sexta-feira, 9 de novembro de 2007

PF apreende documentos em ONG de SC

Por Thiago Reis
na Folha de São Paulo

A Polícia Federal em Chapecó (SC) apreendeu ontem na sede da Fetraf-Sul (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul), entidade sindical suspeita de desviar verbas repassadas pela União e investigada pela CPI das ONGs, 120 caixas com documentos e 48 HDs (discos rígidos) de computadores.Segundo o delegado Misael Mazzetti, os documentos podem auxiliar a PF a "vincular" as supostas fraudes cometidas pela Fetraf-Sul com a campanha do deputado estadual Dirceu Dresch (PT-SC), que era coordenador-adjunto para Santa Catarina na entidade.Desde abril, a PF investiga os supostos desvios da entidade sindical, ligada ao grupo da senadora Ideli Salvatti (PT-SC). O dinheiro era repassado por órgãos federais para o financiamento de cursos da Fetraf nos três Estados do Sul."Já há prova testemunhal robusta e outros elementos e irregularidades que levam a crer [que houve caixa dois direcionado à campanha do petista]", disse o delegado. "Há pessoas que constam dos doadores na declaração [de Dresch ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de Santa Catarina], mas não doaram. Existe um indício fortíssimo", complementou.No inquérito, há planilhas sobre os cursos que apresentam itens como "gasto real" (com valores mais baixos do que o recebido em recursos) e "saldo Fetraf" (com a diferença entre "gasto real" e o que foi recebido). Uma das planilhas tem o nome de "Cx II". Os dados aparecem em DVDs.A Fetraf nega as suspeitas e não reconhece como seus os documentos gravados nos DVDs, que foram obtidos pelo Ministério Público Federal e repassados à PF. A federação diz que documentos foram furtados de sua sede, em Chapecó, e que as planilhas podem ser versões adulteradas.De acordo com o delegado Mazetti, as movimentações financeiras da Fetraf-Sul são "estranhas". "Ela não fecha. Não bate com a declarada."A suspeita é que o dinheiro possa ter sido enviado para a campanha de Dresch.Diretores, assessores e funcionários da Fetraf-Sul que doaram dinheiro para a campanha dele a deputado estadual constam dos beneficiários de recibos emitidos pela federação. Os recibos podem ter sido emitidos para cobertura de gastos que só ocorreram no papel.O delegado disse ainda que "várias testemunhas" confirmaram não ter doado ao petista, apesar de estarem na relação do TRE-SC.Segundo a investigação da PF, as fraudes podem chegar a R$ 6,4 milhões, com dinheiro dos ministérios do Trabalho e do Desenvolvimento Agrário e de outros órgãos federais.Parte do valor (R$ 1,2 milhão) é relativo à Cooperhaf (Cooperativa de Habitação dos Agricultores Familiares dos Três Estados do Sul) -órgão que é ligado à Fetraf. Para a Procuradoria, há provas de crimes de "desvio, estelionato e peculato".

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