sábado, 24 de maio de 2008

Colômbia investiga suposta morte de chefe das Farc

Da BBC

O governo da Colômbia afirmou neste sábado que investiga informações sobre a morte do líder e fundador das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Pedro Antonio Marín, conhecido como Tirofijo (tiro certeiro, em tradução livre).
Em entrevista à revista colombiana Semana, o ministro Juan Manuel Santos afirmou que o líder revolucionário também conhecido como Manuel Marulanda Vélez teria morrido no dia 26 de março.
As informações seriam de uma fonte que, nas palavras do ministro, "nunca falhou". As Farc, no entanto, não se manifestaram oficialmente a respeito.
"Houve três bombardeios fortes nestas datas em locais em que se pensava estar Tirofijo. A guerrilha diz que ele morreu de parada cardíaca", disse Santos à Semana.
Ele destacou, no entanto, que não há provas nem a favor nem contra qualquer das duas versões sobre a morte do líder, que teria cerca de 80 anos.

Inferno

Na entrevista à jornalista María Isabel Rueda, Juan Manuel Santos diz achar que Tirofijo "anda no inferno para onde vão os criminosos quando morrem".
Essa não é a primeira vez que o guerrilheiro é dado por morto.
Se a informação for confirmada, a morte do líder mais velho da guerrilha pode significar o mais duro golpe às Farc, que já atravessa um enfraquecimento, tanto pela deserção de milhares de soldados, como pela forte ofensiva militar do governo de Álvaro Uribe.
O guerrilheiro fundou as Farc em 1964 e teria morrido dias depois de outros dois importantes integrantes da cúpula do movimento, Raúl Reyes, morto durante um bombardeio e Ivan Ríos, assassinado por seu guarda-costas.
De acordo com o jornal El Tiempo, Tirofijo será substituído na cúpula do grupo armado por Guillermo Sáenz, conhecido como Alfonso Cano.

Doçura demais pode estragar o meu regime

Marconi Perillo é a eterna vítima. Sabe aquelas conversa do senador com a desembargadora que saiu na revista Época da semana passada? Pois é, tem gente aqui (muita gente) que acha que tudo aquilo foi montado pelo Palácio do Planalto porque Lula quer moer Marconi. Mas por que Lula quer moer Marconi? Dizem que o motivo é o depoimento de Dilma Rousseff na Comissão de Infra-estrutura do Senado (presidida por Marconi). Mas espere um pouco. Não foi depois deste depoimento que os lulistas bolivarianos exaltaram Mãe Dilma, disseram que ela tinha dado um show e que seria a próxima presidente do Brasil? Eles tinham que agradecer Marconi pela ida de Dilma ao Senado. E tem mais. O senador Agripino Maia perguntou, neste mesmo depoimento, à Dilma se ela estaria mentindo como mentira aos seus torturadores durante o regime militar. Esta pergunta deu o maior bafafá. Se Marconi Perillo é perseguido por ter convocado Mãe Dilma para prestar depoimento na Comissão de Infra-estrutura do Senado, imagine como o senador José Agripino Maia está sendo perseguido agora por ter duvidado da verdade dela. Se Dilma é a protegida de Lula, eu não queria estar na pele do senador do DEMO.
Aqui em Goiás, Marconi Perillo é blindado, defendido, escoltado. É lamentável (para não dizer outra coisa) abrir o jornal e ler artigos elogiando, exaltando, batendo palmas para o ex-senador. Se há denúncias contra ele é o ódio que cega as pessoas. Se têm escutas telefônicas da Polícia Federal é Lula que está perseguindo. Marconi Perillo é a eterna vítima. Aquele perseguido, insultado, mal quisto por conta da sua oposição ao governo Lula. Oposição? Não foi Marconi que reuniu secretamente com Lula garantindo que convenceria os senadores tucanos a votarem a favor da prorrogação da CPMF no final de 2007? Se Lula o odeia desde 2005, quando Marconi disse que alertou o presidente sobre o mensalão, por que teve um encontro secreto com o senador malvado? Será que Marconi é mais malvado que Agripino Maia e Arthur Virgílio juntos? Que isso! Marconi não é mlavado. É o ódio que cega. É o ódio que não deixa você ver a doçura que é o senador Marconi Perillo. Não, obrigado! Doçura demais pode estragar o meu regime.

"Amazônia: premissas para sua entrega" por Roberto Pompeu de Toledo

Ao comentar as manifestações em favor da internacionalização da Amazônia, o novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, respondeu que a aceitava – por que não? – desde que fossem internacionalizadas também Nova York e Paris. O assunto da internacionalização ressurgiu na imprensa mundial no rastro da demissão da antecessora de Minc, Marina Silva. O jornal inglês The Independent publicou um editorial afirmando que a Amazônia "era importante demais para ser deixada aos brasileiros". O New York Times publicou artigo em que lembrava uma antiga frase de Al Gore, ex-vice-presidente americano, hoje santo protetor do meio ambiente global: "Ao contrário do que pensam os brasileiros, a Amazônia não é propriedade deles, e sim de todos nós".
Com a idéia de internacionalizar também Paris e Nova York, Minc retomava um artigo do senador Cristovam Buarque, publicado em 2000 e de muito sucesso na internet. Cristovam Buarque conta que, questionado sobre a internacionalização, num debate nos Estados Unidos, disse que, "como humanista", era a favor – assim como era a favor de internacionalizar as reservas de petróleo do mundo, libertando-as de países que arbitrariamente diminuem a extração ou sobem o preço, ou de internacionalizar o capital financeiro global, sujeito a manobras dos especuladores. Era a favor igualmente da internacionalização dos museus, como o Louvre, "guardiães das mais belas peças produzidas pelo gênio humano". E também de Nova York, como sede da ONU, e de Paris, Veneza, Roma, Londres e Rio de Janeiro, patrimônios da humanidade, sem se esquecer do arsenal nuclear americano, instrumento perigoso demais para estar sob controle de um só país.
Cristovam Buarque estava, claro, dando um chega-pra-lá nos interlocutores estrangeiros. Mas ao mesmo tempo desenhava um idílico mundo futuro, liberto das soberanias nacionais, em que tudo é de todos. Se tudo der certo no planeta (o que é discutível), quem sabe um dia, daqui a mil ou dois mil anos, cheguemos lá. Será tudo como o mar do anônimo poema medieval catalão que diz: "No mar / não há teu / nem meu. / No mar / tudo é teu / e tudo é meu". Como nada ainda deu certo no planeta, e nem mesmo o poema catalão é confiável – pois não considera a demarcação dos mares territoriais –, é bom o Independent e Al Gore terem um pouco de calma. A internacionalização só será aceitável quando se cumprirem duas premissas. Primeira: que desapareçam os estados nacionais. Segunda: que os grupos, ou comunidades, ou sociedades que restarem, mantenham entre si relações impecavelmente eqüitativas. Quem sabe, um dia...
A saída de Marina Silva foi a mais digna saída de ministro do governo Lula. A entrada de Carlos Minc foi a mais espetacular entrada de ministro do governo Lula. Marina Silva fez de sua demissão o relançamento da causa ambientalista. Cada vez mais desprestigiada dentro de um governo tomado pelo PAC PAC PAC das comichões desenvolvimentistas, lançou a carta da demissão como um último recurso – como, exagerando um pouco, um presidente suicida deixa uma carta-testamento para plataforma de sua redenção política. Foi uma demissão pela causa, coisa rara em qualquer governo, e inédita neste, em que a regra é o ministro sair atado ao rabo de algum escândalo. E não é que deu certo? A questão ambientalista, a Amazônia em particular, passou a ser discutida desde então como nunca antes neste país, e até mundo afora.
A estréia de Carlos Minc foi a mais espetacular entrada em cena desde Greta Garbo irrompendo atrás da fumaça do trem em Anna Karenina. Minc investiu contra o governador Blairo "motosserra de ouro" Maggi. Cutucou o novo gerente da Amazônia, Mangabeira Unger, um ministro do Futuro que com essa nova incumbência ganhou a primeira chance de meter a colher no presente. Disparou comentários sobre energia nuclear e hidrelétricas. Mas não é o que pensa, nem o que pretende fazer, o que mais impressionou. Impressionou o estilo, um estilo em que se combinam um pára-tudo-que-eu-cheguei e um às-favas-as-convenções, misturados às poses desinibidas, as roupas, o corte do cabelo e os bordões altissonantes. "Tremei, poluidores!", disse. Ao se despedir, costuma sapecar um "Saudações ecológicas e libertárias!". Nas entrevistas, abusa do "o Lula me garantiu..." ou "a Dilma concordou...". Não é "o presidente" Lula, nem "a ministra" Dilma. A intimidade do lar, ou do bar, contrapõe-se à caretice de Brasília.
O estilo exuberante de Minc é de risco. Tanto pode lhe render alguma preeminência no conjunto do ministério, e atenção para a causa ambientalista, quanto o carimbo de tipo bom para divertir, não para ser levado a sério. "Performático" é o adjetivo que ele usa para qualificar seu modo de atuar. Cuidado, ministro. Performático pode ser o político com um domínio de cena que ajuda a convencer e angariar adeptos, mas pode ser também – ou melhor, é sempre – o bobo da corte. Minc recebeu de Marina Silva a causa do ambientalismo em alta; depende dele mantê-la num nível elevado.

"Não sofro de diegomainardice" por Diogo Mainardi

O que eu sabia sobre Sabrina Sato: ela participa de um programa de TV. Agora sei também que ela tem uma pinta na testa. Mais ainda: sei que ela desistiu de tirar a pinta. Esse foi o fato que atraiu o maior número de leitores da Folha Online, alguns dias atrás. A nota era acompanhada por uma fotografia de Sabrina Sato sorridente, com sua pinta na testa. Pinta é um negócio nojento. Tire a pinta, Sabrina Sato.
A TV está sendo progressivamente esvaziada pela internet. Pela primeira vez, no Brasil e no resto do mundo, a TV perde público. Os espectadores desligam seus aparelhos e migram em massa para o computador, passando mais tempo na internet. E qual é o principal assunto na internet? A TV. No caso, a pinta na testa de Sabrina Sato. Ou, pouco antes, igualmente entre as notícias mais lidas da Folha Online, o choro de Deborah Secco num programa de auditório.
Além de ler sobre a TV, a platéia da internet faz comentários atarantados sobre a TV. Assim como faz comentários atarantados sobre todos os outros temas. A internet é como o teatro de José Celso, em que a platéia é chamada para o centro do palco e se torna protagonista do espetáculo. Amadoristicamente, cada um desempenha seu próprio papel, improvisando um comentariozinho desimportante aqui, outro ali. O mundo se transformou num gigantesco Teatro Oficina, onde se encena um espetáculo infinito de José Celso, do qual ninguém pode fugir. Trata-se de um pesadelo bem mais medonho do que qualquer distopia totalitária imaginada por George Orwell ou Aldous Huxley. Quero minha dose de "Soma"!
Umberto Eco criou a fantasia demagógica do "lector in fabula", em que o leitor é estimulado a participar do romance com suas idéias, transformando-se, ele mesmo, em autor. A internet é isso: um monte de maus leitores dotados de más idéias que cismam em interagir com maus autores. É o território dos opinionistas que opinam sobre a opinionice de outros opinionistas. É a água parada onde prolifera a diegomainardice hemorrágica.
Pode parecer um contra-senso, mas eu nunca sofri de diegomainardice. Só opino porque é meu trabalho. Se desse, eu desligaria imediatamente o computador e passaria o resto do dia estatelado na cama, na frente da TV, assistindo a um programa de culinária, um seriado americano, um torneio de golfe ou uma comédia antiga com Alberto Sordi. O que eu tenho a opinar sobre o programa de culinária ou o seriado americano? Alegremente, nada. A TV é minha droga da felicidade, meu sedativo, meu "Soma". Desde que eu fique distante de Sabrina Sato e de sua pinta na testa. Ela faz aflorar um monte de idéias em minha mente, todas elas rabiosas e incongruentes, transportando-me para o palco do Teatro Oficina, onde José Celso e sua platéia encenam eternamente a Guerra de Canudos. E agora? Como a gente sai daqui?

