sábado, 6 de novembro de 2010
Provocação!
Receita cresceu "2 CPMFs", mas verba não foi para saúde
na Folha
A vingança de Lula
Por que tamanho e tão duradouro ressentimento? Porque o fim do tributo foi também o fim do sonho, esclareceu a colunista Dora Kramer, com a argúcia habitual, no Estadão desta sexta-feira. “A derrota na votação da CPMF no Senado enterrou o projeto do terceiro mandato”, lembrou. “Ali ficou claro que, se passasse pelos deputados, pelos senadores não passaria. Portanto, aquela não foi uma derrota qualquer. Foi uma derrota política surpreendente e definitiva”. Perfeito. Onde os brasileiros comuns veem um imposto a menos, Lula sempre enxergará o confisco dos quatro anos a mais.
“Peço que nossa oposição não faça contra Dilma a política que fez comigo, a política do estômago, a política da vingança”, fantasiou nesta terça-feira o infatigável carrasco da verdade. A sorte de Lula foi lidar com uma oposição parlamentar pusilânime. Em agosto de 2005, por exemplo, as estarrecedoras revelações do marqueteiro Duda Mendonça empurraram o chefe para a beira do penhasco. Foi poupado do impeachment pela tibieza dos adversários. De lá para cá, o sono sem sobressaltos foi-lhe assegurado pela superlativa tibieza dos adversários e pela nenhuma vergonha dos companheiros. O Senado só não engoliu a CPMF. O problema é que esse é o outro nome do terceiro mandato.
A “política do estômago, a política da vingança” ─ essa quem praticou todo o tempo foi o presidente grávido de ressentimento. Nas eleições municipais de 2008, por exemplo, acampou em Natal para exigir do eleitorado a derrota da candidata apoiada pelo senador José Agripino. Neste ano, fez o que pôde e também o que a lei proíbe para impedir a reeleição do potiguar Agripino, do amazonense Artur Virgílio e do cearense Tasso Jereissati. Na semana passada, num comício no Piauí, comunicou à plateia que a derrota dos senadores Mão Santa e Heráclito Fortes, candidatos à reeleição, foi “uma vingança de Deus”. É um dos codinomes de Lula.
O triunfo nas urnas não bastou. Para completar a vingança, o chefe aproveitou a entrevista ao lado de Dilma Rousseff para exumar o defunto. Ao longo da campanha presidencial, a sigla não foi mencionada uma única vez. Os candidatos a governador nem lembraram que a CPMF existiu. Eleita, Dilma afirmou que não pensava em nada parecido com o imposto do cheque. Mas a palavra do Mestre está acima da coerência, da honra e da altivez. Os governadores do PSB assumiram a paternidade da malandragem, a presidente eleita se dispôs a tratar do assunto e a tropa avança em direção ao bolso dos brasileiros.
“As urnas deram ao partido a obrigação de fazer uma oposição forte, sem concessões”, disse o senador Sérgio Guerra na carta enviada na quinta-feira aos militantes tucanos. “A luta pela democracia não se faz só em época de eleições, mas todos os dias, em todos os lugares, reais ou virtuais”. O presidente do PSDB leu corretamente a mensagem emitida por 43 milhões de eleitores insatisfeitos: a luta política é um eterno recomeço. O fim de uma campanha eleitoral anuncia o início da próxima. E a um democrata oposicionista cumpre fazer oposição — sem ódios, mas sem tréguas.
Para vingar-se dos que lhe negaram o terceiro mandato, Lula resolveu castigar todos os brasileiros com a ampliação da carta tributária. Como em 2007, o Congresso não ousará ignorar a voz das ruas. O imposto do cheque não deixou saudade e não faz falta. Deve continuar na cova rasa em que está.
Ninguém falou de CPMF
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Os burucutus do petralhismo atravessaram a fronteira
Quem é Lula para dar recado à oposição?
Como é triste a despedida de Lula da presidência
Oposição verdadeira só na internet
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
VERGONHA!
