sábado, 29 de dezembro de 2007

Partido de Benazir culpa o governo pelo assassinato

Na Folha de São Paulo

Enquanto simpatizantes de Benazir Bhutto protestam contra o ditador Pervez Musharraf e culpam o regime por sua morte, a polícia paquistanesa se esforça para provar a relação de organizações terroristas com o atentado. Analistas concordam que Al Qaeda e o Taleban, que haviam ameaçado Benazir, são os suspeitos mais óbvios, mas têm dúvidas sobre a possibilidade de que sejam descobertas as circunstâncias do episódio e se houve ou não cooperação de agentes da inteligência.A cabeça carbonizada do suposto terrorista suicida foi recolhida pela polícia, que tenta identificá-lo por meio de um teste de DNA. Se descoberta, a seqüência genética não provará, a rigor, nada. Até o momento, a única "prova" relatada pelo governo são ligações telefônicas interceptadas pelos serviços de espionagem.Segundo o porta-voz do ministério do interior, Javed Chima, em uma das ligações o líder da Al Qaeda Baitullah Mehsud parabeniza seus companheiros pelo ataque. O PPP (Partido do Povo Paquistanês) rejeita a hipótese "apressada".Faruq Naik, um dos dirigentes do partido de Benazir, disse ainda que o governo mente quando aponta como causa da morte um ferimento na cabeça causado por uma batida após a explosão. Ele insiste que a ex-premiê foi atingida por duas balas, numa "grave falha da segurança", que estariam tentando encobrir com especulações.A família não autorizou a autópsia, que impediria o velório no prazo preconizado pelo islã. O imbróglio político-policial permanece, acirrando sentimentos anti-Musharraf.
Benazir acusou governo
A rede americana CNN publicou ontem um e-mail enviado por Benazir ao seu porta-voz americano, Mark Siegel, dias após ter escapado ilesa ao atentado que matou 140 simpatizantes do PPP que comemoravam seu retorno ao país, em outubro. Na mensagem, Benazir critica a segurança oferecida pelo governo e diz que, se algo lhe acontecesse, Musharraf seria co-responsável.Uma lista das autoridades "suspeitas" fora entregue pela ex-premiê ao ditador no dia seguinte ao atentado. Na época, em meio a negociações jamais concluídas com o governo, ela poupou Musharraf e atribuiu as explosões a "dignitários do ex-ditador Mohammed Zia" (1977-88) infiltrados na ISI, a agência central de inteligência paquistanesa.Segundo informações da imprensa do Paquistão, entre os agentes que Benazir acusou de tramar sua morte estão um oficial do ISI e um alto funcionário da Agência Nacional de Fiscalização que investigava escândalos de corrupção envolvendo Benazir.O envolvimento da ISI não implicaria necessariamente participação do governo. O poderoso serviço secreto monitora quase tudo no país e desenvolveu uma cultura política própria, islamista, durante a ditadura de Mohammed Zia-ul-Haq, que derrubou o governo do pai de Benazir. O apoio logístico dado pelo ISI ao Taleban foi fundamental para a derrota soviética no Afeganistão.O Taleban tem também ligações com os partidos islâmicos reunidos na Muttahida Majlis-e-Amal (MMA). Opositor ferrenho das políticas antiterrorismo, a MMA tem uma relação ambígua com o governo, mas combate a oposição laica.Mais que organizações, são ideologias que movem radicais paquistaneses. Para desespero do governo, a responsabilidade também será julgada por critérios político-ideológicos.

Nenhum comentário: