sábado, 8 de dezembro de 2007

E viva o arquivo

Salve as edições anteriores dos jornais e das revistas na internet. Ali podemos ver o que os políticos diziam que fariam se fossem eleitos. Lula poderia muito bem ser batido por Alckmin nas eleições do ano passado se o chuchu paulista desse uma navegada pela internet e pesquisado nos jornais e nas revistas tudo que o Apedeutakoba disse quando era oposição e tudo o que ele fez no governo. Só contradições. Só rompimento de promessas. Só mentiras e tudo mais. Não somente Lula, mas todos os outros políticos. Vamos ficar restritos apenas aqui em Goiás. Na página do jornal Tribuna do Planalto encontramos uma matéria interessante que aborda os debates entre os candidatos ao governo de Goiás nas eleições do ano passado durante o primeiro turno. Maguito Vilela era líder nas pesquisas (o favorito, segundo muitos) e poupado no debate. Já o governador Alcides Rodrigues, o popular Cidinho, era o alvo dos ataques. Até Barbosa Neto, que hoje é aliado do governo, desceu a lenha em Cidinho. Mas destaco uma pergunta feita pelo então candidato Edward Júnior (típico daqueles políticos que só aparecem nas eleições e depois ninguém mais lembra) sobre os cargos comissionados. Transcrevo o trecho do debate entre os candidatos ocorrido na Rádio Fonte da Vida e que está na reportagem do Tribuna do Planalto do dia 5 de agosto de 2006. Matéria assinada por Vassil Oliveira e Eduardo Sartorato:

* Ataque
O empresário Edward Júnior questionou se Alcides Rodrigues iria romper os cargos comissionados, ou iria destiná-los aos políticos que não conseguirem mandato nas próximas eleições.

* Defesa
O governador disse que não vê problemas em nomear políticos para estes cargos, se eles possuírem probidade e competência para exercer a função.

* Réplicas e Tréplicas
Edward condenou a ação, explicando que em seu hipotético governo os
altos-cargos ficarão para servidores concursados de carreira. Alcides respondeu que vai priorizar a competência e que "foi assim que o governo do Tempo Novo conseguiu mais de 90% de aprovação".

Viram só? Cidinho achava correto nomear políticos para os cargos, desde que tivessem competência. E mais: a competência dos comissionados garantiu 90% de aprovação do Tempo Novo. Não custa lembrar que o marqueteiro da campanha de Cidinho era Jorcelino Braga, o atual secretário da Fazenda e chefão da reforma administrativa. Ele ficou muito tempo sem dar entrevistas. Ao anunciar a reforma no mês passado, Jorcelino deu entrevistas para todo mundo que quisesse ouvir ou que tivesse um microfone na mão. Deu declarações polêmicas que geraram boatos de que a relação de Marconi com Cidinho estaria estremecida. Jorcelino Braga disse que a folha de pagamento do estado era um “câncer”. Hoje ele faz este diagnóstico, mas no ano passado aplaudia as declarações de Cidinho de que este, como posso dizer, “câncer” garantiu 90% de aprovação para o Tempo Novo. Reparem que Cidinho sempre valorizava o servidor público. Agora que as contas do estado não batem o jeito é demitir todo mundo. E a competência? Ficou lá trás, num passado não muito distante, guardados nas edições anteriores dos jornais e das revistas a espera de qualquer leitor. Num passado não muito distante Lula prometia ética na política. Quando assumiu o governo permitiu e participou da farra que o PT fez no governo federal. Num passado não muito distante Cidinho valorizava o servidor público e dizia que, quem os maltratavam era Maguito Vilela e a turma do Tempo Velho. Todas as declarações de Cidinho passaram pelo crivo marqueteiro de Jorcelino Braga. Agora que eles estão no Palácio das Esmeraldas nem se lembram das promessas, declarações e debates das eleições passadas. Ainda bem que temos os arquivos. Oportunidade de tirar a poeira destas notícias e esfregar na cara daqueles que fazem tudo aquilo que prometeram não fazer. Afinal, todo dia de posse de político sempre é lembrado ao eleitor cobrar as promessas feitas durante a campanha. Como todo político é vagabundo, viva os arquivos que guardam as notícias que escapam da nossa memória e que estão a espera de alguém esfregar na cara de quem prometeu e não cumpriu.

Caindo no mesmo erro

O Íris Rezende imbatível, invencível, poderoso e sempre líder de pesquisas antes das eleições voltou a tomar conta da imprensa goiana. Por aqui não podemos mais confiar nas pesquisas. As últimas eleições comprovaram isso. Nas eleições estaduais de 1998, Íris Rezende aparecia como franco favorito nas pesquisas. Terminou o primeiro turno atrás de Marconi Perillo, quando o tal do Tempo Novo empolgava com as piadas do Nerso da Capetinga. Nas eleições municipais de 2000, as pesquisas davam com certo o segundo turno entre Darci Accorci e Lúcia Vânia. Na realidade, o que aconteceu foi o contrário. O Darci líder das pesquisas antes do primeiro turno entrou para o segundo round atrás de Pedro Wilson, que até então aparecia em terceiro lugar. As eleições de 2002 mostraram que as pesquisas teimavam em errar. Na disputa para o Senado, Íris Rezende era o franco favorito. Que nada! No final da disputa ele amargou uma derrota nunca imaginada na sua vida política. Viu seus adversários Demóstenes Torres e Lúcia Vânia ocuparem duas cadeiras azuis no Senado. E 2006, outra vez, nós vimos as pesquisas deixando dúvidas no ar. Maguito Vilela ganharia fácil e no primeiro turno de Alcides Rodrigues, o popular Cidinho. Quem ganhou fácil foi Cidinho e Maguito amargava o início dos seus anos sem um cargo eletivo. Se não tivesse puxado o saco do Lula nas eleições do ano passado não estaria numa das diretorias do Banco do Brasil.
Por isso, minha gente, calma lá. Íris não é mais este imbatível candidato. Não vamos cair no mesmo erro de acreditar nisso.

Eu falei

Manchete principal do jornal O Popular de hoje: “Estado contrata 60 e demite 28 após reforma”. Isso mesmo. A reforma administrativa do governador Alcides Rodrigues, o popular Cidinho, não está tendo suas metas cumpridas. Uma destas, a principal, era demitir comissionados para enxugar a folha do estado. Pelo visto, Cidinho está fazendo o contrário. Desde que a reforma foi anunciada eu já mostrava aqui todo o meu descrédito. Sempre cobrei pelo anúncio da reforma quando Cidinho dizia que ela seria anunciada no outro dia. O outro dia chegava e a reforma não era anunciada. Onze meses depois da posse Cidinho anuncia medidas para acabar com o estado paquidérmico. A Assembléia Legislativa deu carta branca para que ele fizesse as mudanças do jeito que achasse interessante. Pelo visto, muitas coisas planejadas não serão executadas. Além de contratar mais gente para o estado paquidérmico (o que na reforma não estava previsto) a demissão dos comissionados foi adiada para janeiro do ano que vem. E veja só que coisa interessante: janeiro do ano que vem completará um ano que Cidinho anunciava que demitiria os comissionados. Será que vai ter festejos de comemoração de aniversário do anúncio que não aconteceu? Ah, vale lembrar outra coisa interessante também: ano que vem tem eleições municipais. Dizem por aí que Cidinho vai comandar a tropa aliada. É certo que nem todos os candidatos alinhados com o Palácio das Esmeraldas vão vencer em todos os municípios. Resta saber o que Cidinho fará com os aliados derrotados depois das eleições do ano que vem. O ex-governador e atual senador Marconi Perillo inventou secretarias para abrigar os segundos e terceiros colocados nas disputas eleitorais. E Cidinho? Pelo que nós estamos vendo até agora esta reforma não vai agüentar a pressão política do ano que vem. Eu falei e repito: a reforma vai ser um fracasso e o estado paquidérmico continuará imóvel, parado, tal qual seu governante.

Watching The Wheels



Watching the wheels
John Lennon
People say I'm crazy doing what I'm doing
Well they give me all kinds of warnings to save me
from ruin
When I say that I'm o.k. well they look at me kind of
strange
Surely you're not happy now you no longer play the
game
People say I'm lazy dreaming my life away
Well they give me all kinds of advice designed to
enlighten me
When I tell them that I'm doing fine watching shadows
on the wall
Don't you miss the big time boy you're no longer on
the ball
I'm just sitting here watching the wheels go round and
round
I really love to watch them roll
No longer riding on the merry-go-round
I just had to let it go
Ah, people asking questions lost in confusion
Well I tell them there's no problem, only solutions
Well they shake their heads and they look at me as if
I've lost my mind
I tell them there's no hurry
I'm just sitting here doing time
I'm just sitting here watching the wheels go round and
round
I really love to watch them roll
No longer riding on the merry-go-round
I just had to let it go
I just had to let it go
I just had to let it go

Imagine



Imagine
John Lennon

Imagine there's no heaven
It's easy if you try
No hell below us
Above us only sky
Imagine all the people
Living for today...
Imagine there's no countries

It isn't hard to do
Nothing to kill or die for
And no religion too
Imagine all the people
Living life in peace...
You may say I'm a dreamer

But I'm not the only one
I hope someday you'll join us
And the world will be as one
Imagine no possessions

I wonder if you can
No need for greed or hunger
A brotherhood of man
Imagine all the people
Sharing all the world...
You may say I'm a dreamer

But I'm not the only one
I hope someday you'll join us
And the world will live as one

Há 27 anos atrás o sonho acabava



Neste mesmo dia, há vinte e sete anos atrás, o mundo realmente se dava conta de que o sonho acabou. Um maníaco calou a boca daquele que se tornou o ícone da década de 1960. Há 27 anos morria John Lennon. Sim, meus amigos, o sonho acabou. Para aqueles que ainda acreditavam que os Fab Four voltariam a tocar juntos... O sonho acabava na noite do dia 8 de dezembro de 1980, em frente ao Edifício Dakota, em Nova York. Depois de cinco anos recluso, cuidando do seu filho Sean, Lennon voltava a gravar um álbum inédito desde 1975. Ele estava empolgado. Pensava em novos projetos, novas turnês... Sim, Yoko Ono ainda estava do seu lado. E foi Yoko que, desesperadamente, viu o último suspiro do ícone da década de 1960. O último suspiro de toda uma geração que queria dar uma chance a paz e que sonhava que ainda haveria um outro álbum dos Beatles depois do Let it be. O sonho acabava naquela noite de 8 de dezembro de 1980.

PMDB ensaia acordo para escolher sucessor de Renan

Por Ana Paula Scinocca
no Estado de São Paulo

A maioria dos pré-candidatos do PMDB à presidência do Senado aceita abrir mão da disputa em prol do consenso ou de um nome que represente a unidade do partido. Primeiro senador a lançar seu nome à sucessão de Renan Calheiros (PMDB-AL) - que renunciou na terça-feira - , Garibaldi Alves (RN) avisou ontem que “não será intransigente” e pode desistir de sua candidatura se o partido lhe pedir. “Posso abrir mão sim, mas não em função de um candidato. Abro mão em nome do consenso e se houver apelo do partido”, afirmou.Na mesma linha, o pré-candidato Valter Pereira (MS) afirmou que se o PMDB quiser, ele abandonará a disputa. “Não vou ser candidato de mim mesmo”, explicou Pereira.A eleição para a presidência do Senado está marcada para quarta-feira e a bancada do PMDB deixou para definir o nome na véspera. O líder da bancada, Valdir Raupp (RO), avisou que tudo caminha para uma eleição interna com voto secreto entre os 20 senadores do partido.Ontem, quatro dos cinco senadores que se candidataram à presidência da Casa participaram da sessão no Senado. Eles representaram 40% do quórum da sessão, que às sextas-feiras costuma ser esvaziada.
BRINCADEIRA
Sempre assíduo na Casa no último dia útil da semana, o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) até ironizou a presença dos peemedebistas. “Isso aqui só tem candidato hoje”, brincou ao ver ingressar no plenário o senador Edison Lobão (PMDB-MA). “Mas ele não é candidato”, afirmou um repórter. “É sim. Ele é candidato ou à presidência ou a um ministério do governo Lula”, retrucou o Heráclito.Também presente à sessão, Neuto De Conto (PMDB-SC), outro pré-candidato, disse que aceita abrir mão da disputa pelo comando do Senado apenas para dar lugar a Pedro Simon (PMDB-RS) ou a José Sarney (PMDB-AP), dando preferência ao senador gaúcho. “Como está não desisto. Mas se vier o nome do Sarney ou do Simon eu faço o que a bancada entender ser melhor. Quero ser o homem do consenso e não do dissenso”, afirmou Conto.Sarney não se lançou como candidato, mas é o nome preferido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o posto. Simon vez, também não se declarou candidato, mas foi lançado por um grupo de 29 senadores (leia reportagem nesta página).Leomar Quintanilha (PMDB-TO), outro pré-candidato, não foi localizado ontem pela reportagem do Estado. Ele preside o Conselho de Ética do Senado e é aliado de Renan. Na quarta-feira, um dia depois de Renan renunciar à presidência da Casa e ser absolvido pelo plenário, Quintanilha decidiu arquivar outros dois processos que tramitavam contra ele.

