quinta-feira, 9 de outubro de 2008

BC vende dólar após moeda bater R$ 2,48

Por Denyse Godoy e Ney Hayashi da Cruz
na Folha de São Paulo

Pela primeira vez em mais de cinco anos, o Banco Central vendeu ao mercado dólares das reservas internacionais a fim de tentar conter a forte desvalorização do real. Ontem pela manhã, enquanto a cotação da moeda americana alcançava R$ 2,48, o BC realizou três leilões de divisas. Assim, conseguiu que o dólar terminasse o dia de ontem em queda de 1,34%, vendido a R$ 2,28.O movimento foi amplamente aprovado por especialistas. "O BC está cumprindo muito bem a sua função", afirma Mário Paiva, analista de câmbio da corretora Liquidez. "Antes, quando existia excesso de dólares no mercado, comprava. Nada mais natural do que voltar a oferecer moeda se há um desequilíbrio. Não é bom para o país uma instabilidade que impede as empresas de se planejarem."Até anteontem, o que o BC vinha fazendo para tentar amenizar o problema de falta de liquidez do mercado eram leilões casados de compra e venda: os dólares eram vendidos em um dia e recomprados pelo BC depois de um mês.Nas operações de ontem, a venda foi definitiva, o que tem impacto sobre as reservas internacionais do país, atualmente em US$ 208 bilhões. "As reservas estão aí para isso", afirma Silvio Campos Neto, economista-chefe do banco Schahin. O BC não costuma divulgar oficialmente o valor dos leilões, mas, segundo estimativas de operadores, o montante negociado ficou entre US$ 1,3 bilhão e US$ 1,7 bilhão.Além disso, o BC vendeu mais US$ 1,3 bilhão em contratos de "swap" cambial, numa transação que equivale a uma venda de dólares no mercado futuro. O papel paga a variação cambial em determinado período, e em troca o seu comprador remunera o BC com juros. As instituições financeiras, no entanto, não estavam satisfeitas com esses contratos e pressionavam para que o BC liberasse dinheiro de verdade.A retomada dos leilões de moeda à vista só não surtiu efeito imediato durante o dia por causa da greve nos bancos e pela extrema desconfiança que paira sobre o mercado, reduzindo o número de transações. Os importadores não querem comprar dólares para quitar suas obrigações porque têm esperança de que o preço baixe. Os exportadores não têm muito o que vender, já que as suas linhas de crédito secaram, e acabam segurando o que resta para tentar obter cotações maiores.Outra fonte de pressão sobre a moeda americana vem de empresas que fizeram operações muito arriscadas no câmbio futuro contando que a divisa continuaria oscilando entre R$ 1,60 e R$ 1,70 e foram surpreendidas pela rápida e ampla desvalorização do real. Por meio de mecanismos bastante complexos, elas haviam se comprometido a vender dólares para bancos em uma quantidade que na verdade não possuíam e agora precisam correr para comprar a moeda e honrar os compromissos. A expectativa é que até o fim da semana mais companhias, a exemplo da Sadia e da Aracruz, revelem ter sofrido prejuízos de maneira semelhante. Acredita-se que as perdas cheguem, no total, a US$ 40 bilhões.
Projeções
É impossível prever até quando a instabilidade vai durar. "Não há fundamentos que justifiquem. A situação de hoje não é sustentável, porém não se sabe por quanto tempo vai se manter", diz Roberto Padovani, diretor para a América Latina do banco WestLB. "Isso é efeito da aversão a risco de estrangeiros, que estão batendo em retirada do Brasil", afirma Campos Neto. Em um cenário externo incerto, os investidores estão cada vez mais cautelosos na aplicação de seus recursos.O Banco Central já anunciou mais uma venda de "swap" cambial para hoje e os bancos e corretoras prevêem que também haverá novos leilões de moeda à vista.

Nenhum comentário: