliação da vida pregressa dos políticos.O Supremo reforçará, portanto, a determinação de que a Justiça Eleitoral só pode negar o registro do candidato se houver condenação em última instância. A tese de que os candidatos com vários processos na Justiça devam ser barrados pela Justiça é defendida pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Carlos Ayres Britto, e por diversos TREs, principalmente o do Rio.No mês passado, por diferença de apenas um voto (4 a 3), o TSE decidiu que os tribunais eleitorais não podem negar o registro de candidatura por causa de processos na Justiça. Diante da derrota, a Associação dos Magistrados do Brasil acionou o Supremo, na tentativa de impedir, em caráter liminar, que os candidatos ficha-suja disputem as eleições.
PRIMEIRO VOTO
O ministro que relata a ação, Celso de Mello, será o primeiro a votar contra essa tese e promete críticas severas à proposta. No mesmo sentido devem votar o presidente do tribunal, Gilmar Mendes, e os ministros Eros Grau, Cezar Peluso, Carlos Alberto Menezes Direito e Marco Aurélio Mello. "Eu tenho horror a populismo e muito mais a populismo judicial", criticou Mendes. "Nós estamos num terreno extremamente sensível e podemos cometer graves injustiças", acrescentou. Um dos argumentos que mais será lembrado pelos ministros é o fato de que esse entendimento, de que bastaria um processo na Justiça para que a candidatura fosse barrada, foi encampado pelos governos durante o regime militar (1964-1985). A Lei de Inelegibilidades, que previa essa possibilidade, foi alterada ainda no governo João Figueiredo (1979-1985), o último presidente-general.Para esses ministros, mesmo a publicação de listas com o nome de candidatos que respondem a processo na Justiça, como promete fazer a AMB em seu site, pode provocar injustiças e ser assunto no julgamento da ação que será levada ao plenário do Supremo.
GRAVES INJUSTIÇAS
"Eu não me animo a ficar fazendo esse tipo de listas porque tenho medo de cometer graves injustiças. Aqui os senhores não me terão a favor desse tipo de iniciativa", acrescentou Mendes. Do lado oposto na discussão, defendendo a tese de que a vida pregressa de um político deve ser levada em consideração pela Justiça Eleitoral na hora do registro da candidatura, estão apenas, declaradamente, os ministros Carlos Ayres Britto e Joaquim Barbosa, que já votaram no julgamento desse assunto no Tribunal Superior Eleitoral.Os demais ministros não se posicionam contra o critério da vida pregressa, mas dizem que, para isso ser um critério legal, uma nova Lei de Inelegibilidades precisa prever claramente essa possibilidade - como manda a Constituição de 1988.

A aventura de Uribe

Editorial da Folha de São Paulo

O PRESIDENTE da Colômbia, Álvaro Uribe, vem enfrentando dificuldades político-jurídicas. Seu prestígio, entretanto, segue em alta. Sobretudo pelo sucesso no combate à violência, ele conta com taxas de aprovação da ordem de 80%, as maiores da América Latina. É justamente a mistura de tibieza institucional com aclamação de lideranças que preocupa.Uribe já vinha enfrentando dificuldades no Legislativo. Cerca de 60 congressistas de partidos situacionistas são investigados por envolvimento com os "paras", as milícias de extrema direita cujas atividades ilícitas incluem chacinas e narcotráfico. Três dezenas de políticos estão presos, incluindo um primo e estreito colaborador de Uribe.Mais recentemente, o presidente viu-se envolvido em denúncias de compra de votos para aprovar a emenda constitucional que permitiu sua reeleição, em 2006. A ex-senadora Yidis Medina acaba de ser condenada pela Suprema Corte a quatro anos de prisão domiciliar depois que admitiu ter recebido promessa de regalias do governo em troca do seu voto na comissão que aprovou o mecanismo da reeleição.O caso agora foi remetido para o Tribunal Constitucional, que deverá decidir sobre a validade da emenda e eventualmente até da eleição de 2006 -embora sua anulação seja muito improvável.Na tentativa de abafar o escândalo, o governo lança a idéia de convocar um referendo que autorize a repetição do pleito presidencial de 2006. Seria uma forma, alegam os situacionistas, de resgatar a legitimidade.A lógica da proposta é precária. Ninguém questiona a vitória de Uribe; o que se contesta é a legalidade de sua candidatura.Parece temerário levar tal decisão para as ruas, especialmente num contexto em que Executivo e Judiciário travam uma queda-de-braço e o Legislativo atravessa crise de credibilidade sem precedentes. A medida soa ainda mais perigosa quando se sabe que Uribe flerta já há algum tempo com a idéia democraticida de um terceiro mandato.

