sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Lula acha que família foi grampeada

Por Vasconcelo Quadros e Karla Correia
no Jornal do Brasil

Uma das vítimas do grampo que apanhou o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, o senador Demóstenes Torres contou, ontem, que na reunião dos congressistas na última segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que também está preocupado com a onda de espionagem em Brasília.
– O Lula acha que a família dele está sendo bisbilhotada – revelou o senador.
Segundo ele, o presidente não entrou em detalhes sobre quem na sua família estaria sendo alvo de espionagem.
Em busca de pistas que possam levar ao araponga mais procurado do Brasil, a Polícia Federal não deixou de fora nem as vítimas do grampo: os peritos da PF fizeram ontem uma varredura no gabinete de Demóstenes, no Senado, e depois se concentraram nos equipamentos e linhas do setor de distribuição dos ramais telefônicos da Casa.

Origem do grampo

Na mesma operação, o delegado Willian Marcel Morad ouviu o senador de mais de duas horas sobre a espionagem e a paranóia que tomam conta dos políticos em Brasília. O principal objetivo da polícia agora é definir se o grampo originou-se no Senado ou no STF.
– Foi eu quem pediu ao presidente (do Senado) Garibaldi Alves que a Polícia Federal fizesse a perícia. Franqueei o meu gabinete – disse Demóstenes, para afastar especulações sobre seu papel no episódio. Os peritos passaram cerca de duas horas vistoriando equipamentos entre o gabinete do senador e o sistema telefônico do Senado.
Ao delegado, ouvido em depoimento como testemunha, ele repetiu a história já conhecida e acrescentou que sempre teve a sensação de que pudesse estar sendo monitorado, mesmo antes de 15 de julho, suposta data em que o araponga gravou sua conversa.
Demóstenes deu ao delegado sua impressão sobre a origem do grampo: a relação que ele chamou de "promíscua" entre Polícia Federal e Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante a Operação Satiagraha. Por essa hipótese, segundo o senador, o presidente do STF, Gilmar Mendes, autor das duas liminares que determinaram a libertação do banqueiro Daniel Dantas, teria sido monitorado por retaliação de algum policial ou agente da Abin.
– Acredito que tenha havido um desvio de conduta dentro da Abin – diz o senador.
Ele ressalva, no entanto, que hoje não há qualquer pista que possa levar ao autor do grampo ou ao equipamento usado para a espionagem, e que todas as hipóteses – inclusive a que aponta para o Senado – devem ser levada em consideração.
A Polícia Federal desconsiderou o relatório produzido pela Polícia Legislativa do Senado, que na segunda-feira sustentava não haver indícios de grampo, e fez uma rigorosa vistoria no sistema telefônico e em alguns computadores da Casa. Os policiais legislativos, que não têm atribuição legal de investigar, tentaram negar aos federais acesso à central telefônico, mas o próprio Demóstenes, numa telefonema a Garibaldi Alves, desfez a confusão e autorizou a perícia.

Uso em escutas

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, voltou a sustentar ontem que os equipamentos adquiridos pela Abin por meio do Comando do Exército permitiriam, sim, a instalação de escutas telefônicas.
– A relação que entreguei tem uns equipamentos que têm varredura, tem outros que fazem menção que o aparelho é de interceptação e tem outro que é de escuta ambiental - disse Jobim, depois de participar de reunião no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A lista foi entregue a Lula na segunda-feira e definiu o afastamento do delegado Paulo Lacerda. Jobim confirmou ainda que comparecerá à CPI do grampo para prestar esclarecimentos sobre a compra, mas esquivou-se de responder aos jornalistas se o mesmo equipamento em poder do Exército também pode espionar.
- Não estamos discutindo sobre o Exército, estamos discutindo a Abin. O foco é a Abin, não tenho nada para falar sobre o Exército – desconversou o ministro da Defesa.
Em conversa com assessores, o delegado Paulo Lacerda, afastado provisioriamente do comando da Abin, disse que o ministro está dando "um tiro no pé", já que o equipamento anti-grampo comprado pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI) é o mesmo que se encontra no Exército e, se serve à Abin espionar, também teria a mesma função nas Forças Armadas. Em vez do soneto, o senador Demóstenes Torres optou pela emenda ao defender Jobim.
– As Forças Armadas cuidam da segurança nacional o Exército não só pode, como deve contar com equipamentos de monitoramento. Já imaginou se as Farc (Forças Armadas Revolucionária da Colômbia) decidem invadir o Brasil? – justificou.

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