sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Evo abre diálogo, mas tensão persiste

No Estado de São Paulo com agências internacionais

Apesar do início das negociações entre o governo central e oposição, camponeses partidários do presidente boliviano, Evo Morales, mantinham ontem o bloqueio a estradas de acesso a Santa Cruz, o reduto dos opositores. Vários escritórios governamentais nos quatro departamentos (Estados) autonomistas também continuavam ocupados por grupos contrários ao presidente. O desbloqueio das estradas e a desocupação dos prédios públicos estavam previstos no acordo de intenções firmado na terça-feira entre Evo e governadores oposicionistas. "Os bloqueios de vias persistirão até que os manifestantes regionais devolvam todos os imóveis tomados e saqueados do Estado", afirmou Fidel Surco, líder da Federação de Colonizadores, partidária do presidente.Longe das zonas de distúrbio, o encontro entre Evo e os governadores de Santa Cruz, Tarija e Beni começou ontem em Cochabamba, sem cerimônias e a portas fechadas. O governador de Pando - o outro departamento que pede autonomia -, Leopoldo Fernández, não participou do primeiro dia de diálogo porque está preso . Mas os opositores pedem sua libertação como forma de fortalecer as negociações. Também participam das reuniões representantes de partidos de oposição, alguns ministros de Evo, líderes do Poder Legislativo, observadores da Igreja Católica e de organizações internacionais, entre eles o presidente da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza."Essa pode ser a última chance de resolver os problemas do país em paz", afirmou Mario Cossío, governador de Tarija, ao chegar para o debate. O principal adversário de Evo, Rubén Costas, governador de Santa Cruz, disse ter esperanças de que se alcance "esse grande pacto social para pacificar o país". Após três semanas de invasões, protestos violentos e enfrentamentos, o diálogo busca uma solução de longo prazo para o país divido. O pacto inicial prevê 30 dias para que os dois lados cheguem a um acordo definitivo. Na primeira declaração oficial sobre a cúpula de Cochabamba, o porta-voz presidencial, Iván Canelas, afirmou que o debate avança "de forma positiva". "O governo acredita em um acordo dentro de 4 ou 5 dias de trabalho contínuo, se houver um diálogo sincero", disse.Segundo Canelas, ontem se discutiu a metodologia das conversas e como serão formadas comissões técnicas para discutir os três temas mais sensíveis: nova Constituição e autonomia para os departamentos, imposto sobre gás e petróleo e eleição de autoridades judiciais. Durante as negociações, os governadores oposicionistas vão pressionar por mais autonomia e uma fatia maior no repasse dos impostos arrecadados com a exploração do gás e petróleo.No fim do dia, o porta-voz do presidente boliviano reiterou o pedido para que os camponeses liberem as estradas do país e a oposição desocupe os prédios governamentais.
REFORMA EM RISCO
O debate transcorre sob forte vigilância dos setores sociais que apóiam o primeiro presidente indígena da Bolívia. Muitos temem que a reforma socialista prometida por ele não se concretize. O lobby da indústria agropecuária quer tirar do texto da Constituição o trecho que limita o tamanho de propriedades rurais. "De forma nenhuma nós vamos apoiar a limitação de terras", disse Guido Nayar, líder da federação agrícola de Santa Cruz.
TEMAS DO DEBATE
Imposto - La Paz reconheceu que os departamentos devem receber repasses dos US$ 166 milhões arrecadados com exploração de gás e petróleo
Carta e autonomia - Evo paralisou por um mês tramitação do projeto de referendo sobre a nova Carta, cujo texto foi aprovado sem a oposição
Nomeação de juízes - Oposição e governo propõem-se a pacto institucional para preencher vagas em tribunais

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