Tarso nega erro de tradução no caso Cacciola

Da Folha de São Paulo

O ministro da Justiça, Tarso Genro, negou ontem, no Rio, ter havido erros de tradução nos documentos enviados pelo governo brasileiro para pedir a extradição do ex-banqueiro Salvatore Cacciola, preso em Mônaco desde 15 de setembro. Tarso afirmou que o pedido de nova tradução é uma "manobra" dos advogados de Cacciola para ganhar tempo.Erros na tradução levaram, quinta-feira, ao terceiro adiamento seguido da audiência para definir o destino do ex-banqueiro. Para a procuradora-geral do principado, Anne Brunet-Fuster, "a tradução não é boa". Na opinião dos advogados de defesa, o texto é "incompreensível".Segundo Tarso, os documentos foram vertidos do português para o francês por tradutores juramentados "altamente qualificados, como sempre é feito". "Foi uma legítima manobra dilatória [que faz adiar] dos advogados -Cacciola trocou de advogados, que necessitam tomar conhecimento dos autos-, que indicou questões relacionadas com tradução. Agora, no Estado de Direito é assim: advogados de defesa têm direito a fazer postergações."Para Tarso, as diferenças aparecem apenas em alguns termos. "A palavra "peculato" [corrupção por funcionário público], por exemplo, que não existe no sistema de Mônaco, provavelmente tem outro nome", justificou, admitindo, porém, enviar nova tradução, caso necessário. "Nós não fomos solicitados, se formos, vamos apresentar.""Do ponto de vista da documentação e da tradução que o Brasil apresentou, absolutamente, a tradução foi muito bem-feita por tradutores juramentados, técnicos de alto nível, que nunca receberam nenhuma impugnação nas relações internacionais.""Enquanto ele [Cacciola] estiver preso, aguardando a decisão, está bem. O resto é o ritmo da Justiça de Mônaco, que temos de respeitar", afirmou.

Bird afirma que redução da pobreza no Brasil é medíocre

Por Gustavo Patu
na Folha de São Paulo

Relatório publicado nesta semana pelo Banco Mundial qualifica de "medíocre" e "desapontador" o desempenho brasileiro na redução da pobreza ao longo de um período que coincide, embora não seja essa a preocupação dos autores, com a redemocratização do país.Apesar de ratificar a importância de medidas festejadas no discurso político nacional, como o controle da inflação, a ampliação dos programas sociais e, mais recentemente, o Bolsa Família, o estudo do Bird indica que, quando se observam prazos maiores, os resultados são bem mais modestos do que parecem de imediato.De 1985, quando acabou a ditadura militar, até 2004, o percentual de pobres na população -aqueles que vivem em domicílios onde a renda é insuficiente para uma cesta básica por pessoa- caiu "meros quatro pontos percentuais", de 33% para 29%.Medida por outro critério, a taxa média de pobreza nos países em desenvolvimento foi reduzida, no mesmo período, de 33% para 18%. Por essa metodologia, que contabiliza as pessoas com renda inferior a US$ 1 por dia, os pobres passaram de 8% para 7% dos brasileiros.O que interessa, no caso, não é o conceito estatístico adotado, mas a evidência de que a pobreza cai mais devagar no Brasil do que no resto do mundo pobre e remediado. "É preciso reconhecer que a redução da pobreza no Brasil entre 1985 e 2004 é medíocre, no máximo", escrevem os pesquisadores Francisco Ferreira, Phillippe Leite e Martin Ravallion.O trabalho deixa a mera coleta de dados e ingressa, propositalmente ou não, em um debate político ao buscar as causas dos resultados insatisfatórios do país, descrito como "grande, de baixo crescimento econômico, altamente desigual e de renda média". Como se antevê, a acusada é a economia claudicante -e o baixo proveito que os pobres conseguem tirar dela."Redução da Pobreza sem Crescimento Econômico?", pergunta o título do estudo, que, é evidente, não aposta em uma resposta afirmativa. A provocação contrasta com o discurso reeleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo o qual o atual desempenho do Produto Interno Bruto, embora muito abaixo dos níveis dos anos 70, seria mais favorável aos pobres.Não se trata, porém, de visões opostas. Uma das principais referências do pensamento econômico liberal, o Banco Mundial é um entusiasta e financiador das políticas adotadas pelos governos tucano e petista, do Real ao Bolsa Família -mas não acredita que elas sejam suficientes.O texto divide o período analisado em duas partes. A primeira, que vai até 1993, "corresponde ao clássico estereótipo do populismo macroeconômico da América Latina, com persistentes déficits orçamentários, alta inflação, distorções comerciais por todos os lados, extensiva presença de empresas estatais em setores produtivos e, ironicamente, um ineficiente e mal direcionado sistema de seguridade social que não atingia os pobres".A partir de 1994, ano de lançamento do Plano Real, começa "o que os críticos caracterizam como "reforma neoliberal'". Mas, admitem os autores, com um tempero latino: além de controle da inflação, abertura comercial, ajuste das contas do governo e privatização, houve aumentos dos gastos com previdência, saúde e assistência social - "que não figuravam entre as recomendações-padrão do assim chamado Consenso de Washington".Na segunda etapa, houve queda lenta da pobreza e da desigualdade social, mas a economia, como na primeira etapa, seguiu abaixo do ritmo mundial. O estudo aponta a melhora dos gastos sociais e estima, com a cautela necessária em cálculos desse tipo, que sem eles a taxa de pobreza teria subido para 34% em 2004. Mas, conclui, efeitos mais duradouros dependem do crescimento.

Governo exclui nome de Garibaldi da relação de donos de TV potiguar

Por Hudson Corrêa e Leonardo Souza
na Folha de São Paulo

Dois dias após a Folha publicar que o senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) aparecia em cadastro da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) como sócio da TV Cabugi, de Natal, o Ministério das Comunicações, comandado pelo PMDB, excluiu o nome e o CPF do senador da lista anteontem.Garibaldi é um dos principais candidatos do PMDB para presidir o Senado no lugar de Renan Calheiros (PMDB-AL), que renunciou ao cargo em meio a um processo de cassação por suspeitas de manter sociedade oculta num grupo de comunicação. Ele foi absolvido.No lugar do senador, passou a constar da nova relação de sócios da TV seu pai, Garibaldi Alves, com 190 mil cotas, a mesma quantidade até então atribuída ao filho. Embora os nomes sejam quase idênticos, seus CPFs são diferentes.Os dados da nova lista de sócios da TV, divulgada pelo ministério, coincidem com documento que o senador entregou à Folha para negar participação na empresa. A reportagem presenciou os assessores do ministério e do senador conversando, ao telefone, sobre o cadastro da Anatel. Eles negaram que tivessem combinado uma ação conjunta em favor do senador, mas apresentaram versões conflitantes para explicar a razão daquela conversa.Um dos assessores do ministério informou que tomou a iniciativa de telefonar para o gabinete do senador e recebeu a informação de que o cadastro da Anatel estava desatualizado, pois desde 1988 o senador já não seria mais sócio da TV Cabugi, criada em 1986. Já a assessoria do senador disse que procurou o ministério apenas para confirmar se o CPF, que constava no cadastro da Anatel, era mesmo o de Garibaldi.Conforme a assessoria do ministério, a última atualização na lista de sócios da TV Cabugi ocorreu com base em dados de 1988 e, por isso, ainda trazia o nome do senador. Documento da Junta Comercial aponta, porém, que a composição societária da TV Cabugi, em 1988, é bem diferente da lista de sócios da Anatel que, até anteontem, incluía o senador.A relação de sócios da TV em 1988, antes da saída de Garibaldi, tinha 16 nomes, conforme a Junta Comercial. No cadastro da Anatel eram 14, sendo que dez não apareciam como sócios em 1988. Outra discrepância: de 1976 a 2005, o pai de Garibaldi foi sócio da TV, isto é, estava na sociedade em 1988, mas não constava da lista da Anatel até a alteração de anteontem.

Lula ainda se acha um torneiro mecânico

Por Fernando Barros de Melo
na Folha de São Paulo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a atacar ontem senadores da oposição que se dizem contra a CPMF. "Nós estamos percebendo agora, lá no Senado Federal, que têm algumas pessoas, não todas, nos partidos de oposição, que não querem, que não aceitam que este país dê certo. E muito menos admitem o sucesso de um torneiro mecânico na Presidência da República", discursou Lula, em Macapá (AP).O presidente lembrou da proximidade da votação da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que prorroga a CPMF até 2011 e disse que "alguns senadores que não querem que o país dê certo querem abolir este imposto".Segundo Lula, os contrários à prorrogação do chamado imposto do cheque "são aqueles que adorariam sonegar como sonegaram a vida inteira".O governo tenta obter o número de senadores necessários para aprovar a CPMF. Ontem, o presidente pediu que a população acompanhe os votos. "Meus companheiros e minhas companheiras, é importante vocês ficarem atentos em qual será o voto dos senadores brasileiros na próxima semana, ou sei lá quando eles vão votar."Como já havia feito o ministro Guido Mantega (Fazenda), Lula ameaçou governadores, caso a contribuição não seja prorrogada. "A hora que tirar R$ 40 bilhões do Orçamento, quem vai sofrer são os prefeitos, governadores", disse. "Vamos ter que tirar de algum lugar", emendou Lula, segundo quem a CPMF é um tributo "de luxo, distributivo, que só atinge 13 milhões de brasileiros".O discurso duro contra a oposição foi feito dois dias depois de o presidente ter amenizado o tom ácido e ter dito que, aos 62 anos, não tem "mais tempo de ser violento".Na quarta, no lançamento do PAC da Saúde, que contou com a presença de 20 governadores, Lula havia feito um mea-culpa sobre as críticas que fazia à CPMF na época de oposição e se classificou como uma "metamorfose ambulante".
Palanque
Ontem, Lula esteve em Macapá para assinar um decreto que transfere ao Estado 3,8 milhões de hectares de terras que pertenciam à União. Estiveram no palanque os governadores do Amapá, Valdez Góes (PDT), e do Paraná, Roberto Requião."Quero pedir ao Valdez, ao Requião, aos companheiros, que digam aos senadores que não querem que este país dê certo que tentem me prejudicar de outra forma. Que subam na tribuna e passem 24 horas direto falando mal de mim, que subam na tribuna e façam o que quiser, mas não prejudiquem a parte mais pobre deste país, que no fundo, no fundo será a beneficiária da CPMF", disse.O presidente também elogiou o senador Gilvam Borges (PMDB-AP), outro presente no evento, e disse a ele que as "emendas das bancadas agora serão liberadas" para o Estado."O Gilvam é daqueles companheiros que é pau para toda obra. O que eu mais gosto no Gilvam é que ele não leva desaforo para casa. E desaforo a gente não pode levar mesmo não", afirmou Lula, que voltou a comparar seu governo com o do antecessor, Fernando Henrique Cardoso (1995-2002)."Só até o dia 30 de outubro deste ano geramos mais empregos do que todo o governo passado em oito anos." Mas, segundo informou a assessoria do Planalto, a comparação correta seria com os quatro anos do segundo mandato do tucano.

