sábado, 5 de janeiro de 2008

Pacote faz crescer tensão no Congresso, diz Múcio

Por Letícia Sander
na Folha de São Paulo

O ministro José Múcio (Relações Institucionais) considerou que o anúncio das medidas para compensar a perda de arrecadação com o fim da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) tensionou ainda mais a relação do Executivo com o Congresso.Segundo o ministro, ele não sabia que as medidas de compensação da CPMF seriam anunciadas no primeiro dia útil do ano. Recebeu, na quarta-feira à noite, dia em que foi divulgado o pacote, um telefonema do presidente Lula informando-o de que tomara a decisão depois de a Fazenda ter lhe convencido de que as medidas eram necessárias e deveriam ser tomadas no início do ano.De volta ao trabalho a partir de segunda-feira, ele diz que sua missão será mapear demandas e resolver pendências de parlamentares, primeiro passo para reconstruir a relação com os aliados e a oposição após o turbulento processo de votação do chamado imposto do cheque. As pendências envolvem a nomeação para cargos nos Estados e indicações para a administração federal."As relações já não estavam boas e tensionaram ainda mais [após o pacote]. Não adianta esconder", afirmou o ministro à Folha por telefone. Ele está em Pernambuco, de folga por alguns dias. Apesar da avaliação, Múcio disse que o governo precisava decidir, ainda que "constrangido"."Não existe bom momento para anúncio sobre imposto" disse, acrescentando: "Ninguém aumenta imposto feliz".O ministro, entretanto, deixa transparecer que o anúncio o desagradou. Ontem, ele se referiu à virada de ano como "não muito boa". Disse ainda que queria dar "uma desligada" até retornar a Brasília.A divulgação das medidas contrariou o discurso que vinha sendo mantido tanto por Múcio quanto pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). No dia 18 de dezembro, após um jantar do presidente com líderes da base governista, Múcio deu a seguinte declaração: "Não vamos fazer aumento de impostos. Vamos ver onde serão os cortes no Orçamento do ano que vem, que só deve ser votado em meados de fevereiro".Desde o fim da CPMF, a área econômica divergia da área política do governo sobre os rumos a seguir. Os políticos queriam mais tempo e mais discussão com os aliados no Congresso; a equipe econômica ressalvava a necessidade de tomar uma decisão rápida.Já para "reconstruir pontes" no Congresso, a expectativa é de que Lula formalize já na próxima semana a indicação do senador Edison Lobão (PMDB-MA) para o ministério das Minas e Energia. A indicação atende aos apelos do senador José Sarney (PMDB-AL), padrinho político de Lobão.

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