Apoio de pastores constrange McCain

Por Maeve Reston e Stuart Silverstein
no Estado de São Paulo

Depois de várias semanas de crítica, John McCain, candidato republicano à Casa Branca, rompeu na quinta-feira com dois televangelistas. O apoio de John Hagee e Rod Parsley havia sido bastante comemorado pela campanha de McCain, que contava com os dois para conquistar os eleitores conservadores religiosos.Mas, em comício em Stockton, na Califórnia, McCain anunciou que rejeitava o apoio de Hagee depois de tomar conhecimento de uma gravação em que o pastor dizia que "Hitler foi um enviado de Deus" para obrigar os judeus a "retornarem à terra de Israel". O candidato republicano disse que, quando Hagee o apoiou, em fevereiro, não sabia dos comentários do pastor, feitos durante um sermão no fim dos anos 90, que ressurgiram na internet. "Considero essa declaração absurda e inaceitável", disse McCain, que logo em seguida, em entrevista à Associated Press, afirmou que também foi obrigado a recusar o apoio de Rod Parsley, pastor no Estado de Ohio e crítico ferrenho do Islã. "Acho que não há lugar para esse tipo de discurso nos EUA", afirmou McCain. Parsley, que considera o adultério crime e o homossexualismo uma aberração, costuma dizer que Alá é um espírito demoníaco. Em fevereiro, ele e McCain foram vistos dividindo o mesmo palanque em Ohio. O senador, que é visto com desconfiança por muitos conservadores no partido, buscou ativamente o apoio de Hagee e Parsley. A idéia era desfazer o relacionamento ruim que McCain tinha com líderes evangélicos, a quem chamava de "agentes da intolerância".O caso, porém, lembra a controvérsia envolvendo o candidato democrata Barack Obama, que tem dificuldade para se desvencilhar dos sermões incendiários de seu ex-pastor, Jeremiah Wright, que acusou o governo americano de racista e de ter provocado os atentados de 11 de Setembro. Quando ficou sabendo das declarações de McCain, Hagee também rompeu com o republicano. O pastor divulgou um comunicado no qual dizia estar "cansado desses ataques sem fundamento". "Os críticos distorceram flagrantemente minha posição sobre assuntos que eu prezo muitíssimo", declarou.Analistas afirmam que o rompimento com Parsley pode ter conseqüências mais graves. Em 2004, o pastor foi apontado como responsável pelo grande comparecimento dos evangélicos às urnas, que muitos afirmam ter sido fundamental para a vitória do presidente George W. Bush em Ohio.

''Ficou clara'' participação de Paulinho, acusa PF

Por Fausto Macedo
no Estado de São Paulo

"Com relação às autoridades, deputado Paulo Pereira da Silva e prefeito Alberto P. Mourão, ficou clara a participação destes na organização criminosa", acusa o relatório 11 da Polícia Federal sobre suposto desvio de verbas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). É a primeira vez que a PF aponta com tanta convicção e ênfase o envolvimento de Paulinho.São 124 páginas de análise do caso BNDES, robustecido de um dossiê com 55 documentos bancários e contábeis, mais cópias de cheques, notas fiscais e planilhas eletrônicas que a Operação Santa Tereza recolheu. Em toda a sua extensão, o documento faz referências taxativas a Paulinho.O relatório 11 dedica um capítulo inteiro ao pedetista, sob o título "Das diligências-Brasília", tarefa executada pelos agentes entre os dias 25 e 26 de fevereiro - nessa etapa, Paulinho foi espionado e filmado dentro do plenário da Câmara, território sagrado dos deputados. Foi a mais ousada ofensiva da PF desde que elegeu Paulinho alvo da missão.Os federais mantinham sob severa vigilância o lobista João Pedro de Moura, amigo e aliado de Paulinho, e a quem é atribuído papel de mentor do golpe - o que ele nega. Seguiram Moura pelos corredores da Câmara, até o salão verde.Página 63 do relatório: "No interior do plenário, na área destinada ao café (restrita a parlamentar), João Pedro foi visto às 19h20 em uma mesa, acompanhado por três pessoas, onde, às 19h30, abriu seu notebook, modelo Sony Vaio, cor preta, e fez uma apresentação aos presentes, fornecendo-lhes, logo após, papéis. Após a apresentação, um dos presentes, homem branco e calvo, se retirou da mesa. Às 19h50, junta-se ao grupo o deputado federal Paulo Pereira da Silva, onde estabelece conversações com os demais. João Pedro saiu do plenário às 20h03, acompanhado do deputado Paulo Pereira da Silva e outra pessoa."A PF afirma que coube a Paulinho cheque de R$ 18.397,50, emitido em 15 de fevereiro, dinheiro relativo ao primeiro desembolso do BNDES para a Prefeitura de Praia Grande. A prova, aponta a PF, são uma cópia do cheque e uma planilha de divisão de valores achada na sede da Progus Consultoria, do empresário Marcos Mantovani, autor de projetos para empresas e prefeituras.A planilha que a PF encontrou identifica Paulinho como PA. No início da investigação, os federais sustentavam que PA era "possivelmente" o deputado. Agora, são categóricos quando afirmam em caráter oficial que PA é o parlamentar, a quem chamam de "vulgo Paulinho da Força".Página 18: "Iniciados os pagamentos para os integrantes da organização criminosa e, após as buscas decorrentes da deflagração da operação na data de 24 de abril, confirmaram-se alguns nomes. Quanto a PA, confirmou ser a pessoa de Paulo Pereira da Silva, vulgo Paulinho da Força."O advogado de Paulinho, Antonio Rosella, rechaça as acusações da PF, que classifica de "absurdas". Mariz de Oliveira, advogado do prefeito de Praia Grande, afirma que ele não tem ligação com desvio de verbas. Antonio Ruiz Filho e Carlos Kauffmann, advogados de Mantovani, declaram que o empresário efetivamente fez os projetos questionados.

Lula tem encontro ''tenso'' com Correa, Evo e Chávez

Por Denise Chrispim Marin e Lisandra Paraguassú
no Estado de São Paulo

O primeiro compromisso da agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem foi um café da manhã com os presidentes do Equador, Rafael Correa, da Bolívia, Evo Morales, e da Venezuela, Hugo Chávez, para garantir uma assinatura sem surpresas do trato constitutivo da União Sul-Americana de Nações (Unasul). Foi, na descrição de assessores presentes, um encontro "tenso". Nos últimos momentos, às vésperas da assinatura definitiva, Correa ainda apresentou restrições ao formato do tratado.Na estrutura final da Unasul, a secretaria-geral - que ficará no Equador - terá menos poder que o conselho de delegados e delegadas, sendo apenas a quarta instância de decisão. O presidente equatoriano acredita que os seus delegados não refletem fielmente as posições de seu governo. No entanto, o Equador não havia questionado seriamente a formatação final, porque o principal candidato a secretário-executivo da Unasul era o equatoriano Rodrigo Borja, que renunciou na última quinta-feira, mudando o quadro.Corrêa foi convencido a abandonar os seus pleitos em nome da harmonia na Unasul e para não criar mais problemas em um acerto já complicado. O governo brasileiro já esperava um revés em relação ao anúncio da criação de um conselho de defesa na Unasul, rejeitado pela Colômbia e visto com reservas por outros países da região, o que dava mostras de um relacionamento ainda muito complicado.
CONSTRANGIMENTO
Em 2005, durante outro encontro em Brasília, Lula teve de passar pelo constrangimento de ver o presidente venezuelano negar-se em público a assinar a declaração final dos presidentes que previa criação da Comunidade Sul-Americana de Nações - o primeiro nome da Unasul -, depois de um dia inteiro de negociações.Naquela ocasião, Chávez exigia que o debate continuasse até que todos chegassem a um consenso sobre o tratado constitutivo. Diante da imprensa, o venezuelano passou um pito no chanceler brasileiro, Celso Amorim, que tentou convencê-lo a assinar a declaração.Coube ao presidente Lula a tarefa de apaziguar Chávez e convencê-lo sobre a importância de assinar o documento.

Entraves marcam criação de entidade para unir América do Sul

Por Denise Chrispim Marin e Lisandra Paraguassu
no Estado de São Paulo

A União Sul-Americana de Nações (Unasul) tornou-se efetiva ontem sob a convicção brasileira de que a América do Sul tem estofo suficiente para mudar o "tabuleiro do poder" mundial. Essa aposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, expressa em seu discurso na abertura da reunião extraordinária de cúpula da Unasul, esfarelou em três vertentes. O lançamento do Conselho Sul-Americano de Defesa, o pilar da Unasul para a segurança regional, foi adiado por novas resistências e cautelas que se somaram às da Colômbia, que exigiu a classificação das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) como grupo terrorista. O uso do encontro de Brasília para apaziguar definitivamente a crise na vizinhança igualmente fracassou, diante de novos ataques do presidente do Equador, Rafael Correa, à Colômbia. A terceira vertente foi a constatação de que não haverá recursos financeiros para alavancar a integração sul-americana - tema para o qual o próprio Lula chamou a atenção. O petista referiu-se à Unasul como um "pesado fardo" ao citar r a passagem da presidência temporária da Bolívia para o Chile."Uma América do Sul unida mexerá com o tabuleiro do poder no mundo. Não em benefício de um ou outro de nossos países, mas em benefício de todos", afirmou o presidente brasileiro, em seu discurso. "Estamos deixando para trás uma longa história de indiferença e isolamento recíproco. Nossa América do Sul não será mais um mero conceito geográfico."A rigor, a reunião de Brasília cumpriu seu objetivo central - a assinatura do tratado constitutivo da Unasul, que dará as bases jurídicas para a ação desse novo organismo regional. Alan Garcia, presidente do Peru, assinou o texto, falou rapidamente sobre o quão importante lhe pareceu esse ato e voltou a Lima. Não esperou o encontro reservado entre os chefes de Estado presentes nem o almoço no Itamaraty - oportunidades para dissolver nódoas nas relações bilaterais.Entusiasmado, Lula enumerou as vantagens comparativas da América do Sul. No plano econômico, destacou que a região tornou-se "um dos principais pontos de atração de investimentos no mundo", graças à fase de crescimento com redução da desigualdade social. No plano político, citou o fato de todos os líderes sul-americanos terem sido eleitos em "pleitos democráticos e com ampla participação popular". "A América do Sul é, hoje, uma região de paz, onde floresce a democracia", resumiu. "Esses progressos nos campos econômico e sócio-político nos conferem crescente projeção no novo mundo multipolar que se está constituindo."Ciente das oposições da Venezuela, Bolívia e Equador, Lula esquivou-se de defender a ampliação da produção e do uso dos biocombustíveis em seu discurso. Preferiu abordar o tema indiretamente. "Nossa região torna-se um interlocutor cada vez mais indispensável à medida que o mundo se vê diante da necessidade de compatibilizar segurança alimentar, suprimento energético e preservação do meio ambiente", declarou. "Quando a escassez de alimentos ameaça a paz social em muitas partes do mundo, é em nossa região que muitos vêm buscar respostas."O encontro não chegou a ser plenamente contaminado pelas provas reunidas pelos investigadores da Interpol da colaboração dos governos da Venezuela e do Equador com as Farc. Mas o imbróglio espirrou na resistência pétrea do presidente colombiano, Álvaro Uribe, em somar-se ao Conselho Sul-Americano de Defesa - um projeto caro a Lula, que havia designado o ministro da Defesa, Nelson Jobim, para costurá-lo. Uribe exigiu a qualificação das Farc como grupo terrorista."O continente deve atrever-se a qualificar como terrorista todo grupo violento que atente contra a democracia", afirmou, depois de uma conversa reservada com Lula. "Sonho que a América do Sul avance para uma sociedade democrática em que, à semelhança da Europa, não se permita a existência de grupos violentos, como os que temos", completou, para em seguida indicar que sua resistência não se devia à presença da Venezuela de Hugo Chávez no mesmo Conselho.Lula ainda insistiu, ao discursar, na criação do Conselho ainda ontem e chegou a propor o agendamento de uma reunião para "detalhar os objetivos e o funcionamento" do órgão no segundo semestre deste ano. Mas conseguiu apenas a aprovação da sugestão da presidente do Chile, Michele Bachelet, de criação de um grupo de trabalho para construir um projeto em 90 dias. Além da Colômbia, o Uruguai mostrou-se reticente."Fracasso teria sido se os chefes de Estado não tivessem aprovado a criação do grupo de trabalho", acudiu Bachelet, quando Lula foi questionado pela imprensa se teria fracassado nessa aspiração.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Será que vai continuar tudo a mesma coisa?

Acabei de ver no Jornal Nacional a repercussão da morte do senador Jefferson Peres. Vários políticos falaram. Todos ressaltaram a defesa que Peres fazia da ética na política. Resta saber se este reconhecimento foi da boca pra fora ou se eles vão criar juízo e cuidar melhor da coisa pública. Pobre país!

