domingo, 23 de dezembro de 2007

Se é clima de final de ano, vamos fazer uma retrospectiva

Todo final de ano tem sua retrospectiva. Os fatos mais importantes são revistos. Eu já disse que o fato mais importante do ano foi a vaia que Lula levou no Maracanã durante a cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro. A retrospectiva que quero fazer aqui, neste post, são fatos deste ano e de 2004. É uma matéria que saiu na Folha de São Paulo do dia 28 de fevereiro de 2004. Fala de um certo Delúbio Soares que fazia lobby dentro do Palácio do Planalto:

O secretário de Finanças e Planejamento do PT, Delúbio Soares, tesoureiro da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, se reuniu com ministros, discutiu nomeações, defendeu liberação de emendas de interesse de governadores e conheceu pelo menos um empreiteiro --tudo isso dentro do Palácio do Planalto. É o que revela uma relação de encontros oficiais do ministro dos Transportes, Anderson Adauto (PL).

No dia 20 de agosto do ano passado, Delúbio Soares participou de uma reunião com o ministro Anderson Adauto em uma sala contígua à do ministro da Casa Civil, José Dirceu, no 4º andar do Planalto. Antes desse encontro, nessa mesma sala, Delúbio conheceu o empreiteiro Tito Valadares Roquete Neto, vice-presidente Rodoviário do Sindicato da Indústria de Construção Pesada no Estado de Minas Gerais.

No relatório oficial da agenda do ministro dos Transportes, a reunião aparece como tendo sido entre os três: Adauto, Tito e Delúbio. Tudo dentro do Palácio do Planalto. Adauto, Tito e Delúbio confirmaram à Folha o encontro, mas cada um apresentou uma versão particular do ocorrido.

É comum os empreiteiros procurarem o Ministério dos Transportes. No ano passado, cobravam dívidas não recebidas de 2002, os "restos a pagar" ("RAP"). Os empreiteiros queriam receber R$ 650 milhões devidos por conta de obras executadas no governo FHC. Com a anuência do Planalto, Adauto prometeu aos empreiteiros pagar metade em 2003 e o restante em 2004. Cumpriu o acerto. Agora, há mais cerca de outros R$ 600 milhões de RAP, sobras de 2003. Haverá mais rapidez no pagamento, que deve ser liquidado até o mês que vem.

A explicação de Adauto para sua agenda de 20 de agosto de 2003 é que houve um engano na transcrição do ocorrido: "Eu estava no Palácio do Planalto para ter uma reunião com o ministro José Dirceu. Como a agenda dele estava um pouco atrasada, mandei que chamassem o Tito para que eu o recebesse no palácio mesmo. Depois, também tive uma reunião separada, que já estava agendada, com o Delúbio e com o Sílvio [José Pereira, secretário Nacional de Organização do PT]". Segundo Anderson Adauto, os dirigentes petistas nada trataram com o empreiteiro Tito Roquete Neto.

O empreiteiro também se recorda da reunião no Planalto. Ele explica que tratou sobre o modelo de concessão de rodovias com o ministro dos Transportes. Mas não se recorda de ter se avistado com Delúbio e Sílvio Pereira.

Consultado ontem pela Folha, Delúbio tem uma memória semelhante, com uma diferença: o tesoureiro petista confirma ter sido apresentado ao empreiteiro. "Eu tinha marcado às 9h15 com o Anderson. Ele chegou com o Tito e me apresentou o Tito. O Tito saiu e eu conversei com o Anderson. Eu nem conhecia essa pessoa [Tito]. Não tive reunião com ele".

Cargos e interesses

O relevante nesse episódio da agenda de Adauto é a revelação de como o PT operou dentro do governo federal, a partir da posse de Lula, dentro do Planalto. "O ministro com quem eu mais converso é o Zé Dirceu", diz Delúbio. Sem nenhum cargo no governo, Delúbio Soares e Sílvio Pereira operam como se fossem ministros sem pasta. Da mesma forma que se reuniram com Adauto, os dois também tiveram dezenas de encontros na Esplanada para pedir a nomeação de pessoas.

O Ministério dos Transportes é um exemplo do que pode ter ocorrido nas outras pastas: o PT indicou ou absorveu a responsabilidade de 167 dos 308 cargos com alguma relevância (assistentes, assessores, diretores etc.), os chamados DAS (direção e assessoramento superior). Se se considerar apenas os cargos mais importantes (os DAS 4, 5 e 6), o PT ficou com 40 dos cargos do Ministério dos Transportes. O PL, partido de Adauto, abocanhou 40.

