sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Artilharia pesada contra a crise

Por Simone Cavalcanti e Viviane Monteiro
no Jornal do Brasil

Após ter ofertado mais de US$ 13 bilhões ao mercado apenas em swaps cambiais desde o recrudescimento da crise global, em meados de setembro, o Banco Central mostrou ontem que tem artilharia para tentar aplacar os ânimos no mercado. E está disposto a usá-la. Poderá realizar operações do gênero no volume de até US$ 50 bilhões. O swap cambial consiste na venda no mercado futuro de dólar em troca de juros pós-fixados. O anúncio surgiu no dia seguinte à divulgação, pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Merirelles, de que o governo editou Medida Provisória autorizando o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal a comprarem ações de outros bancos. ­ Houve uma parada súbita dos fluxos privados ­ afirma o economista-chefe da corretora Quest, Paulo Miguel, para quem a situação levou a um aumento rápido de demanda pela moeda norte-americana. Essa procura, diz, não é propriamente no mercado físico (espécie), mas no futuro, e vem de empresas que têm compromissos em dólar a vencer nos próximos meses. De acordo com o economista, o acentuado fluxo de repatriação de capitais e as perspectivas mais concretas de recessão, principal mente nos países desenvolvidos, gerou essa interrupção dos fluxos privados não apenas ao Brasil, mas também a seus pares. ­ Está havendo uma metástase desse cenário ruim para os países emergentes ­ afirmou. Paulo Miguel diz acreditar que a estratégia do Banco Central ao estabelecer um programa de swap cambial dessa magnitude é reduzir a demanda, que julga estar muito elevada. E, para o governo, que até agora vinha tratando o Brasil como uma ilha, a situação se agravou. ­ Estamos num momento de estresse muito forte e, obviamente, em momentos como esses o governo tem que tomar posição, não pode ficar parado ­ disse o secretário extraordinário de Reformas Econômico-Fiscais do Ministério da Fazenda, Bernard Appy. ­ Porém, o mundo passa por um momento excepcional e nós fazemos parte do mundo ­ disse Appy para quem as intervenções do BC no mercado mostra que a autoridade monetária tem munição para ser usada quando houver necessidade.
Ganhar ou perder ­
Essa operação muda a posição geral em câmbio do governo, mas não muda a posição de reservas do país no curto prazo ­ disse. Segundo Appy, o impacto fiscal dessas operações vai depender da evolução futura da taxa de câmbio doméstica. ­ Não é possível dizer se o governo vai ganhar ou vai perder; isso vai depender da evolução da taxa de câmbio no futuro ­ disse. ­ Quando fizemos o swap reverso, estávamos assumindo uma posição credora maior em moeda estrangeira. Com a valorização do dólar isso deu ganho para o governo. Ou seja, tivemos ganho fiscal. E mesmo com essa operação, Appy avalia que o governo continuará credor em moeda estrangeira, pois tem cerca de US$ 200 bilhões em reservas internacionais. O fato de ter anunciado um programa de venda de swaps não significa o abandono dos outros tipos de intervenção no mercado de câmbio. Pelo contrário, em comunicado divulgado ontem, o BC reafirmou que as operações com reservas e os empréstimos em moeda estrangeira com garantias constituem mecanismos eficientes de atuação e continuarão a ser usados na medida em que o BC julgue necessário.
Na batalha
Apesar das avaliações positivas, o anúncio dos US$ 50 bilhões por si não bastou para combater a escalada do dólar e o Banco Central teve de intervir no mercado por cinco vezes. Foram três de venda direta a taxas de R$ 2,312, R$ 2,282 e R$ 2,26, respectivamente, com dinheiro das reservas internacionais e mais dois de swap cambial no montante de R$ 2,2 bilhões. Os contratos de swap vencem em 1º de dezembro deste ano e 2 de janeiro de 2009. Durante o dia todo a volatilidade reinou e a moeda norte-americana oscilou entre a mínima de R$ 2,255 e a máxima de R$ 2,524 até fechar em baixa de 3,27%, vendida a R$ 2,305, quebrando uma seqüência de três altas consecutivas. Apesar da baixa de ontem, a divisa acumula valorização de 5,92% na semana, 20,92% no mês e 30,68% no ano. ­ O fato de o BC admitir que vai dispor uma parcela das reservas internacionais para que o investidor estrangeiro possa sair já diminui muito a pressão no dólar. Não tem como a cotação não cair ­ avalia o economista-chefe da corretora Gradual, Pedro Paulo Silveira.

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