domingo, 14 de setembro de 2008

Can­di­da­to é re­fém do elei­tor

Por Andréia Bahia
no Jornal Opção

O de­ba­te elei­to­ral em Go­i­â­nia es­tá cen­tra­do nos te­mas sa­ú­de, tran­spor­te e trân­si­to, pon­tos iden­ti­fi­ca­dos pe­las pes­qui­sas qua­li­ta­ti­vas co­mo crí­ti­cos na ci­da­de. Os le­van­ta­men­tos fei­tos pe­los ins­ti­tu­tos de pes­qui­sas apon­tam aqui­lo que afe­ta a po­pu­la­ção de for­ma ime­di­a­ta e di­re­ta­men­te. As pes­so­as que mo­ram nos se­to­res pró­xi­mos às obras do vi­a­du­to da T-63, Bu­e­no, Be­la Vis­ta e ad­ja­cen­tes, re­cla­mam do trân­si­to; os usu­á­rios do tran­spor­te pú­bli­co, da qua­li­da­de do ser­vi­ço pres­ta­do pe­la em­pre­sas de ôni­bus, e quem se uti­li­za do sis­te­ma pú­bli­co de sa­ú­de, do aten­di­men­to. Mas a ci­da­de não se re­su­me a es­tes te­mas e há ou­tros as­sun­tos mais im­por­tan­tes que es­tão sen­do dei­xa­dos de la­do e que afe­tam a ci­da­de de ma­nei­ra mais sig­ni­fi­ca­ti­va. No ca­so da sa­ú­de, por exem­plo, o pre­si­den­te do Con­se­lho Re­gi­o­nal de Me­di­ci­na (CRM), psi­qui­a­tra Sa­lo­mão Ro­dri­gues, la­men­ta que os can­di­da­tos se li­mi­tem a dis­cu­tir os cha­ma­dos pon­tos crí­ti­cos sem, no en­tan­to, per­ce­ber que o bom aten­di­men­to na sa­ú­de pas­sa obri­ga­to­ri­a­men­te pe­los pro­fis­si­o­nais da sa­ú­de. "Só se dis­cu­te a fa­ci­li­ta­ção do aces­so do pa­ci­en­te ao aten­di­men­to e a ar­ti­cu­la­ção da re­de mu­ni­ci­pal com os Es­ta­dos e a Uni­ão, não se vê nin­guém dis­cu­tin­do as con­di­ções de tra­ba­lho dos mé­di­cos, en­fer­mei­ros e de­mais pro­fis­si­o­nais de sa­ú­de", diz. Se­gun­do ele, os mé­di­cos que tra­ba­lham na re­de mu­ni­ci­pal pre­ci­sam de uma pro­gra­ma­ção pro­gres­si­va que me­lho­re as con­di­ções de tra­ba­lho e, con­se­qüen­te­men­te, a qua­li­da­de da as­sis­tên­cia mé­di­ca pres­ta­da na ca­pi­tal. "Mas o que se faz na sa­ú­de é um tra­ba­lho de bom­bei­ro, de apa­gar in­cên­dio aqui e ali." O pre­si­den­te do CRM con­ta que um mé­di­co da re­de mu­ni­ci­pal ga­nha, com os be­ne­fí­ci­os, cer­ca de R$ 2 mil por 20 ho­ras se­ma­nais, en­quan­to o va­lor cal­cu­la­do pe­la Fun­da­ção Ge­tú­lio Var­gas pa­ra es­se pe­rí­o­do de tra­ba­lho de­ve­ria ser de R$ 7 mil. Além dis­so, os mé­di­cos não têm pla­no de car­rei­ra e aque­les que tra­ba­lham no Pro­gra­ma Sa­ú­de da Fa­mí­lia (PSF) têm um vín­cu­lo pre­cá­rio com a pre­fei­tu­ra. "Não são con­cur­sa­dos, não têm con­tra­tos e nem di­rei­tos tra­ba­lhis­tas co­mo 13º sa­lá­rio e fé­rias." Na opi­ni­ão de Sa­lo­mão Ro­dri­gues, o es­for­ço pa­ra ofe­re­cer um bom ser­vi­ço de sa­ú­de à po­pu­la­ção de­pen­de da mo­ti­va­ção do pro­fis­si­o­nal que pres­ta es­se ser­vi­ço. "É pre­ci­so que o mé­di­co te­nha um sa­lá­rio com­pa­tí­vel e um pla­no de car­rei­ra pa­ra ter mo­ti­va­ção pa­ra tra­ba­lhar no ser­vi­ço pú­bli­co." Pa­ra o psi­qui­a­tra, a dis­cus­são so­bre sa­ú­de de­ve­ria en­vol­ver a re­a­li­za­ção de con­cur­so pú­bli­co, a ade­qua­ção do sa­lá­rio e a im­plan­ta­ção de um pla­no de car­rei­ra pa­ra mé­di­cos e ser­vi­do­res da sa­ú­de.
