domingo, 30 de dezembro de 2007

Sem contato com Farc, Venezuela volta a adiar operação na selva

Por Mariana Della Barba
no Estado de São Paulo

A operação de resgate de três reféns em poder Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) era para ter sido concluída ontem, mas teve de ser suspensa em razão de o governo da Venezuela ter perdido o contato com os guerrilheiros. Eles deveriam ter enviado às autoridades venezuelanas as coordenadas de onde estariam localizados os seqüestrados. Mesmo sem essas informações, representantes internacionais embarcaram na tarde de ontem em direção à cidade colombiana de Villavicencio para dar início à segunda fase da operação de resgate. A expectativa era de que a libertação dos reféns ocorresse na manhã de ontem. As três pessoas libertadas seriam a deputada Consuelo González de Perdomo, seqüestrada em 2001; Clara Rojas, assessora da ex-candidata à presidência do país Ingrid Betancourt, seqüestrada também em 2002; e seu filho Emmanuel, que nasceu no cativeiro há três anos.
FRUSTRAÇÃO
Ontem pela manhã, jornalistas e observadores internacionais foram chamados para o aeroporto internacional de Caracas e informados de que iriam embarcar para Villavicencio para acompanharem o resgate. No entanto, após três horas de espera, representantes do Ministério da Comunicação da Venezuela informaram que a operação estava suspensa até a noite de ontem e deveria ser reiniciada na manhã de hoje. A informação foi confirmada pela embaixadora argentina na Venezuela, Alicia Castro: “Isso é o que está previsto, (a ação será retomada) amanhã (hoje) pela manhã bem cedo”.O grupo de representantes internacionais, no entanto, seguiu viagem para a Colômbia. Entre os que embarcaram para Villavicencio estão o assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, e o ex-presidente argentino, Néstor Kirchner, convidados do presidente venezuelano, Hugo Chávez, que darão respaldo internacional e avalizarão a operação. A missão, batizada por Chávez de “caravana humanitária”, também tem enviados da Colômbia, França, Bolívia, Equador, Cuba e Suíça.Na base de Villavicencio, no interior da selva colombiana, dois helicópteros russos MI-17 identificados com o emblema da Cruz Vermelha estão prontos para decolar a qualquer momento para um local ainda desconhecido na selva.
OPERAÇÃO TERRESTRE
Enquanto aguardava pelas coordenadas, Chávez disse que, se o tempo não ajudasse, não estaria descartada a possibilidade de realizar uma operação terrestre na selva colombiana. “Se houver algum problema de localização por razões militares ou atmosféricas, estaria disposto a realizar operações terrestres de busca”, afirmou o líder venezuelano. “Claro que isso só seria feito com a permissão do presidente (colombiano Álvaro) Uribe.”O representante do CIVC da Colômbia, Yves Heller, disse que o atraso é em razão da cautela e do temor de que os guerrilheiros possam desistir de entregar os reféns por medo de serem presos no local da entrega, já que toda a região de Villavicencio é fortemente monitorada por soldados do Exército colombiano. “Assim que recebermos as coordenadas das Farc, vamos solicitar ao governo colombiano garantia de segurança”, disse Heller.O vice-chanceler da Venezuela, Rodolfo Sanz, e o comissariado da paz da Colômbia, Luis Carlos Restrepo, tiveram ontem uma longa reunião com os delegados do CICV para afinar os detalhes do plano para resgatar os reféns.Como os militares venezuelanos acreditam que os guerrilheiros estejam em algum lugar na selva, distante da base de Villavicencio, os helicópteros resgatariam os seqüestrados e retornariam à base para reabastecer. Não se sabe ao certo para onde iriam depois: se partiriam para cidade venezuelana de Santo Domingo, na fronteira com a Venezuela, ou se iriam diretamente para Caracas. O certo é que a operação ocorra durante o dia, já que a Cruz Vermelha não aceita, por razões de segurança, realizar esse tipo de ação à noite.Além dos representantes internacionais, Chávez também convidou para acompanhar o processo de libertação dos reféns a parlamentar colombiana Piedad Córdoba, que vem ajudando na mediação, e o premiado cineasta americano Oliver Stone, que está filmando um documentário sobre a América Latina e pretende produzir um filme sobre a crise colombiana.
REFÉNS
Consuelo, Clara e Emmanuel fazem parte de um grupo de 46 reféns políticos mantidos pela guerrilha, que pretende trocá-los por cerca de 500 guerrilheiros presos pelo governo. Na noite de sexta-feira, Marco Aurélio Garcia disse ao Estado que o Brasil só aceitou participar depois do aval de Bogotá. “Não viríamos se não houvesse autorização do Uribe”, disse. “O governo brasileiro não é menos ingênuo ou mais tolerante que os governos da França, de Cuba ou da Colômbia”, afirmou o assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ressaltando o caráter humanitário da missão, já que Chávez vem sendo criticado por negociar e até favorecer as Farc, considerada uma organização terrorista pelos Estados Unidos e pela União Européia.
OS REFÉNS
Clara Rojas - Seqüestrada em 23 de fevereiro de 2002, aos 38 anos, quando viajava para San Vicente del Caguán, no sul do país, para um ato de campanha. Clara era candidata à vice na chapa de Ingrid Betancourt, então senadora e candidata à presidência. Ambas foram capturadas quando viajavam para o sul do país. Na ocasião, as Farc disseram a Clara que poderia ir embora, mas ela decidiu acompanhar Ingrid
Emanuel Rojas - Filho de Clara, tem 3 anos. Nasceu de um relacionamento da mãe, durante o cativeiro, com um guerrilheiro. Ninguém sabia de sua existência até que, em abril de 2006, o jornalista Jorge Enrique Botero, que passou um tempo visitando campos rebeldes, lançou um livro contando sua história. Botero afirmou que o parto de Emanuel foi um “milagre”, em razão das condições extremas em que foi feito. Há relatos de que as Farc mantém a criança separada da mãe
Consuelo González de Perdomo - Era representante do Departamento de Huila na Câmara dos Deputados quando foi seqüestrada aos 51 anos, em 10 de setembro de 2001, um dia antes dos ataques terroristas nos EUA. Seu marido, Jairo Perdomo, morreu em 2003. Ela é um dos seis congressistas que ainda estão em poder da guerrilha

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