terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

"Terça gigante" por Lucas Mendes

Pelo numero de eleições primárias, esta terça-feira de Carnaval é mais do que gorda: é Terça Gigante. O time dos Giants desfila vitorioso pelo Canyon dos Campeões, em Manhattan, uma parada rara em que milhões de nova-iorquinos saem às ruas e jogam papel picado das janelas para saudar seus ídolos da política, dos esportes, das conquistas espaciais.
Os Giants eram uma carta quase fora do baralho quando começaram a se agigantar nos últimos cinco jogos. A final era contra os Patriots, o time com o melhor currículo na história do futebol americano: 18 vitórias, nenhuma derrota.
Sessenta e sete por cento dos americanos apostavam nos Patriotas, mas faltando dez segundos para terminar, os Gigantes ganharam de virada.
Uma lição para esta eleição. Há seis meses o senador McCain estava em último lugar e o prefeito Giuliani liderava disparado nas pesquisas republicanas. Hoje Giuliani está em coma político e McCain pode garantir nesta terça a indicação como candidato republicano à Presidência.
O canto de guerra de McCain nos comícios é “McCain is back”! Mais do que uma volta, foi uma ressurreição política. Em Nova York ele é favorito, com uma margem de 31 pontos, e nas pesquisas nacionais, lidera por mais de 20.

Um milagre para Romney

As pesquisas já erraram – e muito – nestas eleições e podem errar de novo, mas tudo indica que agora só um milagre pode salvar Mitt Romney: o candidato evangélico Mike Huckbee, o mais conservador e religioso dos republicanos. Não tem nenhuma chance de ganhar e poderia salvar Romney saindo da campanha, mas quer que Romney vá para o inferno político.
Entre os democratas, Obama se agiganta e Clinton encolhe. Ele faz comícios recordistas – 15 mil, 20 mil pessoas – em Estados pequenos, redutos republicanos que elegeram Bush na ultima eleição, como Missouri, Kansas e Utah. A intencão dele é provar que pode ganhar em Estados onde a senadora não tem chances.
Em Nova York, ela lidera nas pesquisas com quase 20 pontos e, como senadora do Estado, precisa ganhar por uma grande margem. Menos de dez pontos será uma humilhação, além de perder os delegados "bônus" que um candidato recebe neste bizantino processo de primárias.
Obama deve dar uma surra na senadora em Illinois, Estado dele, e levar o bônus de delegados. Mesmo se perder em número de votos nas eleições gerais pode sair muito perto e até ganhando em número de delegados.
Em Nova Jersey, onde as pesquisas o situavam 20 pontos atrás, Obama conseguiu emparelhar com Hillary, e está na frente em Connecticut. No início desta semana, pela primeira vez, estava em primeiro na pesquisa da CNN.
Estrategistas do Partido Democrata já se preparam para as primárias seguintes, que só terminam em 22 de abril na Pensilvânia, e fazem planos de contingência na hipótese de nenhum candidato chegar vitorioso à Convenção.

A parada dos Kennedy

Quem liga a televisão hoje em Nove York vê duas paradas: uma do time dos Giants nas ruas e outra do time dos Kennedy em comerciais políticos. Até parece que um deles é candidato na campanha.
A família está dividida entre Obama e Clinton, com os três filhos de Bob Kennedy a favor da senadora e, do lado de Obama, a mãe deles, Ethel, o senador Ted Kennedy, Caroline, filha do ex-presidente Kennedy, e Maria Shriver, mulher do governador da Califórnia, Arnold Schwarzenneger, republicano que endossou o senador McCain. "Eu estou nesta família há 30 anos e nunca vi nada parecido", disse o governador.
Nem ele nem ninguém. Esta é uma campanha como nenhuma outra na história americana. Nenhum ficcionista imaginou um negro, uma mulher, um septuagenário e um mórmon, ao mesmo tempo, numa disputa pela Presidência americana. Só um deles já seria inédito. Quatro?
A divisão da família Kennedy se reproduz no país inteiro. Gill Herbert é um advogado casado com uma enfermeira especializada, ambos brancos e, juntos, ganham 350 mil dólares por ano. Estão lá em cima da pirâmide, naquele 1% da população.
Há 18 anos perderam o interesse pela política, mas agora têm debates furiosos em casa - ele, pró-Obama, ela, pró-Hillary. O filho vai votar pela primeira vez e está com o coração partido.
Gill disse que não vota em Hillary porque cada vez que ela fala parece uma ordem, como se estivesse mandando cortar a grama e tirar o lixo.
Nas questões mais substantivas, como a guerra no Iraque, economia e saúde, nem o casal nem o filho acreditam que o governo é capaz de fazer grandes mudanças. Quem ganhar vai herdar um país super endividado. Acham que todas as promessas são apenas isto, promessas políticas, mas ele se encantou pela poesia de Obama e ela, pela experiência e pelo sexo da senadora. Quer uma mulher na Casa Branca.
Obama, com sua poesia, promete unir o país, mas está desunindo famílias. Milhões de americanos sonham com o maior casamento político do nosso tempo, Obama e Hillary na mesma chapa. Sonho impossível. Numa mesma casa não cabem um gigante, uma fera e um Bill.

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