"O pastor e o pensador" por Reinaldo Azevedo

O papa Bento XVI tornou pública, no dia 30 do mês passado, a segunda encíclica de seu pontificado, Spe salvi, expressão resumida da frase de São Paulo aos romanos Spe salvi facti sumus: é na esperança que fomos salvos. Trata-se, inequivocamente, do texto de um pastor, chefe máximo de uma igreja, mas é também a reflexão de um pensador contemporâneo. O pastor entende os motivos que levam o homem, "expulso do paraíso terrestre", a substituir a "fé em Jesus Cristo" pela "fé no progresso". O pensador considera dois momentos em que essa substituição se fez história – a Revolução Francesa (1789) e o socialismo – e aponta o erro fundamental do teórico comunista alemão Karl Marx (1818-1883): "esqueceu o homem e a sua liberdade". O papa não critica o marxismo como uma ameaça presente, mas como a expressão máxima de um risco permanente.
O pastor escreveu uma encíclica para exaltar a "oração, o agir, o sofrer e o Juízo (Final) como lugares da aprendizagem da esperança". O pensador nos convida a pesar as conseqüências de um mundo sem Deus, aquele no qual tudo é permitido. O pastor – sem dúvida, um bom fundamentalista – vai ao fundamento de sua crença e recupera a importância da "parúsia", que é a segunda vinda do Messias (voltarei a essa palavra). O pensador dialoga com os agnósticos e os ateus e, na prática, os incita a considerar a dimensão religiosa um dado da cultura ao menos – sem deixar de declarar a supremacia da fé, tomada como sinônimo da esperança.
Seja por conta da crítica severa ao marxismo, seja por causa da caracterização dualista que faz do progresso – "em mãos erradas (...), tornou-se um progresso terrível no mal" –, não faltará quem veja nas palavras de Bento XVI a expressão de um insofismável reacionarismo. Será? Segundo o papa, a ditadura do proletariado, imaginada por Marx como uma etapa necessária do comunismo futuro, não deu à luz um mundo sadio, "deixando atrás de si uma destruição desoladora". Alguém se atreve a negar? E Bento XVI vai além: "(Marx) esqueceu que o homem permanece sempre homem. (...) Esqueceu que a liberdade permanece sempre liberdade, inclusive para o mal. Pensava que, uma vez colocada em ordem a economia, tudo se arranjaria. O seu verdadeiro erro é o materialismo: de fato, o homem não é só o produto de condições econômicas nem se pode curá-lo apenas do exterior criando condições econômicas favoráveis".
Entenda-se: Bento XVI não está ressuscitando a Guerra Fria, a disputa pela hegemonia mundial entre o capitalismo e o socialismo. Essa batalha já foi vencida pela civilização do óbvio no século passado, e a economia de mercado triunfou como atributo ou da Criação ou do progresso natural da humanidade – cada um escolha a causa que lhe parecer melhor. O que o papa faz é tomar o marxismo como exemplo máximo de uma visão totalizante do ser, em que a ética se subordina apenas à dimensão material da vida. Certamente não é a única corrente de pensamento a fazê-lo, mas se tornou a mais influente e convincente das visões materialistas. Escreve o papa: "Se ao progresso técnico não corresponde um progresso na formação ética do homem, no crescimento do homem interior, então aquele não é um progresso, mas uma ameaça para o homem e para o mundo".
Bento XVI critica, assim, a visão de mundo segundo a qual o bem-estar humano é mera decorrência das estruturas, "por mais válidas que sejam". Observa que a "liberdade necessita de uma convicção". Afinal, se as condições materiais do indivíduo garantissem, por si mesmas, a sua felicidade, forçoso seria concluir que estaria abolida toda escolha – e, por conseqüência, a liberdade. Os totalitarismos do século passado e suas manifestações remanescentes neste século jamais se assumiram como tais. Em todos eles, sempre há uma retórica meritória que apela à reforma das estruturas em nome do bem comum. Mas com quais valores se pretendeu e se pretende construir esse novo homem? E o papa recorre ao filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) para responder: "Não há dúvida de que um ‘reino de Deus’ realizado sem Deus – e, por conseguinte, um reino somente de homem – resolve-se, inevitavelmente, no ‘fim perverso’ de todas as coisas (...). Já o vimos e vemo-lo sempre de novo".
O "reino de Deus sem Deus" é uma referência também à ciência. Chega a parecer um tanto estranho e talvez vire motivo de pilhéria que o papa, em 2007, aponte um "equívoco" do filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626), passados quase 400 anos de sua morte. E ele o faz. Trata-se de um pretexto para contestar que o homem possa ser salvo apenas pelo conhecimento científico, sem o concurso da fé. Nesse momento da encíclica (parágrafo 25), Bento XVI está se preparando para admoestar também os cristãos.
Não é segredo que a pesquisa, especialmente no campo da genética, se confronta com limites que são de natureza ética, e a religião, o catolicismo em particular, tem sido a porta-voz do que costuma ser caracterizado na imprensa e no debate público como a expressão de um preconceito, de um "medievalismo". Não quero fugir ao propósito deste texto, que é o de apresentar as linhas gerais de um documento de cinqüenta parágrafos e 18.822 palavras, para abrir uma frente particular de debate. Observo apenas que, para Bento XVI, "a ciência pode contribuir muito para a humanização do mundo e dos povos", mas "também pode destruir o homem e o mundo se não for orientada por forças que estão fora dela".
Cumpre perguntar: o que são essas "forças fora da ciência" que devem orientá-la, assim como devem orientar a política e a vida cotidiana? Bento XVI observa que, para um cristão, "o homem é redimido pelo amor", mas este também não basta, porque a mortalidade evidencia a fragilidade dessa resposta. E o papa exalta, então, o outro amor, o "incondicionado". E convida o leitor ao mesmo fervor de São Paulo: "Nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor" (Rom 8,38-39).
Disse que voltaria à palavra "parúsia", a segunda vinda do Messias, e que Bento XVI fazia uma admoestação também aos cristãos. Esses dois fios soltos do texto se enlaçam agora. O papa reitera que a promessa do retorno de Jesus – "de novo há de vir em sua glória para julgar os vivos e os mortos" – é parte "central" do "grande Credo" da Igreja. E, portanto, cabe a quem crê viver a certeza da justiça de Deus. A evolução da iconografia foi tornando o Juízo Final "ameaçador e lúgubre", mas deve ser a grande fonte de esperança de um cristão.
Ocorre que a força salvífica da fé, aponta Bento XVI, tem de ser coletiva. E aqui está a admoestação: "Devemos constatar também que o cristianismo moderno, diante dos sucessos da ciência na progressiva estruturação do mundo, tinha se concentrado em grande parte somente sobre o indivíduo e a sua salvação. Desse modo, restringiu o horizonte da sua esperança e não reconheceu suficientemente sequer a grandeza da sua tarefa".
Finalmente, cumpre indagar, juntamente com os ateus – dos quais o marxismo foi e é a expressão mais influente: num mundo onde as injustiças são tão candentes e onde os inocentes padecem as maiores crueldades, é possível falar de um Bom Deus? Esse Deus tem de ser contestado em nome da moral, não é? E o papa responde: "Se, diante do sofrimento deste mundo, o protesto contra Deus é compreensível, a pretensão de a humanidade poder e dever fazer aquilo que nenhum Deus faz nem é capaz de fazer é presunçosa e intrinsecamente não verdadeira. Não é por acaso que dessa premissa tenham resultado as maiores crueldades e violações da justiça".
Além ou aquém do Mistério, a fé nesse Deus de que nos fala Bento XVI é também uma garantia dos direitos essenciais do homem. O cristianismo, afinal, é um humanismo. É o que diz o pensador. É o que diz o pastor.

"Para entender a políticolíngua" por Roberto Pompeu de Toledo

Acordão s.m. – Aumentativo de acordo. Usado na semana passada para caracterizar o movimento que levou à absolvição no Senado, por 48 votos contra 29 e três abstenções, do senador Renan Calheiros, no processo em que era acusado de quebra de decoro por ser proprietário secreto de empresas de comunicação. Os aumentativos são muito apreciados no Brasil, quer quando se trata de estádios de futebol (Mineirão, Barradão, Engenhão), de campeonatos (Brasileirão) e até de empreendimentos comerciais (Drogão, Feirão, Ponto Frio Bonzão). A idéia parece ser não só ressaltar a magnitude das obras (no caso dos estádios), dos eventos e dos empreendimentos comerciais, mas também, pelo apelido de suposto gosto popular, criar um vínculo de familiaridade, ou mesmo afeto, com o público. No caso da política, além de significar uma operação de proporções grandes (o acordo para salvar Renan uniu múltiplos grupos, partidos e pessoas), o aumentativo transmite, ao contrário, um sentido de ação escusa, ou debochada, ou ilícita. Ilustre antecedente de "acordão", no léxico político, é o "centrão" da época da Constituinte. "Centrão" queria dizer não só um centro grande, mas um centro debochado, pelo qual transitavam preferencialmente os pleitos fisiológicos e os interesses inconfessáveis. "Acordão" remete igualmente ao locus privilegiado da malandragem ou da pura e simples roubalheira. Quando se fala em "centro" ou "acordo", a coisa é séria. Quando se fala em "centrão" ou "acordão", não é.

Chinelinho s.m. – Diminutivo de chinelo. Usado pelo senador Wellington Salgado (o da cabeleira), logo após a derrota da medida provisória que criava a Secretaria de Longo Prazo, em setembro, para designar o agrado, o mimo, o presentinho, que seu grupo, o dos parlamentares menos conhecidos do PMDB, reivindicava para votar com o governo. A palavra inseria-se na seguinte e piedosa declaração: "Não é um sapato de cromo alemão que os franciscanos querem, mas um chinelinho novo. Pode até ser usado, o que ninguém agüenta mais é machucar o pé". Tal qual os aumentativos, os diminutivos servem a peculiares intenções, na língua brasileira. Podem pretender disfarçar grandes vícios – por exemplo, quando se diz "vou tomar um uisquinho" ou "vou fumar um cigarrinho". Podem querer amortecer o impacto de transgressões, como quando o empregado diz ao patrão, ou o marido à mulher, que vai dar "uma saidinha". Ou podem tentar esconder o caráter insuperável de uma dificuldade, como quando se diz que surgiu "um probleminha". No caso, o senador quer dizer que não está querendo grande coisa, o que talvez não seja verdade (como quando se pede "um favorzinho"), mas louve-se sua sinceridade ao admitir que está pedindo, sim, e que só em troca de um benefício, uma vantagem, uma paga, é que votará com o governo. Chama atenção igualmente a menção aos "franciscanos", e não apenas porque esses religiosos usam chinelinhos, mas porque é uma explícita remissão ao "é dando que se recebe" da oração de São Francisco tão entoada pelo "centrão" em outros momentos do Parlamento brasileiro. Como se vê, aumentativos, como "centrão", e diminutivos, como "chinelinho", convergem para o mesmo leito em que corre o rio da política brasileira.

Metamorfose s.f., ambulante adj. – Modo pelo qual o presidente Lula se definiu ao justificar na semana passada sua mudança de idéia com relação à CPMF – contra quando na oposição, hoje a favor. A expressão, já citada em ocasião anterior pelo presidente, é uma citação do roqueiro Raul Seixas: "Prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo". Equivale a uma versão Lula do "Esqueçam o que escrevi" de seu antecessor. Metamorfoses ambulantes são Lula e também o PT. No caso da CPMF, até se pode considerar que a metamorfose se opera numa manifestação benigna. Mais grave é a metamorfose experimentada por um e outro no departamento da moral e bons costumes políticos.

Renânia nome próprio – Região da Alemanha à margem do Rio Reno. Mas também, na feliz criação do jornalista Melchiades Filho, da Folha de S.Paulo, a terra dos renans, "quer dizer, Brasília". Engana-se quem pensa que Renan Calheiros foi o único absolvido na semana passada. Foi o conjunto de renans (pelo menos 48) que se absolveu a si próprio. Brasília tem nos renans um de seus espécimes mais característicos. No caso Renan Calheiros espelhava-se uma multidão de renans que, não fosse o bafo na nuca soprado pela imprensa e pela opinião pública, teria arremessado o assunto ao arquivo morto já no nascedouro. Assim como Renan Calheiros, mais de vinte outros renans do Senado são proprietários de meios de comunicação, ao contrário do que determina a Constituição. Terminada a votação, os renans, entre os quais aqueles que atendem pelo nome de Barbalho, Lobão ou Jucá (Jucá!), foram comemorar o resultado na residência do senador Sarney. Nada mais justo: a casa pode ser considerada a capital da Renânia, e seu dono, seu santo padroeiro.

