domingo, 16 de novembro de 2008

Era preciso pacificar o país

Sobre a anistia ao ex-presidente João Goulart.. É claro que discordo. E eu não devo pedir desculpas pelo golpe (ou revolução, como muitos chamavam na época) de 1964. Ao invés de pacificar o país, que estava instável politicamente depois da renúncia de Jânio Quadros em 1961, o cara joga mais lenha na fogueira. E ainda incentivou a quebra de hierarquia nas Forças Armadas.

Um leitor me manda um comentário exaltando a verba que a família de João Goulart irá receber. E desce a lenha nas Forças Armadas. Como se o governo Jango fosse uma maravilha! Como se o governo Jango estivesse no caminho certo! O leitor desce a lenha também em Carlos Lacerda.
Tenho aqui em casa o livro Depoimento. Nele, Lacerda faz uma revisão de toda a sua carreira política. O livro foi lançado pouco depois de sua morte em 1977 e ele, que tanto apoiou a revolução, acabou tendo seus direitos políticos cassados pelo AI-5. É claro que Lacerda não vai dizer que tentou golpear os governos. Ele fala que em 1955 foi contra a eleição presidencial porque queria uma reforma eleitoral. Acredite quem quiser.
Tem outro livro que se chama Carlos Lacerda – 10 anos depois que é uma coletânea de artigos do ex-governador do Estado da Guanabara organizados pelo seu sobrinho Cláudio Lacerda. Parênteses. Só faltava agora me chamarem de lacerdista só porque citei estes dois livros. Fecha parênteses.

Sim, leitor, Lacerda tocou o terror, para dizer uma expressão atual, na década de 1950. Em 1954 teve o suicídio de Getúlio Vargas. O país em apreensão. Em 1955, neste clima pesado, tivemos eleições presidenciais vencidas por Juscelino Kubitscheck. Lacerda contestou o resultado das eleições. Tentou sim armar um golpe para evitar a posse de JK. Mas Henrique Lott foi mais esperto e preparou um contra-golpe que garantiu a posse do presidente eleito. Juscelino poderia muito bem perseguir Lacerda pelo que ele fez em 1955, não é mesmo? Motivos ele tinha. Mas JK sabia que era necessário pacificar o país. Era necessário tirar o fantasma de Getúlio Vargas que ainda assombrava a política brasileira. E olha que os golpes contra o governo JK não cessaram em 1955. Em Aragarças e Jacareacanga alguns revoltosos tentaram derrubar JK. O que o presidente fez? Anistiou-os. E Juscelino Kubitscheck terminou seu mandato passando a faixa presidencial para Jânio Quadros, eleito democraticamente em 1960, e na nova capital federal. Sim, eu tenho uma certa simpatia por JK. Não o trato como um ídolo, mas gosto muito de estudá-lo. É bom estudá-lo e não ficar apenas com a minissérie que a Globo produziu em 2006.

E olha que João Goulart era vice presidente de Juscelino. Aliás, naquela época votava-se tanto para presidente como para vice. Não era como hoje quando elegemos um presidente e seu vice vem no pacote. Jango bem que poderia ter seguido o exemplo de JK e pacificado o país depois da renúncia de Jânio. Poderia ter condenado a revolta dos marinheiros. Poderia passar um pito no seu cunhado que morava lá no Palácio de Piratininga em Porto Alegre e parar com esta idéia de armar o povo. Mas, na história não tem condicional. Tem os fatos.

Podem discordar das coisas que eu escrevo. Não tem problema nenhum. Mas aqui está a minha opinião sobre o caso. João Goulart foi um péssimo presidente. E em 1964, a democracia estava ameaçada sim. E os militares tomaram o poder no dia 31 de março. Muitos acharam que em 1965 eles voltariam para os quartéis e devolveriam o poder para o presidente eleito naquele ano. Mas na história não existe condicional e sim fatos.
Jango não queria pacificar o país e sim dar um golpe naqueles que ele dizia ser "os inimigos do povo". E o golpe janguista já estava sendo planejado em janeiro de 1963, assim que terminou o parlamentarismo e Jango poder exercer de fato o Poder Executivo. Se a ditadura militar foi nefasta, imagine como seria a ditadura janguista.

Um comentário:

Anônimo disse...

Concordo com você. João Goulart foi um péssimi presidente, que não soube atravessar aquela fase difícil acreditando no valor da democracia. Brincou com fogo e deixou os brasileiros à mercê de uma ditadura. A história nos absolve ou condena. É assim, quer queiram ou não.