no Jornal Opção
A Interativa possui dois dos melhores programas de rádio de Goiânia. Pelo menos, são eles que eu escuto quase todos os dias — enquanto zapeio pela CBN Goiânia (finalmente em FM) e outras estações. Os programas da Interativa se enquadram na tradição dos talk shows, com comentaristas ao vivo abordando os assuntos mais quentes do momento. O melhor deles é o “Papo-Cabeça” porque a mesa-redonda é formada por jovens (público-alvo da rádio) e é recheado pela participação de ouvintes em tempo real, via internet ou telefone celular. Talk shows no atual formato do “Papo-Cabeça” são precursores das melhores ferramentas de interatividade da web, como os grupos de discussão e os blogs. Dessa forma, funcionam quase como uma pesquisa qualitativa em determinadas situações (o "quase", aqui, é muito importante). É pelo “Papo-Cabeça”, por exemplo, que tenho acompanhado a reação dos jovens da cidade (e outros nem tão novos assim) quanto a crise financeira mundial. A turbulência no capitalismo global pegou a moçada de surpresa — a exemplo de Bush e outros governantes mundo afora. Aos poucos, começam a entender os riscos da especulação e os males da ausência de um mínimo de regulação nos mercados. No entanto, pelo que percebi nos comentários, poucos compreenderam um foco essencial da crise: o que fazer para evitar uma quebradeira generalizada. Estão revoltados (uma reação natural) com o anúncio da injeção de bilhões de dólares (dinheiro público) nas instituições financeiras mais ameaçadas. Um dos comentaristas chegou a dizer que os bancos deveriam assumir os sacrifícios, que seriam "normais em uma revolução" — ele se referia à possibilidade de mudança do sistema. A moçada dá a impressão de entender muito pouco sobre como funciona a economia na qual vive. Ao sinal de uma crise (que, realmente, é de proporções ainda imensuráveis), muitos, imediatamente, começam a entoar o coro de que a exploração não tem medida, que esses bilhões deveriam ser usados contra a fome, que os empresários vilões deveriam pagar pelos seus erros em praça pública, etc. Não sei se é a vergonhosa hegemonia ideológica da esquerda nos currículos escolares da atualidade ou mero niilismo diante de um assunto tão chato. O fato é que atacar o capitalismo de forma cabal parece ter se tornado um raciocínio praticamente comum entre os jovens. É como se, quase 20 anos depois, todos tivessem se esquecido da queda do muro de Berlin. É certo que, nos países em desenvolvimento, o liberalismo desenfreado (talvez o principal e pior feedback da queda do muro) revelou-se ineficiente (muito lento) contra as desigualdades sociais extremas. Mas também é certo que não existe mágica (nem revolução) que tenha promovido maior qualidade de vida para amplos setores da humanidade do que o capitalismo. E isso vale tanto para os inteiramente liberais (como os EUA e o Reino Unido, até a crise), os social-democratas (França, Brasil, entre outros) e até os, digamos, socialistas de mercado (caso da China e, quem sabe, a Venezuela). Em outras palavras, é meio non sense criticar radicalmente esse sistema, que possibilita até mesmo o envio de mensagens, via telefonia celular, para uma rádio, que só existe em função de seus anunciantes. O sistema merece críticas? É claro que sim, mas em busca de aperfeiçoamentos, e não essa cabala contraditória pela sua extinção. É urgente que os valores da liberdade e do empreendedorismo sejam disseminados no Brasil e é preciso começar pela base educacional. Esses esquerdismos podem nos atrasar por mais quanto tempo? Enquanto permanecemos presos a utopias do século 19, vejo na BBC que o governo britânico decidiu investir milhões de libras em um programa escolar que ensinará crianças e jovens a valorizarem a iniciativa privada e a lidarem com o (velho, sujo, mas imprescindível) dinheirinho. É assim que eles reagem a crises no sistema e assim que eles ficam cada vez mais ricos. Nos Estados Unidos, também sintomaticamente, o jornalista Stephen Dubner (Freaknomics) relata que a preocupação com o "analfabetismo financeiro" será uma das ondas nos próximos anos. Para os pesquisadores citados por ele, é inconcebível um cidadão evoluir na sociedade contemporânea sem o mínimo de conhecimento sobre os fundamentos do capitalismo (inclusive a sua área financeira, abordando temas como o uso do cartão de crédito, a lógica dos juros compostos e a importância do mercado de ações). Comparando, desconhecer essas ferramentas seria, para o homem, como ignorar o manejo da espada em tempos remotos. Se é bom para eles, provavelmente é ruim para o Brasil, não é? E vamos todos para o botequim criticar o materialismo e a ganância desses gringos.
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