terça-feira, 18 de novembro de 2008

Resultados e uma história

Quer dizer então que existem doze mil telefonemas sendo grampeados legalmente. Beleza, hein? Viva a legalidade, não é mesmo? Não! No país dos petralhas é viva a ilegalidade. Mas eu não fico feliz com esta revelação. Quero saber os resultados destas escutas, se os suspeitos que podem estar tendo a conversa ao telefone gravada será investigado LEGALMENTE, se forem comprovadas as provas será preso. Quero resultados e não os números dos grampos. Tem grampo autorizado pela Justiça? Avisem ao delegado maluquinho Protógenes Queiroz.

Tem uma história interessante para contar sobre esse negócio de grampos. Está no livro Ministério do Silêncio de Lucas Figueiredo (Editora Record, 591 páginas). Fala sobre a atuação do serviço secreto brasileiro desde 1927 até 2005. Ulysses Guimarães e Tancredo Neves eram as grandes figuras políticas da campanha pelas Diretas. Sim, meus caros, tinha gente boa nestêpaiz que lutou contra a ditadura sem pegar em armas. É lógico que o serviço secreto queria ouvir o que os dois falavam ao telefone. Eles sabiam que os telefones estavam grampeados, mas Tancredo era mais raposa que Ulysses. Em 1984, Ulysses viajava para o Piauí e telefonou para Tancredo que, na época, era governador de Minas Gerais:

- Tancredo, circulam aqui no Nordeste insistentes rumores de intranqüilidade no meio militar. Estou muito preocupado. Você está sabendo de alguma coisa?
- Ih, Ulysses, a ligação está péssima. Não dá para falar, porque não estou nem ouvindo direito.
- Pois eu estou ouvindo muito bem. Há intranqüilidade no meio militar? O que está acontecendo aí, Tancredo?
- Ah, quer dizer então que você também não está me ouvindo, não é? Que coisa mais estranha. Onde você está?
- No Piauí, Teresina. Você se esqueceu?
- Vá tomar banho de mar, Ulysses! Por favor, desligue-se, Ulysses. Desligue!
- Mas aqui em Teresina não tem mar, Tancredo.
- Nem aqui em Belo Horizonte, uai.

E assim a democracia foi restabelecendo aqui no Brasil. Tancredo e Ulysses não pegaram em armas para combater os militares. Quando a coisa estava pesada demais eles desligavam e tomavam um banho de mar.

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