sábado, 18 de outubro de 2008

''Estou ouvindo mais o diabinho'', dizia seqüestrador

Por Bruno Tavares
no Estado de São Paulo

Os policiais do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) acreditavam que a libertação de Eloá e Nayara era uma questão de tempo, quando Lindembergue Alves mudou repentinamente seu discurso. "Tenho um anjinho e um diabinho aqui do meu lado", disse, ao grupo formado por policiais militares, um advogado e um promotor de Justiça. "Só que agora estou ouvindo mais o diabinho que o anjinho." Nesse momento, o rapaz que por mais de 100 horas manteve refém a ex-namorada exigiu que todos se retirassem, incluindo o negociador do Gate - não queria "prejudicá-lo"."Ele dizia que ia fazer besteira e pediu para trocar o negociador para que ninguém achasse que ele havia falhado", disse o coronel Eduardo José Félix, comandante do Comando de Policiamento de Choque (CPChq). "O Lindembergue parecia muito deprimido, dizia o tempo todo que não tinha mais alma nem coração. Nós implorávamos para que ele não fizesse nada", comentou. As últimas duas horas e meia de conversas com o seqüestrador foram gravadas pelos policiais do Gate e as fitas, entregues ontem à Polícia Civil de Santo André.Foi logo após a saída dos negociadores que se ouviu o primeiro disparo. Imediatamente, seis homens do Gate que durante todo o tempo permaneceram de prontidão decidiram invadir o apartamento. Quando a porta foi derrubada por explosivos, os policiais encontraram Eloá desacordada, deitada sobre o sofá. Tinha um tiro na cabeça e outro na virilha. Nayara estava num colchão, coberta por um edredom. Para conter Lindembergue, os PMs dizem ter disparado apenas um tiro de bala de borracha, embora tivessem também armamento letal. "Nas invasões táticas, nós portamos armas letais, pois nunca sabemos o que vamos encontrar", disse o coronel. "Não vou dizer com 100% de certeza porque não sou perito, mas, pelo que pude ver, os tiros não foram disparados pelos policiais."Logo após a ação, o coronel havia dito que Eloá tinha mais um ferimento, na virilha. "Pela manhã ouvimos um disparo e entramos em contato com o seqüestrador. Ele disse que estava tudo bem. Mas acreditamos que ela havia sido ferida."Logo após a entrada do Gate, paramédicos subiram com macas para socorrer as adolescentes feridas. Nayara desceu as escadas do conjunto habitacional andando. Eloá saiu carregada por um policial, enrolada em um edredom - foi colocada numa maca no andar térreo do prédio. Nayara foi socorrida em uma ambulância do resgate às 18h17. Minutos depois, Eloá foi levada em uma ambulância. Ambas foram encaminhadas ao Centro Hospitalar Municipal de Santo André. Os pais de Eloá, que seguiram para o centro médico, tiveram de ser sedados.O comandante confirmou que os atiradores de elite tiveram Alves na mira por diversas vezes nos últimos dias, mas optaram por não efetuar nenhum disparo. "Tivemos a chance e não fizemos porque nosso objetivo era tentar resolver isso da forma mais pacífica possível", esclareceu Félix.

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