sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Saudade e esperança


Acabo de ler o livro A ginga e o jogo (Editora Objetiva, 196 páginas) de Armando Nogueira. Recomendo. Um livro cheio de saudades de um tempo belo, quando se jogava futebol com suor, lágrimas e muito sangue (como no caso de Vavá que, mesmo com um buraco no peito do pé, jogou as últimas partidas da Copa de 1958 e nem parecia que estava com um buraco no peito do pé). A saudade transborda em cada palavra de Armando.
Lembra dos dribles de Garrincha, dos gols de Pelé, da magia de um futebol brasileiro que, hoje em dia, é raridade. Armando Nogueira percebe o tanto que o futebol “moderno” poda os meio campistas. Um futebol que preza mais a velocidade a beleza, o drible. Hoje em dia, driblar é uma ofensa. Muitos questionam se Garrincha daria seus dribles que tanto encantaram a geração de Armando Nogueira. Eu digo que sim. Se dessem a ele a mesma preparação física dos jogadores atuais poderia até fazer muito mais do que fez.
Mas o livro também fala do futebol atual. Armando Nogueira reverencia o reinado de Romário na grande área, percebe que Robinho não tem duas, mas 30, 40 pernas que tonteiam qualquer zagueiro. Até Ronaldinho Gaúcho é consagrado por Armando pela sua boa atuação na Copa de 2002. Ah, se não fosse ele naqueles dribles saindo do meio campo e entregando a bola para Rivaldo chutar no canto do gol da Inglaterra e empatar a partida que perdíamos por 1 a 0. Era a semifinal. E foi nesta semifinal que Ronaldinho Gaúcho cobrou magistralmente aquela falta colocando a bola no lugar onde a corujinha dorme e enganando o goleiro inglês. Ainda bem que as crônicas do livro não possuem datas. Assim não lembramos de como Robinho saiu do Real Madri e da placa gordurosa que se alojou na barriga de Ronaldinho Gaúcho não permitindo que o Barcelona fizesse uma despedida que o jogador merecia. É a esperança de que o futebol seja jogado bonito, com arte, que faça o público se emocionar assim como emocionou Armando Nogueira quando foi ao Estádio General Severiano ver o Botafogo jogar contra o Flamengo e o botafoguense Heleno de Freitas acabando com o jogo. Foi a partir daquele ano de 1944, no acanhado General Severiano que Armando nunca mais deixaria de ser botafoguente.
O livro é recheado de história e causos do futebol. Das fugas dos jogadores das concentrações (Romário não foi o primeiro).
Um livro de saudades, recordações de um tempo quando o futebol era jogado com maestria, suor, sangue e um pouco de ar fora da concentração.

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