terça-feira, 14 de outubro de 2008

Bolsas disparam com socorro global

Por Leandro Modé
no Estado de São Paulo

A ação coordenada dos países desenvolvidos para garantir a estabilidade do sistema financeiro restaurou, ao menos em parte, a confiança dos investidores e provocou uma disparada das bolsas de valores do mundo ontem. Animados com o plano da Europa de destinar mais de US$ 2 trilhões para socorrer os bancos, alguns analistas já se arriscam a dizer que o pior do pânico ficou para trás. O Índice Dow Jones teve a maior alta em pontos (936) da história. O avanço de 11,08% foi o mais expressivo, em termos porcentuais, desde 1933. A bolsa eletrônica Nasdaq subiu 11,8%. Os mercados europeus também viveram um dia de euforia. O Índice Xetra Dax, da Bolsa de Frankfurt, avançou 11,4%, o FTSE, de Londres, 8,26%, e o CAC-40, de Paris, 11,18%.No Brasil, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) disparou 14,66%, maior alta porcentual desde 15 de janeiro de 1999. Ainda assim, acumula perda de 36,1% em 2008. O dólar recuou 7,76%, para R$ 2,14. No ano, sobe 20,56%. O mercado brasileiro também foi ajudado pela decisão do BC de afrouxar mais os depósitos compulsórios - o que pode liberar até R$ 100 bilhões."Os governos soltaram tanto dinheiro que, parece, conseguiram tirar o pânico da sala", afirmou o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola. "O movimento europeu de garantir as dívidas bancárias é agressivíssimo e deve aliviar a situação no curto prazo", disse o economista-chefe da Bradesco Corretora, Dalton Gardiman. Para o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa, "a semana passada deve ficar marcada como o momento mais agudo do pânico". "As medidas (dos governos de países desenvolvidos) tendem a impedir que o quadro se desdobre para algo ainda pior."Apesar da melhora dos mercados, alguns analistas permanecem céticos. Entre eles, o diretor-executivo da Concórdia Asset Management, Ricardo Amorim. Ele considera as ações governamentais das últimas semanas insuficientes, ainda que positivas. "O movimento de hoje (ontem) mostrou que houve uma redução das apostas negativas dos investidores, mas não levou a apostas positivas." Para Amorim, o fim do pânico só virá quando as medidas forem, de fato, globais e mais abrangentes. Divergências sobre a duração do pânico à parte, uma avaliação é comum aos especialistas: a crise está longe do fim. "Ainda veremos os efeitos sobre a economia real", disse Loyola. "A carga fiscal que se está jogando sobre os tesouros europeus não tem precedente e terá impactos profundos no longo prazo", observou Gardiman. O resumo da história, para eles, está claro: mesmo que o pior da crise financeira tenha ficado para trás, a economia real levará tempo para se recuperar, sobretudo nos países desenvolvidos. "É coisa para anos", disse Amorim.

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