terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Gasto de cartão no ABC foi de R$ 149 mil

Por Leila Suwwan e Silvio Navarro
na Folha de São Paulo

Pelo menos dois seguranças da equipe que protege a família do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em São Bernardo do Campo (ABC paulista) gastaram nos últimos três anos R$ 149,2 mil com cartões de crédito corporativos do governo. Além de despesas com manutenção de veículos e materiais de construção, eles pagaram contas de churrascaria, magazines, lavanderia e até construíram e equiparam academia de ginástica privativa. No ABC moram os filhos de Lula e suas respectivas famílias. A segurança é feita por uma equipe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Ontem, a Folha revelou que um segurança gastou nos últimos nove meses R$ 55 mil no cartão corporativo em Florianópolis, onde é feita a proteção da filha do presidente, Lurian. Segundo o chefe do GSI, general Jorge Félix, os gastos desses funcionários são sigilosos e não deveriam estar no Portal da Transparência. A Presidência também não se manifestou. O uso do cartão corporativo é regulamentado pelo decreto 5.355, de 2005. Deve ser usado para compras "emergenciais", para o "pagamento das despesas realizadas com compra de material, prestação de serviços e diárias em viagens". O governo alega que o cartão permite maior controle sobre os gastos. O general Félix foi questionado ontem sobre o motivo de os gastos dos seguranças terem sido feitos por meio de cartão e não por licitação, pregão ou outras modalidades. Ele disse que cada caso deve ser analisado individualmente. "Depende da natureza [da despesa]." Os cartões usados no ABC, vinculados à Secretaria Administrativa do Palácio do Planalto, estão nas mãos de "Luiz G.B. Aragão" e, até 2006, de "José Benedito Cost". Há um terceiro cartão que foi utilizado por dois meses em 2007 (janeiro e fevereiro) nos mesmos estabelecimentos em São Bernardo e que registra despesa total de R$ 5.078,26, em nome de "Eduardo S Barroso". A Folha não conseguiu confirmar se ele também integra a segurança presidencial. Segundo dados da Transparência, da Controladoria Geral da União, eles também usavam o cartão para sacar dinheiro no caixa eletrônico: em três anos, foram R$ 34,2 mil. Não há detalhamento dessas despesas. A fatura aponta gastos de R$ 960 nos dias 13 e 15 de junho de 2005 na "Churrascaria do Vavá", em Santo André. Nessas datas, Lula estava em Brasília. Os dois cartões foram usados para comprar material de construção e artigos esportivos. Pagaram R$ 3.450,00 em esteiras ergométricas. A Folha esteve na casa onde os seguranças moram em São Bernardo e constatou que a edícula está em obras. Com material de construção, gastaram R$ 14.319,69, além de R$ 1.333,50 em tintas, só no ano passado. Esse é o gasto mais recorrente: em 2005, foram R$ 10.832,73, e, em 2006, R$ 8.833,75. Benedito Costa costumava usar o cartão para pagar gasolina. Em 2005, gastou R$ 19.510,44 num único estabelecimento (Auto Posto Central). A lista de compras inclui supermercados, lojas de eletrônicos, foto, artesanato, roupas, informática e papelaria. Havia despesas de R$ 800 na "Elite Malas e Bijuterias", que a reportagem constatou ser, na verdade, uma loja de artigos esportivos, e R$ 390 na "Flama Instrumentos Musicais", que, a despeito do nome, comercializa produtos eletrônicos.

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