sábado, 10 de novembro de 2007

Deputado chavista era um dos armados

Por Fabiano Maisonnave
na Folha de São Paulo

Armado com uma pistola, o deputado chavista José Félix Valera participou dos distúrbios ocorridos na Universidade Central da Venezuela (UCV) que deixaram nove estudantes opositores feridos, quatro a bala, na última quarta-feira.Horas depois, ele participou do programa "Contragolpe", da emissora estatal VTV, onde culpou a oposição pela violência no campus.Valera, que também é estudante da Faculdade de Estudos Internacionais da UCV, aparece em vídeos e fotos segurando uma pistola -não há imagens em que ele dispara. Seu rosto estava descoberto."Atuei como estudante e como mediador político para resgatar as pessoas seqüestradas no edifício da Escola de Trabalho Social (ETS) da UCV", justificou Valera, em entrevista ao jornal "Últimas Notícias".
Duas versões
Deputado estadual de Vargas, um pequeno Estado litorâneo na região de Caracas, Valera alega que arrancou a arma de um suposto estudante que tentou agredi-lo e que levou três pontos no braço. Na noite de quarta-feira, Valera participou ao vivo do programa televisivo, onde se identificou apenas como estudante e culpou a oposição pelos disparos."Escutamos os tiros e as explosões e fomos para lá com a intenção de mediar, de buscar uma saída para que as pessoas que estavam no edifício não se desesperassem", disse. "A resposta que conseguimos foi terrível, foi a das armas, nos agrediram, nos bateram."De acordo com a versão dos estudantes chavistas, a violência no campus da UCV, a maior e mais importante universidade do país, começou quando universitários opositores começaram a atacar o prédio da Escola de Trabalho Social, localizado na entrada principal do campus e considerado o principal "território" chavista dentro da instituição.Na versão dos estudantes da oposição, o ataque ao prédio ocorreu depois que um aluno foi baleado no campus ao voltar de uma marcha liderada por grêmios estudantis contra a reforma constitucional, que vai a referendo no próximo dia 2 e inclui a reeleição ilimitada para presidente. O autor do disparo teria se refugiado na ETS.A estudante de sociologia chavista Ivanova Luzoti, 23, que ficou cercada durante três horas dentro do prédio da ETS na tarde de quarta, disse que Valera ajudou a "resgatar" os cerca de 30 estudantes presos dentro do prédio."Eles tentaram pôr fogo no prédio, nos jogaram bombas de gás lacrimogêneo e se vestem de camisa vermelha para disfarçar. O que ocorreu foi um ato fascista", disse Luzoti à Folha, diante do prédio da ETS, com quase todos os vidros quebrados e coberto com faixas de apoio a Chávez.O campus principal da UCV voltou a ter aulas ontem, com a exceção da ETS, cujo prédio permaneceu fechado.Pela manhã, as diretoras da escola, que também ficaram dentro do prédio atacado pelos estudantes da oposição, deram uma entrevista coletiva para dar a sua versão da violência.A coordenadora acadêmica, Yudi Chaudiary, disse que viu pelo menos dois estudantes armados e que um deles pediu por telefone a ajuda de motoqueiros durante a confusão. Vários foram fotografados no campus empunhando armas."Um estudante nosso agarrou o telefone e disse: "Mande 50 motorizados'", disse Chaudiary, que foi interrompida por palavras de ordem de estudantes chavistas durante a coletiva. "Educação primeiro para filho de "obrero" (trabalhador), depois para filho de burguês", bradavam cerca de 20 estudantes, que ontem levaram fotos à Procuradoria-Geral da República mostrando o ataque ao prédio. A cerca de 50 metros da ETS, estudantes oposicionistas também entregavam provas da violência chavista. "O que ocorreu na escola foi porque dispararam contra nós", disse um aluno de oposição.
Policiais feridos
Na cidade de Mérida, quatro policiais e um jovem de 17 anos foram feridos a bala, no fim da tarde de ontem, durante mais um protesto estudantil contra a reforma constitucional. Os policiais tentavam apartar um confronto entre jovens pró e contra Chávez quando um dos manifestantes, não identificado, deu 12 tiros.

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