sábado, 20 de setembro de 2008

Pausa nas ocupações geram novas críticas

Por Fernanda Thurler
no Jornal do Brasil

A parada nas ocupações de co- munidades que o Comando Militar do Leste programou para hoje fez aumentarem as críticas à ação das tropas. Sábado é um dia em que os candidatos gostam de fazer campanha, porque os muitos moradores não trabalham e estão em casa. Candidatos como Solange Amaral (DEM), Chico Alencar (PSOL) e Alessandro Molon (PT), além de um cientista político ouvido pelo JB , fizeram críticas à interrupção das ocupações hoje. A candidata a prefeita Solange Amaral (DEM), única que já pegou carona com o Exército ­ duas vezes, na Cidade de Deus, na Zona Oeste, e na Rocinha, na Zona Sul ­ disse que é uma pena que haja esse hiato na programação, porque, diferentemente dos militares, os bandidos não tiram folga. ­ O trabalho da malandragem não vai parar. Portanto, seria bom que eles (soldados) trabalhassem mais, e não só nas comunidades, mas nos centros de bairro também ­ afirmou Solange. Até agora, foram ocupadas 13 das 28 comunidades apontadas pelo Tribunal Regional Eleitoral como mais críticas no cerceamento à liberdade dos moradores. Nos próximos 15 dias, que antecedem o pleito, o Exército ainda precisa atuar em outras 15 localidades, não só na capital. Porta-voz do Comando Militar do Leste, o tenente-coronel André Luiz Novaes garantiu que a pausa já estava programada: ­ Vamos entrar em uma semana complexa, com ocupações até em São Gonçalo e decidimos aproveitar o dia para fazer o reajuste de dispositivo e um balanço da Operação Guanabara.
Polêmica
Para o cientista político João Tra- jano, no entanto, o sistema de rodízio da ocupação não é suficiente e, muito menos, eficiente. ­ Na hora do voto, o eleitor é solitário, ele pode fazer a escolha determinada e os mecanismos de intimidação não vão ser significativamente comprometidos com essas intervenções. Os militares podem permitir a entrada de candidatos, mas o resultado disso é pífio. Não mina os mecanismos de coerção ­ analisa Trajano. Por outro lado, a coordenadora do Núcleo de Pesquisas das Violências da UERJ, Alba Zaluar, vê como necessária a intervenção militar, levando-se em conta o atual poderio de traficantes e milicianos na cidade, embora a estratégia não seja totalmente eficaz. ­ É uma solução emergencial. A presença do Exército pode oferecer um limite a qualquer tipo de ingerência do poder paralelo. Os moradores podem se sentir mais independentes, mas não há contingentes, nem armas, para um ocupação permanente ­ destaca. Bem críticos quanto à eficiência da operação, que terá continuidade durante o segundo turno, os candidatos Alessandro Molon (PT) e Chico Alencar (PSOL) questionam o sistema itinerante programado pelo Comando Militar do Leste. ­ Os soldados ficam dois dias e vão embora. Depois, tudo volta ao normal. A milícia e o tráfico apenas se encolhem nesses dias ­ ressalta o deputado federal. ­ É a política do espantalho. Quando a gralha percebe que aquilo não adianta nada, ela perde o medo. O petista complementa: ­ Não acho que uma operação itinerante possa garantir a segurança do eleitor ficando nessas comunidades por poucos dias. Depois da pausa de um dia, os soldados voltam à labuta e ocupam mais quatro favelas. Três dominadas pelo tráfico: Jacarezinho (Zona Norte), Antares e Carobinha ­ que até julho era dominada pelo grupo pára-militar autodenominado Liga da Justiça, cujos líderes são os irmãos Natalino Guimarães e Jerônimo Guimãres, o Jerominho, ambos presos ­ (Zona Oeste). A outra também é refém de milicianos: o Barbante, também na Zona Oeste ­ onde sete moradores foram mortos a tiros no mês passado.

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