Relator se diz "insatisfeito" com a defesa de Paulinho

Por Maria Clara Cabral
na Folha de São Paulo

O deputado Paulo Piau (PMDB-MG), relator do processo contra Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) no Conselho de Ética, disse que a defesa escrita do pedetista não o satisfez.Para dirimir as "diversas" dúvidas que ainda permanecem, o relator quer ouvir nove pessoas citadas no caso que investiga irregularidades no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).Entre elas, estão Elza de Fátima Pereira, mulher de Paulinho e presidente da ONG Meu Guri, o advogado Ricardo Tosto, ex-conselheiro administrativo do BNDES, o prefeito de Praia Grande, Alberto Mourão (PSDB), João Pedro de Moura, ex-assessor de Paulinho, e o coronel reformado da Polícia Militar Wilson Consani Júnior.Para Piau, o conteúdo da defesa escrita do deputado -com ataques ao corregedor-geral da Câmara, Inocêncio Oliveira (PR-PE), à imprensa e ao PSOL, partido do autor da representação contra Paulinho- pode ser uma estratégia proposital da defesa. "Não estou satisfeito [com a defesa], muitas dúvidas permanecem", disse.O advogado do deputado, Leônidas Scholz, disse que a linha da defesa é a de que não existem provas e que o processo é baseado em recortes de jornais. O depoimento de Paulinho no conselho foi marcado para a próxima terça.
Interrogatório
O coronel Consani foi interrogado ontem pelo juiz Marcio Ferro Catapani, da 2ª Vara Federal Criminal de São Paulo. O coronel confirmou que a expressão "chefe maior", que usou em telefonemas interceptados pela PF, era referência ao deputado Paulinho.O coronel alegou que, no telefonema que deu a assessores de Paulinho na noite anterior à deflagração avisando sobre uma ação policial, ele não se referia à Operação Santa Tereza. A PF suspeita de vazamento de informação. Segundo o coronel, ele fora contratado por Paulinho para averiguar supostas ameaças contra uma filha do congressista.Depois do coronel, foi ouvido o empresário Boris Timoner. O processo corre em segredo de Justiça.

Embaixador diz que Colômbia e Brasil negociam plano de defesa

Por Cláudio Dantas Sequeira
na Folha de São Paulo

O embaixador da Colômbia no Brasil, Tony Jozame Amar, afirmou ontem que os governos de ambos os países negociam um plano de defesa da fronteira na Amazônia, com a possível construção de uma base militar conjunta. "Há intenção de se construir uma base militar ou postos de vigilância ao longo da fronteira. O que for possível tecnicamente, onde for mais estratégico", disse.Segundo o diplomata, "o plano estratégico" incluiria cláusulas secretas. "Há matérias reservadas que nem eu conheço."Jozame espera que o tema entre na agenda do encontro entre os presidentes Lula e Álvaro Uribe, na cidade colombiana de Letícia, em 19 de julho. "É preciso empregar todos os meios tecnológicos disponíveis para combater o narcotráfico e a guerrilha", afirmou.A ação combinada surge da constatação de que as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) têm buscado refúgio na fronteira com Brasil, Equador e Venezuela.O diplomata se disse "contente" com a disposição do governo Lula de impedir a entrada de guerrilheiros em território brasileiro. Recentemente, o ministro Nelson Jobim (Defesa) disse que receberia à bala qualquer guerrilheiro que cruzasse a fronteira. E o chanceler Celso Amorim, que o o governo não reconhecerá às Farc o status de força beligerante."Se vocês analisam as frases de Amorim e Jobim, elas correspondem ao que nosso governo pensa. Para mim significa que o Brasil está decidido a não deixar as Farc entrarem", disse.A cooperação, porém, se limitaria ao plano bilateral. Segundo o embaixador, Uribe insiste em não integrar o Conselho Sul-americano de Defesa. Em maio, Uribe condicionou sua participação ao reconhecimento das Farc como grupo terrorista por todos os países.Jozame recolocou o problema. "Nós chamamos de terroristas. Há países que não querem fazê-lo, pois acham que isso não contribui para a paz. Nós respeitamos." Para ele, o problema são os que toleram e "não têm determinação de atacar" os integrantes das Farc que cruzam a fronteira.

