domingo, 16 de novembro de 2008

Líderes querem ações até março

No Jornal do Brasil

Os líderes do G-20, grupo que reúne os países industrializados e emergentes como Brasil e China, reunidos ontem em Washington, elaboraram um documento oficial do encontro contendo propostas concretas para alterar e aprofundar marcos regulatórios para o setor financeiro global. O comunicado detalhou as ações que os governos começarão a tomar nas próximas semanas e pretendem ver concluídas até o fim de março de 2009 para reduzir os efeitos da crise.
Entre as mais urgentes, os países devem adotar individualmente, mas de forma coordenada, estímulos fiscais para aquecer suas economias, principalmente nos EUA e União Européia, que já declarou ter entrado em recessão.
Os líderes indicaram a necessidade de melhor regulação dos mercados, e sugeriram medidas como a maior transparência das operações de fundos de hedge, regras padronizadas para vários tipos de operação e mecanismos que garantam crédito para o comércio exterior dos países em desenvolvimento.
O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, em pronunciamento, disse que houve consenso entre os países em relação às necessidades de se submeter o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial a reformas. Sobre o FMI, o grupo acredita que seu papel precisa ser ampliado para atuar na prevenção de crises, assim como seu poder de fogo deve ser aumentado, para que possa socorrer economias em dificuldades.
Proposta pelo Brasil, a realização de uma nova Rodada de Doha ainda em 2008 foi acatada pelo grupo: "Nos próximos 12 meses nos absteremos de levantar novas barreiras (...), de impor novas restrições às exportações ou de implementar medidas incoerentes com a Organização Mundial de Comércio (OMC) para estimular as exportações", diz o documento. "Além disso, lutaremos para alcançar um acordo este ano sobre as modalidades que levem à conclusão exitosa da Agenda de Doha com um resultado ambicioso e equilibrado".
Para o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, o grupo reunido em Washington "efetivamente substituiu o G-8", das nações mais industrializadas do mundo, nas discussões econômicas globais. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva concordou: "O G-8 não tem mais razão de ser porque é preciso levar em conta as economias emergentes no mundo globalizado", defendeu, dizendo que a melhor solução para a crise é que os países ricos resolvam seus problemas.
– É a primeira vez que os problemas estão nos países ricos e não nos pobres. Não adianta ficar procurando medidas paliativas se não resolver o problema crônico da política americana e da política econômica européia – afirmou Lula, que sentou ao lado do presidente Bush em jantar na Casa Branca, com os chefes de Estado do G-20, na sexta-feira.
Durante o jantar, contou o presidente brasileiro, Bush teria revelado que o governo americano já aplicou US$ 1,5 trilhão – e não os US$ 850 bilhões anunciados – para amenizar os efeitos da crise. Até agora, no entanto, apenas US$ 250 bilhões chegaram ao mercado.

Estímulo interno

Em relação ao Brasil, o presidente Lula defendeu ontem o estímulo à demanda interna como estratégia para evitar que a crise resulte no recuo da atividade produtiva e na queda de empregos no país.
– Temos um potencial de mercado interno que um país desenvolvido não tem, porque a população destes países já tem carro, casa, televisão. Poderemos facilitar que o povo tenha acesso a esses bens que ainda não possui – disse, em rápida conversa com jornalistas. Por isso, segundo Lula, o governo federal manterá os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
No próximo ano, de acordo com previsões do FMI, o crescimento global será sustentado exclusivamente pelos países emergentes, já que as economias avançadas (a exceção é o Canadá) devem entrar em recessão. Mas muitos emergentes, em particular a China, são fortemente dependentes das exportações para americanos e europeus.
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, propôs que a próxima reunião do G-20 seja realizada em Londres, já que a Grã-Bretanha presidirá o grupo dos principais países industrializados e emergentes em 2009. Um novo encontro deve acontecer antes do dia 30 de abril.

Nenhum comentário: