domingo, 23 de dezembro de 2007

Arruda mentiu

Um trecho do editorial do Jornal Opção desta semana:

Guardadas as diferenças de proporção histórica, pode-se comparar o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, com Churchill e o político que derrotou o político inglês com Roriz. Com a distância histórica, quem vai ser julgado melhor: Arruda ou Roriz? Evidente que ainda não se pode saber, mas os dados iniciais indicam que Arruda pode ser lembrado como o gestor que pôs a casa em ordem e organizou uma forma sustentada de investimentos e Roriz será rememorado como o gestor do submundo, dos negócios nebulosos.

O editorial faz um grande louvor à administração de José Roberto Arruda a frente do governo do Distrito Federal. Também desce a lenha no ex-governador e ex-senador Joaquim Roriz. Concordo com as críticas feitas à Roriz. Discordo dos louvores à Arruda. O editorial não menciona que, há quase sete anos, este mesmo José Roberto Arruda renunciava ao mandato de senador por ter violado o painel do Senado que registrara os votos da sessão que cassou Luiz Estevão, o primeiro senador expurgado do Senado na história da República brasileira. Transcrevo abaixo um trecho de uma reportagem da revista Veja que falava sobre a violação do painel do Senado. Ah, só um lembrete. Arruda não estava sozinho. Antônio Carlos Magalhães também participou da quebra do sigilo do painel. Vamos a Veja do dia 02 de maio de 2001:

E, agora, outros dois senadores se acham com a cabeça na guilhotina, sob a ameaça concretíssima de sofrer um processo de cassação do mandato: o ex-tucano José Roberto Arruda, líder do governo de Fernando Henrique Cardoso até duas semanas atrás, e o ex-presidente do Senado Antonio Carlos Magalhães, do PFL baiano. A acusação que pesa contra eles é de terem violado o painel eletrônico do Senado para descobrir como votou cada colega na sessão em que foi cassado o mandato do senador Luiz Estevão. Teriam ferido, portanto, a regra central sobre a qual se baseiam as democracias: o segredo do voto. Na crise atual o que mais choca a opinião pública, no entanto, é o festival de mentiras que tomou conta do Senado da República.

Na semana passada, num intervalo de apenas quatro dias, Arruda e ACM, ambos encurralados por revelações avassaladoras de funcionários que trabalhavam no setor de informática do Senado, viveram o constrangimento de vir a público desdizer o que haviam afirmado categoricamente antes. Os anais do Senado jamais registraram uma mentira de forma tão irretorquível e esmagadora. A cronologia:

.Em 18 de abril, o senador Arruda, ainda líder do governo no Senado, sobe à tribuna e, com a fúria de um vulcão explodindo, diz que jamais leu ou viu a lista de votação da cassação de Estevão.

.Em 23 de abril, o mesmíssimo senador, já ex-líder do governo, sobe à mesma tribuna e, lágrimas nos olhos, confessa que leu e viu a lista de votação da cassação.

.Em 17 de abril, no plenário do Senado, Antonio Carlos afirma aos colegas: "Não recebi lista nenhuma nem me foi entregue por ninguém lista alguma".

.Em 26 de abril, em depoimento ao Conselho de Ética do Senado, ACM admite que recebeu a lista em seu gabinete, leu-a voto por voto e depois a destruiu.

Não se pode confiar na palavra de político. Político mente. Um dia antes da votação que cassaria ou não o mandato do senador Renan Canalheiros, a Folha de São Paulo fez uma pesquisa com os senadores e constatou que a maioria dos entrevistados votaria pela cassação do Rei do Gado. Eles mentiram! Renan Canalheiros foi absolvido dos dois processos que pediam sua cabeça. Hoje, fora da Presidência do Senado, Renan tenta ser apenas um senador e evitar os holofotes da mídia. Como mostra a reportagem da revista Veja do começo de maio de 2001, José Roberto Arruda mentiu na tribuna do Senado. Ao contrário do editorial do Jornal Opção, não acredito que Arruda seja superior à Roriz. Os dois estão no mesmo nível. Os dois eram senadores. Os dois renunciaram ao mandato por causa de denúncias de corrupção. O editorial não fala dos podres de Arruda no ano de 2001. Mas eu lembro aqui. Com a distância histórica tanto José Roberto Arruda como Joaquim Roriz serão julgados da mesma forma: senadores que renunciaram ao mandato depois de sujar a imagem do Senado brasileiro.

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