no Jornal Opção
O debate eleitoral em Goiânia está centrado nos temas saúde, transporte e trânsito, pontos identificados pelas pesquisas qualitativas como críticos na cidade. Os levantamentos feitos pelos institutos de pesquisas apontam aquilo que afeta a população de forma imediata e diretamente. As pessoas que moram nos setores próximos às obras do viaduto da T-63, Bueno, Bela Vista e adjacentes, reclamam do trânsito; os usuários do transporte público, da qualidade do serviço prestado pela empresas de ônibus, e quem se utiliza do sistema público de saúde, do atendimento. Mas a cidade não se resume a estes temas e há outros assuntos mais importantes que estão sendo deixados de lado e que afetam a cidade de maneira mais significativa. No caso da saúde, por exemplo, o presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM), psiquiatra Salomão Rodrigues, lamenta que os candidatos se limitem a discutir os chamados pontos críticos sem, no entanto, perceber que o bom atendimento na saúde passa obrigatoriamente pelos profissionais da saúde. "Só se discute a facilitação do acesso do paciente ao atendimento e a articulação da rede municipal com os Estados e a União, não se vê ninguém discutindo as condições de trabalho dos médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde", diz. Segundo ele, os médicos que trabalham na rede municipal precisam de uma programação progressiva que melhore as condições de trabalho e, conseqüentemente, a qualidade da assistência médica prestada na capital. "Mas o que se faz na saúde é um trabalho de bombeiro, de apagar incêndio aqui e ali." O presidente do CRM conta que um médico da rede municipal ganha, com os benefícios, cerca de R$ 2 mil por 20 horas semanais, enquanto o valor calculado pela Fundação Getúlio Vargas para esse período de trabalho deveria ser de R$ 7 mil. Além disso, os médicos não têm plano de carreira e aqueles que trabalham no Programa Saúde da Família (PSF) têm um vínculo precário com a prefeitura. "Não são concursados, não têm contratos e nem direitos trabalhistas como 13º salário e férias." Na opinião de Salomão Rodrigues, o esforço para oferecer um bom serviço de saúde à população depende da motivação do profissional que presta esse serviço. "É preciso que o médico tenha um salário compatível e um plano de carreira para ter motivação para trabalhar no serviço público." Para o psiquiatra, a discussão sobre saúde deveria envolver a realização de concurso público, a adequação do salário e a implantação de um plano de carreira para médicos e servidores da saúde.
O empresário Ciro Miranda, suplente do senador Marconi Perillo, observa que todos os candidatos estão concentrados em discutir as questões macros, "mas não dizem como vão resolver". Segundo ele, prometem resolver todos os problemas da cidade, fazem promessas mirabolantes, mas não dizem com que recursos vão fazer isso. "Eles não conseguem resolver nem os problemas básicos da cidade, como saúde, transporte e trânsito", diz. No caso do trânsito, Ciro Miranda afirma que o problema não foi resolvido porque se trata de período eleitoral e o governo municipal não quer se desgastar com a população tomando medidas antipáticas. "Uma boa fiscalização resolveria o problema do trânsito, porque o motorista só respeita as leis quando mexem no seu bolso." Segundo o empresário e político, em muitas áreas o município pode contar com o auxílio da União e do Estado, mas o transporte e trânsito são áreas exclusivas do governo municipal. "E os candidatos não promoveram um fórum de debate com a população para apresentar uma solução", observa. Na opinião do presidente do Conselho Regional de Economia de Goiás (Corecon), João Alcântara Lopez, as necessidades básicas da população estão sendo apresentadas pelos candidatos — construção de hospitais, ações na área de educação e transporte, alimentação a preços populares. "Mas é preciso explorar outros temas, como a questão da urbanização da cidade, a segurança pública, que mesmo sendo responsabilidade do Estado, deixa o cidadão exposto, principalmente nos bairros mais afastados." Na opinião do economista, os candidatos deveriam apresentar um plano consistente de segurança para os bairros onde são registrados os maiores índices de violência. Para o professor da Faculdade de Educação da UFG João Ferreira de Oliveira, a educação está sendo tratada de forma pontual pelos candidatos. "Creio que porque o tempo é escasso para eles se aprofundarem nas propostas." Na opinião do professor, os candidatos preferem apresentar promessas de impacto, como a construção de creches em todos os bairros e escola de tempo integral a discutir a educação. O professor lembra que a cabe ao município oferecer vagas para a pré-escola, portanto a construção de creches não deveria ser uma promessa, mas uma obrigação.
Quanto à escola de tempo integral, que ele considera uma solução para problemas sociais e para melhorar a qualidade do ensino, João Ferreira de Oliveira observa que só a implantação do modelo não resolve o problema da educação. "Depende do projeto, das condições de trabalho, dos professores, da proposta político-pedagógica. Debater escola em tempo integral sem discutir estes elementos é uma promessa vazia." Na opinião de João Ferreira de Oliveira, os candidatos têm que informar melhor sobre o projeto de escola em tempo integral que pretendem implantar, uma vez que o modelo demanda a construção de novas escolas, a adaptação das unidades existente, a aquisição de equipamentos, a redução do número de alunos por sala de aula e a contratação de professores. "Vai ser preciso ampliar os recursos da educação para estender o funcionamento das escolas a dois turnos", diz. Hoje, o município, por força da lei, destina 25% do orçamento para a educação. Para implantar a escola em tempo integral a prefeitura teria que passar no mínimo mais 10%, segundo os cálculos do professor. "Algum governo estaria disposto a fazer isso?", questiona. Na avaliação de João Ferreira de Oliveira, faz promessa vazia o candidato que apresenta um projeto para a educação, mas não se preocupa em detalhá-lo nem em explicar a condição estabelecida para que, a partir dele, se produza uma escola de melhor qualidade.
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