quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Após Ibope, Marta busca classe média e Kassab cola em Serra

Por Vera Rosa, Ana Paula Scinocca, Ricardo Brandt e Tânia Monteiro
no Estado de São Paulo

A dez dias do segundo turno, a candidata do PT à prefeitura, Marta Suplicy, corre contra o tempo para reconquistar a classe média, quebrar resistências nas igrejas católica e evangélica, desmontar preconceitos e superar o desgaste provocado pelo comercial que pôs no ar uma interrogação sobre a vida do prefeito Gilberto Kassab (DEM). Na outra ponta, Kassab faz de tudo para congelar a vantagem de 12 pontos porcentuais, revelada na última pesquisa Ibope contratada pelo Estado e pela TV Globo, e colar sua imagem à do governador José Serra (PSDB). Marta aposta em mais um ato com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no sábado, para diminuir a distância que a separa de Kassab. O encontro com representantes de movimentos sociais e sindicalistas, na Casa de Portugal, será o último evento da campanha da petista com a participação de Lula.Apesar das dificuldades enfrentadas pela candidata do PT, o presidente foi diplomático e mostrou otimismo ao se referir à disputa na capital paulista. Indagado ontem, em Nova Délhi, se Marta conseguirá derrotar Kassab diante de tantos percalços, Lula abriu um sorriso. "Escreva aí no seu caderninho: Marta vai ganhar a eleição em São Paulo", afirmou.Kassab exibiu ontem, pela segunda vez nesta etapa, o apoio de Serra, principal nome da oposição para a sucessão de Lula, em 2010. Não é só: um novo ato conjunto está programado para amanhã. Enquanto o presidente vai encurtar o período de permanência em São Paulo, tucanos e democratas querem juntar Serra e Kassab pelo menos três vezes até a eleição, no dia 26.Até lá, o duelo entre Marta e Kassab promete capítulos emocionantes. A candidata do PT e o prefeito vão se enfrentar em dois debates: um na TV Record, marcado para domingo, e outro na TV Globo, no dia 24. Além disso, os dois serão sabatinados pelo grupo Abril na semana que vem.A equipe de Kassab não pretende fazer grandes alterações na campanha. O DEM avalia que os ataques feitos por Marta, nos últimos dias, não oferecem risco ao favoritismo de Kassab. No domingo, o comitê da petista pôs no ar comercial que perguntava se o prefeito era casado e tinha filhos, com o argumento de que o eleitor precisava conhecer em quem votava. Mas, diante de uma avalanche de críticas de que o PT fazia insinuações sobre a sexualidade do prefeito, foi obrigado a tirar a inserção do ar. Ontem, a campanha pôs no site da candidata um espaço chamado "Vaza Kassab", com relatos de eleitores contrários a um segundo mandato para o prefeito.Na avaliação de apoiadores de Kassab, a ofensiva de Marta tem "motivações psicológicas" e faz parte de uma estratégia para desviar o foco do embate e da comparação entre governos. A ordem dos democratas é manter a linha de campanha do primeiro turno e mostrar "propostas e realizações" do governo, terceirizando os ataques.O PT, por sua vez, reafirmará a tática de associar Kassab ao ex-prefeito Celso Pitta, afilhado do deputado Paulo Maluf (PP). O objetivo é associar o prefeito a Pitta e Maluf, que exibem altos índices de rejeição, e desvincular sua imagem de Serra, que tem a gestão bem avaliada.O assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, admitiu que a situação do PT na capital paulista é complicada. "Não sou Pollyana", disse Garcia, que acompanha Lula na viagem à Índia, numa alusão à personagem otimista do livro de mesmo nome, que ensina às pessoas o "jogo do contente". "Marta pode ganhar? Pode, mas é muito difícil. A rejeição a ela existe, não posso negar isso, está nos números. Marta sofre muito preconceito", acrescentou Garcia, que foi secretário da Cultura quando a candidata era prefeita (2001-2004).Na tentativa de atrair o apoio de evangélicos, o comitê petista também planeja outra reunião da candidata com pastores, no sábado à noite. "Antes disso, no ato com os movimentos sociais, vamos animar os militantes e convocá-los a ir para as ruas, mostrando que de um lado há um projeto popular, apoiado pelo presidente Lula e, de outro, as forças do atraso, na contramão do desenvolvimento", afirmou o deputado estadual Simão Pedro (PT), um dos coordenadores da campanha de Marta.

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