terça-feira, 7 de outubro de 2008

Marta perde força na classe média

Por Carlos Marchi
no Estado de São Paulo

Se os números da eleição de domingo forem comparados aos de 2004, logo se perceberá que a candidata Marta Suplicy (PT) perdeu substância eleitoral na classe média e foi "empurrada" para a periferia, observam analistas consultados pelo Estado. Em 2004 ela teve 47% dos votos do Capão Redondo, no extremo da zona sul, por exemplo; agora, teve 53%. Em compensação, no bairro central da Bela Vista, ela conquistou 30% dos votos em 2004 e agora não passou dos 24%. "Marta foi empurrada para a periferia", confirma o cientista político Alberto Carlos Almeida, do Instituto Análise.
A votação da petista - que já não era homogênea em 2004 - se tornou agora bem mais concentrada nos bairros mais pobres. Na campanha do primeiro turno Marta se apresentou claramente como a "candidata dos pobres". Recebeu duas respostas: os pobres realmente a premiaram massivamente com seu voto, mas ela perdeu espaço em todos os grupos de classe média nos quais avançara em 2004. "Ela vai ter de buscar mais votos na classe média", opina o cientista político Aldo Fornazieri, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.A candidata até aumentou o número proporcional de vitórias em zonas eleitorais. Em 2004, ganhou em 15 das 42 zonas então existentes (36%); agora, venceu em 23 das 57 zonas (40%). Mas seu porcentual geral de votos válidos em 2008 (32,56%) foi reduzido em 3,26 pontos porcentuais, tomando por base seu estoque de 2004 (35,82%). Embora vivendo situações diferentes (em 2004 eram dois candidatos, José Serra e Paulo Maluf, em espectros diferentes), alertam os especialistas, Marta teve de ampliar sua vantagem na periferia para compensar as perdas acentuadas nas regiões mais centrais.
MUDANÇAS
A perda de substância eleitoral pela petista alcançou alguns números expressivos em alguns bairros nem tão centrais assim: na Penha, zona leste, ela obteve 26,53% dos votos em 2004 e agora não passou de 17,49%. No Sapopemba, também na zona leste, ela venceu Serra em 2004, com 43,63% dos votos; agora teve de se contentar com 33,19% - e ainda perdeu lá para Gilberto Kassab (DEM), que atingiu 34,45%.Em Perdizes, bairro de classe média da zona oeste, a petista obteve 24,54% dos votos em 2004, mas agora alcançou escassos 16,39%. Para contrabalançar, no bairro pobre do Grajaú, no extremo da zona sul, alcançou agora 68,4% dos votos, bem mais que os 63,69% de 2004. Os exemplos se sucedem: em Santana, classe média da zona norte, teve 25,99% em 2004 e agora caiu para 12,19%. Em Piraporinha, no extremo da zona sul, obteve 52% em 2004 e agora pulou para 59,56%.Almeida registra que o mesmo fenômeno marcou as duas eleições presidenciais de Lula: "Em 2002, Lula teve uma votação bem mais homogênea, mas em 2006 sua votação migrou para as áreas mais pobres." Ele opina que Marta deverá, no segundo turno, buscar um discurso mais voltado para a saúde, que parece ter influenciado o voto da grande maioria do eleitorado no primeiro turno.Fornazieri observa que a eleição paulistana mostrou uma apropriação de discurso: da mesma forma que Lula potencializou os programas sociais antes criados por Fernando Henrique Cardoso, Kassab agora tomou para si o discurso de forte inflexão social que antes era exclusivo do PT.

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