Cesta básica tem aumento de até 52% em 12 meses

Por Toni Sciarretta
na Folha de São Paulo

A inflação mundial dos alimentos já elevou em até 52% o preço da cesta básica do brasileiro em um ano, levando a uma corrosão no poder de compra dos trabalhadores, sobretudo os de menor renda e que comprometem a maior parte do orçamento com alimentação.Pesquisa do Dieese mostra que as maiores variações da cesta básica aparecem em capitais do Nordeste, como Natal, João Pessoa, Recife e Fortaleza, que subiram, respectivamente, 51,85%, 45,02%, 44,92% e 43,3% nos últimos 12 meses.Por outro lado, Porto Alegre e São Paulo, as duas capitais com o maior preço da cesta básica (R$ 246,72 e R$ 245,24, respectivamente), tiveram os menores aumentos no período de um ano: de 27,24% e 30,83%.A pesquisa revela que a cesta básica do brasileiro sobe em ritmo de dois dígitos, enquanto os aumentos salariais anuais são de um dígito. Para José Maurício Soares, coordenador da pesquisa do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos), os aumentos acumulados em 12 meses foram bastante superiores ao reajuste de 9,21% do salário mínimo, que chegou a R$ 415 em abril.Segundo o Dieese, há um ano o trabalhador que ganha o salário mínimo gastava em média 91 horas e 33 minutos para comprar a cesta básica; no mês passado, precisava de 115 horas e 25 minutos. Descontada a contribuição previdenciária, a compra da cesta básica exigia 57,03% de um salário mínimo, contra 45,06% há um ano.Só nos seis primeiros meses de 2008, a cesta básica acumula uma alta de 29,24% em Recife e de 25,91% em Natal. Em Porto Alegre e em São Paulo, as variações foram menores, de 15,87% e 14,26%.Não há uma média brasileira da cesta básica. A pesquisa é feita em 16 capitais, respeitando particularidades e hábitos de alimentação de cada região.Soares afirma que a cesta básica sobe mais no Nordeste por conta do maior peso de alimentos como feijão e carne, dois dos atuais vilões da inflação. Em um ano, o feijão subiu até 184,8%, em Natal, e a carne, até 44,18% em Aracaju."Os vilões [da inflação] são o arroz, a carne, o feijão e a batata. Precisamos de um incentivo à produção agrícola para que aumente a oferta e os preços caiam. Se a alta do feijão ficar em 50%, em relação a 2007, já dará uma grande diferença na cesta básica neste ano", disse.O professor da FEA-USP Heron do Carmo, especialista em inflação, também defende o estímulo à produção para combater a alta de produtos como o feijão, que praticamente só fazem parte da cesta brasileira."É fundamental um estímulo à oferta. Há instrumentos dentro das regras de mercado que podem ser adotados pela política agrícola e amortecer essas altas. O aumento da cesta básica afeta muito a renda das famílias mais pobres. Para uma família pobre, o aumento de R$ 30 com alimentos é o preço da prestação de um eletrodoméstico. Sobra menos para outros gastos", disse Heron do Carmo.
Especulação
De todos os itens pesquisados pelo Dieese, o aumento do feijão é o que mais preocupa neste ano. Segundo Soares, o feijão havia recuado em abril em 14 das 16 capitais pesquisadas. Em junho, aconteceu o inverso: subiu em 14 das 16. Só em junho, o feijão chegou a subir 31,09% em João Pessoa, mas recuou 6,3% em Belém.A tendência de alta se deve à quebra na safra do ano passado e ao plantio com atraso neste ano. Neste semestre, a expectativa é que os preços recuem com as novas colheitas.O mesmo acontece com o arroz, que registrou avanço de 45,4% em junho em Aracaju e de 31,91% em Salvador.A alta reflete o atraso no plantio devido à seca brasileira e à escassez na Ásia. "No caso do arroz, há um componente de especulação. O produtor estoca e espera vender com preço mais alto depois", disse Soares.