Começou mal
E o governo Dilma nem começou
Movimentação do PMDB faz partidos pedirem seus "lotes"
A movimentação do PMDB para ampliar seu espaço no governo de Dilma Rousseff já provoca reação nos demais partidos da aliança que deu sustentação à candidatura. PP e PTB não a apoiaram oficialmente, mas vão brigar por espaço no Executivo.
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Sonhar não é proibido
Tá na hora de acabar com essa folia
Lula, a oposição raivosa e Collor
Agora veja esta foto:
Talvez seja esta a oposição que Lula deseja: que ataque de vez em quando, mas que nunca deixe de dar um abraço no adversário.
Primeiro vídeo
Lula não aprendeu a conviver com a oposição
É duro ouvir candidato eleito
Obama perde o controle da Câmara
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Agora sim ele vai sorrir
Depois de pressão do PMDB, o vice-presidente eleito Michel Temer (PMDB) foi indicado na tarde desta terça-feira pela presidente eleita Dilma Rousseff para coordenar a equipe de transição que começará seus trabalhos, oficialmente, na próxima segunda-feira.
Ontem, no primeiro dia após o resultado da eleição, Dilma havia se reunido com os seus coordenadores petistas, tendo definido que a coordenação política da transição caberia ao presidente do partido, José Eduardo Dutra, e a transição técnica ao ex-ministro Antonio Palocci.
Os dois nomes permanecem com as mesmas funções, mas estarão subordinados, pelo menos no papel, a Temer. A Folha apurou que a medida tem o objetivo de conter insatisfação no PMDB, o maior dos dez partidos oficialmente aliados em torno de Dilma.
A nota divulgada pela assessoria de Dilma diz que cerca de 30 nomes da equipe de transição foram encaminhadas ao presidente Lula. "Na oportunidade, [Dilma] esclarece que a coordenação política dessa equipe será feita pelo vice-presidente eleito Michel Temer, pelo coordenador geral da campanha, José Eduardo Dutra, e pelos deputados federais Antonio Palocci e José Eduardo Cardozo".
Cardozo atuará tanto na área política quanto técnica.
Dutra falou com os jornalistas após deixar a casa de Dilma, no Lago Sul, região nobre de Brasília. Ele fez questão de ressaltar que a equipe de transição terá uma função técnica, que não tratará de indicação de nomes para o ministério. Ele reafirmou que caberá a ele, Dutra, recolher as sugestões com os partidos, a partir da próxima semana, e levá-las para Dilma. O petista negou que a indicação de Temer seja fruto de pressão do PMDB.
Dutra se reúne na noite de hoje com o PMDB, na casa de Temer. Além da composição do novo governo, será discutida a eleição para a Presidência da Câmara, cadeira disputada pelo PT e o PMDB.
Dilma permanece em sua casa. Ele se reuniu pela manhã e em parte da tarde com Dutra, Cardozo e Palocci. Segundo Dutra, ela falará hoje por telefone com mais líderes de Estado, entre eles Angela Merkel (Alemanhã) e José Luis Zapatero (Espanha).
Eu duvido
Estranho
Nenhum beijinho?
Os peemedebistas anotaram: Michel Temer não acompanhou nenhum minuto da apuração ao lado de Dilma Rousseff, só conseguiu cumprimentá-la junto com os demais aliados, pouco antes do pronunciamento da vitória, e, ontem, quando a petista fez a primeira reunião pós-eleitoral, não havia integrante do partido presente. Houve apenas um telefonema do presidente do PT, José Eduardo Dutra, ao vice.
Embora o comportamento tenha sido registrado, a cúpula do PMDB não pretende criar caso. Não agora. Se algo vier a aflorar, será quando da definição do que realmente importa: a formação do governo.
E quem disse que Lula está de saída?
Agora que a Dilma ganhou...
