sábado, 11 de outubro de 2008

Americanos estatizam prejuízos

No Jornal do Brasil


Depois da pior semana da história, as bolsas do mundo fecharam ontem em baixa mais uma vez, em mais um dramático capítulo da crise financeira que abala os mercados. Nos EUA, o Dow Jones, principal indicador da Bolsa de Wall Street, chegou a cair 12% nos primeiros negócios do dia. No final do pregão, o índice oscilou muito, e encerrou o dia com perda de 1,31%, quase um anticlimax para uma jornada que prometia quedas muito maiores. A perda semanal acumulada é de 18%, a maior em toda a história da instituição.
O temor de uma recessão mundial ofuscou toda a ajuda que governos dos diversos países já ofereceram nas últimas semanas e levou ao anúncio de uma decisão inédita e histórica: o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, anunciou que o governo dos EUA vai comprar ações de instituições financeiras. O jornal americano The New York Times informou que fontes do governo já comentavam a possibilidade de uma nacionalização parcial do sistema bancário americano, como já ocorreu em países europeus.
O anúncio foi feito pouco depois de o G7 (grupo dos sete países mais ricos) anunciar, em Washington, um plano de ação para combater a crise financeira mundial, que emprega "todas as ferramentas disponíveis" para apoiar as principais instituições e evitar sua falência.
O projeto prevê a adoção de "todas as medidas necessárias para desbloquear o crédito e os mercados monetários" para que os bancos tenham liquidez.
O G7 também destacou a necessidade de se conceder aos bancos a capacidade de elevar seu capital junto aos setores público e privado, visando a restabelecer a confiança.
OWall Street Journal destacou em sua edição eletrônica que a bolsa americana já discute suspender temporariamente as negociações com algumas ações. Trata-se de um tipo de circuit breaker para evitar posições de venda a descoberto de uma ação após forte queda em seu preço.
A venda a descoberto permite que um investidor alugue uma ação para vendê-la e comprá-la, lucrando com a diferença, para então devolvê-la ao proprietário. Ao suspender temporariamente estes negócios, a Dow Jones pretende reduzir as operações especulativas.
A instabilidade era tanta que o primeiro ministro da Itália, Silvio Berlusconi, disse que já se fala em suspensão temporária dos negócios no mercado de ações, enquanto se resolve a crise financeira. A turbulência será tema da reunião dos líderes da União Européia no domingo, em Paris.
No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo teve o pregão suspenso por meia hora pela manhã, quando a queda passava de 10%. Na volta dos negócios, o pregão operou em queda de aproximadamente 9% durante quase todo o dia mas, na última meia hora, investidores voltaram às compras e reduziram a perda do dia a 3,96%. Com isto, a bolsa paulista acumula queda de 20,1% na semana, 28,12% no mês e 44,2% no ano.
O termômetro da Bolsa, o Ibovespa, caiu a 35.609 pontos, nível mais baixo desde 2006. O giro financeiro foi de R$ 5,42 bilhões.
A Bolsa de Londres fechou em queda de 8,9% no índice FTSE 100, ficando com 3.932,1 pontos –primeiro encerramento abaixo dos 4.000 pontos em cinco anos. A Bolsa de Frankfurt teve queda de 7%; a de Paris teve queda de 7,7% O índice DJ Stoxx 600 caiu 7,6% hoje e, na semana, acumulou baixa de 22%, maior desde que o índice começou a ser apurado, em 1987.
– As novas mínimas que vimos nos mercados de ações esta semana são resultado de venda motivada por pânico – diz Joost van Leenders, da Fortis Investments.
O índice europeu de bancos derreteu 10,4 %, com o Royal Bank of Scotland perdendo mais de 25%, Credit Suisse e Deutsche Bank despencando mais de 16% e Barclays cedendo mais de 14%. Ações de seguradoras também amargaram baixas.

Dólar volta a subir

O dólar voltou a fechar em forte alta ontem, acumulando 13,7% na semana, com a deterioração dos mercados em meio a incerteza dos investidores sobre os desdobramentos da crise financeira e sobre a capacidade dos governos de revertê-la.
A moeda americana saltou 5,58%, a 2,326 reais, maior patamar de fechamento desde maio de 2006, em sessão de pouco volume de negócios pela cautela dos investidores. O dólar turismo chegou a ser vendido a R$ 2,420

Novo corte de juros

– Há alguma expectativa que neste fim de semana possa surgir um novo corte de juros, ou mesmo, um novo pacotão financeiro estatizante, em que se compra os créditos podres na praça e coloca no bolso do governo. Mas isso está somente na cabeça das pessoas – comenta Expedito Araújo, operador da corretora Alpes, acrescentando: – O mercado está totalmente emocional. Está irracional.

Nenhum comentário: