quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Exército possui aparelho para grampo, diz Abin

Por Tânia Monteiro
no Estado de São Paulo

A crise do grampo abriu a caixa-preta dos serviços secretos do governo. Integrantes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) confirmaram ontem ao Estado que o Exército possui parte do arsenal de aparelhos eletrônicos utilizado pelos arapongas. Foi um contra-ataque ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, que durante a reunião de coordenação política do governo acusou a Abin de possuir equipamentos que permitem a realização de grampos. Integrantes da agência, de vários níveis hierárquicos, apresentaram o seguinte argumento: se a Abin tem equipamentos que permitem que se façam grampos, o Exército também tem e poderia da mesma forma realizar escutas.A Abin lembra que seus aparelhos foram adquiridos "no rastro" dos comprados pelo Exército. Há quem seja ainda mais direto, informando que o lote de compras foi o mesmo, aproveitando idênticas condições de preços. O Exército, no entanto, não informa que tipo de equipamentos possui e alega, em nota, que se trata de "assunto sensível e estratégico do ponto de vista militar" e, por isso, "se reserva ao direito de não detalhar sua dotação e características deste tipo de material".O comandante do Exército, general Enzo Peri, declarou ontem que "os equipamentos foram comprados pelo Exército para o GSI (Gabinete de Segurança Internacional) fazer varreduras". Lembrou ainda que a Força mandou para o Palácio do Planalto, a pedido do próprio GSI, três militares para avaliar o que os aparelhos adquiridos pela Abin são capazes de fazer. O trabalho de avaliação da capacidade dos equipamentos começou na terça-feira, mas ainda não tem data para ser ser concluído.
VARREDURA
No Exército, o esforço é para evitar alimentar a polêmica e tentar impedir que a Força entre no centro do furacão. Os militares ressaltam que os equipamentos que possuem "são apenas de varredura". Embora até admitam que eles talvez possam ser usados para algum tipo de interceptação, insistem em afirmar que não fazem isso, mesmo se algum "engenho e arte" for aplicado aos aparelhos. Eles evitam confirmar também que os equipamentos que possuem sejam os mesmos da Abin.O Ministério da Defesa, por sua vez, acha que o foco da questão está sendo desviado. O que tem de ser discutido, alega, não é quem tem ou não equipamento que permita a interceptação de telefones ou escuta de ambiente, mas quem fez o grampo divulgado pela revista Veja - o qual revela uma conversa entre o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEM-TO).Ao ver o tamanho da polêmica criada, o próprio ministro Jobim desabafou para interlocutores: "O que o Exército faz não interessa. Interessa o que eles (Abin) fazem." Na Defesa, a avaliação é que a discussão sobre os equipamentos que têm a Abin e o Exército "não faz o menor sentido" e é tudo um "jogo político".Na reunião de coordenação política do governo, na segunda-feira, Jobim surpreendeu a todos os participantes, principalmente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao apresentar uma lista com os nomes dos equipamentos que a Abin comprou. E, conforme informação obtida no Comando do Exército, a relação mostra que alguns equipamentos podem ser usados para fazer escutas. A posição do ministro da Defesa causou mal-estar e irritou profundamente o ministro-chefe do GSI, general Jorge Armando Félix. Na avaliação de Félix, Jobim agiu de "má-fé", pois não revelou que o Exército possuía os mesmos equipamentos. A informação do ministro da Defesa foi decisiva para que Lula decidisse pelo afastamento de toda a cúpula da Abin.
LISTA
Na lista apresentada por Jobim constavam os seguintes equipamentos: OSC-5000 Omni Spectral Correlator; Orion Non Linear Junction Evaluator; X600 Through Wall Listening System, e Stealth LPX Global Intelligence Surveillance System CDMA & GSM Passive/Active Interceptors Internet & Email Interceptors. Além da Abin, o próprio GSI possui os equipamentos OSC-5000 Omni Spectral Correlator e Orion Non Linear Junction Evaluator, que são usados pelo Palácio do Planalto, para fazer varredura de locais em que o presidente Lula se encontre ou por onde vá passar.No depoimento na Câmara, na terça-feira, o ministro Félix afirmou que o GSI tem equipamentos para proteger o presidente e os ambientes do Planalto de qualquer intromissão indesejada.

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