Despedaçando o bolo
Mantega pode continuar na Fazenda, mas destino de Meirelles ainda é incerto
Alvo da cobiça do PMDB, o Ministério da Fazenda pode continuar sob o comando de Guido Mantega. Ele deseja ficar e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defende sua permanência, sob o argumento de que a economia é uma área delicada e não se deve mexer "em time que está ganhando".
Lula já conversou sobre o assunto com a presidente eleita, Dilma Rousseff. Pediu a ela que também tentasse manter o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, por um período de no mínimo seis meses.
Dilma avalia essa possibilidade, mas o destino de Meirelles é mais imprevisível do que o de Mantega. A presidente eleita tem mais afinidades com o ministro da Fazenda, a quem chama de "Guidinho". Quando era chefe da Casa Civil, Dilma fazia dobradinha com ele na defesa do desenvolvimentismo.
No Planalto, auxiliares de Lula comentam que Meirelles deverá ocupar "lugar importante" na equipe, se não ficar na direção do Banco Central. Tanto pode comandar um ministério como uma estatal.
O presidente tem uma dívida de gratidão com Meirelles, que conseguiu manter a inflação sob controle - apesar de muito criticado por causa dos juros altos - e não deixou o governo para disputar as eleições. Filiado ao PMDB, Meirelles contava com o apoio de Lula para ser vice na chapa petista, mas nem tentou enfrentar Temer.
Além de Mantega, Dilma admira muito o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, que foi seu professor na Universidade de Campinas (Unicamp). Há três apostas para Coutinho: 1) permanecer no BNDES; 2) ser presidente do Banco Central e 3) ocupar a Fazenda, caso Mantega vá para outro cargo.
A intenção da presidente eleita é fortalecer, ainda, o Ministério das Comunicações, responsável pelo Plano Nacional de Banda Larga. Hoje sob direção do PMDB, o ministério tem percalços a enfrentar, a partir de 2011, como a crise nos Correios , alvo de loteamento político e denúncias de corrupção. Por lá passará o novo marco regulatório das comunicações.
Mulheres
A pedido de Lula, a Esplanada também contará com mais mulheres. Algumas delas já estão no governo, como Alexandra Reschke (Secretaria de Patrimônio da União), Maria das Graças Foster (Petrobrás) e Tereza Campelo (Casa Civil), mas devem ser promovidas.
Lula aconselhará Dilma, no entanto, a não puxar para a equipe nenhum senador ou senadora da base aliada. "Eu comi o pão que o diabo amassou no Senado", disse. "Precisamos ter apoio lá."
O Ministério da Justiça é outro que ficará na cota do PT. Mais uma vez, há dois nomes para a pasta: um grupo defende a permanência de Luiz Paulo Barreto, atual titular do cargo. Dilma está mais inclinada, porém, a nomear José Eduardo Martins Cardozo (PT-SP), um dos coordenadores de sua campanha. Se Barreto ficar na Justiça, Cardozo será acomodado em outra cadeira.
Orçamento
O maior problema de Dilma será tourear o PMDB, que quer ampliar sua fatia no governo. Atualmente, o partido comanda o Banco Central, seis ministérios (Comunicações, Saúde, Minas e Energia, Defesa, Integração Nacional e Agricultura) e uma penca de estatais.
Agora, além da manutenção desses cargos, o PMDB reivindica Cidades para Wellington Moreira Franco, a volta de Edison Lobão (MA) - afilhado político do presidente do Senado, José Sarney - em Minas e Energia e postos de comando na Petrobrás e na Petro-Sal.
"Cidades cresceu muito e tem um senhor orçamento. É o xodó da Dilma. Fico muito honrado de quererem ocupá-lo porque é sinal de que é bom. Ninguém gosta de patinho feio", disse o ministro das Cidades, Márcio Fortes (PP), sem demonstrar preocupação em perder a vaga. "A gente sabe que o PMDB está de olho em vários ministérios."
