sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Na Globo, Marta atacará caráter de Kassab, que vai reagir com mensalão

Por João Domingos, Clarissa Oliveira e Ricardo Brandt
no Estado de São Paulo

Os candidatos a prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM) e Marta Suplicy (PT), têm estratégias diferentes para o debate de hoje à noite, na TV Globo, na última oportunidade de usar a televisão para conquistar votos do eleitor para o segundo turno da eleição, no domingo. Kassab promete "confiança e alto-astral"; Marta, ataques, mas com o cuidado de não passar para o eleitor uma imagem arrogante. A idéia, de acordo com aliados da ex-ministra, é investir novamente na tese de que Kassab diz uma coisa na propaganda eleitoral gratuita e faz outra na administração municipal. A base desse plano continuará sendo a associação entre Kassab, o ex-prefeito Celso Pitta e o hoje deputado Paulo Maluf (PP).Kassab promete reagir. É Marta falar de Pitta e ouvir como resposta a palavra "mensalão", referência ao maior escândalo do primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, informaram assessores do prefeito. De acordo com a CPI dos Correios, de 2005, o PT pagava mensalidade a parlamentares de partidos aliados para que votassem projetos de interesse do Palácio do Planalto. O episódio ficou conhecido por mensalão.Nos dois últimos debates, Kassab associou Marta a petistas que estiveram envolvidos no escândalo, como o ex-tesoureiro Delúbio Soares e o ex-secretário-geral do partido Silvio Pereira. O prefeito afirmou ainda que foi em São Paulo que ocorreu o episódio dos "dólares na cueca", quando um assessor do hoje deputado José Guimarães (CE) foi preso com moeda americana escondida na cueca. Guimarães é irmão de José Genoino (SP), então presidente do PT.Como está muito à frente na preferência dos eleitores - 18 pontos, segundo o Datafolha, e 17, segundo o Ibope, ambos divulgados no dia 22 - o prefeito acredita que sua estratégia de atacar menos do que Marta tem dado certo. Por isso, ele só fará contra-ataques mais fortes se for agredido. Os dois, no entanto, não deixarão de lado as cobranças. Kassab vai explorar novamente um dos pontos considerados por sua campanha como o mais vulnerável de sua adversária, a instituição de taxas de lixo e iluminação pública na administração petista. De acordo com pesquisas internas feitas pelo DEM, a criação de tributos é o tema mais verbalizado pelos entrevistados quando o assunto é a rejeição à ex-prefeita.
PROVOCAÇÕES
Já Marta tentará fazer provocações a Kassab, sem alterar o tom de voz e sem os conhecidos "chiliques", em que costuma passar pitos no adversário. Pretende pedir ao eleitor que compare sua ética e sua moral com a de Kassab. Dirá que o prefeito não fala por si, porque é a voz que resta ao PFL, "que o Brasil varreu do mapa e insiste em tentar uma sobrevida em São Paulo".As duas coordenações de campanha afirmaram que o formato do debate da TV Globo pode favorecer um clima menos hostil entre os contendores. O debate será dividido em cinco partes. Em duas delas, o tema será definido por sorteio, para que cada um fale sobre educação, saúde, segurança, meio ambiente, habitação, trânsito, saneamento básico, relação com o governo federal, corrupção, creches e escassez de recursos para administrar. Um candidato pergunta, o outro responde, com direito a réplica e tréplica.Em outros dois blocos o tema será livre. Haverá pergunta, resposta, réplica e tréplica, do mesmo jeito. Nestes, o debate pode desandar, porque é aí que os candidatos costumam partir para o ataque. Marta, por exemplo, pretende insistir em dizer que Kassab não tem ética nem moral. O prefeito, por sua vez, quer apontar as deficiências da gestão Marta como forma de apresentar suas realizações de governo.Se o debate desandar para os ataques, os dois lados reservaram artilharia pesada. Kassab, por exemplo, afirmará que Marta deixou a prefeitura quebrada, que aplicou menos da metade do que ele gastou em saúde, que havia fraude nas catracas dos ônibus do sistema de bilhete único e que a ex-prefeita sempre tentou partidarizar a eleição, esquecendo-se da cidade. A seu favor, dirá que é aliado do governo do Estado.Marta guarda como arma o argumento de que o prefeito nunca fez uma licitação para obras, que prometeu 25 CEUs e só fez 14, que "privatizará" o transporte coletivo e cobrará pedágio nas ruas. Dirá que é aliada de Lula, o que favorecerá as obras na cidade. O debate da TV Globo terá início às 22 horas e será encerrado à meia-noite, com as considerações finais de cada candidato. O programa será ancorado pelo apresentador Chico Pinheiro.

Nenhum comentário: