quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Inflação em alta, renda em baixa

Por Ana Cecília Americano
no Jornal do Brasil

A renda do trabalhador brasileiro, medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresentou em outubro a maior queda desde janeiro de 2006 (-1,3%). Economistas do IBGE atribuem o desempenho à aceleração da inflação nos últimos meses. Pesadelo da economia do país nas décadas de 80 e 90, a alta do custo de vida corrói o poder de compra dos salários, o que tem municiado o Banco Central (BC) de argumentos em defesa das recentes altas dos juros. Economistas ouvidos pelo JB entendem que o impacto da inflação sobre a renda nacional evidencia os efeitos da crise internacional sobre os indicadores econômicos do país. Pressionados pela alta do dólar, que encareceu as importações, os preços atravessaram os dois últimos meses sob pressão.
Na contramão da má notícia, o mesmo IBGE anunciou ontem que a taxa de desemprego do país caiu para 7,5% também no mês passado, o melhor resultado para outubro desde o início da série, em 2002. Aparentemente contraditórias, as duas constatações revelam ainda, de acordo com o próprio IBGE, o tradicional aumento da oferta de vagas, principalmente no comércio, como reflexo das festas de fim de ano. Temporárias, segundo o IBGE, as vagas também pesaram sobre as estatísticas da renda em outubro, ao representar uma oferta de salários mais baixos.

Boas e más notícias

Em outubro, o rendimento médio real dos trabalhadores foi de R$ 1.258,20. O recuo é o maior já apurado de um mês para o outro na série desde janeiro de 2006.
– Em parte, houve um ligeiro aumento na inflação. O INPC de outubro foi de 0,5%, ante o de setembro, de 0,16% – justifica Adriana Beringuy, economista do IBGE, ao lembrar dos efeitos colaterais sobre os índices do aumento da oferta de vagas. – Eles têm um rendimento inferior, o que influencia a média.
Para Adriana, nesta época do ano há o estímulo para quem está fora do mercado de trabalho buscar emprego. As oportunidades sazonais, diz a economista, têm a característica de não oferecer maiores exigências quanto à experiência anterior ou qualificação. Nem só de más notícias, no entanto, viveu o país em outubro. A economista faz questão de ressaltar que o rendimento do trabalhador no mês de outubro registrou aumento de 4,5% em relação ao mesmo mês de 2007 – classificado por ela como um dos mais expressivos da série.
Outros indicadores apurados também são positivos. A taxa de pessoas ocupadas nas seis regiões metropolitanas acompanhadas pela pesquisa – ou 22,2 milhões – aumentou 0,8% em relação a setembro. E 4,0% quando comparado outubro de 2008 com outubro de 2007.

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