"Enfim, um colunista sem estilo" por Diogo Mainardi

Época publicou uma lista das 100 pessoas mais influentes do Brasil. Eu estou lá. Eu e outros 99. Os outros 99 destacaram-se como "exemplos de força moral". Só eu fui eleito por minha perniciosidade. Só eu me notabilizei por infectar meu campo de trabalho. Tornei-me o emblema do que o país tem de pior. O último desqualificado que mereceu um tratamento análogo por parte de Época foi o caseiro Francenildo. Meu sigilo bancário também foi violado?
Na lista de Época, Lula é comparado a Getúlio Vargas, "o brasileiro mais influente da história". Dilma Rousseff é "decidida, racional, entusiasmada, companheira". Época é apartidária: bajula à direita e à esquerda. José Serra aparece como um "dos brasileiros mais preparados da atualidade, técnica e politicamente". Sérgio Cabral "sempre sonhou com um Brasil melhor". José Sarney é nosso "camisa 10". Fernando Henrique Cardoso é festejado pelo "conteúdo social" de seu governo.
Além de mim, mais seis colunistas foram selecionados por Época. Um deles é descrito como espirituoso, cáustico, douto. Outro é virulento, culto, desencantado. De acordo com o perfil que acompanha meu nome, eu sou o contrário disso tudo: deselegante no estilo e descompromissado com os fundamentos do bom jornalismo, tenho "todas as características que deveriam levar-me à irrelevância". Mas estarei "na lista dos jornalistas mais barulhentos e mais comentados do país" enquanto Lula permanecer no poder, por causa daqueles "que simplesmente abominam o governo petista".
O perfil de Lula foi assinado por Fernando Abrucio. O de Sérgio Cabral, por seu pai. O de Abilio Diniz, por sua filha. O de Paulo Coelho, por seu biógrafo Fernando Morais. O de Ivete Sangalo, por Gilberto Gil. O de Oscar Niemeyer, por Lula. As 100 pessoas mais influentes do Brasil foram retratadas por seus familiares ou admiradores. No meu caso, aconteceu algo diferente. Época pediu um artigo a meu respeito a Lucas Mendes, meu colega no Manhattan Connection. O artigo, entregue na data combinada, foi elogiado por quem o encomendou. Na última hora, porém, trocaram-no por outro, anônimo.
Paulo Nogueira, diretor editorial de Época, responsabilizou-se pela lista. Se ele fez o meu perfil, eu também posso fazer o dele. De sua passagem por VEJA, duas décadas atrás, ninguém consegue se lembrar. Sabe-se apenas que, enquanto seus colegas eram promovidos, sua carreira empacava. Hoje em dia, como eu, Paulo Nogueira tem uma coluna. A minha é publicada em VEJA. A dele, na revista Criativa. Uma amostra de seu estilo elegante: "Me pergunto se há coisa mais fascinante para uma mulher do que atrair assovios de homens na rua". Uma amostra de sua sabedoria: "Somos escravos da opinião dos outros. O importante é que você se respeite, não que os outros o respeitem". A coluna de Paulo Nogueira é chamada O Homem Sincero. Apesar de tanta sinceridade, ele esconde seu próprio nome, identificando-se como Fabio Hernandez.
A lista de Época reflete um desejo difuso de ter uma imprensa domesticada, subalterna, colaboracionista. O Homem Sincero corresponde perfeitamente ao papel. Só lhe falta uma coisinha: leitores.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Não, ele não sabia de nada

O governador de Goiás Alcides Rodrigues, o popular Cidinho, criticou o fato de “dezenas e dezenas, centenas e centenas” de servidores ganharem mais do que ele. Não é de hoje que a imprensa mostra as mordomias de alguns servidores. Com certeza não é de hoje que Cidinho sabia disso, afinal, ele era vice de Marconi Perillo e, na campanha eleitoral do ano passado, tanto Cidinho como Marconi diziam que os dois eram responsáveis pelos feitos do Tempo Novo. Se o Tempo Novo produz servidores que ganham muito mais do que o próprio governador a culpa disso é de Cidinho e Marconi. Ou será que você vai acreditar que o governador não sabia de nada? Está comprovada a incompetência da turma do Tempo Novo. Está comprovado que Marconi e Cidinho à frente do governo contratavam e pagavam servidores sem nem verificar se os mesmos compareciam ao local de trabalho e se o vencimento deles era muito acima do normal. A reforma administrativa foi anunciada onze meses depois de Cidinho tomar posse. Neste tempo todo ele não sabia que tinha gente trabalhando no estado ganhando muito mais do que consta no seu contracheque. Na era do lulismo está virando praxe o governante não saber de nada. E eu que pensava que só Sócrates sabia que nada sabia...

E a esquerda é piedosa?

Ainda no Pará. Lula disse que a direita não tem piedade, que ela não quer aprovar a CPMF. Ai, ai, ai. Lula falando que a direita não tem piedade chega a ser uma piada. Vai ver o Apedeutakoba Ambululante acredite que a esquerda é piedosa. Stálin, Mao, Fidel, Che e outros esquerdistas mataram milhões de pessoas “pela revolução”. Isso sim é que é piedade...

Em algum lugar do passado...

Por Maria Lima
No site Globo online do dia 17 de setembro de 2006

BELÉM - Em comício na manhã deste domingo na capital paraense, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT à reeleição, pediu a união de aliados polêmicos para derrotar os tucanos, que chamou de predadores. Ao lado do presidente no palanque, estavam: Jader Barbalho (PMDB-PA), acusado de ter desviado recursos da Sudam, o ex-deputado petista Paulo Rocha, acusado de envolvimento no escândalo do mensalão, o ex-senador Ademir Andrade (PSB-PA), que chegou a ser preso por fraudes em licitações e desvio de recursos, e a candidata petista ao governo do Pará, senadora Ana Júlia Carepa, investigada pela CPI da Pirataria.
Durante o comício, Lula chegou a ir ao encontro de Jader para beijar a mão do cacique e também fez questão de abraçar e beijar Paulo Rocha. No mesmo palanque, também estava José Priante (PMDB), adversário de Ana Júlia ao governo do estado. Os dois tentam levar para o segundo turno a eleição que tem como favorito o tucano Almir Gabriel, ex-governador.
- O que está acontecendo aqui não é um simples comício, é uma aula de pós-graduação de sociologia política, é uma coisa nova. O que estamos fazendo aqui, juntando dois candidatos que vão disputar uma vaga de segundo turno não é velho, é uma coisa muito nova. Tanto o PMDB quanto o PT entenderam que é chegada a hora de a gente parar de brigar entre nós e saber quem é o adversário principal que nós precisamos derrotar - disse Lula, provocando os adversários do PSDB:
- Eu não sou especialista em tucanos. Mas lá na Granja do Torto, onde eu moro, tem um pequeno parque. Lá, de vez em quando um pequeno grupo de tucanos sai do Parque Nacional e pára na Granja do Torto. Sabe para quê? Aquela coisa bonita, porque são bonitos os tucanos. Têm um bico maravilhoso. Mas eles param lá para comer os ovos e os filhotes dos passarinhos nos ninhos. Eles param lá porque são predadores, apesar daquela beleza. E o que fizeram ao Brasil foi exatamente isso. É só vocês olharem o que fizeram em oito anos neste estado e no Brasil. Analisem o resultado, qual foi o tratamento que a população pobre teve. Eles se contentaram em governar o Brasil para 35 milhões.
O candidato tucano a presidente, Geraldo Alckmin, reagiu. Para ele, a declaração demonstra a arrogância de seu adversário.
- Ele está arrogante, subiu no salto número 15, mas tem o risco de quebrar o salto, porque tudo mostra uma mudança em curso. Nós vamos para o segunto turno e o segundo turno é outra eleição. Tenho certeza de que o Brasil não vai ficar quatro anos esperando 2010 para ter governo - disse Alckmin.
Durante o discurso, o presidente acusou ainda o PSDB de mentir para o povo:
- E quando aparecem na TV tagarelando, batendo o bico, o povo diz: peraí: Mentir uma vez tá certo, mentir duas vezes tá certo, mas mentir uma terceira vez nós não vamos acreditar mais. Nós aprendemos a andar com as nossas próprias pernas, a pensar com nosso própria cabeça, a enxergar com nossos próprios olhos. Se querem conquistar o povo, digam a verdade.

Lula e os governos anteriores

Lula esteve ontem no Pará, terra governada por Ana Júlia Carepa, aquela que acha normal uma menina de 15 anos ficar presa na mesma cela com 20 homens. É claro que Lula fez discurso. É claro que foi tudo na base do improviso. Lula criticou os governos anteriores. Ai, ai, ai. Todas as vezes que Lula critica os governos anteriores lá vou eu nos arquivos dos jornais e das revistas para mostrar que muita gente, mas muita gente mesmo, destes tais “governos anteriores” criticados por Lula é aliada dele. Vamos ficar restritos apenas no Pará. Jader Barbalho é o lendário cacique paraense, dono de um currículo político que inclui, dentre outras coisas, desvio de verbas da Sudam. Na época em que era da oposição, Lula descia o cacete contra Jader. Mas o mundo dá voltas. O Lula “metamorfose ambulante” beijou a mão do ladrão da Sudam durante a campanha eleitoral do ano passado. Isso mesmo! No post acima deste coloco uma reportagem que saiu no site Globo online e que mostra Lula sempre tento ao lado e sempre sendo aplaudido por caciques que estavam ao lado e sempre aplaudiam os governos anteriores atacados por ele.

'Plano B' de Chávez é ilegal, acusa opositor

Por Ruth Costas
no Estado de São Paulo

A oposição venezuelana qualificou de “inconstitucional” a promessa do presidente Hugo Chávez de tentar aprovar a reforma da Constituição novamente, recolhendo assinaturas de milhares de venezuelanos. “Isso é só uma bravata, porque o presidente está aturdido com o resultado (do referendo)”, disse o governador do Estado de Zulia, Manuel Rosales, candidato derrotado por Chávez nas eleições de 2006. Para ele, uma nova investida do presidente “violaria a Constituição”. “Chávez pode até insistir, mas terá de buscar o projeto de reforma no lixo, onde ele foi atirado pelo povo”.A proposta do presidente para Carta de 1999 foi rejeitada no domingo, num referendo na qual o “não” obteve 50,7%. Ela incluía o fim do limite para as reeleições e a criação de novas formas de propriedade além da privada (como a comunitária). Anteontem, Chávez disse que o triunfo da oposição era “uma vitória de merda” e prometeu buscar assinaturas para voltar a colocar em pauta o projeto. Pela lei venezuelana, a Carta pode ser reformada por iniciativa da Assembléia Nacional, do presidente ou de ao menos 15% dos eleitores - 2,4 milhões de pessoas. O argumento de Chávez é que, se ele conseguir esse número de assinaturas, poderá reapresentar o projeto. A oposição, porém, diz que isso não é possível porque a Carta vigente estabelece que “a reforma não aprovada não poderá ser reapresentada no mesmo período constitucional”. O argumento é confirmado por especialistas, mas Rosales alertou para a possibilidade de o Supremo Tribunal de Justiça (STJ), formado por chavistas, fazer uma interpretação do artigo que o invalide.“Legalmente, Chávez tem apenas três opções”, disse ao Estado o cientista político Herbert Koeneke, da Universidade Simón Bolívar. A primeira seria fazer mudanças como a redução da jornada de trabalho para 6 horas por meio da lei habilitante, que permite ao presidente legislar por decreto em algumas áreas. Para tentar aprovar a reeleição ilimitada, Chávez poderia fazer uma emenda no artigo sobre o tema. “Isso seria contestado no STJ, mas a corte decidiria em favor do presidente”, diz Koeneke. A terceira opção seria convocar uma Assembléia Constituinte, mas aí haveria o risco de a oposição obter uma representação maciça.Num comício, Chávez acusou ontem seus seguidores de serem “frouxos e irresponsáveis”, por não terem votado no referendo. “Vocês têm uma dívida comigo”, disse. “Para mim não tem desculpa. Uma boa parte (dos simpatizantes do governo) não foi votar. Falta consciência, falta coragem.” O presidente atribuiu a derrota a uma conspiração dos EUA. Ele afirmou que governará até 2013, quando termina seu mandato. “Como não se aprovou a reforma terei de ir embora em 2013, mas trabalharei sem descanso até o último dia”, disse. Ainda ontem, o vice-chanceler, Vladimir Vllegas, se demitiu alegando que Chávez não ouve quem está à sua volta. O ex-ministro da Defesa, Raúl Baduel, advertiu o presidente a não “julgar-se Deus”.

