terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Cresce temor de recessão nos EUA em 2008

Por Sérgio DÁvila
na Folha de São Paulo

Segundo gosta de repetir Wall Street, os economistas são tão bons em suas avaliações que já previram nove das cinco últimas recessões norte-americanas. Ainda assim, em levantamentos recentes e entrevistas à Folha, a maioria dos analistas ouvidos acha que há mais chances de os Estados Unidos entrarem em recessão em 2008 do que o contrário."A probabilidade de haver uma recessão em 2008 atingiu agora 50%", disse Martin Feldstein, de Harvard. "Se acontecer, vai ser mais profunda e duradoura que as do passado recente", assusta. "Relativamente mais otimista", como diz, seu colega John Taylor, de Stanford, coloca as chances "abaixo dos 50%".Em palestra recente na Brookings Institution, em Washington, Lawrence Summers foi mais alarmista. "Acredito que o desaquecimento é quase certo, que a probabilidade de recessão é maior do que 50% e que há uma possibilidade específica de uma recessão que nos levará à pior performance econômica desde o final dos anos 70 e começo dos 80", disse o ex-secretário do Tesouro de Bill Clinton entre 1999 e 2001 e ex-reitor de Harvard.Até o oráculo de recessões passadas se manifestou. "A probabilidade de uma recessão moveu-se em direção aos 50%", disse Alan Greenspan, o ex-presidente do Fed (o BC dos EUA), numa entrevista à ABC News, e completou: "Se está acima ou abaixo dos 50%, é extremamente difícil de dizer".O grupo dos mais preocupados -ao qual o ex-todo-poderoso do banco central dos Estados Unidos pertence- está crescendo. Pelo menos segundo levantamentos realizados entre economistas nos últimos dias de 2007. Para a média dos 88 analistas ouvidos pela Zogby a pedido da agência de notícias Reuters entre 12 e 18 de dezembro, a chance de recessão em 2008 é de 40%, um pulo em relação aos 35% de novembro e aos 30% de outubro.Já em levantamento idêntico do site do "Wall Street Journal", feito em 18 de dezembro, a média dos 52 economistas coloca a possibilidade em 38%, ante 33,5% no mês anterior e um recorde de três anos. Mesmo o tradicional "Livingston Survey", feito bianualmente desde os anos 40 com os 36 economistas mais influentes do país, ouviu respostas desanimadoras, embora tecnicamente não-recessivas: a média vê um crescimento de 1,9% no PIB dos Estados Unidos no primeiro semestre deste ano -em junho, a expectativa era a de um avanço de 2,9%.Tecnicamente, porque não há acordo nem mesmo em relação a o que é recessão. De acordo com a definição do Escritório Nacional de Pesquisa Econômica (Nber, na sigla em inglês), a que o governo norte-americano consulta nesses casos, são necessários dois trimestres seguidos de crescimento econômico negativos. Sendo assim, a última recessão nos EUA foi no início dos anos 90, já que 2000 e 2001 alternaram trimestres positivos com trimestres negativos.O presidente democrata Harry Truman (1884-1972) dizia: "Quando seu vizinho perde o emprego, é recessão; quando você perde o emprego, é Depressão". O republicano Ronald Reagan (1911-2004) emendaria: "Quando Jimmy Carter perde o emprego dele, é recuperação", referindo-se a seu antecessor. Já George W. Bush vem repetindo o mesmo mantra com que encerrou sua última entrevista coletiva do ano em Washington, no dia 21. "Os fundamentos estão fortes, e nós tivemos um crescimento importante por uma razão: somos competitivos, temos um mercado de trabalho flexível, mantivemos os impostos baixos e as exportações em alta."Quanto à crise do "subprime" (empréstimo de alto risco), ele listou o pacote articulado por seu secretário do Tesouro, Henry Paulson, que congela os juros de parte dos mutuários afetados pela inadimplência, e uma lei que promulgou para cortar os impostos desses.O congressista Rahm Emanuel, um dos líderes da oposição, fez outra lista: "Há uma crise financeira e habitacional enorme, elevação dos custos de energia e de saúde e, pela primeira vez desde a Depressão, índice de poupança negativo. Fora isso, o presidente quer nos dizer que está tudo bem."Com ele parece concordar a população. Três levantamentos feitos nas duas últimas semanas chegam ao mesmo resultado: mesmo que não amparados pelos dados, os norte-americanos já se vêem numa recessão. É o que responderam 70% dos ouvidos pelo Gallup, 57% dos entrevistados pela Opinion Research Corporation, em pesquisa encomendada pela CNN, e 43,4% dos ouvidos pelo Zogby (um salto em relação aos 40% de novembro), em pesquisa para a Reuters."A mentalidade de recessão já está sedimentada", resumiu John Zogby, do instituto que leva o seu sobrenome.

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