O que Delúbio Soares discutiu nessa sua reunião de 20 de agosto passado no Planalto? "Foi para discutir cargos. Naquela época, acho que era de Mato Grosso do Sul." Só cargos? Delúbio responde: "Para tratar de cargos. E algumas outras que eu tive com vários outros ministros para tratar de interesses. Por exemplo, emendas de governo. Por exemplo, o governo do meu Estado [Goiás]. Vive atrás de mim para nós fazermos lá uma ajuda para construir o metrô, construir estação de tratamento de água. Eu ajudo".

Num levantamento obtido pela Folha, Delúbio esteve oficialmente cinco vezes com Adauto. Sílvio Pereira foi ao Ministério dos Transportes nove vezes. Ambos, Delúbio e Sílvio também tiveram várias reuniões "extra agenda" com Adauto. Segundo o ministro, podem ter passado de dez.

"Eu acho que já tive reunião com quase todos os ministros. Não os das áreas militares, porque não tem nada que tratar com eles. Muitas visitas foram para parabenizar os ministros. Afinal de contas, eu sou dirigente do partido hegemônico, que ganhou o governo. Visito sempre. Eu, [José] Genoino, o Sílvio [Pereira] e outros dirigentes do PT. Muitos dos que estão aí eram nossos colegas de Executiva Nacional ou do Diretório Nacional", diz Delúbio.

Procurado pela Folha, Sílvio Pereira não foi localizado ontem.

Antes do mensalão Delúbio Soares e Sílvio Pereira já circulavam livremente pelo Palácio do Planalto e já eram destaques nos noticiários. Seus movimentos já eram friamente calculados. Delúbio e Sílvio discutiam cargos dentro do governo. Delúbio ajudava até o governo de Goiás. Será que Delúbio fazia isso por simpatia com o então governador Marconi Perillo ou recebia alguma coisa em troca. Prefiro ficar com a segunda alternativa. Tudo por conta desta outra reportagem publicada pela Agência Folha no dia 28 de maio de 2007:

A Justiça de Goiás condenou o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares a ressarcir o Estado em R$ 164 mil. O juiz Ari Queiroz, da 3ª Vara da Fazenda Pública Estadual de Goiânia, entendeu que Delúbio adquiriu a quantia de maneira ilegal quando era professor da rede pública estadual de Goiás.

Segundo a Justiça, enquanto estava em licença remunerada para atuar no Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás, ele na verdade morou em São Paulo e não atuou no sindicato. Ainda cabe recurso à decisão.

Delúbio não exerce a profissão de professor desde 1985, quando se licenciou para atuar como sindicalista. O ex-tesoureiro foi demitido do cargo na rede estadual em janeiro do ano passado por ter abandonado o emprego, segundo parecer da Secretaria Estadual da Educação de Goiás.

O juiz responsável pelo caso também considerou que houve conivência da direção do Sindicato dos Trabalhadores da Educação, que fornecia falsas declarações de freqüência ao ex-tesoureiro do PT, e da Secretaria da Educação.

Por conta disso, duas ex-presidentes do sindicato foram condenadas a participar, junto com Delúbio, do pagamento da quantia a ser ressarcida. Os R$ 164 mil são referentes aos períodos de 1994 a 1998 e de 2001 a 2006.

Questionado pela Folha, o advogado do ex-tesoureiro, Sebastião Ferreira Leite, falou que ainda não foi intimado pela Justiça sobre a condenação e que não iria comentar a decisão. Disse apenas que vai provar que Delúbio é inocente.


É só ligar os fatos. Delúbio entrava livremente no Palácio do Planalto e ajudava o governo de Goiás mesmo não estando ali oficialmente em nome do Palácio das Esmeraldas. Em troca, Marconi Perillo aliviava a barra de Delúbio sobre as irregularidades na sua licença do cargo de professor da rede estadual de ensino. Resta a Justiça investigar o caso. Espero que a Justiça ligue um fato ao outro e procure saber as tramóias delubianas e petistas. Espero que a Justiça anuncie se Delúbio devolveu aos cofres de Goiás os R$ 164 mil recebidos ilegalmente. Afinal, os cofres goianos estão precisando de mais verbas. Este ressarcimento seria muito bem vindo pelo governador de Goiás Alcides Rodrigues, o popular Cidinho. Já que espero tanto da Justiça, não custa nada fazer mais um pedido: espero que a Justiça investigue se Cidinho não teve nada a ver com este caso. Como Marconi Perillo sempre falou: seu governo era feito a quatro mãos, suas e de Cidinho.

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