sábado, 6 de setembro de 2008

Quem pode tenta fugir do "grampo"

Por Márcio Falcão
no Jornal do Brasil

O receio de políticos, empresários e profissionais liberais em geral movimentou na última semana o mercado de produtos anti-grampo em Brasília e São Paulo. Empresas especializadas em garantir privacidade tiveram um aumento de até 40% na procura por serviços – como varredura, equipamentos de segurança e blindagem acústica – para o mundo político e empresarial. Mas são os celulares anti-grampo que conquistaram o posto de vedete do momento. Depois da divulgação de um diálogo entre autoridades que comprovariam escutas ilegais, foram vendidas, em apenas uma loja, 30 unidades do aparelho.
O sistema não é simples, mas os técnicos garantem que é a forma mais segura de se falar ao telefone. O celular anti-grampo possui um chip e um software de criptografia, que codificam as conversas e as mensagens de texto. No momento em que o usuário faz uma ligação, o sistema transforma a voz em dados. Como a maior parte dos grampos é feita através das ondas e milhões de dados vão sendo alterados por segundo pelo sistema, fica praticamente inviável grampear. O novo mino custa em média de R$ 1,4 mil.

Vinte anos

Os fornecedores sustentam que o recurso é o mais seguro porque consegue bloquear até mesmo o grampo realizado pela operadora de telefonia do cliente se os dois aparelhos que estiverem em uso possuírem o sistema. Hoje, os celulares são fáceis de serem grampeados, especialmente durante a comunicação entre o aparelho e a torre. Com a criptografia, calcula-se que se alguém captar a conversa poderá levar até 20 anos para conseguir decifrar.
- A garantia de sigilo aplica-se para qualquer tentativa de escuta, uma vez que estamos aplicando a cifragem nas duas pontas da conversa - explica Jorge Maia, diretor de tecnologia da B2T - Business Technology, pioneira na oferta desse tipo de serviço, que tem entre os clientes, a Polícia Federal e o Ministério das Relações Exteriores.
Na avaliação dos especialistas, mesmo diante da ação de uma maleta como a que teria a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) - suspeita de envolvimento no grampo contra o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) -, o diálogo estaria protegido e, no máximo, o aparelho conseguiria captar ruídos.
Além dos celulares, há procura pelas salas com blindagem acústica. Mas foram poucos os contratos realmente assinados. O motivo: o cliente tem que desembolsar entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão, dependendo do tipo de serviço que deseja. A sala básica é totalmente revestida e passa por uma série de adaptações. As paredes ganham metal para evitar a transmissão de sinais elétricos. Fica proibido qualquer tipo de adereço e até mesmo objetos, como computador e telefones, que podem esconder um aparelho para a escuta ambiental. Também pode fazer parte do kit um sistema que bloqueia gravadores, inclusive os digitais, e um gerador de ruído de leve intensidade.
– É tecnologia de ponta a serviço de um direito do cidadão garantido na Constituição - avalia Maia.

Reações

Mesmo com toda essa movimentação, os políticos são discretos ao falar das medidas de prevenção que estão assumindo e chegam a levar o assunto na brincadeira. O vice-líder do DEM na Câmara, José Carlos Aleluia (BA), conta que recomendou aos colegas que sejam mais claros durante as ligações sem utilizar expressões que possam ter dupla interpretação.
– Antes eu ligava e simplesmente falava: olha consegui R$ 100 mil para você - afirma Aleluia. – Agora, faço tudo nos mínimos detalhes: olha consegui R$ 100 mil para sua campanha, tudo com nota fiscal e dentro da lei.
O deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS) também prefere tratar o tema com descontração.
– Todo mundo está grampeado – afirma. – Eu já até me acostumei e passei a dar bom dia para eles (arapongas).
O líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), no entanto, garante que não adotou medidas preventivas.
– Não temos que nos prevenir - justifica. – Estes criminosos é que precisam ser presos.

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