terça-feira, 1 de julho de 2008

E Lula ainda elogia Morales

Lula assumiu a presidência temporária do Mercosul. Sabe o que ele disse? Disse que a eleições de Evo Morales como presidente da Bolívia foi a vitória mais importante da América Latina. Pois é. Depois do Índio de Araque ter roubado as refinarias da Petrobrás instaladas na Bolívia, Lula continua falando bem dele. Pois é de novo. Lula prova mais uma vez que ele adora que passem a mão na bunda. E o Brasil só vai levando.

Tem que divulgar mesmo

A Associação dos Magistrados Brasileiros quer divulgar a lista com os nomes dos políticos com fichas sujas e que vão se candidatar nas próximas eleições. A associação está certa! Tem que exigir a lista dos políticos que estão devendo alguma coisa na justiça. Que outras entidades também cobrem a lista.

Entidade divulgará "ficha suja" de candidatos

Por Cláudio Dantas Sequeira
na Folha de São Paulo

O presidente da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), Mozart Valadares Pires, assinará hoje, em Brasília, um ofício solicitando aos cerca de 3.200 juízes eleitorais do país que encaminhem à associação todas as "fichas sujas" dos candidatos a prefeitos e vereadores das eleições de 2008.A AMB quer disponibilizar em seu site oficial na internet as informações referentes a processos criminais e eleitorais que pesem sobre cada candidato. A princípio, a divulgação seria feita em conjunto com os Tribunais Regionais Eleitorais, que acabaram recuando e aderindo à posição do presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Carlos Ayres Britto.O prazo para a oficialização das candidaturas termina no próximo sábado, dia 5. A lei exige que o pedido de registro de candidatura seja acompanhado da declaração de bens, quitação de prestação de contas e certidões criminais, nas esferas estadual, federal e eleitoral.Em reunião há duas semanas, os presidentes dos TREs recomendaram que os juízes eleitorais acatem ao pedido da AMB, que espera processar as informações até a segunda quinzena do mês. "Queremos disponibilizar as fichas a partir do dia 15, assim que reunirmos um bom volume de informações", disse à Folha o coordenador da campanha Eleições Limpas, da AMB, Paulo Henrique Machado."Não queremos fazer lista negra de ninguém, só registrar as pendências dos candidatos. Os tribunais ficaram com medo de quebrar o princípio da imparcialidade, mas é uma informação objetiva", disse. Segundo ele, não se pode negar a divulgação de um processo criminal contra qualquer pessoa."Um processo criminal não surge do nada. O argumento de que candidatos políticos possam mover processos contra seus rivais para impedir sua candidatura é falho", afirmou o representante da AMB.
Inelegibilidade
O STF (Supremo Tribunal Federal) analisa desde ontem ação da AMB que questiona alguns dispositivos da Lei de Inelegibilidades e o entendimento do TSE de que apenas a condenação definitiva, no exame da vida pregressa dos candidatos, pode ser levada em conta para negar registros de candidatos nas eleições. O relator da ação é o ministro Celso de Mello.A AMB pediu na última sexta a concessão de liminar para determinar aos juízes eleitorais que observem nos julgamentos dos registros ações contra candidatos em trâmite na Justiça.Para a associação, a emenda constitucional de revisão 04/ 94 faz com que a Lei de Inelegibilidades tenha a finalidade de proteger a probidade administrativa e a moralidade para o exercício do mandato, considerando a vida pregressa do candidato.

