domingo, 23 de dezembro de 2007

Lula admite conter despesas e deixa no ar revisão sobre tributos

Por Catia Seabra
na Folha de São Paulo

Uma semana depois de desautorizar o ministro da Fazenda Guido Mantega, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem que busca uma fonte de receita que substitua, ao menos parcialmente, a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira).Em São Paulo para confraternização da Associação Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, Lula disse que haverá cortes de despesas até que governo e Congresso - inclusive oposição - "encontrem uma solução de como repor os R$ 40 bilhões ou parte" deles."O governo vai ter que fazer contenção de despesas, e vamos ver o que vai ser criado, de novo, para a gente poder compatibilizar os R$ 40 bilhões que vão faltar no Orçamento."Lula nem sequer descartou aumento de alíquotas. "Não posso dizer o que vai haver e o que não vai haver. Vamos decidir só a partir de janeiro."Questionado se a conversa incluiria a oposição, afirmou:"Com todo mundo, porque cada senador vale um voto, seja ele da oposição ou da situação".Ele frisou que não haverá "um centavo de corte" nas políticas sociais e minimizou a derrota. "De vez em quando, acham que o presidente ficou nervoso, ou o presidente foi derrotado. Nem fiquei nervoso, nem fui derrotado. Não fui eu quem criou a CPMF".Para Lula, o placar foi um produto da democracia. "O Brasil teve momentos mais fáceis, em que o Congresso não apitava nada, porque foi fechado. Queremos que o Congresso seja o mais livre, o mais autônomo, possível. E isso acontece."Pouco antes, ao discursar para os catadores, Lula se queixou da equipe. Cobrado por líderes do movimento, o presidente se disse "decepcionado" e "frustrado" ao ser informado, já no evento, que um convênio com a Funasa (Fundação Nacional de Saúde) e Ministério do Trabalho, no valor de R$ 35 milhões, não saira do papel."Tem acordo que foi feito, ainda quando o Marinho era ministro do Trabalho, e não saiu o dinheiro, porque está parado na mão de alguém. Agora, eu chego aqui sem saber disso", queixou-se o presidente, para quem os funcionários públicos não autorizam gastos temendo sanções do Ministério Público e do Tribunal de Contas."O funcionário público trabalha com muito medo", disse.No caso dos catadores, o movimento não tem pessoa jurídica para assinatura de convênio. Mas, ontem mesmo, o chefe de gabinete do presidente, Gilberto Carvalho, prometeu liberar R$ 15 milhões este ano."Se vocês estiverem negociando com os ministros e, depois de três ou quatro reuniões, não tiverem uma solução, é porque não tem consenso. Se não tiver consenso, isso tem que ir para a minha mesa. Se não, fica o ano inteiro sem consenso", sugeriu Lula, comparando a situação à de um pai que acredita "que o filho está trancado no quarto estudando, e ele não está coisa nenhuma".Ao lado do coordenador da pastoral do povo de rua, padre Júlio Lancelotti, Lula criticou "aqueles que têm estudo e que jogam lixo na rua".Tem gente que pensa que é melhor do que vocês, mas são eles que jogam o lixo na rua, são eles que não fazem a reciclagem direta. Se não houvesse os "sujismundos", não precisava ter os catadores.Foi a primeira vez em que Lula encontra o padre Lancelotti, desde agosto, quando, acusou um ex-interno da Febem de extorsão. O padre foi acusado pelo ex-interno de corrupção de menores, mas nada foi provado.

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