sábado, 18 de outubro de 2008

Choque entre Polícia Civil e PM vira munição na guerra eleitoral

Por Ricardo Brandt, Vera Rosa e Clarissa Oliveira
no Estado de São Paulo

A crise da polícia monopolizou ontem a disputa paulistana. De um lado, aliados do prefeito e candidato à reeleição Gilberto Kassab (DEM) acusaram interesses eleitorais por trás do movimento, que culminou com o confronto entre policiais civis e militares em frente ao Palácio dos Bandeirantes, anteontem. Do outro, petistas reagiram com indignação à tentativa do governador José Serra (PSDB) de vincular o PT ao conflito."Quero repelir a atitude do governador de acusar o partido do presidente da República de estar por trás disso, porque é mentira", afirmou o chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho. "Como integrante do governo federal eu lamento que o governador não retribua a generosidade com a qual o presidente Lula o trata. E, como membro do PT, eu me senti ofendido pelo governador Serra."Principal aliado de Kassab na disputa eleitoral, Serra havia afirmado um dia antes "não ter dúvida nenhuma" de que as manifestações de policiais diante da sede do governo "tinham a participação ativa da CUT, que é ligada ao PT, e da Força Sindical, ligada ao PDT". Ao lado do prefeito e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Serra voltou ontem à carga e acusou a "politização" do movimento. "A motivação eleitoral e partidária é meio óbvia. Basta olhar os textos dos discursos feitos por políticos nesses eventos. O ato de ontem (anteontem) foi programado por um desses líderes, que é o Paulinho, da Força Sindical", afirmou Serra. Ontem mesmo, a assessoria jurídica do PT foi incumbida de se debruçar sobre fitas contendo as falas do governador a emissoras de televisão, para avaliar a possibilidade de entrar na Justiça com um pedido de direito de resposta. "O governador claramente fez um uso político dessa situação", afirmou o advogado Helio Silveira, encarregado da campanha de Marta Suplicy (PT). "Estamos avaliando quais são as medidas cabíveis."
DIA DE CAMPANHA
Os dois candidatos bem que tentaram fazer campanha ontem, mas o assunto foi um só: a crise da polícia. Marta disse ter ficado "pasma" com as declarações de Serra. "Querer culpabilizar um partido por uma incapacidade de negociação? Eu não esperava essa postura do governador."Na prática, porém, o comando da campanha de Marta avalia que ela deve explorar o confronto para tirar dividendos eleitorais do episódio e mostrar as "deficiências" do governo Serra, agora associado a Kassab. "Temos de entrar nesse debate e mostrar que nosso projeto é outro, onde os conflitos da sociedade são tratados de forma democrática, onde a gente não tenta criminalizar os movimentos sindicais e sociais", disse o presidente do PT paulista, Edson Silva. Potencial prejudicado pela crise, Kassab endossou as críticas de Serra: "Como todos, tive a oportunidade de observar alguns parlamentares, alguns líderes partidários que participaram das manifestações e que são externos ao movimento. Lamento muito, até porque não podemos partidarizar uma reivindicação legítima."Até Fernando Henrique entrou no embate. "As pessoas deviam acalmar e não estimular, eu acho que houve sim alguma influência eleitoral", afirmou.

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