quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Tarso politiza morte de Eloá e paralisação de policiais civis

Por Vasconcelo Quadros
no Jornal do Brasil

A greve na Polícia Civil de São Paulo e o seqüestro que resultou na morte da adolescente Eloá Cristina Pimentel, em Santo André, no ABC paulista, estão sendo usados como munição política para acirrar a disputa pela prefeitura paulistana entre a ex-ministra Marta Suplicy (PT) e o prefeito Gilberto Kassab (DEM) no domingo. Além de, naturalmente, antecipar a guerra que PT e o PSDB do governador José Serra começam a travar pela sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010.
O ministro da Justiça, Tarso Genro, recebeu o comando grevista, ontem, em Brasília, e aproveitou a entrevista sobre o encontro para afirmar que o governo paulista é o único que não aceita parceria no Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci), onde o carro-chefe é a capacitação dos policiais através de estudos e treinamento – o que, na opinião de especialistas em segurana pública, faltou à polícia em Santo André.
– O Pronasci tem acolhido várias prefeituras paulistas, mas o governo de São Paulo até agora não se moveu na direção da Rede Nacional de Altos Estudos em Segurança Pública (Renaesp) – disse o ministro. – Temos métodos de treinamento adequados, mas cabe aos Estados acessá-los ou não. Qualquer análise apressada (do desfecho do seqüestro) pode parecer provocação. Não devo entrar em polêmica com o governador José Serra. Os novos paradigmas do Pronasci são conhecidos de todos.
Quando assumiu o cargo, há três meses, o secretário nacional de Segurança Pública, Ricardo Balestreri, fez questão de ressaltar o contraste entre os governos paulista e do Rio na formação de parcerias sobre o Pronasci. Segundo ele, São Paulo simplesmente se recusava a participar. A contrapartida do programa é a redução do índice de letalidade na ação da polícia e a implementação da política de direitos humanos nas corporações.

Ação de bastidores

A decisão do ministro em abrir a agenda aos grevistas foi mais uma alfinetada em Serra, que se recusa a receber o grupo desde que o movimento teve início, há 37 dias. Na entrevista, Tarso disse que não tomaria a iniciativa de entrar na contenda, mas nos bastidores, segundo relato de um policial que participou do encontro reservado, teria prometido agir para criar um canal de diálogo entre o movimento e o Palácio dos Bandeirantes. Em público, o ministro disse que só intercederia se o governo paulista pedir sua opinião.
– Sem um contato eu não seria bem recebido – justificou.
Tarso afirmou que, como como se trata de conflito coletivo e para evitar "uma certa fricção federativa", não seria recomendável o governo federal interferir diretamente na questão. Os sindicalistas queriam que ele mediasse o conflito com Serra.

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