terça-feira, 7 de outubro de 2008

Um comentário, uma coluna e uma missão

Recebo um comentário de um leitor chamado Lucas Maia informando sobre as alianças que Fernando Gabeira está costurando no Rio de Janeiro. Por falar no candidato verde, relembro uma coluna do Diogo Mainardi que saiu na Veja do dia 31 de maio de 2006 com o título Gabeira para presidente. Segue abaixo:

Fernando Gabeira é meu candidato a presidente. O que falta agora é convencê-lo a se candidatar.

O primeiro contato não foi muito animador. Eu disse que votaria nele. Ele respondeu que só se candidataria se fosse para ganhar. Como assim? Ele quer ganhar? Ganhar ele não ganha. O que eu espero dele não é isso. O que eu espero dele é que manifeste toda a minha repulsa por lulistas e oposicionistas.

Na semana passada, Fernando Gabeira disse que se sentia frustrado "ao ver que os bandidos estão triunfando na vida pública". E concluiu: "Não rolei tanto barranco para entregar o ouro aos bandidos". Claro que rolou. Claro que ele terá de entregar o ouro aos bandidos. Como todos nós. Mas o tom de seu discurso está certo. O que Fernando Gabeira pode oferecer a mim e a um montão de gente como eu, durante a campanha eleitoral, é isso mesmo: um tantinho de teatro e um tantinho de demagogia, chamando sempre os bandidos de bandidos.

Os oposicionistas não entendem por que não conseguiram arrebanhar o eleitorado antilulista. Eles não conseguiram porque o eleitorado não é tonto e sabe perfeitamente que eles não são antilulistas. Como declarou Fernando Gabeira na última quarta-feira, o Congresso foi tomado por quadrilhas. Essas quadrilhas estão acima do interesse partidário ou ideológico. Diante delas, lulistas e oposicionistas se comportam de maneira igual. O caso da empresa do filho de Lula é emblemático. Os oposicionistas tinham a oportunidade de atingir diretamente o presidente, mas preferiram ignorar o assunto, porque suas afinidades com a Telemar acabaram prevalecendo.

Para conquistar o eleitorado antilulista, Fernando Gabeira terá de dar o passo que ele ainda não ousou dar. Ele chamou Severino Cavalcanti de bandido. Ele chamou Ney Suassuna de bandido. Ele chamou Romero Jucá de bandido. Ele chamou Natan Donadon de bandido. Ele só não chamou Lula de bandido. Estou aqui, esperando.

Há também a questão do táxi. Fernando Gabeira lembrou que, em sua campanha para o governo do Rio de Janeiro, em 1986, ele não tinha dinheiro nem para o táxi. Respondi que era melhor ficar sem táxi. Das duas, uma: ou o candidato rouba e toma táxi, ou não rouba e não toma táxi. Fernando Gabeira não rouba. Por isso é meu candidato. Então não pode tomar táxi. Ele concordou comigo.

Fernando Gabeira apoiou Lula na campanha presidencial de 2002. Eu não. Fernando Gabeira foi contra a CPI dos Bingos. Eu não. Fernando Gabeira foi contra a guerra no Iraque. Eu não. Fernando Gabeira se preocupa com o acúmulo de nitrogênio no solo. Eu não. Mas não importa o que ele pensa. Fernando Gabeira é o único político que ainda pode dar algum sentido à disputa eleitoral, representando a recusa de uma parcela do eleitorado em aceitar calada essa bandidagem tão rudimentar.

Eu apóio Fernando Gabeira para presidente. Meu maior temor é que ocorra um acidente e ele seja eleito. Um candidato só é realmente bom se a gente sabe que ele nunca poderá ganhar.


Queria ver o primeiro debate entre Eduardo Paes e Fernando Gabeira. Assim como Gabeira, Paes foi contra os mensaleiros lulistas. Hoje, Paes é aliado de Lula por intermédio de Sérgio Cabral. Procurem no Youtube um vídeo que o governador do Rio de Janeiro (na época senador) fala sobre o governo Lula. Fernando Gabeira pode até não ser eleito, mas pode muito bem mostrar para todo mundo a safadeza e o oportunismo de Sérgio Cabral e Eduardo Paes. E, é claro, quem sabem, ele não chama os dois e o próprio Lula de bandidos. Talvez seja esta a missão de Gabeira no segundo turno. Mostra as incompetências de Sérgio Cabral na área de segurança. Mesmo se conseguir o apoio do DEMO não deixar de criticar César Maia. Por que não? Se os morros hoje estão ocupados por milícias, traficantes e Forças Armadas é porque os governos estadual e municipal não deram conta do recado. Foram incompetentes.
Talvez esta seja a missão de Gabeira: mostrar as coisas como são, chamar os bandidos de bandidos, os vendidos de vendidos e os incompetentes de incompetentes.
Nós, antilulistas, agradeceríamos o candidato verde se ele cumprisse a sua missão.

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