segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Ainda sobre Jango

Um leitor me mandou um comentário sobre João Goulart. Discorda da minha opinião. E eu discordo da opinião dele. Mas por que publiquei? Porque, apesar da discordância de idéia, houve respeito. Não usou de xingamentos para expor suas idéias. Comentários assim serão bem vindos. Não quero ser o dono da verdade. Aqui está a minha opinião, o que eu acho das coisas. Tem quem concorde e tem quem discorde. É do jogo, é do debate. Quem quiser ler o que eu escrevo pode ler. Quem quiser comentar o que escrevi pode comentar. Com educação tudo se resolve.

Se colocarmos os Estados Unidos nesta panela quente que é 31 de março de 1964 temos que colocar também a União Soviética. Ou será que naquela época não se vivia a Guerra Fria? Ou será que só os Estados Unidos serão os malvados e os soviéticos nada faziam por aqui?

Neste clima pesado ideologicamente, no clima pesado aqui dentro, João Goulart não procurou pacificar o país (eis a tecla que eu sempre bato). Ele não mandou Leonel Brizola desistir da idéia de partir para a luta armada (como tinha planejado desde 1961 com a “Rede da Legalidade”). Concordo com o comentarista em um ponto: ao ser deposto, Jango não seguiu o que Brizola queria (que acabaria numa guerra civil).

Brizola incomodou Jango até no exílio. No livro Depoimentos, Carlos Lacerda descreve o encontro que teve com o ex-presidente para formar, junto com o também ex-presidente Juscelino Kubitscheck, a Frente Ampla. Diz Lacerda que Brizola ficou uma arara com Jango por receber Lacerda em sua fazenda no Uruguai. A Frente Ampla não vingou.

Querer menosprezar as vítimas que morreram nas mãos dos terroristas de esquerda é um absurdo. É rebaixar a luta daqueles que combatiam a ditadura militar sem usar armas. Aí é injustiça. Por que não condenar quem matou em nome da ditadura comunista (sim, os terroristas de esquerda queriam a ditadura comunista aqui)? Ou será que temos que distinguir quem matou quem? Não! Se matou tem que pagar pelo crime. Não compactuo com a tese de que a esquerda se armou como reação. Como mostrei em outros posts e o comentarista também lembrou, Brizola queria sim partir para cima, de arma em punho.

Era necessário pacificar o país, mais uma vez eu digo. Juscelino Kubitscheck tomou posse no dia 31 de janeiro de 1956 num clima político bastante conturbado. Só tomou posse depois de um contra-golpe liderado por Henrique Lott. JK poderia muito bem se vingar dos seus opositores que quiseram golpear sua posse. Mas, logo no primeiro dia de governo, garantiu a liberdade de expressão, o cumprimento da Constituição e o fortalecimento da democracia.

Bem, é isso. Continuo com a mesma opinião de que Jango perdeu uma oportunidade imensa de pacificar o país, de cumprir rigorosamente a Constituição e fortalecer a democracia. Mas, ele partiu para a radicalização. Aí, neste caso, sou eu que falo: toda ação tem uma reação, não é mesmo? Os militares já estavam zangados com Jango por conta do seu apoio aos grevistas da Marinha e ele faz um discurso falando de reformas de base bem na Central do Brasil, ao lado do Comando Militar do Leste no Rio de Janeiro. Ah, se Jango pacificasse o país a partir de 1963 condenando os radicais tanto de direita como de esquerda (depois do plebiscito que restabeleceu o presidencialismo, Jango tinha os poderes presidenciais contidos na Carta de 1946). Mas o “se” não funciona na história. A teoria newtoniana de que toda ação tem sua reação pode explicar, bem por cima, algumas coisas, menos justificar assassinatos.

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