sábado, 5 de janeiro de 2008

E o Zé virou burguês

Vou fazer que nem o José Dirceu quando vê alguma coisa que lhe chama atenção: “Tenho que escrever isso no blog”. Li a reportagem da revista Piauí deste mês que mostra a rotina de trabalho do consultor José Dirceu. A matéria é assinada por Daniela Pinheiro. A matéria me chamou atenção, por isso, assim como o Zé, vou escrever no meu blog.
O Dirceu revolucionário, que queria “mudar tudo que está aí” acabou. Ele é agora um consultor de empresas. Viaja aqui e acolá para fazer os seus negócios. Mantém ligações com gente importante do governo. Ainda conversa com ex-militantes esquerdistas da década de 1960.
Sim, o consultor de empresas também fala sobre política. Fala da sua cassação. Diz ele na página 24: “Um amigo me disse e eu percebi: se eu não tivesse sido cassado pela Câmara, voltaria aclamado, aplaudido, ovacionado. Seria facilmente eleito presidente do PT. Estando fora do governo, o Lula teria que me oferecer alguma coisa, uma embaixada, a presidência de uma estatal... Se eu ainda tivesse a petulância de me candidatar à presidência da República, era capaz até de ser eleito. Como a minha absolvição, além de ser ruim para a oposição e a imprensa, traria dificuldades para o governo, não havia outro resultado possível”. Vejam que o Zé já pensava no seu futuro depois da absolvição. Reparem que ele fala que “Lula teria que me oferecer alguma coisa...”. O Lula teria? Ah, então quer dizer que é verdade aquela história do discurso do consultor de empresas quando retornou à Câmara de que defenderia o “meu governo”. Na época, Zé disse que esta expressão só mostrava que ele fazia parte do governo. Que nada! Se ele fosse absolvido, Lula teria que dar alguma coisa para Dirceu. Claro que Lula teria que dar alguma coisa que agradasse José Dirceu.
Que confiança tem este ex-guerrilheiro! Ele pensava em disputar a presidência da República e achava até que seria eleito. Mas, como a reportagem mostra, o eleitor não gostaria de ver José Dirceu nem pintado a ouro. Xingamentos aqui e acolá, como “safado”, “corrupto”, “cara-de-pau” mostram a popularidade do consultor de empresas.
Dirceu ainda mantém contatos com o pessoal do governo e ainda indica para aqueles que o consultam procurar fulano que pode ajudá-los. Por falar em encontros, o consultor de empresas se encontra frequentemente com Antônio Palocci, João Paulo Cunha e até com Delúbio Soares. Imaginem a qualidade do encontro. Só pessoas do mais alto nível moral da política brasileira.
Vamos para a parte mais importante. Sim, José Dirceu assume na reportagem que a sede do PT em Porto Alegre foi construída com dinheiro de caixa 2. “Era com mala de dinheiro” diz. Quando a denúncia veio à tona, Dirceu defendeu a cumpanherada envolvida. Quer dizer: eles sabiam que a denúncia procedia, mas mesmo assim defendiam os envolvidos. Na próxima denúncia contra petista, se outro petista vier defender, pode ter certeza que a denúncia procede. Dirceu até lembra da quebra de sigilo do painel do Senado. Ele fala que a ex-senadora Heloísa Helena votou contra a cassação do então senador Luiz Estevão. Diz que a defendeu o tempo todo mesmo sabendo que a história era diferente. Como assim? Como Dirceu tem esta certeza? Será que ele viu o resultado do painel junto com Antônio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda, senadores que colaboraram na quebra de sigilo do painel e que renunciaram ao mandato para não serem cassados?
José Dirceu fala também do caso Gamecorp, a empresa do Lulinha (filho do Lula) que recebeu R$ 5,2 milhões da Telemar. Segundo o ex-guerrilheiro, Lulinha inventava frases suas e reuniões que nunca estivera. É aquele ditado: “Filho de peixe, peixinho é”. Vai ver Lulinha aprendeu com seu pai a aumentar histórias e inventar reuniões para mostrar toda a sua importância.
Ah, logo acima eu falei do encontro do Dirceu, do João Paulo e do Delúbio, né? Vamos comentar. Pelo visto José Dirceu mentiu nos seus depoimentos na época do mensalão. Ele disse que não sabia dos passos de Delúbio Soares, então tesoureiro do PT. O consultor de empresas sabia sim dos passos de Delúbio. Sabia que tinha gente pedindo dinheiro para ele e da sua busca, junto à empresários (nestas horas os empresários, a burguesia, a Dona Zélite são legais), para arrecadar a quantia de dinheiro. Na época do mensalão Lula chamava Delúbio de “nosso Delúbio”. Para a Piauí, Dirceu se refere ao ex-tesoureiro de “pobre Delúbio”. Sim, Dirceu sabe de muita coisa e não contou quando o mensalão veio à tona.
Recomendo que vocês leiam a reportagem. É bem interessante. Mostra o ex-guerrilheiro, ex-presidente do PT, ex-ministro da Casa Civil, ex-deputado e atual consultor de empresas provando que esse negócio de “outro mundo possível” já era. O capitalismo triunfou, o sonho acabou e o Zé virou burguês. Eu tive os meus 15 minutos de esquerdismo. Graças a Deus passaram. Graças a Deus me curei disso. Nestes 15 minutos aprendi uma coisa interessante: Duvide daquele que se diz defensor do povo. São mentirosos. José Dirceu diz que é de esquerda, mas lucra com as maravilhas do capitalismo. José Dirceu elogia as gestões de Aécio Neves e José Serra que são do PSDB, mas afirma logo em seguida que uma possível vitória de Hillary Clinton nos Estados Unidos ajudaria o tucanato.
A reportagem termina com a lembrança de que, no final deste mês, o consultor de empresas terá que prestar seu primeiro depoimento oficial sobre o mensalão na Segunda Vara da Justiça Federal, em São Paulo. Será que Dirceu vai confirmar os encontros que Delúbio Sores teve com empresários para arrecadar dinheiro para o PT? Será que ele vai confirmar que a sede do PT gaúcho foi construída com dinheiro de caixa 2? Ele disse ainda para a Piauí que se esquece fácil das coisas. Bem, a revista está aí com tudo que o consultor de empresas disse. Também tem os depoimentos dele da época do mensalão, no qual negava conhecimento sobre os esquemas armados por Delúbio Soares. José Dirceu se acha o defensor do povo. E todo mundo que se acha o defensor do povo é mentiroso. Se eu encontrasse o Dirceu numa churrascaria eu não o chamaria de “safado”, “corrupto” ou “cara-de-pau” e muito menos de mentiroso. Eu apenas diria para o ex-guerrilheiro, ex-presidente do PT, ex-ministro da Casa Civil, ex-deputado e atual consultor de empresas que “vossa excelência provoca em mim os instintos mais primitivos”. Isso o faria lembrar do Roberto Jefferson, o cara que um dia ele abominou, de repente virou amigo e depois o afundou na crise política que culminou na cassação do seu mandato. Esta frase vale muito mais do que os xingamentos registrados na reportagem.

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