domingo, 14 de setembro de 2008

PIB de 2009 deve ser um "2008 light"

Por Fernando Canzian
na Folha de São Paulo

O ano de 2009 será como 2008, mas mais "light". Em vez de um crescimento superior a 5%, algo entre 3,5% e 4,5% -acima dos medíocres anos 90.Empresários e analistas prevêem para 2009 um perfil de crescimento muito parecido com o atual, embora sem o mesmo ímpeto. Ainda com algum impulso do desempenho atual, mas com o freio da crise externa e dos juros em alta.Para o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro Neto, 2009 será um ano "menos inflado". Já o presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), Luiz Aubert Neto, alerta para o risco de uma desaceleração acima do desejável nos investimentos.A grande dúvida está no crédito: se as empresas conseguirão dinheiro para manter altos os investimentos, como fazem há 18 trimestres, garantindo o aumento da oferta; e se o consumidor terá fôlego para continuar se endividando.Com juros mais altos, o mercado externo praticamente fechado para grandes captações de empresas e bancos e a Bolsa inviabilizada para aberturas de capital, pode se tornar difícil manter o aumento dos investimentos na faixa atual, de 16%.As captações externas para as empresas nacionais já diminuíram quase 50% nos sete primeiros meses do ano, retirando R$ 14 bilhões em financiamentos ao setor produtivo em relação ao ano passado.Na semana passada, a Light e a Oi desistiram de captar quase R$ 4 bilhões frente às condições adversas do mercado.No mercado de ações, enquanto nos primeiros sete meses de 2007 foram registradas 49 operações na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), neste ano foram 8, segundo contabilização da Tendências.A saída para as empresas foi recorrer mais ao sistema bancário local, que emprestou R$ 62 bilhões (10% a mais) nos primeiros sete meses do ano para pessoas jurídicas do que em igual período de 2007. Com os juros em alta e a expectativa de desaceleração na economia, esse ímpeto tende a diminuir."Vem por aí uma dificuldade no mercado de crédito. Não só no Brasil, mas em outros países, o que pode afetar o consumo global e os preços das commodities que o Brasil exporta", afirma Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).Outra dúvida é quão aquecido continuará, em 2009, o consumo das famílias, hoje muito dependente do crédito. E em que nível ele vai sustentar a produção das empresas.Nas previsões de Fernanda Della Rosa, gerente do Departamento de Economia da Fecomercio-SP, a atual fase de alta dos juros não deve tirar o apetite dos consumidores."Para o comércio, mais importante que o juro é termos prazo longo nas prestações e inflação baixa", diz. Em agosto passado, segundo a Fecomercio-SP, apenas 45% dos consumidores em São Paulo tinham contraído dívidas voluntárias, nível bem inferior aos 72% de novembro de 2006."Há espaço para aumento do crédito, especialmente se a renda e o emprego continuarem em alta", diz Della Rosa.Para o economista do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos) Frederico Melo, porém, 2009 traz "um sério risco de desaceleração" na evolução do emprego e da renda.O Dieese já constata em 2008 "ligeira piora" nesses indicadores. Enquanto em 2007 96% das categorias zeraram suas perdas em relação à inflação, o percentual neste ano está em 86%. "Em 2009 deve ser mais baixo ainda", diz Melo.Segundo análise da MB Associados, no segundo semestre de 2008 a massa de renda dos brasileiros continua crescendo em um ritmo bem inferior ao do aumento do crédito. Isso pode provocar mais inadimplência e, mais à frente, restrições maiores na concessão de financiamentos às famílias.O PIB do segundo trimestre do ano já havia mostrado um aumento de 8,1% na massa salarial e de 33% nas operações de crédito para pessoas físicas.Adalberto Savioli, presidente da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), já considera "elevado" o atual nível de inadimplência: 7,5% do total dos empréstimos a pessoas físicas e 3,8% nos financiamentos para compra de veículos. "É o dobro em relação a padrões internacionais", diz."As perspectivas para 2009 são favoráveis, mas não iguais a 2008", resume Alencar Burti, presidente da ACSP (Associação Comercial de São Paulo). Ele espera vendas 6% maiores no ano que vem, abaixo do aumento de 8% deste ano.

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