segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

CPI anima PMDB a pressionar por cargos

Por Maria Clara Cabral
na Folha de São Paulo

Preocupados com a demora na definição de cargos em estatais, partidos da base -principalmente o PMDB- podem usar a possibilidade da instalação de uma CPI dos cartões corporativos para pressionar o governo a agilizar as nomeações. Cientes de que sozinhos não têm assinaturas suficientes para instalar a comissão na Câmara, PSDB e DEM apostam nessa atitude dos governistas para viabilizar as investigações.Para a oposição, no entanto, a "chantagem" pode ir além. O líder do DEM na Câmara, deputado Onyx Lorenzoni (RS), acredita que parlamentares da base insatisfeitos com alguma outra coisa podem usar a CPI como "moeda de troca"."Não tenho dúvida nenhuma que isso [insatisfação da base aliada com o governo] não só pode como irá nos ajudar muito. Acho ainda que deputados da bancada ruralista, por exemplo, que também estão insatisfeitos, podem nos ajudar", afirmou o democrata.Segundo um integrante da bancada do PMDB, o fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saber que sem o aliado dificilmente a CPI sairá do papel anima parlamentares "descontentes" a pressionar o governo. "É bem provável que parlamentares descontentes com o não atendimento de seus cargos assinem o requerimento da CPI para demonstrar a insatisfação e, depois de mandar o sinal para o governo, podem retirar os seus nomes", afirmou o peemedebista.Durante o recesso parlamentar, o ministro José Múcio (Relações Institucionais) prometeu fazer as principais indicações no segundo escalão logo após o Carnaval. As reivindicações não são só do PMDB. O líder do PR, Luciano Castro (RR), por exemplo, também esteve com o ministro na semana passada para pressioná-lo a indicar o ex-governador do Ceará Lúcio Alcântara para algum cargo no setor elétrico.
Assinaturas
Para a instalação de uma CPI mista (formada por senadores e deputados) são necessárias 171 assinaturas na Câmara e 27 no Senado. Juntos, DEM e PSDB têm 115 deputados -ou seja, mesmo se todos assinarem o requerimento ainda faltarão 56 apoios para que as investigações sobre os cartões corporativos saíam do papel.A situação no Senado é diferente. Apesar de o PMDB também ter a maior bancada, com 20 senadores, PMDB e DEM somam 28 juntos, mais do que o necessário para a instalação da CPI. Diante dos números, a oposição também aposta que deputados da base assinem o requerimento para evitar que a comissão aconteça só no Senado, onde governistas têm uma bancada mais fraca."No Senado temos assinaturas suficientes em dez minutos e o governo sabe disso. Por isso, acredito que os deputados vão assinar o requerimento para evitar uma CPI só de senadores, onde somos mais fortes", disse o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).A instalação da CPI foi proposta pelo deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) após a divulgação do uso irregular dos cartões corporativos por ministros do governo. Ele vai começar a colher assinaturas dos parlamentares nesta quarta-feira, na volta dos trabalhos legislativos. Virgílio já propôs, no entanto, que Sampaio apresente dois requerimentos, um para uma CPI mista e outro para uma só no Senado.

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