terça-feira, 7 de outubro de 2008

Em mais um dia de pânico, BC ganha poder para socorrer banco pequeno

Por Leandro Modé e Fernando Nakagawa
no Estado de São Paulo

O agravamento da crise do sistema bancário europeu e o temor de uma recessão mundial fizeram o mercado financeiro viver novo dia de pânico ontem. O pregão da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) teve de ser interrompido duas vezes pela manhã - na primeira, o Ibovespa caía 10% e, na segunda, 15%. No fim, perdeu 5,43%. O dólar disparou 7,63%, para R$ 2,20, maior alta porcentual desde 15 de janeiro de 1999, logo após a desvalorização do real. À noite, o governo editou uma medida provisória que dá ao Banco Central (BC) poderes para comprar carteiras de crédito de bancos que atuam no País. O presidente da instituição, Henrique Meirelles, classificou a decisão como "um passo adicional para preservar a economia brasileira da crise internacional". "A medida deixa o BC em condições semelhantes ao de outros BCs no mundo." No exterior, o pessimismo diminuiu um pouco no fim do dia, em conseqüência de rumores de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) poderia promover um corte emergencial da taxa básica de juros, hoje em 2% ao ano. Mesmo assim, o Índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, perdeu 3,58% e fechou abaixo de 10 mil pontos pela primeira vez desde outubro de 2004. Na Europa, o Índice Xetra-Dax, de Frankfurt, deslizou 7,07% e o CAC-40, de Paris, 9,04%. A falta de coordenação dos europeus para lidar com os problemas bancários tem levado investidores a temer uma crise sistêmica. "Este foi o quarto fim de semana seguido em que algum banco da região teve de ser socorrido", disse o economista do Banco Real Cristiano Souza. O primeiro foi o escocês HBOS, comprado pelo Lloyd?s TSB. Depois, foi a vez do Bradford & Bingley, que teve parte vendida ao espanhol Santander e outra nacionalizada pelo governo britânico. Domingo, o alemão Hypo foi resgatado pelo governo, e o belga Fortis, comprado pelo francês BNP Paribas. Sábado, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, recebeu outras lideranças para tentar convencê-las a criar um plano semelhante ao dos EUA. A idéia foi rechaçada. Até agora, foram adotadas soluções individuais. Alemanha, Grécia, Irlanda e Espanha disseram que garantirão depósitos bancários.Em termos de economia real, uma recessão mundial já é vista como factível. Em relatório, o banco Morgan Stanley disse que uma desaceleração global se tornou uma previsão de consenso. "Um círculo vicioso de aperto e deterioração na qualidade de crédito, combinado com sustentação menor para o crescimento, ameaçam minar uma economia já fraca."A esperança, segundo Ronaldo Zanin, sócio da Advisor Financial, ainda reside nos emergentes. "Esses países devem amortecer a queda dos desenvolvidos", disse. Na dúvida, os investidores fugiram de ativos como commodities e correram para títulos públicos dos EUA, o que valorizou o dólar no mundo. O preço da soja, por exemplo, atingiu o nível mais baixo em um ano. Os bônus de dois anos do governo dos EUA pagavam juro de 1,457% no fim do dia. "Os EUA são o porto seguro do mundo e o investidor aceita juro negativo (descontada a inflação). É como se pagassem por um cofre onde podem deixar o dinheiro sem risco", disse Zanin.

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