domingo, 14 de setembro de 2008

Morales ordena detenção de governador

Por Fabio Maisonave
na Folha de São Paulo

O presidente boliviano, Evo Morales, determinou ontem à noite a prisão do governador de Pando, Leopoldo Fernández, acusado de desafiar o estado de sítio instaurado há dois dias e de usar pistoleiros brasileiros nos confrontos da quinta-feira, que deixaram um saldo de pelo menos 16 mortos.Por volta das 19h, o ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, anunciou, em entrevista à rádio Erbol desde Cobija (capital de Pando), que Fernández seria preso ainda à noite e que o Exército ocuparia a cidade -atualmente, controla apenas no aeroporto.Quintana disse que o governador será preso por incitar a desobediência ao estado de sítio decretado por Morales, o qual, entre outras medidas restritivas, proíbe reuniões. "Esse desacato vai ter um limite, a detenção do governador", disse.Em entrevista à Folha por telefone no início da noite, Fernández disse que não defendera nem atacara o estado de sítio, mas afirmou que se trata de um pretexto para isolar e militarizar Pando e depois repetir a mesma ação nos demais departamentos "rebeldes". "Aqui está um clima de guerra."Segundo relatos da enviada da emissora de TV PAT, à noite se escutavam tiros pelas ruas da cidade, localizada na fronteira com o Brasil, que estava sem energia. A jornalista afirmou que não havia segurança para deixar o aeroporto.Pela manhã, Morales havia feito duras acusações contra Fernández. "O que aconteceu em Cobija - submetralhadoras, narcotraficantes, pistoleiros brasileiros e peruanos operando sob as ordens do departamento de Pando- é muito grave, obviamente", disse, durante entrevista em La Paz.O Itamaraty não se pronunciou ontem sobre as declarações de Morales.Em entrevista à rádio Fides o ministro de Governo, Alfredo Rada, disse que os mortos nos enfrentamentos de quinta-feira entre camponeses pró-Morales e opositores já são 16, mas que o número pode chegar a 30 caso sejam confirmadas as descobertas de mais cadáveres pelos rios da região. O episódio ocorreu no vilarejo de Porvenir, a 30 km da capital do departamento, Cobija.Fernández negou a participação de brasileiros no enfrentamento e disse que a violência foi desatada de madrugada, depois que supostos manifestantes camponeses mataram três funcionários do Serviço Nacional de Caminhos (SNC) que tentavam impedir sua passagem. "Um engenheiro foi morto e exibido como troféu."Na sua versão, foi então que cerca de cem moradores de Porvenir atacaram os evistas, provocando um tiroteio em pleno centro do povoado.
Embaixada americana
Depois de ter o embaixador Philip Goldberg expulso do país, a representação dos EUA decidiu retirar da Bolívia todos os funcionários em funções não essenciais, segundo a Folha apurou. A ação está prevista para começar já nesta semana.

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