sábado, 8 de novembro de 2008

Abin cometeu crimes durante Operação Satiagraha, acredita PF

Por Fausto Macedo
no Estado de São Paulo

A Polícia Federal está convencida de que pelo menos outros cinco crimes, além do vazamento de informações sigilosas, foram praticados pela equipe de arapongas - que integram os quadros da própria PF e da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) - mobilizada para conduzir a Satiagraha, operação que aponta o banqueiro Daniel Dantas como envolvido em suposto esquema de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e fraudes financeiras.A PF constatou que 72 agentes da Abin participaram da Satiagraha, mas esse contingente pode chegar a 100. Para a PF, o deslocamento maciço de oficiais da Inteligência não teria sido possível sem concordância expressa do delegado Paulo Lacerda, ex-diretor-geral da Polícia Federal e diretor afastado da própria Abin.A PF descobriu que o Sistema Guardião, a máquina de grampos que alimenta suas missões, foi violado.Os crimes identificados, segundo a investigação: gravações clandestinas de vídeo e áudio, filmagens e interceptações de conversas e escuta ambiental sem autorização judicial, usurpação de função pública, prevaricação e quebra de sigilo de senhas pessoais de agentes federais por arapongas da Abin para acesso a cadastros de telefonia e realização de grampos.O inquérito 24447/08 foi aberto em julho para apurar o furo do sigilo que cercava a Satiagraha. No decorrer da investigação o delegado Amaro Vieira Ferreira, encarregado do inquérito, deparou-se com situações que avalia criminosas.Essa suspeita levou a PF a requerer à Justiça Federal ordem para busca e apreensão, inclusive em 4 endereços do delegado Protógenes Queiroz, mentor da Satiagraha. A PF estuda indiciá-lo com base no artigo 325 do Código Penal, por violação de sigilo funcional. No dia 28 de outubro, o procurador da República Roberto Diana manifestou-se contra as buscas.A PF queria batizar de Geppetto - alusão ao criador de Pinóquio - a grande operação que deflagrou na madrugada de quarta-feira, mas essa pretensão foi vetada pelo juiz Ali Mazloum, da 7ª Vara Federal.Mazloum também ordenou à PF que não fizesse alarde sobre as buscas e nem submetesse os alvos à exposição. A operação vazou porque o próprio delegado Protógenes convocou a imprensa para uma coletiva.A varredura atingiu até o Centro de Operações da Superintendência da Abin no Rio, instalado na Rua Equador, junto ao terminal rodoviário, bairro Santo Cristo.Amparado no inquérito e nos inúmeros argumentos do delegado Ferreira, o juiz Ali Mazloum decretou buscas nas casas de dois oficiais de inteligência da Abin, Luiz Eduardo Melo e Thelio Braun D?Azevedo, ambos residentes no Setor de Mansões Park Way, em Brasília.Foram alvos da inspeção Idalberto Matias de Araújo, terceiro-sargento da Aeronáutica, Jairo Martins de Souza, terceiro-sargento da Polícia Militar no Distrito Federal e Walter Guerra Silva, escrivão da PF.A PF concluiu que servidores da Abin e até um ex-servidor, por iniciativa de Protógenes e sem autorização judicial ou formalização, foram introduzidos clandestinamente nos trabalhos da Satiagraha. Os arapongas tomaram conhecimento de dados da operação, que tramitava sob sigilo, e, seguindo comando de Protógenes, passaram a realizar vigilância e acompanhamento de alvos, fazendo registros fotográficos, filmagens e gravações ambientais - procedimentos descobertos de autorização judicial.

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