Foro de São Paulo é tolerante com as Farc

Por Diogo Schelp
na Veja online

Se não fosse por dois fatores, o Foro de São Paulo, um encontro anual de esquerdistas latino-americanos, seria apenas mais uma oportunidade para debater sobre medidas que jamais sairão do papel e para perpetuar a desgastada retórica de que a culpa pela pobreza latino-americana é dos Estados Unidos e do neoliberalismo. O primeiro fator que faz do Foro de São Paulo merecedor de atenção é que muitas das organizações políticas que dele fazem parte estão no poder -- ou formam a base de apoio do governo -- em mais de uma dezena de países da América Latina. O segundo é que o Foro tornou-se o centro de uma contradição que divide e remói a esquerda latino-americana: a incapacidade de se posicionar de maneira firme contra as violações de direitos humanos cometidas pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), um grupo que esteve presente em boa parte dos dezoito anos de existência do Foro.
Equilibrando esses dois estigmas, começou nesta quinta-feira um novo encontro do Foro de São Paulo, desta vez em Montevidéu, no Uruguai (o último foi em El Salvador). O evento termina no domingo, dia 25. Em um hotel de frente para o Rio de la Plata, cerca de 30 pessoas, representantes de alguns dos principais partidos de esquerda da região, fizeram uma reunião do chamado Grupo de Trabalho – espécie de cúpula diretiva do Foro de São Paulo. A discussão foi presidida por Valter Pomar, secretário de relações internacionais do Partido dos Trabalhadores brasileiro e secretário-executivo do Foro de São Paulo. Como a entidade não tem uma estrutura hierárquica com presidente e diretores, isso faz de Pomar uma espécie de comandante-en-jefe do Foro. Logo após a reunião, que aconteceu a portas fechadas e durou pouco mais de três horas, Pomar concedeu uma entrevista à reportagem de VEJA no bar do hotel, enquanto se deliciava com as bolachinhas que acompanhavam sua xícara de café com leite.

VEJA -- É verdadeira a notícia de que as Farc e o Exército de Libertação Nacional (ELN) serão impedidos de ser membros do Foro de São Paulo, a partir deste encontro em Montevidéu?
Pomar -- Não existe uma filiação ao Foro. Nenhum desses grupos, portanto, pode ser chamado de membro do Foro. Basta se inscrever e vir participar. Assim como você se inscreveu e está aqui.

Eu estou aqui como jornalista, é diferente.
Seja como for, você não vai ver ninguém das Farc aqui porque a inscrição de qualquer grupo que queira participar do Foro é submetida à aprovação dos partidos que fazem parte do Grupo de Trabalho. Se o PP [Partido Progressista] brasileiro resolvesse se inscrever, por exemplo, certamente não seria aceito porque o PT barraria. Se as Farc quisessem se inscrever, o que aconteceria? O PDA [Polo Democratico Alternativo, do ex-candidato à presidência Carlos Gaviria], da Colômbia faria o quê? O que você acha que faria?
Não sei.
Não permitiria, claro.

Quando as Farc deixaram de participar do Foro?
As guerrilhas colombianas -- não apenas as Farc, veja bem, porque há outros grupos -- há muitos anos deixaram de vir, até porque a situação da guerra não lhes permite. Na década de 90 havia uma situação de negociação das Farc com o governo e naquele período a presença delas em eventos na região era pública e notória.

O texto de convocação do Foro em Montevidéu fala em combate à corrupção e ao narcotráfico. Trata-se de um mensagem velada às Farc de que não são bem-vindas?
Não, não é nenhuma mensagem velada. Este tema está no texto porque nos preocupa. O narcotráfico é um problema para a região e, portanto, também o é para a esquerda. Eu vejo a Colômbia da seguinte forma: o problema lá não são as Farc em si, é a guerra. Trata-se de um conflito que tem como atores o estado colombiano, os paramilitares e a guerrilha. Classificar as Farc de terrorista significa tratá-las como um grupo criminoso, e ninguém negocia com criminosos. Só que para solucionar a guerra na Colômbia, é preciso negociar. Não é a solução que o atual governo colombiano quer, que é matar a todos. A guerra colombiana tem 40 anos e os grupos guerrilheiros estão nesse contexto histórico. Não concordo com seus métodos, mas não se trata de uma guerrilha artificial. Ela tem causas sociais e políticas.

As Farc tem como meta derrubar pelas armas um governo democraticamente eleito. No texto de convocação do Foro há claramente a defesa da via eleitoral para chegar ao poder. Trata-se de uma tentativa de o Foro se posicionar a respeito da questão das Farc, com seus métodos de seqüestro, tortura e mortes?
Essa posição acompanha o Foro desde sua fundação. Nós tentamos deixar claro que a via eleitoral é o caminho. Mas a realidade colombiana é complexa. Os interessados em manter a guerra como está são a direita colombiana, que tem ligações com os paramilitares e o narcotráfico, e os Estados Unidos, que assim tem uma justificativa para sua presença militar na região. É preciso negociar.

Uma vez que não se deve classificar as Farc como criminosas e que é legítimo negociar com seus membros, nada impede que o grupo tenha ligações com outras organizações da região. Nesse sentido, o PT mantém algum tipo de relação com as Farc?
O PT, como instituição, não tem nenhum relação com as Farc. Se algum membro do PT, como pessoa, tem alguma relação, é por sua conta e risco. Eu não sei de ninguém que tenha contato com as Farc, nem de ouvir falar. Quando prenderam aquele padre, o Olivério Medina, houve alguns membros do partido que assinaram uma petição para que ele não fosse extraditado, mas ali é outro caso, tratava-se de uma questão de direitos humanos.

É assim que eles tratam a imprensa

Viram o que fizeram com o repórter da revista Veja? Este é o Foro de São Paulo, criado por Lula em 1990. Lula não censura a imprensa aqui no Brasil porque não pode. Ele quer e muito que isso aconteça. Lá no Foro de São Paulo, a imprensa que adentra nas reuniões é a imprensa que eles querem, que eles aceitam.

VEJA é expulsa da reunião do Foro de São Paulo

Por Diogo Schelp

A reportagem de VEJA foi "convidada a se retirar" de uma das reuniões do Foro de São Paulo, nesta sexta, em Montevidéu. Tratava-se de uma das quatro oficinas com temáticas regionais que aconteciam simultaneamente na parte da manhã. A reportagem assistia à oficina "Andino Amazônica" – em que Ricardo Patiño, ministro de Coordenação Política do Equador, explicava que o ataque que matou o terrorista colombiano Raúl Reyes em território equatoriano havia sido feito com aviões americanos, e não colombianos, como divulgado –, quando um segurança abordou o jornalista e pediu que se retirasse do local.
Curiosamente, a abordagem aconteceu poucos segundos depois de Valter Pomar, secretário de relações internacionais do PT e secretário-geral do Foro de São Paulo, avistar o jornalista de VEJA na platéia. Em seguida, ele saiu da sala, provavelmente para avisar ao segurança. A justificativa é que a imprensa não poderia participar daquela oficina.
A regra, pelo visto, só valia para VEJA: nos corredores do Foro, a reportagem conversou depois com quatro jornalistas uruguaios e um mexicano e todos garantiram que entravam e saíam livremente das reuniões, sem serem importunados. Em algumas salas, equipes de TV da Telesur e de um canal local registravam os debates livremente. Os seguranças foram orientados a manter a reportagem de VEJA longe das salas em que ocorriam as oficinas. O Foro de São Paulo vai até domingo, dia 25, e reúne cerca de 500 representantes de organizações e partidos de esquerda da América Latina.

E o encontro do Foro de São Paulo?

Como será que anda o 14º Congresso do Foro de São Paulo realizado no Uruguai? Será que Lula está sendo informado sobre os andamentos do seu pessoal junto com as Farc?

Vai fazer falta



Uma homenagem singela deste blogueiro a um dos poucos (para não dizer pouquíssimos) políticos que honraram seu mandato. Jefferson Peres defendeu a ética na política, a democracia.
Ele foi relator de um dos muitos processos contra Renan Canalheiros. Ao contrários de muitos senadores, Peres pediu a cabeça do Rei do Gado. Vai fazer muita falta!

E o Congresso não pára

Começou ontem e vai até o dia 25 deste mês o 14º Congresso do Foro de São Paulo que acontece no Uruguai. Os petistas, os partidários de Evo Morales, Rafael Correa e Hugo Chávez estarão na mesma sala com integrantes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Isso mesmo! Gente deste governo, da Bolívia, do Equador e da Venezuela está junto de terroristas-traficantes que tocam o terror na América do Sul, que mandam drogas para o mundo inteiro. E Lula foi o fundador deste foro. Por que será que ninguém fala disso? Enquanto o silêncio paira, o congresso do Foro de São Paulo não pára.

Livro-caixa de boate aponta gasto com lobista

No Estado de São Paulo

A Polícia Federal entregou à Justiça o livro-caixa da WE Original, boate e reduto do suposto esquema de desvio de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A PF avalia que o documento confirma que a casa noturna ocultava e lavava dinheiro público e bancava contas do lobista João Pedro de Moura, apontado como principal operador da trama. Moura é homem de confiança do deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (PDT-SP).Duas páginas da contabilidade da WE chamam a atenção do delegado federal Rodrigo Levin, que conduz a Santa Tereza - missão que investiga empréstimos do BNDES para empresas e prefeituras. Os projetos sob suspeita foram feitos pelo empresário Marcos Mantovani.Uma página do documento da WE, intitulada "Movimento do Caixa", apresenta histórico de entrada e saída de dinheiro do prostíbulo e pagamento de comissões. Outra página, escrita à mão, indica que a casa cobriu gastos de Moura em viagens ao Rio, sede do BNDES. Lançamento mostra que num dia a WE liberou R$ 342 em passagem aérea para o lobista.Outro registro aponta para os nomes de Alberto Mourão (PSDB), prefeito de Praia Grande, e de um assessor dele, Jamil Issa Filho. A PF suspeita que Mourão e Issa foram beneficiários do esquema, o que eles negam.Antonio Claudio Mariz de Oliveira, advogado do prefeito, asseverou que seu cliente "não tem nenhuma participação em atos ilícitos". O criminalista Frederico Crissiúma de Figueiredo, que defende Moura, informou que ele "vai prestar todos os esclarecimentos à Justiça". Antonio Ruiz Filho e Carlos Kauffmann, do Escritório Ruiz Filho e Kauffmann Advogados Associados, informaram que seu cliente, Mantovani, elaborou "projetos limpos e jamais ganhou um centavo do BNDES".

Maluf é multado por Justiça suíça e de Jersey

Por Jamil Chade
no Estado de São Paulo

O deputado Paulo Maluf (PP-SP)foi obrigado a pagar US$ 20 mil à Justiça da Suíça e 320 mil libras esterlinas à Justiça da Ilha de Jersey por ter tentado, sem sucesso, bloquear o envio de seus extratos bancários ao Brasil. Desde 2006, Maluf iniciou uma série de disputas legais nos dois paraísos fiscais para tentar impedir que os documentos fossem liberados para promotores estaduais e procuradores federais brasileiros.Apesar de insistir que nunca teve contas na Suíça ou em Jersey, versão que mantém até hoje, Maluf foi condenado a pagar penas impostas pelos tribunais dessas duas praças financeiras. Só na Suíça, o Tribunal Federal confirmou ao Estado que US$ 20 mil foram cobrados do ex-prefeito de São Paulo (1993-1996). Isso diante de três processos que iniciou, e perdeu, para tentar impedir a abertura de seu dossiê.O Ministério Público paulista sustenta, em ação civil de improbidade, que Maluf movimentou US$ 446 milhões em instituições financeiras de Genebra.Em Jersey, para onde ele teria transferido parte desse dinheiro, a Corte Real confirmou que o ex-prefeito entrou com uma série de ações para impedir o envio dos documentos às autoridades brasileiras. Perdeu todas as demandas. No total, Maluf e suas empresas abriram nove casos contra o Ministério Público de Jersey entre 2006 e 2007.Tracy Fitzgerald, representante da Corte, não divulgou o valor da conta de Maluf com o tribunal. "Mas de fato há o pagamento", afirmou. No Brasil, fontes da Justiça apontam que o valor pago por Maluf alcança 320 mil libras (cerca de US$ 630 mil), a título de sucumbência - cobertura de despesas da outra parte nas ações.A Justiça da ilha, em documento de 2007, concluiu que "há evidência de que um ou mais membros da família Maluf são culpados de fraude contra a Prefeitura (de São Paulo) e há suspeitas suficientes de que o dinheiro dessa fraude passou por contas na Suíça e, de lá, para contas em companhias em Jersey". Tanto o Citibank como o Deutsche Bank, instituições que manteriam contas de Maluf, foram notificados dessa decisão e não tiveram outra saída senão abrir seus arquivos.A Procuradoria do paraíso fiscal confirmou que o dinheiro já está bloqueado. "Há evidências de que o sr. Maluf e outros cometeram fraude, de que a Prefeitura de São Paulo foi fraudada em grandes montantes, de que uma proporção substancial do dinheiro foi pago à Suíça e a outros lugares fora do Brasil e de que uma parte desses recursos chegou até contas de companhias em Jersey", afirma o documento da Corte Real de Jersey. O relatório recomenda: "A Prefeitura de São Paulo precisa descobrir onde estão os recursos em que foi fraudada."Ontem, por meio de sua assessoria, Maluf, pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, reiterou declaração que adotou desde o início do caso Jersey, em 2001: "Maluf nunca teve contas no exterior." O advogado Maurício Leite, que o defende, disse que só se manifestará quando tomar ciência da decisão. TRECHO"Estamos satisfeitos de que há evidências que o sr. Maluf e outros cometeram fraude, que a Prefeitura de São Paulo foi fraudada em grandes montantes e, portanto, que uma proporção substancial do dinheiro foi pago à Suíça e a outros lugares fora do Brasil e que uma parte desses recursos chegou até contas de companhias em Jersey"