O vice-governador reeleito do Rio, Luiz Fernando de Souza (PMDB), o Pezão, como é mais conhecido, também foi sondado para ocupar o cargo. A possibilidade desagrada ao governador Sérgio Cabral Filho. Além da resistência de Cabral, há também dificuldades jurídicas: para ser ministro, ele teria de renunciar ao cargo de vice-governador.
Alessandro Teixeira, presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) é citado para comandar o Ministério da Micro e Pequena Empresa, que Dilma prometeu criar. Antônio Patriota, secretário-geral do Itamaraty, pode ser o novo chanceler, no lugar de Celso Amorim. Corre por fora o nome de José Maurício Bustani, ex-embaixador em Londres, hoje em Paris.
Para o Desenvolvimento Agrário o mais cotado, até o momento, é Joaquim Soriano, que foi secretário de Organização do PT e integra a corrente Democracia Socialista (DS).
No alvo
FHC diz não endossar PSDB que não defenda sua história
"Não estou mais disposto a dar endosso a um PSDB que não defenda a sua história", disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), ontem, em entrevista no instituto que leva seu nome, no centro de SP.
Presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique defende que o partido anuncie dois anos antes das eleições presidenciais seu candidato. "O PSDB não pode ficar enrolando até o final para saber se é A, B, C ou D."
O ex-presidente diz que Lula "desrespeitou a lei abundantemente" na campanha e que promove "um complexo sindical-burocrático-industrial, que escolhe vencedores, o que leva ao protecionismo".
Para FHC, a tradição brasileira de "corporativismo estatizante está voltando". Lula é uma "metamorfose ambulante que faz a mediação de tudo com tudo".
Folha - José Serra aproveitou a oportunidade do segundo turno como deveria? Fernando Henrique Cardoso - Serra foi fiel ao estilo dele. Tomou as decisões na campanha, com o [marqueterio Luiz] Gonzalez. Não fez diferente do que se esperaria de Serra como um candidato que define uma linha e vai em frente. O PSDB, e não o Serra, tem outros problemas mais complicados. Precisa ter uma linguagem que expresse o coletivo. Os candidatos esqueceram a campanha e não definiram o futuro. O nosso futuro vai ser fornecer produtos primários? Ou vamos desenvolver inovação, a educação, a industrialização? Isso não foi posto.
O governo Lula patrocina a formação de grandes empresas, uma espécie de complexo "industrial-burocrático". Qual a diferença para o seu governo, que também usou o BNDES nas privatizações?
Tudo é uma questão de medida. Os fundos [de pensão] entraram na privatização porque já tinham ações nas teles e participar do grupo de controle lhes dava vantagem. Mas tive sempre o cuidado da diversificação.
O problema agora é de gigantismo de uns poucos grupos, nesse complexo, que na verdade é sindical-burocrático-industrial, com forte orientação de escolher os vencedores. Isso é arriscado do ponto de vista político e leva ao protecionismo.
A fila do PSDB andou? Chegou a vez de Aécio Neves para presidente?
Eu não posso dizer que passou a primeiro lugar, mas que o Aécio se saiu bem nessa campanha, se saiu. Não posso dizer que passou a primeiro lugar porque o Serra mostrou persistência e teve um desempenho razoável.
Não diria que existe um candidato que diga "Eu naturalmente serei". Mas o PSDB também não pode ficar enrolando até o final para saber se é A, B, C ou D. Dentro de dois anos temos de decidir quem é e esse "é" e tem de ser de todo mundo, tem de ser coletivo.
Não estou disposto mais a dar endosso a um PSDB que não defenda a sua história. Tem limites para isso, porque não dá certo. Tem de defender o que nós fizemos. A privatização das teles foi boa para o povo, para o Tesouro e para o país. Do ponto de vista econômico, as questões estão bem encaminhadas. O problema não é saber se a economia vai crescer, é se a sociedade vai ser melhor.
Houve sinais do que o sr. chama de "espírito" da democracia no processo eleitoral?