'Direita não tem piedade', ataca Lula

Por Ricardo Brant
no Estado de São Paulo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a atacar ontem os senadores da oposição que ameaçam votar contra a emenda que prorroga a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) até 2011. Ele afirmou que “a direita não tem piedade” e avisou que vai cobrar dos governadores, caso a contribuição não seja aprovada, que apontem à população quem foram os senadores que votaram contra.“Já apanhei o que tinha de apanhar, porque a direita não é mole”, disse o presidente durante discurso na cidade de Breves, na Ilha de Marajó (PA). “Vocês pensam que a direita é como a esquerda? Não. A esquerda faz um discurso aqui e vai embora. A esquerda é cheia de moralismo. Não pode falar da família, não pode atacar, não pode fazer isso. A direita não tem piedade.”A cidade, de 95 mil habitantes, parou por causa da visita do presidente. O prefeito decretou feriado e mais de 5 mil pessoas foram até a Avenida Rio Branco ver Lula anunciar um programa de registro civil e concessão de terras para povos ribeirinhos.No palanque, ao lado da governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), Lula disse que os R$ 40 bilhões anuais da CPMF são imprescindíveis para a saúde e para programas sociais, como o Bolsa-Família. “Eles estão lá dizendo que vão votar contra (a CPMF), achando que vão me prejudicar. Mas aqui, Ana Júlia, se eles votarem contra, temos de ir para cada casa mostrar quem é o senador responsável por deixar as pessoas sem os benefícios desses programas.”Lula voltou a dizer que a mobilização contra a CPMF “é a campanha daqueles que gostam de sonegar”. E que os senadores, se “tiverem juízo”, vão aprovar a prorrogação. O presidente ressaltou que, caso a contribuição seja rejeitada, apenas o Pará deve perder R$ 1 bilhão em investimentos na área social.“Se aprovarem, podem dizer para o povo que graças a eles (aos senadores) a gente aprovou recursos para ajudar os pobres deste país. Porque se fosse para ajudar os ricos, ninguém votaria contra”, afirmou Lula. “Porque cada centavo que a gente quer para favorecer os pobres é uma guerra.”
HOSPITAL
Após a entrega dos termos de posse aos povos ribeirinhos e o lançamento do plano de registro civil pela manhã, na Ilha de Marajó, Lula seguiu para Belém, onde esteve na inauguração do Centro Ambulatorial de Reabilitação Infantil da Rede Sarah de Hospitais. É a nona unidade de hospitais federais, com investimentos de R$ 16 milhões. Após a inauguração, o presidente participou do encerramento do Encontro de Governadores da Frente Norte do Mercosul.

Planalto e base articulam para Sarney presidir Senado

Por Silvio Navarro e Valdo Cruz
na Folha de São Paulo

Com cinco candidatos do PMDB disputando a indicação para a presidência do Senado, a base do governo e o Palácio do Planalto intensificaram ontem a pressão para tentar interferir na disputa da bancada e conduzir o senador José Sarney (PMDB-AP) ao cargo. A eleição do sucessor de Renan Calheiros (PMDB-AL), que renunciou ao cargo, está marcada para a próxima quarta-feira, um dia depois da provável votação da emenda que prorroga a CPMF no plenário. Apesar de o senador seguir negando que será candidato, aliados de Sarney admitiram que a pressão aumentou muito e que, se o ex-presidente for um nome de consenso, dificilmente ele terá como recusar. Caso se mantenha irredutível, o governo acredita que o sucessor de Renan será o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN). "É bondade das pessoas, já estou com 78 anos e quero reservar meus últimos anos para terminar minhas memórias", disse Sarney, que já presidiu a Casa de 1995 a 1997 e de 2003 a 2005. Ele também se esquivou quando foi questionado se recusaria a atender a um apelo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que assumisse o posto: "Ele não vai me pedir porque não se pode pedir uma coisa que não se pode dar".
Apelo de Lula
Reservadamente, aliados do senador ainda apostam que a recusa não é definitiva e que ele poderia mudar de idéia se houvesse um apelo de Lula. Anteontem, o presidente já ensaiou fazer esse pedido a Sarney. Durante reunião com peemedebistas no Planalto, ao tratarem da sucessão no Senado, o presidente disse que o senador do Amapá tem credibilidade para assumir qualquer cargo. "O presidente Sarney optou por não disputar, mas pode ser que mude, pode ser que haja convencimento", afirmou o líder do PMDB, Valdir Raupp (RO). "Ele é o melhor nome e pode ajudar a acalmar a disputa na bancada do PMDB", disse o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Nos bastidores, peemedebistas dizem que a proliferação de candidatos tem a digital de Sarney. Ao estimular múltiplas candidaturas, estaria vislumbrando que seria "convocado" para ser o nome de consenso. Oficialmente, concorrem ao posto cinco peemedebistas: Garibaldi Alves (RN), Leomar Quintanilha (TO), Valter Pereira (MS), Neuto de Conto (SC) e Pedro Simon (RS). A articulação para tentar "convencer" Sarney a aceitar a cadeira da presidência foi traçada na noite de anteontem, em reunião no Planalto com a presença de Lula. Participaram o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), os senadores Roseana Sarney (PMDB-MA) e Valdir Raupp (RO) e o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). Outro fator que ampliou a pressão para que ele concorra foi o lançamento da candidatura de Pedro Simon com o apoio de 27 senadores da Casa. Líderes do governo prevêem que isso pode tumultuar a sucessão. O presidente Lula chegou a Macapá (AP) por volta das 21h de ontem (22h no horário de Brasília) e, segundo a Folha apurou, jantou com Sarney na residência oficial do governador do Estado, Waldez Góes (PDT). As informações iniciais eram que ele e a primeira-dama, Marisa, iriam para o hotel. Também foram convidados a primeira-dama do Estado, Marília Góes, o vice-governador, Pedro Paulo, o prefeito de Macapá, João Henrique Pimentel (PT) e deputados estaduais e federais.

Com só 46 votos pró-CPMF, governo faz cerco a "rebeldes"

Por Valdo Cruz e Silvio Navarro
na Folha de São Paulo

Para evitar uma derrota, o governo adiou de ontem para a próxima terça-feira a votação da CPMF em primeiro turno no Senado. Com no máximo 46 votos garantidos, o Palácio do Planalto decidiu partir para o tudo ou nada com os aliados rebeldes, buscando atender seus pedidos de cargos e verbas.Além disso, aposta que o adiamento dará tempo aos governadores tucanos para virar votos dentro do PSDB.Um líder governista disse à Folha, sob condição de anonimato, que o Planalto decidiu abrir sua "caixa de ferramentas" nessa reta final.O governo quer colocar a CPMF em votação quando tiver 49 votos da base aliada assegurados, o número mínimo para aprovar a prorrogação do tributo até 2011. No entanto, precisa convencer mais três rebeldes: Romeu Tuma (PTB-SP), César Borges (PR-BA) e Geraldo Mesquita (PMDB-AC). O voto de Expedito Jr. (PR-RR) já estaria garantido com o atendimento de pleitos do senador em seu Estado.Segundo a Folha apurou, o senador conseguiu a promessa do governo de ceder uma área do Exército em que o governador de Rondônia, Ivo Cassol (sem partido), estava construindo o Teatro Estadual, em Porto Velho. Outros terrenos de propriedade federal também poderão ser repassados ao Estado. Aliado do governador, Expedito pretende tentar suceder Cassol em 2010.Além de 49 votos da base, o governo busca 4 votos de democratas e 3 de tucanos. Ontem, parte da bancada do PSDB reuniu-se reservadamente para tratar da pressão dos governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), que têm procurado os senadores do partido para pedir apoio ao governo.Líder da sigla, Arthur Virgílio (AM) ameaçou deixar o cargo se o partido votar dividido. Ao menos três senadores do PSDB estariam dispostos a prorrogar a CPMF: Lúcia Vânia (GO), Eduardo Azeredo (MG) e Cícero Lucena (PB). "Nunca escondi que sou favorável à prorrogação, com redução gradual da alíquota, mas fui voto vencido", disse Lúcia.O governo espera contar com o apoio dos governadores José Roberto Arruda (DEM-DF) e Blairo Maggi (PR-MT) para fazer os senadores do Democratas Adelmir Santana (DF), Jayme Campos e Jonas Pinheiro (ambos do MT) votarem a favor da CPMF. A Folha apurou que Maggi disse ao ministro Guido Mantega, ontem na Fazenda, que Campos e Pinheiro vão votar a favor do tributo.Ainda confiante na vitória, o presidente Lula prepara, porém, um discurso responsabilizando a oposição por uma eventual derrota na votação.Ontem, ele deu sinais do que pretende dizer, em Belém: "Se eles [senadores] votarem contra têm que ir para cada casa e mostrar quem é o senador responsável por deixar milhões de pessoas sem os benefícios desse programa [Bolsa Família]".Segundo o presidente, "alguma coisa vai deixar de ser feita no país" caso a prorrogação do chamado imposto do cheque seja derrubada.

Polícia prende 40 e aponta desvio de R$ 200 mi em AL

Por Luiz Francisco, Cíntia Acayaba e Leonardo Souza
na Folha de São Paulo

A Polícia Federal prendeu ontem ao menos 40 pessoas ligadas a um suposto esquema de fraudes na folha de pagamentos da Assembléia Legislativa de Alagoas. Entre os detidos estão o ex-presidente da Casa Celso Luís (PMN), o deputado estadual Cícero Ferro (PMN), um prefeito e servidores. O ex-governador do Estado Manoel Gomes de Barros, que estava entre os presos, foi libertado na noite de ontem, beneficiado por um habeas corpus.Estima-se que o grupo tenha desviado R$ 200 milhões de 2001 a 2006. Segundo a PF, o desvio mensal era de cerca de R$ 4 milhões -metade do orçamento da Assembléia.A suposta quadrilha, sempre segundo a PF, empregou 200 funcionários fantasmas e laranjas na Assembléia. Além disso, desviou o IR (Imposto de Renda) que deveria ser descontado no pagamento desses servidores irregulares.O grupo também inflava o valor do imposto acima do que seria correto recolher e repassar ao Fisco. A PF estima que a Receita tenha pago R$ 2 milhões somente em restituições fraudadas. Outro modo de atuação era a obtenção de empréstimos consignados sobre a folha de pagamento da Casa.O ex-governador Barros (1997-1999, pelo PTB), pai do deputado estadual Nelito Gomes (PMN), e o deputado Ferro foram presos em flagrante por porte ilegal de arma. Na casa de Ferro foram encontradas uma metralhadora, uma espingarda calibre 12, duas pistolas e um revólver -todas de uso restrito.Também foram detidos o ex-comandante da PM José Acírio Nascimento e Rafael Albuquerque, irmão do presidente da Assembléia, Antonio Albuquerque (DEM). A fazenda de Antonio Albuquerque, que é aliado do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), foi alvo de busca e apreensão -duas armas foram recolhidas. O prefeito de Roteiro, Flávio Jatobá (PTB), e um agente da PF suspeito de vazar dados para a suposta quadrilha também foram presos.
Cerco
A Assembléia, que funciona provisoriamente na Associação Comercial de Maceió por causa de uma reforma, amanheceu cercada por policiais. Assessores e secretárias foram presos.A operação, batizada de Taturana, cumpriu 79 mandados de busca e apreensão e 40 de prisão em oito cidades de Alagoas, Pernambuco e São Paulo. O nome é alusão à lagarta que come folhas continuamente.A suposta fraude começou a ser apurada há um ano e seis meses, a partir de reclamações de pessoas que não conseguiam fazer a declaração como isentas por aparecer na Receita como funcionárias da Assembléia.O delegado Janderlyer Gomes, que chefiou a operação, disse que os 27 deputados alagoanos podem ter até 25 funcionários. Para atingir o número, alguns são suspeitos de preencher vagas com funcionários fantasmas, que receberiam de R$ 500 a R$ 5.000.O delegado disse que houve busca e apreensão no gabinete e nas casas de dez deputados estaduais, incluindo Ferro, e nas dos demais envolvidos. Ferro foi o único deputado preso, por causa do flagrante de porte ilegal de arma.Os outros nove deputados foram intimados ontem a depor. Os integrantes do esquema serão indiciados sob suspeita de estelionato, crime contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro, peculato, corrupção passiva e formação de quadrilha.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