América do Sul integra sua defesa

Por Rui Nogueira e Tânia Monteiro
no Estado de São Paulo

Os 12 chefes de Estado presentes à Reunião Extraordinária de Cúpula da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), hoje, em Brasília, vão aproveitar o encontro para negociar a formatação final do Conselho Sul-Americano de Defesa. O Conselho nasceu de uma proposta brasileira, feita em março, durante uma das mais sérias crises diplomáticas no continente, envolvendo a Colômbia e o Equador.A idéia foi apresentada pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, a todos os governos sul-americanos ao longo de uma maratona aérea diplomática que durou dois meses e meio e terminou na semana passada em La Paz, na Bolívia. O perfil básico do órgão está definido: "O Conselho Sul-Americano de Defesa não terá nenhum poder de intervenção militar, não terá nenhuma característica de aliança militar e será, em essência, um órgão de articulação de políticas de defesa entre os países sul-americanos", disse ao Estado o ministro Jobim.Também está praticamente definido que o Conselho será formado por dois representantes de cada País, um membro do sistema de Defesa e outro das Relações Exteriores. O Brasil propôs, também, que não haja uma sede fixa, para evitar a construção de prédios e a constituição de uma burocracia incontrolável. Cada País é sede por um prazo a definir, em sistema de rodízio na presidência do Conselho.O saldo das visitas a todos os governos sul-americanos para apresentar a proposta foi considerado positivo. Segundo o Ministério da Defesa, houve uma "boa receptividade", e todos os países concordaram que tem de ser um órgão ágil para consulta permanente e de pronta mediação para qualquer tipo de demanda.O Conselho funcionaria como uma espécie de "primeiro recurso" para dirimir problemas de defesa na América do Sul, evitando assim o recurso imediato à Organização dos Estados Americanos (OEA), onde as intermediações passam inevitavelmente pelo acordo com os Estados Unidos.O Estado apurou que a Colômbia não demonstrou entusiasmo pela proposta brasileira, uma vez que os seus assuntos de defesa, a começar pelo combate à narcoguerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), têm como aliado principal os EUA. O governo colombiano, porém, manteve o apoio diplomático à idéia para não criar um clima de divisão nesta fase de discussões.Já o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, chegou a sugerir que o Conselho se transformasse numa espécie de "Otan da América do Sul", uma aliança militar concreta - proposta que o Brasil rechaçou.Em meio ao conflito deflagrado no dia 1º de março, com a invasão do território equatoriano por tropas regulares colombianas que atacaram um acampamento das Farc, o governo brasileiro propôs que fosse criado o Conselho Sul-americano de Defesa. Por ordem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Jobim passou, então, a visitar todo os países, apresentando a proposta sempre em encontros de alto nível, envolvendo os ministros de Defesa e os próprios chefes de Estado sul-americanos.Desde o início, o governo brasileiro disse que o órgão tinha de atuar dentro do princípio da ''não-intervenção na soberania de cada país".Seguindo esse princípio, o Conselho deve articular mecanismos de segurança prévia entre nações, fazer propostas para tornar mais transparente e cooperante a vigilância de fronteiras, coordenar operações de ajuda humanitária que envolvam os sistemas de defesa de todos os países e estudar formas para que as compras de material bélico possam ser otimizadas em termos de produção, fornecimento e preço no próprio continente. "Há também um campo muito grande de cooperação em termos de formação militar", acrescentou o ministro Jobim.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Que investiguem!

A base aliada é fiel a Marconi Perillo e nem tanto a Cidinho. Por que será? Por que quando Marconi está numa enrascada, como está agora, todo mundo se junta para livrar sua cara e com Cidinho não é a mesma coisa? Aqui em Goiás existe uma proteção aos políticos. Até a imprensa prefere não falar (e não fazer) nada. A blindagem a Marconi me incomoda. Mas, deixo aqui meu recado ao Ministério Público, a Polícia Federal, ao Supremo Tribunal Federal: Investiguem!

Fim do nepotismo passa na CCJ

Por Marcelo de Moraes
no Estado de São Paulo

Depois de cinco anos de tramitação no Senado, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou ontem a proposta de emenda à constituição que proíbe a nomeação de parentes até terceiro grau para cargos em comissão no âmbito da administração pública, direta ou indireta, para os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. A PEC do Nepotismo foi desengavetada ontem, mas deverá enfrentar muitas resistências no Congresso. O motivo é que se trata de prática comum entre deputados e senadores a indicação de parentes para a composição de suas equipes de trabalho.Além disso, por ser uma proposta que altera a Constituição, necessita de amplo apoio para ser sacramentada. A PEC do Nepotismo precisará de três quintos de todos os votos no Senado, em dois turnos de votação. São 49 dos 81 votos na Casa. Se passar, a PEC segue para a Câmara onde precisará receber o apoio novamente de três quintos dos deputados (308 dos 513), em dois turnos.A proposta restringe o nepotismo cruzado. Já houve casos de parlamentares que fizeram acordos com colegas para que estes contratassem pessoas de seu interesse. Em troca, faziam o mesmo. Pela nova regra, depois de escolhido ou eleito para o posto, o titular do cargo não poderá indicar ou ter parentes indicados por outras colegas para o Poder em que atuará.A exceção à regra é para parentes que ingressarem no Poder por concursos públicos ou se já ocuparem funções antes da nomeação ou eleição do parente. Quem descumprir a lei estará sujeito a punição por improbidade administrativa."A aprovação dessa proposta foi extremamente importante", afirma o senador Demóstenes Torres (PSDB-GO), primeiro signatário na lista de autores do projeto. "É uma demanda da sociedade e estava há cinco anos na gaveta. Mas sabemos que existe muita resistência."Durante a sessão da CCJ, senadores como Epitácio Cafeteira (PTB-MA) já deram o tom da resistência, votando contra o projeto. Ele disse que não se deve equiparar titulares de mandato eletivo com membros do Judiciário. E frisou que os políticos sempre se cercam de políticos de sua confiança, o que inclui parentes e pessoas próximas: "A não ser que o governante seja filho de chocadeira."A resposta, no mesmo tom irônico, partiu do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). "Já que estamos na granja, eu não tenho notícia de que nenhum galo ou galinha tenha nomeado parente para alguma coisa."

BB negocia compra da Nossa Caixa

Por Fernando Nakagawa
no Estado de São Paulo

O Banco do Brasil (BB) surpreendeu o mercado financeiro na noite de ontem, ao anunciar que iniciou conversas para incorporar o banco estatal paulista Nossa Caixa. Com o negócio, o BB quer ganhar força para fazer frente aos concorrentes privados, que têm crescido nos últimos anos com a compra de instituições. Se realizada, a aquisição pode levar o BB a disputar a liderança do mercado paulista, onde o banco federal ocupa, atualmente, a quarta posição.A idéia de incorporar a Nossa Caixa foi da direção do BB, segundo disse o presidente do BB, Antônio Lima Neto, após a divulgação de fato relevante ao mercado. A proposta foi feita ao governo de São Paulo, controlador da Nossa Caixa, que aceitou iniciar negociações para um eventual fechamento do acordo. Segundo ele, as conversas iniciais não foram feitas com o governador José Serra e envolveram apenas técnicos do banco paulista. Para que o negócio seja concretizado, é preciso autorização da Assembléia Legislativa do Estado.Segundo fontes ligadas ao governador Serra, a negociação começou há cerca de um mês e a decisão de divulgá-la foi tomada porque a Nossa Caixa está no Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Essa fonte também confirmou a informação de que a negociação tem sido feita diretamente com os diretores do banco, sem a participação de Serra ou de qualquer outra autoridade do governo paulista. O grande atrativo para o BB, de acordo com a fonte, são os R$ 12 bilhões que a Nossa Caixa possui de depósitos judiciais. Lima Neto informou que a intenção do BB com o negócio é ganhar força no principal mercado bancário brasileiro. Atualmente, segundo a direção do BB, o banco federal, que é líder no ranking nacional, é apenas o quarto maior no Estado. "Em dando certo o negócio, o BB entraria no bloco de liderança", disse. "Reforçaria a presença no Estado que é a mais competitiva arena do mercado bancário brasileiro."Bradesco, Itaú e Santander/Banespa/Real ocupam os primeiros lugares no mercado paulista. Atualmente, a Nossa Caixa possui 552 agências no Estado de São Paulo e o BB conta com 682 pontos. Na Grande São Paulo, a Nossa Caixa tem 129 locais de atendimento e o BB, 313 agências. A estratégia do BB de crescer com a absorção de bancos estaduais não é nova. No ano passado, o banco iniciou a incorporação do Banco do Estado de Santa Catarina (Besc). Atualmente, além da Nossa Caixa, o BB tenta incorporar o Banco de Brasília (BRB). "O desafio central do BB é manter o banco como importante player (participante) desse mercado", disse Lima Neto, ao explicar que esse objetivo só pode ser alcançado com o "aumento da capacidade de oferta e presença".A partir de agora, o BB e a Nossa Caixa iniciam as conversas técnicas para tentar fechar o negócio. Lima Neto não deu qualquer prazo e informou apenas que o cronograma a ser seguido será técnico. Segundo ele, será criado um grupo de trabalho que vai montar uma agenda e iniciar os trabalhos de avaliação da situação da Nossa Caixa. "Esse grupo técnico é que vai dar o ritmo das negociações", disse. "A intenção é que tudo isso possa ocorrer o quanto antes", completou.
HISTÓRICO
Os rumores de que o BB estaria negociando a aquisição da Nossa Caixa surgiram pela primeira vez em abril do ano passado. Na ocasião, a informação foi negada pelas duas instituições. A Nossa Caixa, por exemplo, argumentou, à época, que não tinha interesse em vender suas operações, porque acabara de ganhara a concorrência para ficar com a folha de pagamento dos funcionários públicos do Estado de São Paulo.Na mesma ocasião, o vice-presidente de finanças do BB, Aldo Luiz Mendes, chegou a dizer que havia "impedimentos legais" para que o BB fizesse a aquisição. Ele afirmou que a única forma de o banco crescer era por meio de um esforço próprio para melhorar a eficiência e a rentabilidade.A Nossa Caixa abriu o capital em 2005. Suas ações começaram a ser negociadas no Novo Mercado da Bovespa no dia 28 de outubro daquele ano. Ontem, os papéis do banco fecharam em alta de 0,69%, a R$ 27,60. Em 2008, acumulam valorização de 17,5%. Nos últimos 12 meses, registram perda de 13,2%. O atual presidente da instituição é o economista Milton Luiz de Melo Santos.