Não vejo. O presidente Lula desrespeitou a lei abundantemente. Na cultura política, regredimos. Não digo do lado da mecânica institucional -a eleição foi limpa. Mas na cultura política, demos um passo para trás, no caso do comportamento [de Lula] e da aceitação da transgressão, como se fosse banal.
Aqui ocorre outra confusão: pensar que democracia é simplesmente fazer as condições de vida melhorarem. Ela é também, mas não se esqueça que ditaduras fazem isso mais depressa.
Como o sr. vê a volta de temas como religião na campanha?
Com preocupação. O Estado é laico, e trazer a questão religiosa para o primeiro plano não ajuda.
A dose dos marqueteiros nas campanhas está exagerada?
Sim, em todas as campanhas. Nós entramos num marquetismo perigoso, que despolitiza. Hoje a campanha faz pesquisas e vê o que a população quer naquele momento. A população sempre quer educação, saúde e segurança, e então você organiza tudo em termos de educação, saúde e segurança.
Sem perceber que a verdadeira questão é como você transforma em problema algo que a população não percebeu ainda como problema. Liderar é isso. Você abre um caminho. A pesquisa é útil não para você repetir o que ela disse, mas para tentar influenciar o comportamento a partir de seus valores.
O que nós temos na campanha é a reafirmação dos clichês colhidos nas pesquisas. Onde é que está a liderança política, que é justamente você propor valor novo. O líder muda, não segue.
A polarização nacional entre PT e PSDB completou 16 anos. Tem feito mais bem ou mais mal ao Brasil?
O que o Chile fez na forma da Concertação [aliança entre Partido Socialista e Democracia Cristã que governou o país de 1990 a 2010], fizemos aqui sob a forma de oposição. Há muito mais continuidade que quebra. O pessoal do PT aderiu grosso modo ao caminho aberto por nós. Isso é que deu crescimento ao Brasil. Agora tem aí o começo de um rumo que não é mesmo o meu, que é esse mais burocrático-sindical-industrial. E tem uma diferença na concepção da democracia.
O que seria essa social-democracia tucana?
Social-democracia, vamos devagar com o ardor. O sujeito da social-democracia europeia eram a classe trabalhadora e os sindicatos. Aqui são os pobres. O Lula deixou de falar em trabalhador para falar em pobre. Mudou. Nós descobrimos uma tecnologia de lidar com a pobreza, mas estamos por enquanto mitigando a pobreza.
Tem de transformar o pré-sal em neurônio. Esse é o saldo para uma sociedade desenvolvida. Está se perfilando, no PT e adjacências, uma predominância do olhar do Estado, como se o Estado fosse a solução das coisas.
Então a diferença entre PT e PSDB, para o sr., se dá em relação ao papel do Estado.
A nossa tradição é de corporativismo estatizante, e isso está voltando. É uma mistura fina, uma mistura de Getúlio, Geisel e Lula. O Lula é mais complicado que isso, porque é isso e o contrário disso. Como é a metamorfose ambulante, faz a mediação de tudo com tudo. Lula sempre faz a mediação para que o setor privado não seja sufocado completamente. Não sei como Dilma vai proceder.
Isso tende a se aprofundar nesse novo governo?
A segunda parte do segundo mandato de Lula foi assim. A crise global deu a desculpa para o Estado gastar mais. E o pobre do [John Maynard] Keynes pagou o preço. Tudo é Keynes. Investimento não cresceu, gasto público se expandiu, foi Keynes.
Não acho que o Brasil vá no sentido da Venezuela porque a nossa sociedade é mais forte. Aqui há empresas, imprensa, universidades, igrejas, uma sociedade civil maior, mais forte. Isso leva o governo a ter cautela. Veja o discurso da Dilma de ontem [domingo]. Ela beijou a cruz. Ela tem que dizer isso, que vai respeitar a democracia, porque senão não governa.
O que esperar de Dilma?
