sábado, 25 de outubro de 2008

Espectadores reclamam de enxurrada de números

Por Roldão Arruda
no Estado de São Paulo

Três casais de eleitores do condomínio Alphaville reuniram-se ontem para assistir ao último debate entre os candidatos Gilberto Kassab (DEM) e Marta Suplicy (PT), na TV Globo. Embora o condomínio fique situado em Barueri, na região metropolitana de São Paulo, todos votam na capital. Queriam conhecer melhor as propostas dos candidatos e ver seu desempenho.Na opinião deles, Marta bateu pesado, provocou o oponente - como deveria fazer, por estar em segundo lugar nas pesquisas. Mas Kassab não aceitou a provocação, não jogou no campo dela. "Do ponto de vista da tática política, ele agiu certo. O Brasil quando aceita as provocações dos argentinos e entra no jogo deles sempre perde", comparou o engenheiro Norival Norberto. Os dois estavam nervosos, observou a psicóloga Renata Zanin Malek. "Mas o Kassab conseguiu passar mais tranqüilidade e chegou a dominar o debate em alguns minutos." Ela citou como exemplo o momento em que a ex-prefeita disse que o prefeito vive dizendo que está fazendo, que vai melhorar, mas que não faz nada. A resposta - "Obrigado por reconhecer que estou fazendo, que sou prefeito" - foi elogiada pela psicóloga.Outro sinal do maior nervosismo de Marta foi o fato de atravessar ou se confundir mais vezes que o oponente em relação ao tempo e à ordem das perguntas.Cyro Malek, também engenheiro, considerou o debate, de maneira geral, chato: "Parecia que cada um tinha um roteiro para dizer e faziam isso, ignorando em parte o que o outro dizia. E nem todo debate precisa ser chato. Já tivemos debates presidenciais que foram decisivos, como o do Lula com o Collor, e do Lula com o Serra."Os espectadores também reclamaram das citações infindáveis de números, de obras feitas ou que serão construídas. "A gente fica confusa diante de tantas citações e não tem como verificar. Seria ótimo se pudéssemos de alguma forma verificar se o que estão dizendo corresponde à realidade ou é ficção", afirmou a professora Miquelina Cursio Norberto. "Falam na movimentação de milhões e milhões de reais e ninguém consegue saber ao certo do que estão falando. Precisaria haver algum mecanismo para verificar o que dizem", emendou o comerciante Vivaldo Xavier de Lucia.Vivaldo e sua mulher, Marilaine, já foram eleitores do PT. Mas desde o escândalo do mensalão deixaram de votar nos candidatos do partido. Hoje, ele, assim como os amigos que se reuniram diante da TV, não votam mais em partidos. "Eu escolho o candidato", disse Vivaldo.Um dos temas que mais provocaram a atenção deles foi o pedágio urbano. Citaram experiências de outros países que já visitaram e concluíram que será quase inevitável implantá-lo em São Paulo. Mas fizeram ressalvas. "O preço do pedágio não pode ser muito alto como tem acontecido no Brasil", disse Malek. "Também é preciso melhorar muito o sistema de transporte público, para que as pessoas se convençam a deixar o automóvel em casa."Para Marilaine, uma das coisas preocupantes nos debates como o de ontem é o fato de os candidatos não valorizarem as obras um do outro. "Seria bom se mostrassem preocupação em dar continuidade às boas obras já iniciadas."Norival disse que o excesso de números faz com que os telespectadores acabem prestando mais atenção nas reações dos candidatos, no comportamento, do que no conteúdo: "Sai ganhando aquele que demonstra mais firmeza, mais segurança. Uma pisada de bola pode derrubar um candidato."

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