Israel e Síria anunciam volta à negociação

Na Folha de São Paulo com agências internacionais

Os governos da Síria e de Israel anunciaram ontem, simultaneamente, que reiniciaram negociações de paz. Os contatos entre as duas delegações estão sendo intermediados em Ancara por diplomatas turcos, que também confirmaram a retomada das conversações interrompidas há oito anos.O primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, disse "ser preferível negociar a disparar armas de fogo". Afirmou que os entendimentos serão "longos e complexos" e que poderiam terminar em "concessões difíceis" para seu país -menção à devolução à Síria das colinas do Golã, capturadas em 1967 durante a Guerra dos Seis Dias e onde assentamentos judaicos hoje reúnem 17 mil colonos.O chefe da diplomacia síria, Walid Moualem, disse à agência Reuters que, sem o compromisso israelense de desocupação daquele território, "nada poderíamos negociar".Além da instituição de uma faixa desmilitarizada na fronteira existente antes de 1967, Israel também exigirá que a Síria retire o apoio a grupos islâmicos radicais que ameaçam sua segurança interna.É uma referência ao Hamas -que, um ano e meio após vencer as eleições parlamentares palestinas de janeiro de 2006, assumiu o controle militar de Gaza- e ao Hizbollah, milícia xiita que controla o sul do Líbano e que, como partido político, negociou sua reintegração ao governo local.A essas condições, de elaboração ainda embrionária, soma-se também a pressão israelense para afastar a Síria do incômodo Irã, do qual ela se tornou uma aliada preferencial.A ditadura síria, dizem os analistas, teria uma oportunidade de reinserção no mundo árabe. Países sunitas como a Arábia Saudita recriminam o regime de Damasco por insuflar a ascensão da única potência regional xiita.A Síria -e tudo isso num cenário ainda distante- também poderia se reaproximar dos EUA, que agora a consideram como integrante do "eixo do mal", por seu apoio material e logístico a grupos terroristas.
Frieza de Washington
A reação de Washington foi discreta. A porta-voz da Casa Branca, Dana Perino, disse que o governo Bush "não está surpreso" e espera que as negociações se transformem num fórum que levantará suas preocupações, sobretudo o apoio sírio aos radicais da região.É uma maneira indireta de dizer que não haverá apoio efusivo e que a questão poderá ser tratada em termos mais engajados apenas pelo sucessor de Bush, a partir de janeiro.Segundo o jornal israelense "Haaretz", os EUA foram informados em detalhes da existência do esboço de negociação.Entre os israelenses, a devolução do Golã não é consensual. Ao contrário, 51% se opõem, e só 32% a aprovam, segundo pesquisa em abril do Instituto Dahaf. Mas para o premiê Olmert o anúncio das negociações com a Síria chegam em bom momento, eclipsando o noticiário do depoimento que ele prestará amanhã no caso de corrupção eleitoral que pode obrigá-lo a renunciar ao cargo.A reação mais contundente veio do deputado de oposição Yuval Steinitz. "O primeiro-ministro é tão corrupto que ele não está apenas aceitando dinheiro dentro de envelopes [para o caixa dois eleitoral]. Ele se dispõe agora a negociar o Golã e nossos interesses vitais."A BBC diz que a negociação com a Síria foi para Olmert "um coelho providencial tirado da cartola diplomática".
Teor ignorado
O diálogo sírio-israelense foi rompido em 2000, aliás por desacordos em torno da devolução do Golã. No mês passado Olmert enviou carta ao ditador sírio, Bashar al Assad, propondo o reinício de contatos. Um dos ministros sírios, Buthaina Shaaban, disse em seguida existirem novas condições para o retorno à mesa de negociações.Logo depois, e com o acordo prévio das duas partes, o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, citou a predisposição de intermediar.São desconhecidos os temas levantados nos primeiros encontros. Eles ocorrem em Ancara, num local não divulgado. Turquia, Israel e Síria concordam que por enquanto nenhuma declaração pública seria feita. Não há contatos diretos entre as delegações. Diplomatas turcos fazem a intermediação.Dois dos mais próximos assessores de Olmert chegaram segunda-feira a Ancara e retornaram ontem a Jerusalém. São eles Yoram Turbovitz e Shalom Turjeman. A delegação síria é chefiada por Riad Daoudi, um influente diplomata.Em Gaza, o porta-voz do Hamas, Ghazi Hamad, disse que as relações do grupo com a Síria são "intensas" e que não havia a expectativa de mudanças. O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, disse esperar que os dois países atinjam a paz.

Colômbia rejeita órgão de defesa para América do Sul

Por Fabio Maisonnave
na Folha de São Paulo

Às vésperas de ir a Brasília para participar da cúpula da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), o presidente colombiano, Álvaro Uribe, disse ontem que seu país não aderirá à proposta brasileira para a criação do Conselho Sul-Americano de Defesa. O anúncio contradiz o ministro Nelson Jobim (Defesa), para quem já havia consenso sobre o tema. "A Colômbia tem de deixar seus pontos de vista claros, e não é o momento para que a Colômbia participe desse escritório de segurança", disse Uribe pela manhã à rádio "RCN". O colombiano alegou que a região já conta com a OEA (Organização dos Estados Americanos) e aludiu às divergências com países vizinhos, entre os quais o Brasil e a Venezuela, em torno da classificação de grupos armados ilegais como "terroristas", principalmente as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). "Temos esse problema do terrorismo, que nos faz ser muito cuidadosos na tomada dessas decisões", afirmou. O Brasil historicamente não mantém uma lista de organizações terroristas e resiste às pressões da Colômbia para classificar as Farc como tal. Já Hugo Chávez tem defendido dar um status de "beligerância" à guerrilha de esquerda. O colombiano disse ainda que já havia informado a Jobim que não entraria no conselho durante a visita do brasileiro a Bogotá, em abril. Segundo ele, a mesma negativa foi expressada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a cúpula de Lima, na semana passada. No entanto, Jobim afirmou, na segunda-feira, na Bolívia, que havia "uniformidade sobre a criação" do conselho durante a cúpula da Unasul, marcada para amanhã. O ministro, que nas últimas semanas visitou todos os países da região em busca de apoio, admitiu apenas que "uns [países] estão mais entusiasmados e outros, menos". A resistência de Uribe esvazia a proposta de Lula, lançada em meio à crise diplomática de Bogotá com Quito e Caracas depois que um bombardeio colombiano em território equatoriano matou o então número dois das Farc, Raúl Reyes, em março. A idéia é que o conselho melhore a cooperação na área de defesa, mas sem estrutura operacional, como é a Otan. Segundo a Folha apurou, Lula não gostou da desistência de Uribe, mas disse a assessores que a ausência de só um país não inviabilizará a iniciativa. Horas depois da entrevista de Uribe, Hugo Chávez acusou o colega colombiano de ser "lacaio do império". "Uribe diz que prefere a OEA, mas já sabemos o porquê, mas respeitamos o seu direito. (...) Lá estão os que querem continuar sendo lacaios indignos do império americano. Nós estamos dispostos a ser livres, soberanos e dignos", disse, em cadeia nacional obrigatória de rádio e TV. As relações entre Chávez e Uribe pioraram na semana passada, quando relatório da Interpol (polícia internacional) descartou adulterações em documentos encontrados nos computadores de Reyes segundo os quais há forte colaboração da Venezuela com as Farc.

Vazador passa à PF nome de quem fez dossiê

Por Fernanda Odilla, Simone Iglesias e Andreza Matais
na Folha de São Paulo

O ex-secretário da Casa Civil José Aparecido Nunes Pires, que vazou o dossiê com gastos do governo tucano, nomeou no depoimento que deu à Polícia Federal dez funcionários que participaram da "força-tarefa" para levantar os dados.Todos eles trabalham na Casa Civil e pelo menos cinco são subordinados à Secretaria de Administração, chefiada por Norberto Temóteo, apontado por Aparecido como o responsável por recrutar os servidores e coordenar o trabalho.O delegado da PF, Sérgio Menezes, confirmou à Folha os dez nomes. Dois deles ainda não prestaram depoimento: André Marcelo Gusmão Tavares de Oliveira, assessor técnico da Secretaria de Controle Interno, cedido por José Aparecido, e Joaquim Araújo Junior. Questionado se pretende intimá-los a depor, o delegado disse ser "provável".Anteontem, na CPI dos Cartões, José Aparecido disse que os dois funcionários indicados por ele -André e Marcelo Veloso, que entregou cópia da planilha -abandonaram o grupo antes do fim do levantamento. "Saíram para fazer auditoria de gestão", disse Aparecido.Entre os dez funcionários, está o ecônomo José Roberto de Assis Possa, segundo colocado em volume de gastos com cartão corporativo acumulados entre 2003 e 2007. Nesse período, o cartão dele gerou despesa de R$ 1,4 milhão. Os outros integrantes da força-tarefa são: Francisco Soares de Souza, Adélio Pereira Gomes, Eli Pinheiro da Silva, Paula Alcântara Pereira, Angela Maria Mascarenhas Melis e Elmo José de Albuquerque.No final da tarde de ontem, a Folha tentou, sem sucesso, localizá-los na Presidência da República. A Casa Civil, que tem mantido sob sigilo o nome dos funcionários escalados para confeccionar o banco de dados seletivo, não se posicionou oficialmente.
Acordo na CPI
Mesmo após terem ouvido, na sessão de anteontem, os nomes do grupo responsável por confeccionar o dossiê citados por Aparecido na PF, base e oposição fizeram acordo para impedir a continuidade do depoimento do ex-secretário na CPI e encerrar os trabalhos.Adiaram, ainda, para a próxima terça as votações do pedido de acareação entre ele e André Fernandes, assessor do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), e dos requerimentos para que sejam ouvidos os novos personagens do caso dossiê.A base está disposta a usar a maioria que tem na CPI para não ouvir mais ninguém e partir para a elaboração do relatório final. "Todo mundo tem mais o que fazer", disse o deputado Carlos Willian (PTC-MG).A estratégia para esvaziar a CPI começou a ser colocada em prática ontem, com o esvaziamento da reunião. Sem os cinco inscritos para interrogar Aparecido presentes, a presidente da CPI, Marisa Serrano (PSDB-MS), encerrou a sessão e dispensou o depoente. O deputado Nilson Mourão (PT-AC), que faria perguntas, estava na reunião, mas se retirou a pedido da base para não dar quórum.

Base quer atalho legal para recriar CPMF; oposição reage

Por Maria Clara Cabral, Felipe Seligman, Gabriela Guerreiro e Gustavo Patu
na Folha de São Paulo

A oposição vai recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal) para impedir a recriação da CPMF com uma alíquota de 0,1% caso a base governista apresente um projeto de lei complementar para aprovar a contribuição.A base aliada estuda criar uma nova CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) por meio de uma emenda ao projeto que regulamenta a emenda 29- que dispõe sobre os recursos para a saúde. Para os oposicionistas, não há outro caminho para a criação de uma nova CPMF a não ser por PEC (proposta de emenda constitucional)."Não há outro caminho que não seja PEC, a Constituição é clara. Mas se esse absurdo prosperar na Câmara, o único caminho seria o Supremo", disse o líder do DEM, Antonio Carlos Magalhães Neto (BA)."Isso é um desrespeito ao Senado. O Congresso disse não à CPMF no ano passado, qualquer subterfúgio é um desrespeito a nós. Temos que mobilizar a sociedade contra isso", afirmou o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM).O líder do PT, deputado Maurício Rands (PE), no entanto cita o artigo 154 da Constituição para argumentar que a tese da base é possível. "A União poderá instituir: 1- mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não-cumulativos ..". Para Rands, União pode ser entendido como os três Poderes: Executivo, Legislativo ou Judiciário.A CPMF foi criada em 1996 por meio de emenda à Constituição. Desde então, todas as prorrogações do tributo feitas pelos governos FHC e Lula ocorreram com alterações no texto constitucional. A Constituição detalha todas as hipóteses em que União, Estados e municípios podem cobrar impostos e contribuições, sem mencionar a tributação sobre movimentação financeira. O artigo 154 abre brecha para a criação de novos tributos por lei complementar, mas limita essa possibilidade a impostos não cumulativos.A CPMF não é um imposto, é uma contribuição. E, mais importante, é cumulativa, ou seja, incide sobre todas as etapas do processo produtivo. Os impostos não cumulativos, como o ICMS estadual, permitem que um industrial, por exemplo, desconte do valor a pagar gastos com a compra de máquinas e matéria-prima. Não está claro como seria possível uma eventual transformação da CPMF em tributo não cumulativo.O debate sobre a forma de que como o novo imposto seria apresentado acontece, sobretudo, devido às facilidade de aprovação de cada uma delas.Para o governo, seria mais fácil aprovar um projeto de lei complementar ou uma emenda, que precisaria apenas dos votos da maioria absoluta dos deputados para serem aprovados, ou seja 257 votos. Já uma PEC precisaria de, no mínimo, 308 votos de deputados e 49 de senadores, em dois turnos de votação em cada Casa (Senado e Câmara) para ser aprovado. Além disso, a tramitação de uma PEC é mais demorada, tendo que passar, por uma comissão especial, além de todas as comissões em que precisam passar os projetos.O Supremo Tribunal Federal já analisou ações diretas de inconstitucionalidade que contestavam a capacidade parlamentar de criar novos tributos. Um exemplo de tal debate ocorreu em 2001, quando o Supremo julgou uma ação do governo do Espírito Santo contra um tributo criado pela Assembléia Legislativa do Estado. Na ocasião, o governo argumentava que tal iniciativa era "privativa do chefe do Executivo".Segundo o ex-ministro do STF Carlos Velloso, desde o fim dos anos 90 o tribunal interpreta que a criação de contribuições sociais, como a que deve ser proposta pela Câmara, não é matéria privativa do chefe do Executivo. Velloso disse à Folha que uma possível contestação da oposição "não encontra apoio na jurisprudência do Supremo".