Não sabemos o que ela pensa, nem como é que ela faz. O Brasil deu um cheque em branco para a Dilma. Vamos ver o que vai acontecer com a conjuntura econômica. Há um problema complicado na balança de pagamentos, um deficit crescente, uma taxa de juros elevada e uma taxa de câmbio cruel.
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
José Dirceu é a eterna vítima
Dirceu se faz de vítima
Correção
Dirceu confirma o que eu disse
Dilma entre Temer e Lula
Pelegos em ação
A vitória da candidata do PT à presidência da República, Dilma Rousseff, é um reflexo das mudanças que vêm ocorrendo numa sociedade em que a participação das mulheres nos diversos ramos de atividade aumenta a cada dia, avalia o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, conhecido como Juruna. "Hoje tem mais mulheres no mercado de trabalho, nas universidades e nos movimentos sociais", disse.
Para ele, é importante que o movimento sindical continue as suas mobilizações, fortalecendo-se para ter um papel nas negociações com o governo. Ao fazer um balanço das conquistas obtidas pela classe trabalhadora, Gonçalves destacou que 2010 está sendo um ano positivo. "Em 95% dos acordos coletivos conseguimos ter melhores salários, além de aumento real do salário mínimo e crescimento dos empregos."
Na opinião do presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique da Silva, o País vive um momento importante com a vitória de Dilma como a primeira mulher a ocupar a presidência da República. "Significa uma vitória do povo brasileiro e da militância que foi às ruas defender os oito anos do governo Lula e apontar a necessidade de aprofundar as mudanças iniciadas".
Ele manifestou otimismo em relação aos compromissos assumidos pela presidente eleita no sentido de erradicar a miséria e destacou que a central sindical continuará a defender a agenda de interesse dos trabalhadores. Entre as medidas que considera prioritárias estão as reformas política e tributária. "Quem ganha mais deve pagar mais e quem ganha menos deve pagar menos", defendeu o líder sindical, referindo-se aos recolhimentos fiscais.
Henrique da Silva afirmou ainda esperar que a nova presidente dê maior incentivo ao setor produtivo para gerar mais emprego e renda e onerar mais o capital especulativo de quem "só quer ganhar dinheiro fácil no mercado financeiro sem gerar nenhum emprego".
Além disso, o líder sindical apontou que é preciso avançar no fortalecimento da agricultura familiar e do papel do Estado "como indutor do desenvolvimento econômico e social do Brasil".
Pergunta para a presidente eleita
"Os heróicos 3%" por João Pereira Coutinho
Passei meus últimos dias com a cabeça mergulhada no Brasil. As eleições, sim, as eleições: na TV ou nos jornais portugueses, a minha tarefa era explicar aos patrícios o que sucedia desse lado do Atlântico. Li muito. Escutei bastante. Perguntei idem.
Mas de tudo que li, escutei ou aprendi, nada me perturbou tanto como saber que Lula deixa o Palácio do Planalto com 82% de aprovação popular.
Minto: o que me impressiona não são os 82%; o que me impressiona são os 3% de brasileiros que desaprovam o governo Lula e que não embarcam no entusiasmo geral. Como são solitários esses 3%! E como são heroicos! É preciso coragem, e uma dose invulgar de realismo e sensatez, para não ser atropelado pela multidão desgovernada. Quem serão esses 3%? Gostaria de os conhecer, de os convidar para minha casa, de beber com eles à liberdade e à democracia. Vou repetir, quase com lágrimas nos olhos: 3%!
Não nego: Lula teve méritos econômicos evidentes. Arrancar 20 milhões da pobreza não é tarefa insignificante; e ter um país com crescimentos anuais de 6% ou 7%, enfim, uma miragem para quem vive na Europa. Se o Banco Mundial acredita que o Brasil será a 5ª economia do mundo no espaço de uma geração (obrigado, "The Economist"), Lula teve um papel nesse caminho. Mesmo que o caminho tenha sido preparado por Fernando Henrique Cardoso.
