domingo, 26 de outubro de 2008

adeus, capitalismo-cassino… seja bem-vindo, capitalismo

Do Blog da Bárbara Gancia

Conversei há pouco sobre a crise atual com um especialista em finanças. Ao final da nossa conversa, pedi a ele que resumisse em poucas palavras o que havia me contado, para consumo dos leitores deste blog.
Eis a íntegra do e-mail que ele me mandou:
“Insistiram em nos contar que o Brasil estaria fora do bordel internacional, o que pressupõe que todos por aqui teriam se tornado coroinhas de um dia para o outro por conta de São Lula e, quiçá, da probidade moral de nossos governantes.
Pois bem, está na hora de acordar: no bordel não há lugar pra missa. Nele o padre é pedófilo, o coroinha é uma traveca e as vagabundas andaram tomando champanhe às nossas custas.
Aqui também a situação está preta, por conta dos bancos que impingiram a seus clientes corporativos operações esdrúxulas, e dos tomadores que apostaram contra sua própria felicidade acreditando que o Brasil e a profética sorte de Lula eram mais fortes do que o dólar. O crédito fácil sempre promove porres e chegou a hora da ressaca, com direito a dor-de-cabeça.
Ainda em agosto, os analistas e empresários estavam com medo de que o dólar fosse para R$ 1,40. Até os exportadores, que seriam muitíssimo beneficiados com a retração do real, apostaram no real.
Acreditaram que existe Engov financeiro, que basta tomar que amanhã não haverá ressaca. O próprio ex-ministro Furlan faz parte dos que tocavam zabumba e, quando acordou, sua empresa havia perdido R$ 600 milhões numa especulação absurda.
O BC passou a semana toureando para que o real permaneça na casa dos 2,30 a fim de evitar uma quebradeira de grandes e médias empresas. Não devemos nos surpreender se o “colchonete” de reservas cambiais no BC passasse dos US$ 206 bilhões, do início da crise, para 100 em janeiro. Além disso, não podemos nos esquecer de que todos os meses há vencimentos da dívida privada em dólares, que é de cerca US$ 140 bilhões.
Enquanto outros países vêm agressivamente cortando as taxas de juros para dar fôlego às suas economias, nosso BC continua a sinalizar no sentido contrário, na ilusão que os capitais voltarão ao Brasil para aproveitar das nossas exorbitantes taxas de juros.
Esse ciclo acabou, como acabou também a era do cassino-capitalismo. Bem-vindos sejamos de volta ao capitalismo. Esqueçamos de reformas nos moldes do capitalismo dirigista à la française, pois estamos cansados de saber que não funciona. O BC deveria baixar as taxas de juro, uma vez que a sustentação do Real não mais se baseia na premissa dos juros altos.
A medida passada ontem, garantindo o financiamento em 36 meses para a venda de automóveis, além de ser inócua, demonstra o quanto governo está no mato sem cachorro. Ou será que ele acha que o prazo de financiamento irá influir na decisão de compra num momento como este? Para alguns alienados até pode, mas é marginal.
Querer salvar os “cumpanhero do ABC” é até louvável mas, para que isso fosse possível, seria mais eficaz cortar drasticamente os impostos sobre bens duráveis e semi-duráveis, coisa que o governo nunca irá fazer já que, se o fizer, o rei estará nú e o governo perderá uma enorme fonte dos escorchantes impostos que nos são cobrados.
Se quiser manter a economia funcionando em níveis menores mas sempre satisfatórios, o BC deve também sentar-se à mesa com os banqueiros -assim como utilizar o Banco do Brasil e a Caixa Econômica como ferramenta- forçando a “persuasão” moral (moral suasion) para fazer com que o crédito ao consumidor e a taxa de juros do cheque especial tenham spreads adequados, condizentes com o país que almejamos.
Se Lula disser que cortará gastos para equilibrar o orçamento, podemos estar certos: o governo não sabe do que está falando. Só quando nos disserem que irão cortar os gastos do funcionalismo para dirigí-los aos investimentos estarão no rumo certo.
No momento atual, o governo deveria agir de forma contra intuitiva: baixar impostos, promover obras públicas, dar suporte à agricultura e ao mesmo tempo diminuir os gastos com salários do funcionalismo e custeio para poder investir.
Lula -que já andava pensando em ser o Perón caboclo- está intencionado a qualquer coisa para salvar sua imagem antes de deixar o governo, fazendo ou não seu sucessor. Se quiser ter cacife para promover um estímulo (keynesiano) da economia -que é ainda possível- terá que economizar munição e não sair atirando a esmo em qual malandro no morro.
Rezemos por São Lula, pois da “sorte” dele depende também o nosso destino. Quanto melhor, melhor. Quanto pior, pior para todos.
Em tempo, cabe perguntar o que fazia o presidente do Banco Central, ontem, passeando em Miami para receber um prêmio num momento tão delicado. Receio que a ficha esteja demorando a cair”.
Podem me acusar de nepotismo, mas o autor do enxutíssimo texto acima é meu irmão (bem mais velho do que eu), Carlo Gancia.

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