Esse time me mata de raiva

Reconheço: o Fluminense foi infinitamente superior ao São Paulo. Jogo bem, marcou bem. Talvez se tivesse mais tempo até golearia. Três a um. Quem fez o gol do São Paulo? Ele mesmo: Adriano. O que será do time depois dele voltar pra Bota? Não sei! Mais uma vez caímos na Libertadores. Será que este ano é um ano perdido pro São Paulo? Sei lá.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Notícia requentada

A Petrobrás anunciou a descoberta de petróleo na área pré-sal na Bacia de Santos. Outra? Que notícia requentada! Será que, até agora, a Petrobrás não começou a extrair o petróleo logo após os anúncios feitos (semelhantes a este de hoje) sobre a Bacia de Santos?

Podcast do Diogo Mainardi: "Hooligans da internet"

A internet promete tomar o lugar do jornalismo impresso. Se é assim, algumas das regras que valem para o jornalismo impresso devem valer também para a internet.
Em minha última coluna, citei os comentários anti-semitas recebidos por Caio Blinder em seus artigos online. Muita gente acha que a internet está acima da lei. Que todo mundo deve ter o direito de escrever o que quiser, como quiser. Que o anti-semitismo é uma opinião, e que censurar uma opinião é atentar contra a liberdade de expressão. Calma aí, rapaziada: há uma certa confusão entre o que é opinião e o que não é. Acusar os judeus de oprimir os palestinos é uma opinião. Defender a dissolução do estado de Israel é uma opinião. Defender o extermínio dos judeus, passado ou presente, por meio de nazistas ou de jihadistas, é um crime. Mais do que isso. É fazer apologia do mais bárbaro de todos os crimes: o genocídio.
Lá no finzinho da coluna, sugeri que o Ministério Público brasileiro perseguisse judicialmente um ou dois comentaristas anti-semitas da página de Caio Blinder. O próprio Caio Blinder, num artigo inteligente e ponderado, rejeitou a idéia. Tarde demais: cismei que sou o Émile Zola do Posto 8 e meio, e insisto - o racismo interneteiro tem de ser punido por lei. O anti-semitismo tem um longo histórico de processos judiciais. Um dos casos mais célebres é o do professor Leonard Jeffries, que perdeu o cargo de chefe de departamento do City College, de Nova York, por causa de suas teses anti-semitas. Ele processou o City College e, em 1995, foi derrotado na Corte Suprema dos Estados Unidos. Digamos que um dos comentaristas anti-semitas de Caio Blinder seja professor de uma universidade pública. Como ele pode ser punido administrativamente? Só o Ministério Público tem a autoridade para pedir seu IP e tirá-lo do anonimato, identificando-o como autor do crime.
A internet precisa de regras, de normas, de leis. E ninguém me amole dizendo que isso é coisa de estados totalitários, como a China. Nos campeonatos de futebol da Europa, quem é pego cantando coros nazistas é afastado dos estádios. A internet tem de fazer o mesmo: arrumar um jeito de desconectar seus hooligans. Na última segunda-feira, a Corte Suprema dos Estados Unidos sancionou a lei que permite perseguir criminalmente aqueles que disseminam material pedófilo na internet. Os opositores da lei argumentaram que isso contraria a primeira emenda constitucional americana, que garante a liberdade de expressão. Por sete votos a dois, os juízes decidiram que a pedofilia não é uma forma de liberdade de expressão. A negação do Holocausto também não é. A apologia do terrorismo também não é.
Ouça na íntegra clicando aqui

Não precisamos de CPMF

Voltei do médico. Demorei a postar aqui porque estava vendo a final da UEFA Champions League. Manchester United ganhou. Cristiano Ronaldo perdeu um pênalti. Bem, vamos às notícias.
Quer dizer que o governo bateu mais um recorde em arrecadações? Que interessante. Então, se o governo arrecada tanto mesmo sem a CPMF para que recriar este imposto maldito? Os lulistas têm fome de dinheiro. E você acha, nobre leitor, que eles querem dinheiro para a saúde? Só se for para a saúde do bolso deles.

Unger x Minc

Enquanto o horário do médico não chega (e nem o do jogo da UEFA Champions League) vamos comentar as notícias. Mangabeira Unger criticou a proposta do novo ministro do Meio Ambiente Carlos Minc de criar uma guarda nacional ambiental para fiscalizar a Amazônia. Unger disse que esta é uma “definição prematura”. Eis aí um embate: Unger x Minc. Se o primeiro conseguiu tirar Marina Silva do sério, Minc não tem muita chance.

Que hora de ir ao médico

O horário do meu médico é às 16:20. Justamente no horário do jogo da final da UEFA Champions League entre Manchester United e Chelsea. Esqueci do jogo quando fui marcar a consulta. Fazer o que. Mas deixo aqui o meu palpite: Manchester United com um gol de Carlitos Tevez.

Mais uma vez! Como sempre

Daqui a pouco vou ao médico. Por isso estou postando aqui tão cedo (além de sair mais cedo do trabalhado). Leio que a CPI dos Cartões Corporativos acabou. Governo e oposição fecharam um acordo. Como sempre. Como sempre não saberemos das estripulias dos lulistas. Mais uma vez o governo e a oposição fecharam mais um acordo. Mais uma vez. Como sempre. Depois os lulistas reclamam da oposição. Como reclamar de uma oposição tão dócil como esta? E eles fizeram um acordo justamente no momento da acareação entre José Aparecido e André Fernandes. Por que será? Mais uma vez, como sempre, não saberemos de nada. Foi assim com o mensalão. Foi assim com o primeiro dossiê. Governo e oposição jogam pra debaixo do tapete a sujeira palaciana, congressista. Mais uma vez! Como sempre! Depois falam que existe político diferente, político honesto. Que nada! Todos os políticos são iguais. Todos os políticos são vagabundos. Todos os políticos merecem ovos e tomates no cocoruto.

E eles querem mais

A base aliada quer recriar a CPMF. Como se não bastasse o aumento na arrecadação. Como se não bastasse o tanto de dinheiro que essa galera já arrancou do nosso bolso. Eles querem mais, muito mais. E voltam a bater naquela tecla: o dinheiro arrecadado vai para a saúde. É mesmo? Me engana que eu gosto.

Chávez protege líder das Farc, diz opositor

No Estado de São Paulo

O político opositor venezuelano Leomagno Flores disse ontem que um dos membros da cúpula do grupo guerrilheiro colombiano Farc, Iván Márquez, está escondido na Venezuela. Segundo Flores, Márquez está sob proteção da família do presidente Hugo Chávez no Estado de Barinas, governado pelo pai do chefe de Estado. Caracas nega.

Obama obtém maioria de delegados

Por Patrícia Campos Melo
no Estado de São Paulo

A ampla vitória de Hillary Clinton na primária de ontem em Kentucky não impediu Barack Obama de chegar à marca de 1.627 delegados na disputa pela candidatura democrata à Casa Branca, um total matematicamente inalcançável por sua rival. Ao bater Obama por 65% a 30% em Kentucky, a ex-primeira-dama conquistou, segundo cálculo da TV CNN, 34 dos 51 delegados em jogo, chegando a quase 1.480 no total. Mas os 14 ganhos por Obama foram suficientes para ele alcançar o que definiu como "grande marco" na corrida à Casa Branca. Isso antes mesmo do fim da votação no Oregon, que Obama acabou vencendo, segundo projeção da CNN, o que ampliou ainda mais sua vantagem.
"Esta noite retornamos a Iowa com a maioria dos delegados eleitos pelo povo americano", celebrou Obama com partidários no Estado que lhe deu a primeira grande vitória do ciclo de primárias. "Vocês nos puseram à beira da indicação democrata para presidente dos EUA." Ele elogiou Hillary, situando-a "entre os mais formidáveis candidatos a disputar a presidência" na história do país, e logo se concentrou na eleição presidencial de novembro, criticando o governo de George W. Bush e o candidato republicano, John McCain. Em discurso feito um pouco antes em Kentucky, Hillary, porém, insistiu que é a candidata mais forte para enfrentar McCain e afirmou que não abandonará a disputa. "Estamos ganhando no voto popular e estou mais decidida que nunca a continuar até que todo mundo vote e todos os votos sejam contados", disse ela, referindo-se às prévias de janeiro em Michigan e Flórida - que a direção do partido invalidou por terem violado as normas. Mas a senadora sofreu outro revés com a decisão de mais cinco superdelegados de apoiar Obama. O mais célebre e inusitado desses apoios é o anunciado por Robert Byrd, o senador há mais tempo no cargo em toda a história americana. A notícia é inusitada porque Byrd, de 90 anos, foi membro da organização racista Ku Klux Klan nos anos 40 (depois, pediu desculpas por isso) e é senador pela Virgínia Ocidental, Estado no qual Hillary venceu com folga. De qualquer forma, segundo analistas, o triunfo no Kentucky oferece à senadora uma posição mais confortável para pleitear uma vaga de vice-presidente na chapa do partido. Obama não tem bom desempenho entre o eleitorado branco, operário, de baixa escolaridade. Muitos dos aliados da ex-primeira-dama apóiam publicamente uma chapa Obama-Hillary. "Hillary e Barack fizeram campanhas muito intensas e juntos formariam uma chapa fortíssima", diz o senador Chuck Schumer, de Nova York. Partidários da senadora argumentam que os dois conseguiram mais de 30 milhões de votos e levantaram mais de US$ 400 milhões.Para os aliados de Obama, porém, a chapa dos sonhos seria um pesadelo. Eles acham que o senador Sam Nunn ou o ex-candidato John Edwards seriam opções melhores. Edwards é menos polêmico do que Hillary e não irritou o eleitorado negro como ela. Com seu verniz populista, ele também atinge a camada de brancos e operários de que Obama precisa. Já Nunn, presidente da Comissão das Forças Armadas do Senado, acrescentaria pontos em política externa e segurança.

Base de Lula vai propor nova CPMF de 0,1%

Por Maria Clara Cabral
na Folha de São Paulo

Líderes da base aliada na Câmara decidiram ontem defender a criação de um novo imposto destinado exclusivamente para a saúde. A idéia é apoiar uma contribuição nos moldes da extinta CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), com alíquota de 0,1% e permanente.A intenção dos líderes é achar uma alternativa para criar o novo imposto sem precisar de uma PEC (proposta de emenda constitucional), que, para ser aprovada, precisa de pelo menos 308 votos de deputados e 49 de senadores.O líder do PT na Casa, Maurício Rands (PE), afirmou que uma das alternativas é apresentar uma emenda ao projeto que regulamenta a emenda 29 ou um outro projeto de lei complementar que caminhe paralelamente à emenda.O acordo entre os líderes foi firmado ontem, em almoço na casa do líder do PTB, deputado Jovair Arantes (PTB-GO), um dia depois de o governo dizer que não iria "patrocinar" a recriação da CPMF. A reunião teve a presença de secretários estaduais e municipais de Saúde.De acordo com cálculos feitos pelos líderes, o imposto de 0,1% sobre a movimentação financeira geraria cerca de R$ 10 bilhões extras para a saúde.No entendimento da Secretaria da Mesa da Câmara, no entanto, se criado por projeto de lei, o novo imposto não poderia ser cumulativo, como era a CPMF, o que faria com que a receita arrecadada caísse aproximadamente pela metade. "Estamos fazendo estudos, mas de qualquer forma é melhor arrecadar menos, mas ter um financiamento fixo para a saúde do que ter o projeto vetado pelo presidente", disse Rands.No almoço, os líderes também decidiram que, em último caso, a criação do novo imposto será incluído no bojo da reforma tributária. A hipótese, no entanto, não é bem aceita pelo presidente da comissão que discute a reforma tributária, Antonio Palocci (PT-SP), e pelo secretário de política econômica do Ministério da Fazenda, Bernard Appy. "Temos que desvincular esse debate da reforma tributária", disse Palocci.Além da recriação da contribuição, os líderes discutem também a possibilidade da elevação do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) sobre cigarros e bebidas, também com destinação para a saúde.Líderes da oposição continuam rechaçando a proposta de criação de um novo imposto. "As chances de apoiarmos qualquer coisa nesse sentido são zero", afirmou o líder tucano na Casa, José Aníbal (SP).