George Harrison, como sempre, sabe o que diz

Em 1966 os Beatles entraram no lendário estúdio Abbey Road para grava o álbum "Revolver". A música que abre o álbum é de George Harrison. Pela primeira vez John Lennon e Paul MacCartney deixaram George colocar uma música sua como abertura de um álbum. A música chama-se "Taxman". É uma crítica que George faz aos impostos cobrados em excesso. Como sempre, George sabe o que diz. Ouça-a se tiver oportunidade. Coloco aqui a letra, principalmente agora que o "Taxman" do Planalto quer prorrogar a CPMF.
Let me tell you
How it will be.
There's one for you,
Nineteen for me,
'Cause I'm the taxman.
Yeah, I'm the taxman.
Should five percent
Appear too small,
Be thankful I don't
Take it all.
'Cause I'm the taxman.
Yeah, I'm the taxman.
If you drive a car,
I'll tax the street.
If you drive to city,
I'll tax your seat.
If you get too cold,
I'll tax the heat.
If you take a walk,
I'll tax your feet.
Taxman!
'Cause I'm the taxman.
Yeah, I'm the taxman.
Don't ask me what I want it for,
(Uh-uh, Mr. Wilson.)
If you don't want to pay some more.
(Uh-uh, Mr. Heath.)
'Cause I'm the taxman.
Yeah, I'm the taxman.
And my advice to
Those who die.
(Taxman!)
Declare the pennies
On your eyes.
(Taxman!)
'Cause I'm the taxman.
Yeah, I'm the taxman,
And you're working for no one but me.
(Taxman!)

Aos arquivos

Vou pesquisar nos arquivos dos jornais e das revistas que tenho acesso para saber se, no passado não muito distante, o Conselho de Ética do Senado arquivava os processos contra os senadores sem nenhuma investigação aprofundada. Digo isso porque ontem o conselho arquivou os outros dois processos contra Renan Canalheiros. Não vi Renan prestar depoimento ao lado de Mônica Veloso e do lobista pagador de pensão. Não vi Renan dar explicações sobre o uso de laranjas para comprar emissoras de rádio em Alagoas contraponto frente a frente o seu ex-aliado e atual acusador João Lira. Vamos aos arquivos!

Eles são assim...

Editorial do Estado de São Paulo

Homens de palavra, poderia se dizer, à primeira vista, desses senadores da República que, protegidos, embora, pelo voto secreto, ajudaram a absolver o já não mais presidente da Casa Renan Calheiros, cumprindo o despudorado acordo segundo o qual ele entregaria os anéis para salvar os dedos - o mandato do qual o Conselho de Ética do mesmo Senado duas vezes tentou despojá-lo por afronta ao decoro parlamentar. Mas nem essa variante perversa de cumprimento de um compromisso de honra foi o que de fato ocorreu quando 48 dos pares do ladino cacique alagoano preservaram a sua cadeira e os seus direitos políticos, ante 29 outros que, mal ou bem, ainda prezam a moralidade pública. Três socorreram Calheiros se abstendo. Na origem dos votos que o deixaram ''''de alma lavada'''' - conforme as suas palavras, em seguida à decisão que só não decepcionou os brasileiros porque de há muito não esperam nada melhor dos seus legisladores - estavam os próprios interesses dos integrantes desse simulacro de tribunal político.De um lado, entre os governistas, o pacto foi obedecido como manda o figurino para não aumentar o já robusto perigo de rejeição da emenda constitucional que prorroga a CPMF até 2011. Como foi noticiado à exaustão semanas a fio, se Calheiros fosse cassado, a vingança dos seus companheiros de PMDB que lhe são leais (em alguns casos, melhor não perguntar por que) poderia ser terrível - para o Planalto. Numa questão vital para o presidente Lula, em que cada voto conta, compreende-se a aflição que o levou a apoiar o esquema de resgate do aliado - que não teria condições de prosperar se ele não renunciasse ao comando do Senado. Renunciasse previamente, bem entendido. Foi o que ele prometeu que faria se o poupassem no primeiro julgamento, em setembro, pela acusação, com que tudo começou, de que um lobista pagava as suas despesas extramatrimoniais, presumivelmente com dinheiro da empreiteira para a qual trabalha. Absolvido por 40 votos mais 6 abstenções, esqueceu-se da promessa.De outro lado, e não só entre governistas, o combinado foi cumprido porque muitos sabiam que não poderiam atirar a primeira pedra. Afinal, o segundo processo a chegar ao plenário expôs Calheiros como sócio oculto na compra de duas emissoras de rádio e de um jornal em Alagoas. A acusação - do seu antigo parceiro, o ''''coronel'''' João Lyra - era tecnicamente mais forte que a anterior. Nessa não ficou esclarecida a procedência do dinheiro com que o lobista pagava à ex-amante do amigo. Agora, além desse testemunho pessoal e da identificação dos laranjas atrás dos quais Calheiros se escondeu, a ofensa ao decoro parlamentar envolvia um ilícito até mais sério - a Constituição proíbe que detentores de mandatos eletivos sejam concessionários de serviços públicos, como os de comunicação eletrônica. Mas aí é que está a encrenca: este jornal revelou recentemente que pelo menos 23 senadores estão no negócio de rádio e TV. Seria o caso também do possível sucessor de Calheiros, Garibaldi Alves (PMDB-RN).Quantos outros ele poderia entregar se fosse ''''condenado à morte'''', com a privação dos direitos políticos até a eleição de 2022? Daí, a sessão de anteontem do Senado ter sido o que dela disse o gaúcho Pedro Simon: ''''Isso aqui não parece julgamento. Está todo mundo falando de tudo, menos apresentando acusação e defesa.'''' Pois claro. Não estava na ordem do dia absolver ou condenar um réu, mas descriminalizar a sua conduta. Senador que possui rádios, TV e jornal não quebra decoro.Os seus colegas só faltaram reprisar a constrangedora fila de cumprimentos que formaram depois que, da cadeira de presidente, ele jurou inocência pela primeira vez, já lá se vão intermináveis seis meses. Muitos desses colegas jamais serão conhecidos. Na véspera da decisão, o interino Tião Viana advertiu que, ao contrário da posse de rádios, TVs e jornais, revelar o voto em votações secretas é quebra de decoro. Consumado o vexame, Calheiros e os seus amigos, que não se escondem, reunidos na casa do soba José Sarney, patrono do arranjo, debochavam, às gargalhadas, do relator Jefferson Péres, que pedira a cassação. Eles não debochavam da pessoa do senador. Debochavam dos seus princípios éticos e debochavam, principalmente, dos eleitores que os mandaram para o Senado.Eles são assim - debochados.

Planalto faz contas, teme derrota e decide adiar votação da CPMF

Por João Domingos, Marcelo de Moraes, Lu Aiko e Adriana Fernandes
no Estado de São Paulo

Diante da constatação de que ainda não tem os votos suficientes para aprovar no Senado a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) até 2011, o Palácio do Planalto acionou ontem seus operadores políticos na Casa a fim de adiar a sessão de votação, que poderia ocorrer hoje, para a semana que vem. Nas contas dos governistas, há 47 votos a favor da prorrogação entre os 81 senadores - mas são necessários pelo menos 49. Ministros envolvidos na negociação e o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiram a governadores e senadores com os quais conversaram nos últimos dias que, se não conseguirem reverter a posição de alguns parlamentares de partidos aliados e conquistar pelo menos dois ou três votos na oposição, o governo será derrotado.De acordo com o relato de um governador e de um senador, o Planalto mostra sinais de desespero. E, no cenário de rejeição da CPMF, vê ameaça à avaliação do País nas agências internacionais de risco e ao próprio índice do risco Brasil, que tem andado abaixo dos 250 pontos - ontem estava em 226. É com base nesses argumentos que o governo ainda busca reverter, até terça-feira, uma situação que parece perdida.O apelo é dirigido aos aliados, mas chegou também ao PSDB e ao DEM. "O governo confia no civismo e na sensibilidade do PSDB", declarou o senador Jefferson Péres (AM), líder do PDT, que ontem conversou com Mantega e garantiu o voto do senador Osmar Dias (PR), que estava relutante."O governo atendeu a tudo que o PDT pediu", disse Péres. "Haverá mais verba para a educação e um redutor de despesas de custeio, e a alíquota será reduzida ano a ano."
IMPREVISÍVEL
O líder do PDT acha que o País precisa do imposto e avalia que a eventual rejeição da CPMF terá efeitos imprevisíveis. "Fico pensando na manchete dos jornais do dia seguinte: ?Governo perde e CPMF cai.? Olha o impacto disso, olha o estrago que será feito."Nas conversas de Lula e dos ministros com senadores e governadores, foi feita uma avaliação de que houve erro grosseiro na condução das negociações sobre o imposto do cheque. O governo, enfim, concluiu que demorou demais para iniciar as conversações tanto com os aliados quanto com os partidos de oposição. Com base nesse panorama, pondera que isso pode ter sido fatal, porque o tempo foi diminuindo e deixou o governo encurralado."Vamos votar na terça-feira", disse o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). "Ou votamos agora ou a CPMF cai por decurso de prazo. Não há mais tempo para nada." A Constituição prevê que o imposto será cobrado até 31 de dezembro. Se não for confirmada a prorrogação pelo Senado, será extinto a partir do dia 1º de janeiro. Com isso, o governo Lula deixará de arrecadar cerca de R$ 40 bilhões por ano."Ainda confiamos na aprovação da CPMF. Vamos continuar lutando", disse Jucá. Para o líder, o movimento contrário à prorrogação do imposto pode ser comparado a uma "marcha da insensatez".
SINAL DE FRAQUEZA
Os partidos de oposição, contrários à prorrogação do tributo, acham que o governo não tem votos suficientes para aprovar o projeto. Por isso, insistem em votar hoje a emenda constitucional. "Estão dando um claro sinal de fraqueza. Blefam. Querem é aproveitar o fim de semana", provocou ontem o líder do DEM, José Agripino Maia (RN).Jucá garantiu, no entanto, que a falta de quórum deverá adiar a decisão para terça-feira. Significa que, sem a garantia dos votos, o governo deverá obstruir a sessão, de forma a ganhar o fim de semana, como previu Agripino.