Lula confirma apoio à aliança PT-PSDB e critica direção petista

Por Fábio Amato e Paulo Peixoto
na Folha de São Paulo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem a direção nacional do PT, confirmou seu apoio à aliança informal entre PT e PSDB para a disputa da Prefeitura de Belo Horizonte (MG) e disse que vai participar de comícios do candidato Marcio Lacerda (PSB), apoiado tanto pelo governador de Minas Gerais, o tucano Aécio Neves, como pelo atual prefeito Fernando Pimentel (PT)."Vou participar pouco das eleições. Mas BH é uma das cidades que eu quero ir, até porque é importante a continuidade do projeto. BH está dando certo, a relação entre o prefeito e o governador tem sido boa, as divergências políticas têm que ser encaradas com uma certa naturalidade", disse Lula, após cerimônia de comemoração dos 30 anos da Helibrás, que fabrica helicópteros, em Itajubá (465 km de Belo Horizonte).Para Lula, a aliança PT-PSDB em BH é "plenamente aceitável, viável e importante". O presidente criticou a posição do PT nacional, que vetou a decisão dos diretórios municipal e estadual do partido em Minas favorável à coligação formal em torno do nome do ex-secretário estadual Márcio Lacerda. O vice de Lacerda é o deputado estadual Roberto Carvalho (PT)."Eu confesso que, depois de o PT de Minas aprovar [...], a direção nacional do partido poderia tranqüilamente apenas ter confirmado tudo o que aconteceu. Se tivesse que fazer uma repreensão ao Pimentel, que a fizesse em segredo, porque o jogo estava sendo feito à luz do dia", disse Lula.O PT nacional não aceitou que o PSDB fizesse parte da coligação porque, apesar de aliados em Minas, os tucanos fazem oposição a Lula. Além disso, há o entendimento de que a coligação poderia beneficiar Aécio em 2010 e prejudicar um possível candidato petista.Ontem, sem a presença de Aécio e de 57% dos 208 convencionais, mas seguindo a orientação do governador, o PSDB de BH aprovou por 85 votos a 3 o apoio informal à chapa PSB-PT. O partido pela primeira vez ficará oficialmente fora da disputa eleitoral na capital mineira, assim como o PPS, também vetado pela direção do PT.Lula disse ser "loucura" fazer qualquer ligação entre a aliança PT-PSDB em BH e uma possível união entre os dois partidos em 2010. Aécio seguiu o mesmo tom num primeiro momento. Mas depois disse que, com o resultado obtido em Minas, "uma porta fica aberta" para um possível entendimento no futuro.

Marta erra dados e usa verba de Lula para obras do metrô

Por Ranier Bragon
na Folha de São Paulo

Aprovado por unanimidade pela convenção que oficializou anteontem a candidatura de Marta Suplicy, o programa de governo do PT omite dados, "subtrai" quase 1.500 casos de dengue ocorridos na gestão da petista e se apropria de projeto bilionário em estudo pelo governo federal para prometer mais que dobrar as linhas de metrô e os corredores exclusivos de ônibus da cidade.Debatido por cerca de duas semanas pela coordenação da campanha -que reúne senadores, deputados federais, estaduais, vereadores e dirigentes, o projeto de 94 páginas promete "estabelecer um programa de investimentos da Prefeitura de São Paulo para a construção de mais de 78 km de metrô até 2014", além de "300 km de corredores". Se efetivada, a proposta mais que dobraria a atual malha (61,3 km de metrô e 113,5 km de corredores).O problema é que, na verdade, o investimento está em fase de análise pelo Palácio do Planalto e, se implantado, envolveria majoritariamente recursos federais, não da prefeitura. O estudo foi apresentado por Marta, quando ainda era ministra do Turismo, e envolve outros ministérios, além de investimentos para outras capitais. O objetivo é preparar o país para a Copa do Mundo de 2014.Além de fazer promessa com o "bolso alheio", o texto diz que "Marta tomou as medidas essenciais para o combate à dengue, tendo sido registrado apenas dez ocorrências da doença na cidade durante sua gestão". Na verdade, foram 1.507 entre 2001 e 2004. Os dez casos ocorreram, na verdade, em 2004, último ano da gestão Marta.O PT de São Paulo afirmou ter havido "erros de redação" no texto e que o programa está "em construção".As 94 páginas reservam amplo espaço para críticas à administração iniciada por José Serra (PSDB), hoje governador, e tocada atualmente por Gilberto Kassab (DEM). Geraldo Alckmin (PSDB) é praticamente ignorado no documento."O balanço da gestão Marta não deixa dúvidas quanto à necessidade de retomarmos os rumos de nossa complexa metrópole, cujas soluções superam em muito as expectativas de síndicos de jardins, no que se apequenaram os autopropalados eficientes gestores demo-tucanos", diz o texto.A página 56 reserva críticas ao reajuste de tarifas de ônibus feito por Serra em 2005 (17,65%) e por Kassab em 2006 (15%), nos respectivos inícios de suas gestões, mas omite o aumento de 21,7% patrocinado por Marta cinco meses após assumir o cargo, em 2001.Além disso, não há no papel o mea-culpa que a petista fez em público sobre as taxas que criou em sua administração. "A primeira orientação foi fazer mais com menos e aumentar a arrecadação com critérios de maior justiça social", afirma o texto.Outro detalhe que chama a atenção é a quase ausência de menção ao primeiro governo do PT, de Luiza Erundina (89-92), hoje no PSB. Ela tem se mostrado magoada com o veto, no próprio PSB, de seu nome para a vice de Marta.Nem Kassab nem Alckmin apresentaram ainda seus programas de governo.