Investigado por desvio no BNDES tenta sacar R$ 1 mi

Por Rubens Valente
na Folha de São Paulo

O Coaf (órgão de inteligência financeira da União) comunicou à Polícia Federal que o empreiteiro Manuel Fernandes de Bastos Filho -apontado como um dos líderes do suposto esquema de desvios do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) investigado pela Operação Santa Tereza- tentou sacar R$ 1 milhão anteontem de contas bancárias em São Paulo. O empresário está foragido desde o último dia 24, quando foi desencadeada a operação policial.O dinheiro estava em contas de pessoas "vinculadas" a Bastos Filho, segundo a PF, entre as quais seu procurador, cujo nome não foi revelado. O Ministério Público Federal obteve na 2ª Vara Federal Criminal, especializada em lavagem de dinheiro, ordem de bloqueio das contas envolvidas.O advogado de Bastos Filho, Luiz Fernando Pacheco, confirmou ontem à Folha que o procurador do empresário tentou fazer saque de um valor "próximo" de R$ 1 milhão.A operação recebe o nome técnico de provisionamento (o banco é avisado com antecedência pelo correntista para que separe o valor em espécie). Por lei, os bancos devem informar ao Coaf, ligado ao Ministério da Fazenda, depósitos em espécie, saques e provisionamentos acima de R$ 100 mil.O advogado, contudo, negou que os recursos se destinassem a Bastos Filho. Segundo ele, o procurador usaria o dinheiro para quitar compromissos urgentes, como salários de funcionários da empresa do foragido, além de custear despesas pessoais de seus familiares."Não foi uma tentativa por parte do Manuel. Partiu de seu procurador. Manuel é proprietário de uma construtora que segue trabalhando normalmente, com suas obrigações, folha de pagamento, INSS", disse Pacheco. "Essa tentativa de saque, a meu ver, foi claramente legítima e devidamente tributada", disse o advogado.A Polícia Federal informou à Interpol, organização policial internacional com 186 países-membros, o interesse em prender Bastos Filho. Os policiais suspeitam que ele tenha se refugiado em Portugal, terra-natal de seu pai.Começam hoje os depoimentos dos 13 denunciados pela Operação Santa Tereza, na 2ª Vara Federal Criminal, em São Paulo. Serão ouvidos os primeiros quatro, entre eles o advogado Ricardo Tosto.

Assessor de tucano aponta Erenice como responsável por dossiê

Na Folha de São Paulo

O assessor do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) André Eduardo da Silva Fernandes apontou, em depoimento à CPI dos Cartões, a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, como a responsável pela confecção do dossiê anti-FHC.Ele confirmou ontem que recebeu a informação de José Aparecido Nunes durante almoço no Clube Naval, no qual o ex-secretário de Controle Interno da pasta teria dado detalhes do trabalho. Aparecido negou. Os dois podem participar de acareação hoje, quando a reunião da CPI será retomada."No almoço eu queria saber se ele tinha vazado o dossiê. Foi quando ele contou como foi feito. Ele estava transtornado com a coisa e só falava: foi a Erenice que preparou um banco de dados seletivo", afirmou. Aparecido teria dito ainda que Maria de Soledad Castrillo, da Diretoria de Recursos Logísticos da pasta, foi quem coordenou a compilação de dados.André Fernandes negou ter gravado o encontro no Clube Naval, mas não descartou a existência da gravação. A Folha apurou que a conversa foi gravada em um telefone celular. André estava disposto a revelar o conteúdo numa sessão secreta que acabou rejeitada, por 12 votos a 7, pelos integrantes da CPI. A negativa de André sobre a gravação deve-se ao fato de ele não ter mencionado a existência dela à Polícia Federal. Ele disse a pessoas próximas que usará o registro "num momento oportuno".À PF André disse que, além de Aparecido, participou do almoço Nélio Lacerda Wanderlei. Ontem, revelou que o funcionário do TCU (Tribunal de Contas da União) cedido ao Senado, Marco Polo Simões, também estava presente.Para André Fernandes, o e-mail com gastos exóticos do governo Fernando Henrique Cardoso foi uma forma de intimidá-lo e também ao PSDB, para evitar a instalação da CPI. "Para mim, foi uma intimidação. Ele tentou me usar como peão duas vezes", disse.Em 2004, segundo o assessor de Álvaro Dias, Aparecido lhe procurou durante a CPI do Banestado. Na época, André assessorava outro tucano, Antero Paes de Barros. Aparecido teria pedido que abandonasse Paes de Barros e se mudasse para o lado mais forte, o do PT.Nesse momento, a amizade que começou em 1991 foi rompida, de acordo com André. A reaproximação foi em 2006 porque ele disse ter "um coração de manteiga". Ao contrário de Aparecido, André foi muito criticado na CPI. "Seu caráter é também de manteiga?", ironizou Paulo Teixeira (PT-SP).André contou que enviou um e-mail para dez amigos, entre eles Aparecido, em 19 de fevereiro com charges sobre corrupção. Aparecido respondeu convidando-o para almoçar. No dia 20, André respondeu que telefonaria e, em seguida, recebeu uma mensagem com dois arquivos anexados, sendo um deles o dossiê.Além da montagem do dossiê, André revelou que o ex-funcionário da Casa Civil lhe fez outras denúncias sobre Erenice. Ele queria apresentar acusações na sessão secreta rejeitada. "São fatos que não têm conexão direta com o dossiê. (...) Pode ser só fofoca."

Casa Civil produziu dossiê, afirma ex-secretário na CPI

Por Andreza Matais, Simone Iglesias, Fernanda Odillan e Adriano Ceolin
na Folha de São Paulo

José Aparecido Nunes Pires, ex-secretário de Controle Interno da Casa Civil, contradisse ontem a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) ao afirmar, em depoimento na CPI dos Cartões, que o dossiê com gastos do governo tucano foi produzido pela Casa Civil. Ele afirmou que recebeu a planilha de Marcelo Veloso, seu subordinado à época, e que não fez nenhuma alteração no arquivo antes de remetê-lo por e-mail, "por engano", ao gabinete do senador Álvaro Dias (PSDB-PR).Em abril, depois que a Folha obteve uma cópia do dossiê extraída diretamente dos computadores da Casa Civil, a ministra havia dito que ele era diferente do levantamento de despesas que sua equipe realizou em fevereiro. Dilma levantou a hipótese de montagem. Negou a existência da coluna "observações", que destaca os beneficiados por gastos exóticos, um dos sinais de viés político no trabalho de sua equipe.Aparecido contou ontem à CPI, no entanto, que o documento foi o resultado do trabalho da força-tarefa reunida pela Casa Civil. "Pedi para um funcionário meu [Marcelo Veloso] que me passasse as planilhas. Essa base de dados [em formato Excel] era trabalho inicial, e a Casa Civil, salvo engano, iria migrar para o Suprim [banco de dados do governo]. Abri a planilha, achei que era modelo bom, aperfeiçoado", disse Aparecido. Ele relatou que recebeu o arquivo por meio de um pen drive que foi conectado ao seu computador para que pudesse baixar os dados.Sobre o conteúdo político do material, Aparecido esquivou-se. "Não vi detalhes, não fiz análise criteriosa", disse.Indiciado pela Polícia Federal por quebra de sigilo funcional, o ex-secretário afirmou que não tem memória nem consciência de ter mandado o documento. "O e-mail é de minha autoria e minha intenção era encaminhar um arquivo do Word. Esse do Excel foi um erro humano. Não enviei induzido por qualquer motivação. Se tivesse a intenção de passar esses dados, o faria por CD, disquete, papel ou pen drive."Questionado pela base aliada por que mandou o documento para um senador da oposição, Aparecido disse que não sabia que André Fernandes, para quem o e-mail foi enviado, trabalhava com Álvaro Dias.Ele evitou citar a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, e envolveu Norberto Temóteo Queiroz, secretário de Administração, no episódio. Disse que, a pedido dele, cedeu dois funcionários para ajudar na elaboração do banco de dados e que foi avisado que o material teria relação com a CPI. "Quando fui chamado à sala do dr. Norberto, ele me disse que provavelmente seria chamada uma CPI e o escopo seriam dados a partir de 1998. Ao que me consta, se organizaria um banco de dados da Casa Civil."Álvaro Dias perguntou a quem, hierarquicamente, Temóteo é subordinado. Precisou insistir para que Aparecido nominasse Erenice. "A chefe é a secretária-executiva da Casa Civil", disse. "E quem é essa pessoa?", questionou Dias. "Erenice Guerra", respondeu.O ex-secretário confirmou que esteve no Clube Naval em almoço com André Fernandes e outras duas pessoas após a revista "Veja" ter publicado que a Casa Civil havia montado um dossiê com gastos do governo passado. Ele disse não lembrar o que foi conversado e quem estava presente. Citou apenas Nélio Lacerda Wanderlei. Também estava presente Marco Polo Simões, assessor do TCU cedido ao Senado.Depois de dizer que não lembrava da conversa mantida, Aparecido disse que André estava "apavorado" e que pressionou para que ele falasse com a imprensa. Aparecido negou que tenha feito comentário sobre participação de Dilma e Erenice e que não deu detalhes sobre o trabalho que estava sendo feito na Casa Civil.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Sorte?

Lula disse que é um presidente de sorte. Disse ele hoje: Eu tenho tanta sorte que a Petrobras encontrou petróleo. Eu tenho tanta sorte que a Petrobras vai ter que mandar fazer 200 navios. Eu tenho tanta sorte que a Petrobras vai comprar dezenas de plataformas e sondas e isso significa sorte do Lula para recuperar a indústria metal-mecânica, a indústria naval e gerar mais empregos. Eu tenho tanta sorte que a indústria automobilística está batendo recorde todo santo dia de produção e de venda. Por que? Porque eu tenho sorte. Ele é sortudo? Não! Ele é esperto! Deixou de lado as asneiras esquerdopatas que defendia na década de 1990 para abraçar a política econômica que tanto criticou. Se a economia brasileira vai bem é porque Lula seguiu o que sempre criticou.

O lulismo e o dossiê

Depois que Roberto Jefferson passou pelas CPI’s em 2005 perdi o interesse nelas. Não tem mais graça. Os petistas não ficam mais constrangidos. Mas não perdi a oportunidade da dar uma espiada no que os senadores e deputados perguntavam para André Fernandes e José Aparecido. A oposição questionando o dossiê. Os lulistas dizendo que Fernandes traiu Aparecido.
No marasmo das perguntas e das respostas lembrei do primeiro dossiê armado pelos petistas contra adversários. Você não se lembra? Aquele contendo fotos de José Serra entregando ambulâncias ao lado de acusados pela Operação Sanguessugas da Polícia Federal. Os petistas pegaram o dossiê com a Família Vedoin, que estava sendo investigada pela PF. A Polícia pegou os aloprados, mas até hoje ninguém sabe a origem do dinheiro apreendido com eles. Uma revista lulista, para mostrar serviço aos homens do Planalto, tentou colar a tese de que a Rede Globo teria dado um golpe em Lula ao mostrar mais o dossiê do que o acidente com o Boing da Gol. Pois é, a imprensa lulista não estava nem aí para os mortos daquele acidente. Eu estava. Um filho de um casal amigo dos meus pais estava neste vôo. Os lulistas bolivarianos fazem de tudo para defender o seu chefe, aquele que paga suas contas. Usam até um acidente de avião para defender Lula. Alguém se lembra do Boing da Gol que caiu na Serra do Cachimbo? Alguém se lembra do dossiê dos Vedoin comprado pelos petistas aloprados?
Agora temos este dossiê, com os gastos sigilosos de Fernando Henrique Cardoso. Os lulistas bolivarianos querem jogar a culpa no assessor do senador Álvaro Dias. A revista lulista que me referi acima também já deu suas alfinetadas. Já começou a operação abafa, a operação “Joga bosta na oposição”. O lulismo é assim mesmo, sempre tentando tirar da reta, sempre jogando nos adversários a culpa pelas suas trapaças.
Já imaginou se a oposição fosse sempre culpada de tudo quando Lula e o PT estavam do outro lado? Veríamos um José Dirceu inflamado, um Genoino espumando de ódio. Como eles estão no poder não custa nada jogar a culpa nos opositores.
Até quando toleraremos o lulismo usar os instrumentos do Estado para atacar adversários? Até quando teremos que agüentar os lulistas passando em cima da lei, das regras do jogo? Os lulistas fizeram um dossiê e saíram bem. Agora eles fazem este. Será que vão se sair bem também? Enquanto não colocarmos um freio nessa gente eles vão continuar passando em cima da lei, das regras do jogo, usando os instrumentos do Estado para aniquilar os adversários. Até quando?