Oposição teve "vitória de merda", afirma Chávez

Por Fabiano Maisonnave
na Folha de São Paulo

Ao lado do alto comando militar da Venezuela, o presidente do país, Hugo Chávez, tachou ontem de "vitória de merda" o triunfo da oposição no domingo e disse que sua proposta de reforma constitucional deverá passar por um novo referendo."Deixem quieto a quem está quieto. Saibam administrar sua vitória, mas já a estão enchendo de merda, é uma vitória de merda. E a nossa -chamem-na de derrota, chamem-na- é de valor, é de dignidade. O império golpeia. Não movemos um milímetro. Bom, não moveremos, vamos para a frente", disse Chávez, que apareceu de surpresa numa entrevista coletiva do ministro da Defesa, Gustavo Rangel Briceño, concedida no Palácio Miraflores.O presidente venezuelano voltou a deixar claro que a reforma constitucional será reapresentada e sugeriu que será por meio de coleta de assinaturas. Dirigindo-se à oposição, falou: "Haverá uma nova ofensiva com a proposta da reforma. Essa ou transformada ou simplificada, mas estou seguro (...) O povo sabe: se recolherem assinaturas, podem submeter ao referendo de novo".Pelo artigo 342 da Constituição, um projeto de reforma constitucional pode ser apresentado por um mínimo de 5% dos eleitores inscritos. As outras formas de apresentar são por meio do Executivo -já utilizado por Chávez- ou do Legislativo. Depois, a proposta é submetida a referendo.Chávez levantou até a hipótese de não ter perdido a votação no domingo, apesar de o Conselho Nacional Eleitoral ter dito que o resultado da apuração, ainda não totalmente concluída, é irreversível."Não é que não conseguimos [a vitória], porque, se terminassem de contar (...) essa diferença poderia ser zero."Numa metáfora do beisebol, ele se comparou a um rebatedor que deixou a primeira bola passar para esperar as próximas duas chances.
Plano desestabilizador
Outra revelação de Chávez foi que, na noite do referendo, mobilizou tropas para tomar de assalto as sedes do governo de Zulia (oeste) e Sucre (leste), ambos sob comando oposicionista. Ele disse que também estava preparado para cortar o sinal da emissora oposicionista Globovisión caso um suposto "plano desestabilizador" fosse colocado em marcha.De forma parecida com o das recentes crises diplomáticas com a Colômbia e a Espanha, as duras declarações de Chávez ontem foram precedidas de um tom mais ameno, quando reconheceu a derrota na madrugada de segunda.Chávez interrompeu uma confusa entrevista coletiva do general Rangel Briceño, convocada para desmentir versões não confirmadas de que o presidente venezuelano foi obrigado a aceitar a derrota (veja texto nesta página) pelo comando das Forças Armadas.Ao elogiar a atuação das Forças Armadas, o substituto do general dissidente Raúl Isaías Baduel disse "os felicito, os quero, sou e me sinto parte de vocês, sou capaz de sentar-me na calçada para comer uma manga com um soldado".A reforma constitucional de Chávez, que prevê a reeleição indefinida para presidente, foi derrotada por 50,7% dos votos válidos, contra 49,3% dos que a apoiaram. A votação, marcada pela alta abstenção entre os chavistas, foi a primeira derrota nas urnas do presidente venezuelano em nove anos.Chávez anunciou também ações legais para ver a sua filha mais nova, Rosinés, de nove anos. No domingo, a menina apareceu ao lado da ex-mulher María Isabel Rodríguez, que fez campanha pelo "não" e diz que está sendo ameaçada por setores ligados ao governo."Colocam a minha filha agora no centro do furacão, e isso me dói muito. Já quase não posso ver a Rosinés (...) vou ter de recorrer ao direito, ela tem um pai, um pai", afirmou.

Manipulação de números dá aparência de megapacote

Por Ângela Pinho e Gustavo Patu
na Folha de São Paulo

Anunciado para 20 governadores e 18 ministros, entre outras autoridades, o PAC da Saúde é um plano de R$ 4,7 bilhões anuais que, graças a uma manipulação de números e palavras, ganhou a aparência de um megapacote de R$ 88,6 bilhões a serem gastos até 2011.O próprio material de divulgação do novo PAC dá pistas de que o grandiloqüente valor total merece ressalvas: ele é dividido em R$ 64,6 bilhões "assegurados" e R$ 24 bilhões de "expansão", indicando que a primeira parcela não é novidade e a segunda não está garantida. Mas, além disso, os dois números também são enganosos.Os recursos dados como assegurados, segundo a explicação do governo, estão previstos no PPA (Plano Plurianual, que orienta a elaboração de Orçamentos anuais) para o período 2008-2011. Enviado ao Congresso em agosto, o PPA fez a previsão de verbas para a saúde a partir da regra constitucional que prevê aumento de recursos conforme a variação do PIB (Produto Interno Bruto).Em outras palavras, o dinheiro previsto já seria obrigatoriamente gasto em saúde. Ao todo, o PPA destina R$ 217,9 bilhões ao setor, mas nem o Ministério da Saúde, procurado pela Folha, sabia explicar como chegou ao valor anunciado -se é, por exemplo, uma seleção de programas incluídos no PPA ou a diferença nominal em relação ao volume gasto nos quatro anos anteriores.Os recursos restantes decorrem de um acordo com o Congresso para a elevação da receita da CPMF destinada à saúde, na hipótese de ser aprovada a prorrogação do tributo. O valor anunciado, porém, inclui o efeito da inflação e do crescimento da economia esperados para os próximos quatro anos.
Dinheiro novo
Em valores atuais, o dinheiro novo e ainda incerto destinado à saúde cai para R$ 18,8 bilhões, o que, na média anual, significa um acréscimo pouco superior a 10% no atual orçamento da saúde -e 0,8% da arrecadação total da União.O ministro José Gomes Temporão (Saúde) minimizou o fato de o plano ter sido anunciado sem que esses recursos estejam garantidos. "É evidente que, se a CPMF não for prorrogada, a emenda 29 [que garante recursos à saúde] cai e os R$ 24 bilhões vão ter que ser rediscutidos", disse. "É evidente que [se a prorrogação não for aprovada] eu, como ministro, vou defender que esses recursos venham de outras fontes."Ainda assim, ele afirmou que "todos" sabem que "a maneira mais eficaz, mais clara, mais republicana e mais voltada aos interesses do povo brasileiro é a prorrogação da emenda 29 e, conseqüentemente, da CPMF."

Governo transforma PAC da Saúde em ato pró-CPMF

Por Letícia Sander, Felipe Seligman e Ângela Pinho
na Folha de São Paulo

O governo promoveu ontem um grande ato pró-CPMF no Palácio do Planalto durante o lançamento do PAC da Saúde, conjunto de ações para o setor que, conforme anunciado, prevê gasto até 2011 de R$ 89 bilhões, recursos que o governo ainda não tem garantidos.Vinte governadores, sendo três deles do PSDB, 18 ministros e o idealizador do imposto do cheque, o médico Adib Jatene, estavam presentes no ato, que lotou o salão nobre no Planalto. Segundo o governo, 40% dos R$ 40 bilhões arrecadados anualmente com a CPMF vão para a saúde. A prorrogação do imposto deverá ser votada até a próxima semana no Senado e o Planalto ainda não tem os votos necessários para aprová-la.Em seu discurso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um mea-culpa pelo fato de ter sido um crítico ferrenho da CPMF até entrar no governo -"quantas críticas injustas eu fiz". Afirmou que prefere ser considerado uma "metamorfose ambulante" e disse não ter vergonha de mudar.Ele comparou o comportamento do opositor com o de um filho. "Vocês só vão aprender o que é ser pai quando virarem um pai. Enquanto são filhos, vocês são oposição."O presidente também amenizou o tom ácido contra o DEM. Disse ter ouvido que a imprensa esperava um "discurso violento", mas argumentou: "Aos 62 anos, eu não tenho mais tempo de ser violento."Lula também adotou um tom de cautela em relação a desonerações, mais um recado às cobranças da oposição. "Se o Estado tem um pouquinho mais de arrecadação e, por conta dessa arrecadação, o Estado pode fazer um pouco mais, aparecem os amigos do rei para tentar falar: "Desonera". Cada vez que você desonera, e é importante a gente ir desonerando, você vai diminuindo a cota pessoal de cada um e aumentando a base da pirâmide, é correto isso, mas é importante lembrar que aparece o déficit da Previdência, aparece a falta de recurso para outra área em que nós precisamos investir."Lula lembrou que os que utilizam os hospitais mais sofisticados do país depois deduzem do Imposto de Renda o que eles pagaram do plano de saúde. "E termina sendo o Estado brasileiro que devolve para ele o que não devolve para os companheiros mais pobres. Esse é o dado verdadeiro", afirmou.O presidente ainda disse que a eventual derrota da CPMF não é uma vitória contra ele, já que faz parte da parcela da população que paga caro um plano de saúde e deduz grande parte do que paga no imposto de renda. "Quem será o prejudicado com isso, na verdade? Não é quem mora em um apartamento de cobertura em Recife, Eduardo Campos? É quem mora em Casa Amarela, é quem mora nos grotões deste País, que tem o SUS como única possibilidade de ter acesso a um hospital". No fim, pediu "juízo" a todos para que não "atrapalhem o que levou mais de três décadas para conquistar".
Choro
Convidado a dividir o palco com as autoridades do governo, Jatene, ex-ministro na gestão FHC, emocionou-se e chegou a chorar enquanto discursava. Foi muito aplaudido ao dizer que o governo fica na contingência de arrecadar muito de quem ganha pouco e arrecadar pouco de quem ganha muito. "Os amigos do rei não gostam de pagar. Nunca pagaram. Têm que pagar", afirmou.Relembrou que, quando no governo, discutia com o ex-ministro Pedro Malan que o titular da Fazenda, quando vai a São Paulo, vai às federações da indústria e dos bancos e passa ao largo da periferia. "O pessoal da Saúde lida com a pobreza e não aceita a limitação que a área econômica impõe à saúde", completou, aplaudido.O ministro José Gomes Temporão (Saúde) apresentou o PAC e evitou entrar diretamente na polêmica da CPMF. Os presidentes da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e do Senado, Tião Viana (PT-AC), também apelaram pela aprovação do imposto. Viana sugeriu que o imposto passe a se chamar "Lei Adib Jatene".

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

"Missão dada é missão cumprida"

Pronto! Os petistas podem colocar uma faixa no plenário do Senado com os seguintes dizeres: MISSÃO CUMPRIDA. Eles conseguiram enterrar as denúncias contra Renan Canalheiros. Eles fizeram de tudo e mais um pouco para que o Rei do Gado fosse absolvido. Para tanto fizeram um acordo com ele: renuncia a presidência e mantém o mandato. Dito e feito. Renan foi absolvido mais uma vez e não abunda mais a cadeira da Presidência do Senado.
Aproveitando a zona que se tornou o Senado, o presidente do Conselho de Ética Leomar Quintanilha (PMDB – AL) mandou para a gaveta os quarto e quinto processos contra Renan Canalheiros. Isso mesmo. Foi uma operação “Dois em Um”. Dois processos arquivados em apenas um dia. Que ética! Que beleza! Capitão Nascimento aplaude os senadores, afinal, “missão dada é missão cumprida”.

E nós queremos sediar a Copa



A foto acima está na capa do jornal O Popular de hoje. Os créditos são de Cristiano Borges. Sabe o que é (ou era) este amontoado de terra? O Estádio Olímpico, o primeiro a ser construído na capital goiana. Ao lado está o esqueleto do Centro de Excelência em Esportes. Para a construção de tal complexo esportivo, nossos governantes acharam por bem demolir o antigo Estádio Olímpico. O moderno tem que substituir o antigo, não é mesmo? No lugar do antigo estádio seria construído uma moderna arena, complementando assim o complexo que inspirava discursos acalorados de políticos contrários ao atraso. Segundo a reportagem do jornal, o complexo começou a ser construído em 2001. Desde então foram prometidos dias e horas para a inauguração. Nada disso foi feito. Tudo o que foi prometido não foi cumprido. Prometeram entregar o complexo antes de 2004, quando teríamos os Jogos Olímpicos de Atenas. Segundo nossos modernos líderes, o local prepararia os atletas para os jogos. Passou Atenas e vieram os Jogos Pan Americanos do Rio de Janeiro. Agora sim, o Centro de Excelência em Esportes estaria prontinho para a preparação dos atletas destêpaiz. Passou o Pan e o complexo é apenas um esqueleto armado no centro de Goiânia. Agora que o governador de Goiás Alcides Rodrigues, o popular Cidinho, não quer gastar mais um centavo é que aquele gigante esqueleto vai ficar ali, ao lado do amontoado de terra que, um dia, foi o Estádio Olímpico, o primeiro estádio de Goiânia.
Esta obra inacabada é apenas um exemplo do que veremos até 2014 quando o Brasil finalmente começar a receber as delegações do mundo inteiro que aqui disputarão a Copa do Mundo. Obras inacabadas, dinheiro desviado e esqueletos espalhados por aí ainda ocuparão capas de muitos jornais como a de hoje do O Popular. E tem gente que acha que Goiânia vai sediar alguma coisa em 2014...