Mas quando penso nos solitários 3% que desaprovam Lula; quando penso nessa gente residual, marginal, divinal, penso em todos os casos de corrupção que abalaram os governos petistas e que seriam intoleráveis em qualquer país civilizado do mundo. Penso nos ataques e nos insultos que Lula desferiu contra a imprensa mais crítica. Penso na forma como Lula usou o seu cargo para, violando todas as leis eleitorais (e do mero decoro democrático), eleger Dilma Rousseff. E penso, claro, na política externa de Lula.
Sou um realista. Países democráticos não lidam apenas com democracias; por vezes, nossos interesses estratégicos ou econômicos exigem que sujemos as mãos com autocracias, teocracias, ditaduras e aberrações políticas. Mas devemos fazer isso com decoro; envergonhados; como um cavalheiro que frequenta o bordel e não faz publicidade de seus atos.
Os 3% que desaprovam Lula, aposto, desaprovam a forma indigna como ele elegeu Ahmadinejad seu amigo; como manteve relações amistosas com Chávez; como foi displicente perante os presos políticos cubanos.
Acompanhei as eleições brasileiras. Comentei-as. Escrevi a respeito. Mas, nessa hora em que Lula sai para Dilma entrar, os meus únicos pensamentos estão com os 3% que não perderam a cabeça e mantiveram-se à tona da sanidade.
Nessa noite fria de Lisboa, um brinde a eles!
"Viveremos os quatro anos mais medíocres da República"
“Primeiro eu queria agradecê aos que estão aqui presentes, nessa noite que pra mim é uma noite que cês imaginam completamente especial. Mas eu queria me dirigi a todos os brasileiros e às brasileiras, os meus amigos e as minhas amigas de todo o Brasil. É uma imensa alegria está aqui hoje. Eu recibi de milhões de brasileiros e de brasileiras a missão, talvez a missão mais importante de minha vida”
As primeiras palavras de improviso da presidente eleita Dilma Vana Rousseff, antes de ler o discurso escrito na véspera pelos assessores, são o prólogo de uma era que se anuncia histórica, como histórica são todas as eras vividas — mas esta por um prenúncio: viveremos os quatro anos mais medíocres da nossa República.
Foram palavras modelares de uma funcionária pública sem obra e sem credenciais pessoais que, herdando o mais alto posto da nação por uma dessas armadilhas do destino que só um ficcionista poderia elocubrar, tem o desplante de afirmar — por absoluta incapacidade de expressão — que a presidência da República é “talvez” a missão mais importante de sua vida. Qual seria outra?
Dilma Vana Rousseff, presidente da República. Ao ouvir essa chocante combinação entre nome e posto, me sinto transportado sem escalas a Macondo, “uma aldeia de vinte casas de barro e taquara”, segundo o célebre início de “Cem Anos de Solidão”. A Dilma Rousseff sistematicamente desconstruída nesta coluna, ao longo dos últimos 15 meses, não teria credenciais para dirigir Macondo. Ter sido eleita presidente do Brasil, “oitava economia do mundo”, soa como um despropósito até pelos cânones do realismo fantástico, onde o irreal e o estranho são algo cotidiano e comum — não por ser neófita, não por ser a primeira mulher, não por ser petista, não por ser madrinha da Erenice, não por ser escolha arbitrária de Lula, mas por ser a Dilma Rousseff que ela mesma se encarregou de expor e escancarar, sem retoques – produzindo contra si mesma o veredicto de uma flagrante inabilitação para o cargo, em sentença transitada em julgado.
Só numa Macondo governada por Lula – e Macondo é banana, na língua bantu -– a eleição de Dilma Rousseff como presidente do Brasil seria tristemente real. Como num romance do realismo mágico, sua ascensão é fruto de um tempo distorcido, para que o presente se repita ou se pareça com o passado.
Tomara que exista outra Dilma, que não conhecemos ainda.
Boa sorte, presidente Dilma Rousseff.