terça-feira, 2 de setembro de 2008

Na direção da PF, grampos foram marca de Lacerda

Por Fausto Macedo
no Estado de São Paulo

Paulo Fernando da Costa Lacerda, de 62 anos, goiano de Anápolis e flamenguista de coração, assumiu a direção-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), órgão central do Sistema Brasileiro de Inteligência, em outubro de 2007 - após 4 anos e 10 meses no comando do Departamento de Polícia Federal, posto que havia ocupado desde o início do primeiro governo Lula, em 2003.Foi na gestão Lacerda que a PF mergulhou na fase mais ostensiva de sua trajetória e mostrou nova cara ao País, construída em cima de um modelo de inteligência policial que valoriza radicalmente o grampo telefônico - estratégia que tem o aval expresso do Judiciário e da Procuradoria da República, mas sofre pesada resistência da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).A escuta é o lastro das operações de grande envergadura que a PF de Lacerda pôs na rua e que levaram à prisão cerca de 7 mil empresários, advogados, lobistas, políticos e servidores públicos supostamente envolvidos com o crime do colarinho-branco, evasão de divisas, lavagem de capitais e corrupção.O combate às organizações criminosas e as interceptações com a chancela judicial são a marca da PF que Lacerda planejou. Não houve uma única missão contra fraudadores do Tesouro que não tenha sido amparada no grampo, e todas as jornadas com sinal verde da Justiça e do Ministério Público Federal.Independência e respaldo político, segundo Lacerda, foram fundamentais para a atuação da PF no período em que dirigiu a corporação. "Sem o apoio do Judiciário e sem a confiança do Ministério Público Federal não poderíamos chegar a lugar nenhum", declarou ele ao Estado, no primeiro mandato de Lula.
PALMATÓRIA
Formado em Direito pela Faculdade Cândido Mendes, no Rio, Lacerda foi bancário e, depois, delegado federal - carreira à qual pertence há quase três décadas. Durante seis anos atuou como assessor especial no Senado. É ligado ao senador Romeu Tuma (PTB-SP). Conquistou notoriedade em 1992, quando desvendou o Esquema PC Farias, comandado pelo tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor.Muitas vezes a PF tem sido acusada de arbítrio e também da prática de arapongagem. Contra o cerco a escritórios de advogados, a OAB insurgiu-se e faz pressão. Contra as operações que atingiram repartições próximas até do Palácio do Planalto, aliados do presidente atribuíram "descontrole" à instituição.Quando ainda dirigia a PF, Lacerda declarou: "Não queremos ser a palmatória do mundo, queremos apenas fazer a nossa parte, que está na Constituição. Onde tem crime organizado tem algum agente público envolvido. E, se você não for duro com ele, você não vai chegar a lugar nenhum. Pode ser um policial, pode ser um fiscal, uma autoridade, pode ser um político, um magistrado."

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