Só depois de amanhã

Ora, ora, vejam vocês. A tão falada reforma administrativa do governador de Goiás Alcides Rodrigues, o popular Cidinho, já começa a dar os primeiros passos... para trás. É isso mesmo! Pelo visto, o estado paquidérmico continuará paquidérmico. Pelo visto, o marqueteiro Jorcelino Braga terá que dar uma maquiada nas despesas do estado assim como maquiou Cidinho na campanha eleitoral do ano passado; transformando-o de uma simples sombra de Marconi Perillo num governador reeleito. Depois de recuar na extinção da Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapeg), o governo está quase recuando em transformar o Corpo de Bombeiros e as Polícias Civil e Militar em superintendências da Secretaria de Segurança Pública. Além disso, a demissão dos comissionados vai ficar para o ano que vem. E olha que Jorcelino falou que a folha de pagamento dos servidores é “um câncer”. As demissões vão ficar para janeiro do ano que vem? Que interessante. Em janeiro do ano que vem completará um ano de governo Cidinho (de 1º de abril a 31 de dezembro de 2006 ele só completou o mandato de Marconi Perillo que tinha saído do Palácio das Esmeraldas para se candidatar a uma vaga no Senado). E, há quase um ano atrás, Cidinho já falava em demitir comissionados. Mais uma vez fica provado o lema deste governo: “Nunca deixe para amanhã o que você pode fazer depois de amanhã”.

Lula quer 23 governadores em ato pró-CPMF

Por Lígia Formenti e Christiane Samarco
no Estado de São Paulo

O lançamento de um pacote de medidas e investimentos para a área da saúde - o chamado PAC da Saúde -, hoje, no Palácio do Planalto, será um palanque pró-CPMF. Preocupado com a falta de votos para prorrogar o imposto do cheque, o governo mobilizou os governadores para pressionar os parlamentares. Até mesmo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez convites pessoais por telefone para garantir o auditório lotado. Pela contabilidade do palácio, 23 governadores estarão em Brasília.Na lista dos “quase confirmados”, estavam os tucanos José Serra (SP) e Aécio Neves (MG). Serra, segundo sua assessoria, alegava conflito de agenda para não comparecer: deveria acompanhar hoje a abertura da final da Jornada de Matemática e viajar para Mato Grosso. Mas o Planalto iria insistir uma vez mais.Para a platéia, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, deverá descrever as linhas gerais da política, prevista para ser executada nos próximos quatro anos. Deverão ser investidos R$ 89 bilhões - R$ 24 bilhões viriam de um porcentual recolhido com a CPMF. Embora o cenário da prorrogação da CPMF não esteja ainda definido, integrantes do ministério consideram certo o aporte de recursos adicionais para a saúde.Nas conversas com convidados para a cerimônia, o presidente Lula revelou-se otimista quanto à prorrogação da CPMF, mas pediu a todos que insistam com os senadores de seus Estados na necessidade de aprovar a proposta.
AVANÇO
“Estivemos muito perto de um acordo entre o PT e o PSDB, mas os movimentos em torno do terceiro mandato acabaram pondo a perder esta aproximação entres petistas e tucanos”, diz o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), um dos que se comprometeram a ir a Brasília e estimular os colegas a fazerem o mesmo. “O governo avançou e tem um clima político mais favorável à negociação, pela superação de algumas incertezas que turvaram o ambiente político”, insistiu.“Foram as articulações para aprovar o terceiro mandato do Lula que puseram um ponto final no diálogo com a oposição”, concorda a governadora do Rio Grande do Sul, a tucana Yeda Crusius.

Propaganda da Vale fere regulamento da TV Brasil

Por Felipe Seligman
na Folha de São Paulo

A propaganda em que a Companhia Vale do Rio Doce, privatizada em 1997, anuncia a mudança de sua marca para "Vale" vem sendo veiculada pela TV Brasil apesar de a medida provisória que criou a empresa pública restringir a veiculação de publicidade institucional de empresas privadas.De acordo com a MP que permitiu o surgimento da emissora, cuja programação estreou no domingo, a publicidade só pode ocorrer "a título de apoio cultural" ou quando "voltada a programas, eventos e projetos de utilidade pública, de promoção da cidadania, de responsabilidade social ou ambiental".À Folha a presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), Tereza Cruvinel, afirmou que tal anúncio pode ser tratado como de "utilidade pública" ou mesmo de "responsabilidade social", já que a Vale estaria comunicando à população suas mudanças institucionais.A Vale, por meio de sua assessoria, segue a mesma linha e afirma que a nova publicidade é um projeto de "sustentabilidade socioambiental". A mudança da marca custará à empresa US$ 50 milhões nos próximos quatro anos. No entanto, o valor do contrato com a TV Brasil não será divulgado, diz a Vale. Até o fechamento desta edição, a EBC também não divulgou quanto recebeu.Segundo a assessoria, o anúncio tem o intuito de mostrar que a mudança serve para "fortalecer o conceito de brasilidade" da Vale e "dar o exemplo de uma companhia brasileira bem sucedida internacionalmente, que considera como prioridade a sustentabilidade".O comercial é o primeiro de uma série de quatro para promover o novo nome. Com música de fundo, mostra crianças e adultos escrevendo "Vale" em lousas ou vidros embaçados. Ao final, informa ao telespectador que a nova marca foi uma escolha da própria sociedade, que teria popularizado o nome "Vale" ao se referir à empresa.As áreas de publicidade da Radiobrás e da TVE continuam funcionando separadamente, apesar do início das transmissões da TV Brasil. Ambas foram procuradas pela Folha. A Radiobrás informou que não possui qualquer contrato publicitário com a Vale e direcionou a demanda à TVE. Procurada no início da noite de ontem, o expediente de sua área publicitária já havia terminado.A TV Brasil teve sua estréia simbólica no domingo, quando as grades de programação da Radiobrás e da TVE foram fundidas. Por enquanto, porém, é uma exclusividade para telespectadores de Rio, Brasília e Maranhão, únicos locais onde será possível assisti-la por algum tempo. Além da unificação das grades, estreou na segunda-feira o telejornal "Repórter Brasil", veiculado duas vezes por dia, às 8h e às 21h.O governo, entretanto, evita tratar o início das transmissões como "estréia", pois teme críticas por não apresentar uma programação original desde o início. Cruvinel diz que a "estréia" deve ocorrer em março.

Polícia goiana acusa Senado de espionagem

Por Adriano Ceolin
na Folha de São Paulo

A Polícia Civil do Estado de Goiás afirmou ontem que houve participação da Polícia do Senado na contratação de uma agência de detetives para fazer uma devassa na vida do senador Marconi Perillo (PSDB-GO). O diretor-geral da polícia goiana, Marcos Martins (nomeado para o cargo pelo próprio Perillo) enviou ofício sobre o caso ao corregedor do Senado, Romeu Tuma (PTB-SP).Segundo reportagem da revista "Veja", Perillo teria sido alvo de espionagem por ter defendido a cassação do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que renunciou ontem à presidência do Senado.O ofício enviado a Tuma contém um "informe" de três parágrafos e 12 linhas sobre as investigações da Polícia Civil sobre o caso. Segundo ele, "foi a Polícia do Senado que indicou a Agência Central Única de Detetives", situada em Guará 2, cidade-satélite de Brasília.Segundo o "informe", a Central Única de Detetives teria contratado Luzia Tanganelli para investigar Marconi Perillo em Goiânia. Ela seria proprietária da empresa Ágatha e Holmes Investigações, que se localiza na capital goiana. Tuma leu o ofício logo no início da sessão deliberativa de ontem, a mesma em que foi apreciado o pedido de cassação de Renan Calheiros. O corregedor pretende ir à Goiânia para obter mais informações sobre o caso.Depois da fala de Tuma, o senador Marconi Perillo pediu a palavra e solicitou que as informações fossem adicionadas à quinta representação por quebra de decoro contra o senador alagoano, que tramita, desde outubro, no Conselho de Ética.Senadores do PSDB e do DEM prestaram solidariedade a Marconi. "É fundamental para esta Casa que seja feita uma investigação. Não pode parar qualquer suspeita", disse Tasso Jereissati (PSDB-CE). "É preciso haver o mais profundo esclarecimento", disse José Agripino (RN), líder do DEM.Como já feito anteontem, o presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC), saiu em defesa da Polícia do Senado. "Vou insistir nisso. Confio na Polícia do Senado", disse.Ex-governador de Goiás (1999-2006), Marconi Perillo demonstrou proximidade com a polícia civil goiana. "Os delegados estão à disposição para prestar esclarecimentos. Só esperamos a verdade", disse.

Renan deixa presidência e é absolvido de novo no Senado

Por Silvio Navarro, Andrezza Matais e Adriano Ceolin
na Folha de São Paulo

Em uma sessão que marcou o desfecho de uma das piores crises do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), 52, foi absolvido ontem, pela segunda vez, de um processo de cassação de mandato por quebra do decoro por suposto uso de laranjas para a compra de rádios. No início da sessão, o peemedebista renunciou à presidência da Casa.No total, 48 senadores optaram, em votação secreta, pela absolvição de Renan. Só 29 foram a favor da cassação. Houve três abstenções. Renan não votou. O mínimo necessário para a cassação são 41 votos. O placar de ontem foi mais folgado do que na votação do caso Mônica Veloso (35 pela cassação, 40 contra e seis abstenções).Ao contrário da decisão anterior, a sessão foi aberta. Durou 5 horas e 13 minutos. O resultado foi proclamado às 20h35. Aliados de Renan festejaram.Da tribuna, 18 senadores defenderam a cassação. Quatro saíram em sua defesa -Almeida Lima (PMDB-SE), Paulo Duque (PMDB-RJ), Epitácio Cafeteira (PTB-MA) e Francisco Dornelles (PP-RJ).Segundo aliados de Renan, ele entrou no plenário certo de que seria absolvido. Prova disso teria sido o fato de ter aberto mão de votar. Nos bastidores, a avaliação é que Renan confiou num acordo segundo o qual, ao renunciar, automaticamente seu mandato estaria salvo.Líderes do governo temiam que uma eventual cassação desestabilizasse a base às vésperas de votar a CPMF. Além disso, Renan cassado representaria automaticamente quase uma dezena de votos de renanzistas contra a CPMF, cenário que implodiria a intenção do governo de aprovar a prorrogação do tributo até 2011.Foi o desfecho de uma crise que se arrastou por 194 dias e que custou ao alagoano a cadeira de presidente do Senado, cargo que ocupou de 2004 até o dia 11 de outubro, quando se licenciou para aplacar os ânimos e costurar um acordo para salvar o mandato. Renan ficou licenciado do cargo por 55 dias.O presidente interino, Tião Viana (PT-AC), convocou eleição que, pelo regimento interno, deverá ocorrer até a próxima quarta-feira. O governo, entretanto, tenta um acordo de líderes para adiá-la e evitar embates na votação da CPMF.Ex-ministro e considerado uma das mais influentes lideranças do PMDB até ser alvejado por denúncias, Renan sai da crise enfraquecido. Se fosse cassado, ficaria inelegível até 2019. Agora, trabalha para fazer seu sucessor na bancada do PMDB, a maior da Casa (20 senadores). Garibaldi Alves (PMDB-RN) é o favorito.O Senado jamais cassou um presidente da Casa. Renan segue a trilha de Jader Barbalho (PMDB-PA), que renunciou ao cargo para escapar do processo em 2001. Também foi a primeira vez que o plenário absolveu duas vezes um mesmo senador. O único cassado foi Luiz Estevão (PMDB), em 2000.A denúncia que pesava contra ele na votação de ontem era do suposto uso de laranjas para comprar rádios em Alagoas, o que é vedado por lei. O parecer pela cassação, de autoria de Jefferson Péres (PDT-AM), tinha como eixo documentos apresentados pelo usineiro João Lyra, que dizia ter sido sócio de Renan. O senador nega.Absolvido de três processos de cassação -dois no plenário e um no Conselho de Ética-, Renan ainda enfrenta três denúncias, uma delas que sequer saiu da Mesa. A avaliação é que dificilmente alguma avançará.A oposição tentou uma ofensiva. "O senador Renan é muito mais simpático do que o Tião e do que eu, mas isso aqui não é concurso de miss", disse Demóstenes Torres (DEM-GO).O senador Aloizio Mercadante (PT-SP), que afirmou ter optado pela abstenção na votação anterior, ontem anunciou voto pela cassação. "Penso que não temos outro caminho." Ao discursar, Jefferson Péres listou indícios que comprovariam que Renan era sócio das rádios. "Encontrei no processo um conjunto de indícios robustos da culpa do representado."Após a proclamação do resultado, governistas e oposição foram unânimes: foi o ponto final na crise do Senado.