O em­pre­sá­rio Ci­ro Mi­ran­da, suplente do senador Marconi Perillo, ob­ser­va que to­dos os can­di­da­tos es­tão con­cen­tra­dos em dis­cu­tir as ques­tões ma­cros, "mas não di­zem co­mo vão re­sol­ver". Se­gun­do ele, pro­me­tem re­sol­ver to­dos os pro­ble­mas da ci­da­de, fa­zem pro­mes­sas mi­ra­bo­lan­tes, mas não di­zem com que re­cur­sos vão fa­zer is­so. "Eles não con­se­guem re­sol­ver nem os pro­ble­mas bá­si­cos da ci­da­de, co­mo sa­ú­de, tran­spor­te e trân­si­to", diz. No ca­so do trân­si­to, Ci­ro Mi­ran­da afir­ma que o pro­ble­ma não foi re­sol­vi­do por­que se tra­ta de pe­rí­o­do elei­to­ral e o go­ver­no mu­ni­ci­pal não quer se des­gas­tar com a po­pu­la­ção to­man­do me­di­das an­ti­pá­ti­cas. "Uma boa fis­ca­li­za­ção re­sol­ve­ria o pro­ble­ma do trân­si­to, por­que o mo­to­ris­ta só res­pei­ta as leis quan­do me­xem no seu bol­so." Se­gun­do o em­pre­sá­rio e político, em mui­tas áre­as o mu­ni­cí­pio po­de con­tar com o au­xí­lio da Uni­ão e do Es­ta­do, mas o tran­spor­te e trân­si­to são áre­as ex­clu­si­vas do go­ver­no mu­ni­ci­pal. "E os can­di­da­tos não pro­mo­ve­ram um fó­rum de de­ba­te com a po­pu­la­ção pa­ra apre­sen­tar uma so­lu­ção", observa. Na opi­ni­ão do pre­si­den­te do Con­se­lho Re­gi­o­nal de Eco­no­mia de Go­i­ás (Co­re­con), Jo­ão Al­cân­ta­ra Lo­pez, as ne­ces­si­da­des bá­si­cas da po­pu­la­ção es­tão sen­do apre­sen­ta­das pe­los can­di­da­tos — cons­tru­ção de hos­pi­tais, ações na área de edu­ca­ção e tran­spor­te, ali­men­ta­ção a pre­ços po­pu­la­res. "Mas é pre­ci­so ex­plo­rar ou­tros te­mas, co­mo a ques­tão da ur­ba­ni­za­ção da ci­da­de, a se­gu­ran­ça pú­bli­ca, que mes­mo sen­do res­pon­sa­bi­li­da­de do Es­ta­do, dei­xa o ci­da­dão ex­pos­to, prin­ci­pal­men­te nos bair­ros mais afas­ta­dos." Na opi­ni­ão do eco­no­mis­ta, os can­di­da­tos de­ve­ri­am apre­sen­tar um pla­no con­sis­ten­te de se­gu­ran­ça pa­ra os bair­ros on­de são re­gis­tra­dos os mai­o­res ín­di­ces de vi­o­lên­cia. Pa­ra o pro­fes­sor da Fa­cul­da­de de Edu­ca­ção da UFG Jo­ão Fer­rei­ra de Oli­vei­ra, a edu­ca­ção es­tá sen­do tra­ta­da de for­ma pon­tu­al pe­los can­di­da­tos. "Creio que