BCs vêem economia global em "ponto crítico

Por Marcelo Nino
na Folha de São Paulo

Uma dupla ameaça está empurrando a economia mundial para um "ponto crítico". A convergência de inflação e desaceleração econômica é a fonte do perigo, alerta o BIS, entidade que monitora o sistema financeiro internacional e é uma espécie de banco central dos bancos centrais.Em seu relatório anual, o Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês) diz que o mundo vive a maior turbulência financeira desde a Segunda Guerra. "Uma poderosa interação entre inovação no mercado financeiro, frouxa regulamentação interna e externa e fáceis condições monetárias globais por um longo período nos levou à atual situação adversa", diz o relatório.Na prática, o relatório põe parte da culpa pela crise nos próprios BCs, por não terem mantido as taxas de juros altas o suficiente no começo da década para conter o surgimento de uma bolha de crédito.Hoje, o aumento da inflação no mundo é "um perigo claro e real", afirma o BIS, notando que a escalada dos preços preocupa principalmente em países emergentes, como o Brasil, que devem aumentar as taxas de juros e permitir a valorização de suas moedas para deter o o contágio da inflação em outras regiões do planeta.Ao mesmo tempo, a organização com sede na Suíça adverte que a economia mundial voltou a mostrar sinais de desaceleração mais acentuada e que o risco de recessão nos EUA ainda é "significativo". E reconhece que a combinação de pressão inflacionária com menor atividade econômica cria novamente um dilema para os bancos centrais, divididos entre elevar os juros para afastar o primeiro perigo ou cortá-los para enfrentar o segundo.
Desafio
"A ameaça imposta pelo ressurgimento da inflação chega justamente num momento em que os riscos ao crescimento global causados pelo acentuado aumento nos preços do petróleo e pelo aperto nas condições de crédito em algumas economias-chave aumentaram", disse o diretor-geral do BIS, Malcolm Knight. "Isso apresenta aos bancos centrais um grande desafio em política monetária."Em sua última reunião regular, há dois meses, o BIS já manifestara preocupação com o avanço da inflação, mas parecia convencido de que o pior da crise econômica mundial havia ficado para trás. E indicava que a demanda interna aquecida dos maiores países emergentes, como China, Índia e Brasil, era uma bênção capaz de compensar a desaceleração nos países industrializados.Agora, a bênção parece ter virado um perigo. "Nesses países [emergentes], as pressões causadas pela demanda continuam fortes", disse Knight. "Seria apropriado elevar os juros e permitir a valorização do câmbio para conter a inflação." Para ele, os desafios dos emergentes são "particularmente grandes", já que os preços dos alimentos consomem fatia maior do orçamento doméstico.Knight disse ainda que, com o aumento de sua participação na economia mundial, os países emergentes também passam a ter mais responsabilidades. "Os dias em que o curso do progresso econômico global era ditado por poucas economias avançadas terminaram", afirmou o gerente-geral do BIS. "O crescente peso dos países emergentes claramente trouxe vantagens, mas também cria responsabilidades internacionais."Embora o BIS deixe claro que a inflação é hoje o principal inimigo, em um de seus cenários mais pessimistas o relatório diz que o baixo crescimento poderá se prolongar por um período mais longo do que se prevê. Com os altos preços dos alimentos e do petróleo, o estouro da bolha imobiliária e a falta de crédito no mercado, a situação poderia se inverter e virar deflação, uma possibilidade remota, de acordo com o BIS, mas digna de atenção.