Descendo a lenha no André

Os governistas vão mesmo descer a lenha no assessor do senador Álvaro Dias, André Fernandes. Estão o chamando de traidor, mentiroso. Vamos esperar mais.

Traição

A tática governista durante o depoimento de André Fernandes, assessor do senador tucano Álvaro Dias, é dizer que ele traiu o ex-secretário da Casa Civil José Aparecido Pires. Veja o que disse o deputado Silvio Costa (PMN-PE): O senhor está provando que é um homem que tem desvio de caráter. O senhor traiu um amigo de anos a quem persuadiu a mandar informações. Para mim, traidor não tem valor algum. Fico imaginando o assessor André persuadindo Aparecido: “Me manda os gastos do FHC”. Ao invés de cobrar os gastos de Lula, o cara pede os gastos do governo do partido dele.
Ah, é verdade! Os lulistas bolivarianos vão fazer de tudo para incriminar André e salvar a pele de Dilma Rousseff.

Coitado dele

Marconistas disseram que seu líder está sendo perseguido. Marconi Perillo é a eterna vítima. Coitado dele! Dizem que esta perseguição se deve ao fato dele convocar Dilma Rousseff para prestar depoimento na Comissão de Infra-estrutura do Senado. Ué, mas não foi depois deste depoimento que os lulistas bolivarianos falaram que Mãe Dilma saiu fortalecida? Eles deveriam estar agradecidos a Marconi pela convocação. Bem, se Marconi está sendo perseguido tenho dó do senador José Agripino. Ele disse que Dilma poderia estar mentindo no depoimento, já que mentira na época da ditadura militar quando foi torturada. Coitado dele!

Minc e um ditado daqui de Goiás

Finalmente Carlos Minc teve um encontro com Lula no Palácio do Planalto ontem. Mostrou que continuará sendo um folclórico, um show a parte (e ele não se envergonha disso). Manteve as exigências anunciadas na entrevista concedida em Paris semana passada. Mas Lula parece não muito disposto a cumpri-las. Minc disse: Tremei, poluidores, tremei. Vai todo mundo para a cadeia. E terão de plantar muitas árvores. Serei intolerante com o crime ambiental. Ele disse isso antes da posse. Imagine o que ele dirá depois. Se nem Marina Silva deu conta de conter a derrubada de árvores, o que esperar de um ministro espalhafatoso como Carlos Minc? Ele não ficará muito tempo no cargo. Não vai agüentar. O tal do “socialismo libertário” que ele tanto defende não vai funcionar.
Aqui em Goiás tem um ditado que pode muito bem caracterizar Carlos Minc: “Cão que late alto não morde”. Minc já começou latindo muito e alto. Exigiu, cobrou, ameaçou. Será que ele vai fazer alguma coisa relevante nos poucos dias que ficará no Ministério do Meio Ambiente? Será que ele vai fazer mais do que Marina Santana? É bem capaz dele ser lembrado como o cara do colete esquisito, o cão que late alto e não morde.

Lobista assinou liberação de recursos para ONG

Por Fausto Macedo e Roberto Almeida
no Estado de São Paulo

O lobista João Pedro de Moura, amigo e ex-assessor de Paulinho da Força (PDT-SP), teve importante participação no repasse de R$ 1,32 milhão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a ONG Centro de Atendimento Biopsicossocial Meu Guri, presidida pela mulher do deputado, Elza Pereira. A Polícia Federal constatou que Moura figurou formalmente como testemunha do ajuste entre o BNDES e a Meu Guri, em 27 de setembro de 2001. A Operação Santa Tereza, que investiga suposto desvio de verbas do BNDES, aponta o lobista como peça-chave do esquema.Por meio de Contrato de Colaboração Financeira Não Reembolsável, o BNDES liberou, naquela ocasião, R$ 1,32 milhão para a Meu Guri. O termo é subscrito por duas testemunhas: Moura e Luiz Fernando Emediato, também aliado de Paulinho e atual presidente do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat), vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego.Para a PF esse fato reforça suspeitas de que as relações entre o lobista e a ONG da mulher de Paulinho vão além da doação de R$ 37,5 mil que ele fez no dia 1º de abril de 2008 - etapa culminante da Santa Tereza que, àquela altura, mirava diretamente Moura e o próprio Paulinho, ambos filmados pela força federal nos corredores da Câmara.Alguns meses depois de assinar o contrato de 6 cláusulas e 8 páginas prevendo a liberação de recursos para a Meu Guri, Moura foi nomeado conselheiro do BNDES, por indicação da Força Sindical, presidida por Paulinho. O amigo do deputado acumulou as funções de conselheiro fiscal da ONG de Elza Pereira. Até a semana passada seu nome ainda constava do rol de conselheiros da Meu Guri. Quando a PF descobriu o depósito que ele fez para a ONG, seu nome foi excluído do quadro.A PF suspeita que parte do dinheiro desviado do banco de fomento migrou para organizações não-governamentais. A Justiça Federal decretou quebra do sigilo bancário da Meu Guri e da Luta e Solidariedade, ONG que recebeu depósito de R$ 82 mil do empresário Marcos Mantovani, apontado pela PF como um dos mentores da trama BNDES.O negócio da Meu Guri foi celebrado com recursos do Fundo Social do BNDES, "observado o disposto no parágrafo único da cláusula segunda, no âmbito do Programa de Apoio a Crianças e Jovens em Situação de Risco Social". A maior parte do montante, R$ 1,2 milhão, seria destinada "às despesas com estudos e projetos, obras e instalações e à adequação de móveis e utensílios". Outra parcela, de R$ 88 mil, seria empregada na aquisição de veículos. O restante, R$ 36 mil, na capacitação de recursos humanos.CANCELAMENTOPor meio do ofício 376/08, de 14 de maio, Paulo Todescan Lessa Mattos, chefe de gabinete da Presidência do BNDES, informou à Polícia Federal que o prazo para a utilização do dinheiro foi prorrogado de 27 de setembro de 2002 para 27 de junho de 2003, por solicitação da Meu Guri em outubro de 2002.O delegado Rodrigo Levin, que comanda o inquérito Santa Tereza, questionou o banco sobre o cumprimento do contrato por parte da ONG. A resposta: "O objetivo do projeto era a construção de uma sede própria para ampliação da capacidade de atendimento. A obra foi concluída em 95%. No entanto, o prazo para utilização dos recursos remanescentes (R$ 73.372,04, correspondentes a 5,5% do valor total do saldo do contrato) não foi observado pela mutuária, o que causou o cancelamento, por iniciativa do BNDES, em 14 de abril de 2004, do saldo remanescente do crédito decorrente do contrato número 00.2.716.2.1." O banco informa que a empresa RGG Construções Ltda. era a proprietária do imóvel onde Meu Guri foi instalada.Na época em que a verba foi liberada para a ONG, a diretora da área social do BNDES, Beatriz Azeredo, comemorava o recorde de R$ 1,5 bilhão a serem aplicados em projetos sociais pelo banco. Foi ela, hoje professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), quem assinou a aprovação da verba à Meu Guri. Ontem, Beatriz foi procurada, mas estava em viagem, participando de reuniões, e não retornou o contato do Estado.A ONG Meu Guri afirmou que o contrato é lícito. O criminalista Frederico Crissiuma, defensor de Moura, informou que seu cliente "vai prestar à Justiça todos os esclarecimentos necessários".

Lula nega a Minc liberação de R$ 1 bi

Por João Domingos
no Estado de São Paulo

O novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, pediu, mas não conseguiu arrancar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a liberação de cerca de R$ 1 bilhão do setor ambiental que está contingenciado nem o uso do Exército nas reservas da Amazônia. Lula disse que pensará em como liberar o dinheiro progressivamente e, para o lugar das Forças Armadas, sugeriu a Minc que seja pensada a criação de uma Guarda Nacional Ambiental, semelhante à Força Nacional de Segurança, que já existe.O dinheiro reivindicado por Minc é proveniente dos royalties do uso da água por hidrelétricas e empresas de saneamento, além do setor do petróleo. Normalmente, cerca de R$ 100 milhões são destinados ao ministério e os outros R$ 900 milhões ajudam a cumprir a meta de superávit primário do governo. "Não sei quando e quanto sairá. Mas o presidente disse que o dinheiro sairá", afirmou ele.Da reunião em que Lula confirmou Minc no lugar de Marina Silva, participou também a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ficou acertado que a posse será no dia 27 - Minc pediu ao presidente uma semana de prazo para mudar-se para Brasília. Ele propôs ainda a Lula um Plano Decenal de Saneamento, na tentativa de elevar dos atuais 35% para 75% as residências atendidas por saneamento básico. "O presidente e, principalmente, a ministra Dilma gostaram muito da idéia", disse Minc, logo depois da reunião no Planalto.O futuro ministro do Meio Ambiente dissera, durante entrevista na semana passada, em Paris, que não tinha planos para o colega da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, nomeado pelo presidente Lula gestor do Plano Amazônia Sustentável (PAS), um dos motivos que levaram Marina Silva a se demitir do cargo. De acordo com Minc, Lula disse que chamou Mangabeira para o cargo porque "ele é um estrategista, um pensador a longo prazo". Em outras palavras, o presidente o manteve no cargo, com o que Minc acabou concordando. Segundo ele, no dia 30 haverá uma reunião de Mangabeira com os governadores. "Aí, ele poderá expor suas idéias para a Amazônia."
SUGESTÕES
Minc disse que levou quase uma dezena de sugestões a Lula e todas foram muito bem aceitas. Entre elas, o compromisso de que será mantida a resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN), de veto, a partir de julho, à liberação de crédito oficial para quem estiver envolvido em crime ambiental. Havia um temor de que essa resolução fosse revogada, por conta da forte pressão de fazendeiros e de governadores da Amazônia. "Foi muito importante a decisão de manter a resolução do CMN, porque havia a impressão de que, com a saída da ministra Marina Silva, pudesse ocorrer uma descontinuidade das ações do ministério. Não haverá", disse.Ele anunciou ainda ter proposto ao presidente e a Dilma a criação de um Centro Integrado de Combate aos Crimes Ambientais, com banco de dados e disque-denúncia. "O crime ambiental será reprimido", disse. E ameaçou: "Tremei, poluidores, tremei. Vai todo mundo para a cadeia. E terão de plantar muitas árvores. Serei intolerante com o crime ambiental." Minc disse que o presidente ficou muito entusiasmado com suas idéias para o setor.O novo ministro adiantou que aproveitará boa parte da equipe de Marina, com quem almoçou ontem. Minc disse ainda que sua secretária-executiva será Izabella Teixeira, bióloga, atual subsecretária de Política e Planejamento do Ambiente do Rio de Janeiro, como o Estado havia antecipado no sábado.
PERFORMÁTICO
A passagem de Minc por Brasília, ontem, teve um pouco de show. Ele próprio disse que é performático e continuará sendo, mesmo nas reuniões na mesa oval do presidente. Sobre sua atuação, garantiu: "Não vou virar vidraça nem me enforcar na gravata." Ao contrário de outros freqüentadores do Planalto, ele não usou paletó. Pôs a gravata sob um colete de seda na cor cerâmica.Em menos de sete horas, ele concedeu seis entrevistas coletivas. Não poupou a capital. "Brasília, às vezes, é chata", disse. Em seguida, dando mostras de que nunca tinha visitado o Palácio do Planalto, pediu aos repórteres que o ajudassem. "Por favor, me ajudem a encontrar o caminho."E, na quarta despedida dos repórteres, em sua meia dúzia de entrevistas, usou um bordão verde: "Saudações ecológicas e libertárias."Minc não quis arrumar polêmica com seus colega de Minas e Energia, Edison Lobão, que pediu pressa na licença ambiental da Usina de Jirau, no Rio Madeira, leiloada ontem. Ao saber que Lobão havia pedido rapidez na concessão de licenças, preferiu ficar calado.O novo ministro defendeu a ampliação da área de proteção ambiental da Mata Atlântica, destacando tratar-se do segundo maior bioma do mundo mais ameaçado. Anunciou que viajará para a Alemanha, no dia 29, em busca de recursos para ampliar a defesa ambiental da Amazônia e da Mata Atlântica.Ele rebateu ainda editorial do jornal norte-americano New York Times, para quem os países desenvolvidos devem ser consultados sobre a proteção ambiental da Amazônia. "Os brasileiros também deveriam ser consultados sobre o patrimônio ameaçado dos Estados Unidos", ironizou. Afirmou ainda que Paris e Nova York são patrimônios mundiais e, do mesmo modo, a comunidade internacional deveria dar palpites a respeito das duas cidades.