por­que o tem­po é es­cas­so pa­ra eles se apro­fun­da­rem nas pro­pos­tas." Na opi­ni­ão do pro­fes­sor, os can­di­da­tos pre­fe­rem apre­sen­tar pro­mes­sas de im­pac­to, co­mo a cons­tru­ção de cre­ches em to­dos os bair­ros e es­co­la de tem­po in­te­gral a dis­cu­tir a edu­ca­ção. O pro­fes­sor lem­bra que a ca­be ao mu­ni­cí­pio ofe­re­cer va­gas pa­ra a pré-es­co­la, por­tan­to a cons­tru­ção de cre­ches não de­ve­ria ser uma pro­mes­sa, mas uma obri­ga­ção.
Quan­to à es­co­la de tem­po in­te­gral, que ele con­si­de­ra uma so­lu­ção pa­ra pro­ble­mas so­ci­ais e pa­ra me­lho­rar a qua­li­da­de do en­si­no, Jo­ão Fer­rei­ra de Oli­vei­ra ob­ser­va que só a im­plan­ta­ção do mo­de­lo não re­sol­ve o pro­ble­ma da edu­ca­ção. "De­pen­de do pro­je­to, das con­di­ções de tra­ba­lho, dos pro­fes­so­res, da pro­pos­ta po­lí­ti­co-pe­da­gó­gi­ca. De­ba­ter es­co­la em tem­po in­te­gral sem dis­cu­tir es­tes ele­men­tos é uma pro­mes­sa va­zia." Na opi­ni­ão de Jo­ão Fer­rei­ra de Oli­vei­ra, os can­di­da­tos têm que in­for­mar me­lhor so­bre o pro­je­to de es­co­la em tem­po in­te­gral que pre­ten­dem im­plan­tar, uma vez que o mo­de­lo de­man­da a cons­tru­ção de no­vas es­co­las, a adap­ta­ção das uni­da­des exis­ten­te, a aqui­si­ção de equi­pa­men­tos, a re­du­ção do nú­me­ro de alu­nos por sa­la de au­la e a con­tra­ta­ção de pro­fes­so­res. "Vai ser pre­ci­so am­pli­ar os re­cur­sos da edu­ca­ção pa­ra es­ten­der o fun­cio­na­men­to das es­co­las a dois tur­nos", diz. Ho­je, o mu­ni­cí­pio, por for­ça da lei, des­ti­na 25% do or­ça­men­to pa­ra a edu­ca­ção. Pa­ra im­plan­tar a es­co­la em tem­po in­te­gral a pre­fei­tu­ra te­ria que pas­sar no mí­ni­mo mais 10%, se­gun­do os cál­cu­los do pro­fes­sor. "Al­gum go­ver­no es­ta­ria dis­pos­to a fa­zer is­so?", ques­ti­o­na. Na ava­li­a­ção de Jo­ão Fer­rei­ra de Oli­vei­ra, faz pro­mes­sa va­zia o can­di­da­to que apre­sen­ta um pro­je­to pa­ra a edu­ca­ção, mas não se pre­o­cu­pa em de­ta­lhá-lo nem em ex­pli­car a con­di­ção es­ta­be­le­ci­da pa­ra que, a par­tir de­le, se pro­du­za uma es­co­la de me­lhor qua­li­da­de.

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